sábado, 31 de outubro de 2009

Coração de Fortaleza - Praça do Ferreira


Praça do Ferreira - Anos 30


Foto de 1929 - Construção do Hotel Excelsior

A Praça do Ferreira, desde priscas eras sempre foi local de atração dos fortalezenses. Cedo aprendemos a admirá-la como local de encontro por ser centro nervoso do comércio retalhista, onde todos circulavam naquele quadrilátero para fazer compras, admirando antigas edificações quase sem prédios suntuosos, guardando memórias de antigos casarões, de muitas histórias.
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"Neste século vinte e um,
A praça ostenta beleza.
Por ser a mais freqüentada
Elege-se com certeza,
Como a rainha das praças,
Coração de Fortaleza"

Trecho de Cordel do
Rouxinol do Rinaré (Antonio Carlos da Silva)
Coluna da Hora

Desde o final do século XIX, a Praça do Ferreira é a praça mais conhecida e freqüentada da cidade, sendo considerada por muitos como o coração de Fortaleza tendo sido palco de importantes episódios da história da cidade. Por mais de um século, seus bares, cinemas, os antigos cafés ou seus bancos foram ponto de encontro do povo cearense. Por ela passaram os mais ilustres personagens da história de Fortaleza, como Quintino Cunha, o próprio Boticário Ferreira, os membros da Padaria Espiritual, entre muitos outros.

Nela, ocorreram vários episódios hilariantes, como...

... o inflamado discurso do Prof. Eduardo Mota, que incitava o povo à revolta e ao vandalismo, dizendo que nada devia-se temer, mas quando a polícia chegou mudou logo o discurso, dizendo: "..sim, mas dentro da ordem e do direito, respeitando as autoridades constituídas"...

... os momentos de celebridade do bode Ioiô...


... Os encontros do "Batalhão de Potoqueiros de Fortaleza", iniciados em 1904 pelos jovens Álvaro Wayne, Antônio Dias Martins, Henrique Cals, Porfírio da Costa Ribeiro, José Raimundo da Costa entre outros. Os encontros aconteciam sob o "Cajueiro da potoca" ou "Cajueiro da mentira", e tradicionalmente no dia 1º de abril era eleito o Potoqueiro do Ano. A votação tinha mesa, urna e ocorria debaixo do próprio cajueiro. Os encontros duraram por muitos anos, até que o cajueiro foi derrubado, em 1920, na gestão do Prefeito Godofredo Maciel...

Palacete Ceará

A Praça do Ferreira é rodeada ainda hoje, por várias construções que marcaram época em Fortaleza, como o Palacete Ceará, a Farmácia Oswaldo Cruz, a lanchonete Leão do Sul, o Cine São Luiz, o Edifício Sudamérica, e os hotéis Savanah e Excelsior Hotel (primeiro grande hotel de Fortaleza, construído onde ficava o famoso Café Riche).


Farmácia Osvaldo Cruz é um dos mais tradicionais estabelecimentos comerciais de Fortaleza.
Foi fundado em meados de 1934 e foi a primeira farmácia de manipulação da cidade. Sua arquitetura foi mantida e os móveis na sua maioria são antigos, dentre os quais alguns são originais.

Até meados do século XIX, a Praça do Ferreira era só um areial. Um areial com uma cacimbão no centro, algumas mongubeiras, pés de castanhola. Nos cantos do terreno, marcos de pedra para amarrar jumentos dos cargueiros ambulantes que vinham do interior. Nesse tempo, o areial era chamado de "Feira Nova" por abrigar uma feira movimentada.

Em 6 de dezembro de 1842, uma lei da Câmara Estadual autorizou a reforma do plano da cidade de Fortaleza. As alterações incluíam a eliminação da Rua do Cotovelo para a construção de uma praça, que deveria chamar-se Dom Pedro II. A Praça Dom Pedro II foi então construída por Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira), então presidente da Câmara.

Antônio Rodrigues Ferreira instalou uma botica na Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo. Sua botica, conhecida "Botica do Ferreira", ficou bastante conhecida, chegando a ser ponto de referencia e ponto de encontro na praça. O Ferreira e sua botica tornaram-se tão célebres, que por volta de 1871, a praça passou a ser chamada de "Praça do Ferreira".


Em 1886, quando a praça ainda era um Areial com um cacimbão no meio, foi construído o primeiro café-quiosque da praça: Café Java. Depois chegara os outros três: Iracema, Café do Comércio e Café Elegante - um em cada canto da Praça.

Café do Comércio


Café Elegante

Café Iracema



Em 1902, o intendente Guilherme Rocha mandou fechar o cacimbão e em seu lugar, fez um jardim, o "Jardim 7 de Setembro". Em 1920 o prefeito Godofredo Maciel ladrilhou o areial, demoliu os quatro cafés, e derrubou o famoso "Cajueiro da Potoca" - onde se fazia anualmente a eleição do maior mentiroso de Fortaleza. O mesmo Godofredo Maciel, em 1925 construiu um coreto no centro da praça.

Em 1932, o prefeito Raimundo Girão iniciou uma pequena reforma. Ordenou a demolição do coreto para a construção de uma Coluna da Hora, com 13m de altura e quatro relógios votados para cada lado da praça, colocou novos bandos na praça e a ornamentou com vários canteiros e pés de ficus.

Em 1968 a praça foi radicalmente modificada. A coluna da hora foi demolida e em seu lugar foi construído um Abrigo Central, que não durou muito tempo. Apesar do grande fluxo de pessoas que proporcionava, logo virou reduto de desocupados.

Finalmente, por volta de 1991, durante a administração de Juraci Magalhães, a praça adquiriu sua configuração atual: em um projeto contemporâneo, os arquitetos Fausto Nilo, Delberg Ponce e León tentaram recompor simbolicamente cada época da Praça do Início do século. Hoje, a praça possui uma versão moderna da antiga coluna da hora, quiosques em cada canto da praça, um pequeno cajueiro, no mesmo lugar onde existiu o Cajueiro da Potoca e até o cacimbão foi reaberto, ao lado da coluna da hora.

14 comentários:

  1. Cara Leila,

    Devo parabeniza-la pela feliz iniciativa,ao tentar resgatar a memoria da nossa amada Fortaleza, fico muito feliz e torco para que mais pessoas tao sensiveis a cultura quanto voce, possam tomar como habito este tipo de atitude! parabens e continue postando essas maravilhas!!
    Um abraco!
    Angela Lima

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  2. Obrigada, Angela, fico muito feliz de receber comentários
    de pessoas assim como você,
    que curtem nossa cidade e sabem dar valor a história.

    Beijos e espero recebê-la novamente em outros posts

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  3. esse é o post que vc fala do d.pedro né?
    infelizmente me dói o coração ao ver, realmente ninguem tem o minimo de respeito pela história, por quem somos e pelo que temos.
    Além de mal conservada conseguiram quebrar uma das mãos da estatua e a espada...
    eu lavo a mão por essas pessoas... muita gente se não a maioria não sabe cuidar do que eles mesmos pagam ou do que eles tem como patrimônio, muito menos tem o minimo de respeito pelo que é dos outros, ja que eu também faço parte dessa cidade.

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  4. Nem me fale, Daniel... Realmente o que não falta são vândalos que sentem prazer de destruir o patrimônio público, como se o "público" significasse "não tem dono, faça o que bem entender"¬¬ Lamentável!!!

    Esse post na verdade é sobre a Praça do Ferreira, mas eu entendi perfeitamente sua indignação e sobre qual post vc se refere!

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  5. Parabéns por esse labor! Fortaleza é magnífica!
    Já na década de 70, o Savanah Hotel teria sido superado, talvez não em requinte, mas em dimensão e tecnologia de construção civil pelo Esplanada Praia Hotel, quase em frente ao Ideal Clube, na praia de Iracema, perto de onde tivemos um barzinho com o nome de "Estrela do Oriente", quase em frente ao devastado Clube Massapeense. Na extremidade oeste das casinhas e boates que existiam ali, havia a Churrascaria Cirandinha, onde comi muito baião-de-dois com chuleta assada à moda cearense.

    Eu tenho muitas poesias em homenagem a Fortaleza, mas se permitires, eu deito aqui uma que o contado com esse blog me suscitou a terminar de desenvolver para uma cidade irmã que é São Luis, na qual pode-se trocar apenas os nomes das ruas ou praças. Depois colocaria alguma exclusiva de Fortaleza.

    Um abraço

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  6. Ah! Meu nome é Roberto Cristino, morei no bairro da Piedade. Esse negócio desse apelido aí foi só um código brincalhão que julguei que devia ser criado.

    Quem quiser se comunicar comigo para um assunto tão envolvente que são as nossas belezas e tradições, forneço um e-mail opcionail: robertocristino!ig.com.br

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  7. Puxa Roberto, meu pai sempre nos levava na Churrascaria Cirandinha, que coisa maravilhosa, lembro de ficar encantada olhando pro mar, minha mãe tinha que ficar nos chamando pra comer rsrsrs

    Fique à vontade pra colocar alguma poesia sobre Fortaleza, vou amar ler!!!

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  8. Houve erro de digitação. Corrigindo meu e-mail: robertocristino@ig.com.br. O que viria a ser mais usado é: donrobertto@hotmail.com.

    Olha que eu disse que ao ver esse blog eu me estimulei a terminar uma poesia para São Luis, que eu chamei prestigiosamente de cidade irmã, chamada AS SACADAS DOS SOBRADOS COLONIAIS, cujo lema nós até encontramos, além de em outros edifícios como os retratados aqui, lá perto do COMPLEXO DRAGÃO DO MAR, misturando a arquitetura lisa com a apaixonante arquitetura do Estilo Barroco. Por ritual eu a colocaria primeiro, e depois, a exclusiva da nossa magnífica Fortaleza. Penso que você já o permitiu.
    Ah, quanta coisa a falar sobre Fortaleza! É uma lástima que apesar de aqueles edifícios de apartamentos da Avenida Aquidaban, agora Historiador Raimundo Girão, serem belos e arrojados, o pessoal do IPHAN, de outros órgãos governamentais, e a Elite de Fortaleza não terem considerado o valor romântico, estético e histórico daquelas casas coloniais que existiam ali.
    Sobre isso depois eu te conto uma pequena historia a respeito desse tema que eu tive com um amigo, em dezembro de 2004.

    Um abraço

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  9. Pensou correto, pode colocar!

    E sobre aquelas casas que vc citou, é realmente uma pena que os órgãos responsáveis não se interessem em conservar nossa história.¬¬

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  10. As Sacadas dos Sobrados Coloniais

    Vinha da Rua Afonso Pena para a Rua do Egito, através da Praça João Lisboa,
    Pelas quais, as sacadas dos sobrados coloniais ludovicenses
    Com os negros arabescos dos balaústres de ferro,
    Que compõem os seus afeiçoados gradis,
    Já não apenas observavam os grandes pequenos meigos romances,
    Que desfilavam sobre os passeios e paralelepípedos.
    Nem mesmo eram imóveis aquelas janelas
    Porque da fixidez firmemente alicerçada,
    Refletida no brilho daqueles azulejos que as emolduravam,
    Eu viajava em tabuleiros voadores que conduziam minha emoção,
    Passando sobre as ruas e praças,
    Viam os jasmins, rosas e outras flores, e faziam ouvir o som das baladas italianas,
    O olhar horizontal com sorriso absorto da nobre senhorita;
    De tal modo que a paixão, a fantasia e o êxtase
    Faziam-me imiscuir-me nesses dramas de traspassados devaneios;
    E, embora vigorado, tornava-me tão entorpecido, tão lânguido, tão enlevado,
    Que sublimava o instinto em ternura, pela paz na conquista,
    Renunciando a ter, de pronto, o prazer da lasciva união,
    Esperando o momento sublime do abraço
    Para cevar os ardentes anelos por que marejam meus olhos
    E me fazem suspirar.

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  11. Aí está Leila, como eu havia dito. Eu peço por gentileza que me dê a sua nota para isso que eu chamo de poesia, e que São Luis me permite oferecer a Fortaleza até eu colocar uma exclusiva para essa outra nobre cidade também.

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  12. Em janeiro eu estarei passeando em Fortaleza, até eu conseguir mudar-me para aí ou para Natal.

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  13. Parabéns por essa sensibilidade que você conseguiu expressar em versos, não tenho outra nota senão um 10 com louvor!

    Obrigada por compartilhar essa maravilha com os leitores do blog. Estou agora no aguardo de uma que fale de nossa Fortaleza, tenho certeza que será tão linda quanto.

    Mais uma vez muito, mas muito obrigada e parabéns!!!

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  14. Adorei muito belo e interessante.

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