No final do século XIX, nos cafés da Praça do Ferreira e do Passeio Público, palco da boêmia de Fortaleza, jovens intelectuais da cidade reuniam-se para discutir arte, literatura, música e política. Um desses grupos, composto por escritores, pintores e músicos, cansados da pobreza cultural da sociedade, que na época valorizava apenas o que vinha da Europa e desprezava a produção nacional e popular, decidiram fundar uma associação cultural. Uma agremiação através da qual poderiam criticar a hipocrisia da sociedade fortalezense e ao mesmo tempo exaltar a produção artística nacional.
Assim, em 30 de maio de 1892 foi fundada a Padaria Espiritual. No século XIX, era comum entre os escritores cearenses a organização em associações literárias, como os Oiteiros (1813), a Academia Francesa do Ceará (1873) e o Centro Literário, que reunia grandes escritores como Juvenal Galeno, Farias Brito, Oliveira Paiva e Justiniano de Serpa. A Padaria Espiritual seguiu essa tendência, embora fundamentalmente diferente. As demais associações eram tradicionalmente formados por membros da elite, sendo instituições sérias, rígidas e solenes, ao passo que a Padaria Espiritual era formada principalmente por intelectuais boêmios e cidadãos comuns, sendo marcada pelo humor, a ironia e a irreverência.
Os membros, entre eles, Antônio Sales (fundador), Rodolfo Teófilo, Juvenal Galeno, Adolfo Caminha, Lopes Filho, Eduardo Sabóia, Lívio Barreto, Antônio de Castro, José Carvalho, Álvaro Martins e Henrique Jorge, se auto-denominavam "padeiros" e tinham a pretensão de fornecer o "pão do espírito" ou "pão cultural" aos sócios e ao povo em geral. Os padeiros reuniam-se todos os dias (com exceção de 5ª feira) na Rua Formosa (atual Rua Barão do Rio Branco.), no Café Java, ou nas casas dos próprios padeiros para editar seu periódico ("O Pão"). Todos adotavam pseudônimos de origem indígena ou sertaneja (como "Cariri Baraúna", pseudônimo de José Carvalho) para escrever os artigos do jornal.
Assim, em 30 de maio de 1892 foi fundada a Padaria Espiritual. No século XIX, era comum entre os escritores cearenses a organização em associações literárias, como os Oiteiros (1813), a Academia Francesa do Ceará (1873) e o Centro Literário, que reunia grandes escritores como Juvenal Galeno, Farias Brito, Oliveira Paiva e Justiniano de Serpa. A Padaria Espiritual seguiu essa tendência, embora fundamentalmente diferente. As demais associações eram tradicionalmente formados por membros da elite, sendo instituições sérias, rígidas e solenes, ao passo que a Padaria Espiritual era formada principalmente por intelectuais boêmios e cidadãos comuns, sendo marcada pelo humor, a ironia e a irreverência.
Os membros, entre eles, Antônio Sales (fundador), Rodolfo Teófilo, Juvenal Galeno, Adolfo Caminha, Lopes Filho, Eduardo Sabóia, Lívio Barreto, Antônio de Castro, José Carvalho, Álvaro Martins e Henrique Jorge, se auto-denominavam "padeiros" e tinham a pretensão de fornecer o "pão do espírito" ou "pão cultural" aos sócios e ao povo em geral. Os padeiros reuniam-se todos os dias (com exceção de 5ª feira) na Rua Formosa (atual Rua Barão do Rio Branco.), no Café Java, ou nas casas dos próprios padeiros para editar seu periódico ("O Pão"). Todos adotavam pseudônimos de origem indígena ou sertaneja (como "Cariri Baraúna", pseudônimo de José Carvalho) para escrever os artigos do jornal.
Nele, os padeiros faziam suas paródias, suas críticas, divulgavam suas obras, textos de outros escritores cearenses e cantigas e versos do folclore cearense. Era um folheto simples, do tamanho de uma folha A4, devido às restrições orçamentárias da Padaria, que não contava com quaisquer subsídios. Ao todo teve 36 edições.
Foi um movimento inovador, modernista e nacionalista que antecedeu a Semana de Arte Moderna (1922) e prenunciou muitas de suas bandeiras, como o repúdio ao uso de palavras estrangeiras e a valorização da fauna e da flora brasileiros. O artigo 14 do regimento da Padaria, por exemplo, que proíbe aos padeiros o uso de "palavras desconhecidas da língua vernácula", é uma resposta ao uso de palavras de outras línguas (principalmente a francesa), em estabelecimentos comerciais, em produtos e até na literatura. Já o artigo 21 proíbe o uso, em poemas, romances, pinturas e músicas, de elementos da flora ou da fauna estrangeira, o que era comum na época, devido à influência européia. Os padeiros utilizavam apenas bichos e plantas brasileiros, conhecidos pelo povo.
A Padaria espiritual acabou em 1898 e não teve grande repercussão nacional, mas deixou um riquíssimo legado de romances, poesias e outras obras dos padeiros e influenciou a criação da Academia Cearense de Letras (1894), a primeira Academia de Letras do Brasil. Atualmente, a Academia Cearense de Letras preserva retratos de cada membro da Padaria Espiritual, pintados à óleo por Otacílio de Azevedo.
Foi um movimento inovador, modernista e nacionalista que antecedeu a Semana de Arte Moderna (1922) e prenunciou muitas de suas bandeiras, como o repúdio ao uso de palavras estrangeiras e a valorização da fauna e da flora brasileiros. O artigo 14 do regimento da Padaria, por exemplo, que proíbe aos padeiros o uso de "palavras desconhecidas da língua vernácula", é uma resposta ao uso de palavras de outras línguas (principalmente a francesa), em estabelecimentos comerciais, em produtos e até na literatura. Já o artigo 21 proíbe o uso, em poemas, romances, pinturas e músicas, de elementos da flora ou da fauna estrangeira, o que era comum na época, devido à influência européia. Os padeiros utilizavam apenas bichos e plantas brasileiros, conhecidos pelo povo.
A Padaria espiritual acabou em 1898 e não teve grande repercussão nacional, mas deixou um riquíssimo legado de romances, poesias e outras obras dos padeiros e influenciou a criação da Academia Cearense de Letras (1894), a primeira Academia de Letras do Brasil. Atualmente, a Academia Cearense de Letras preserva retratos de cada membro da Padaria Espiritual, pintados à óleo por Otacílio de Azevedo.
~~~~~~~~~~ Estatuto da Padaria Espiritual ~~~~~~~~~~
1) Fica organizada, nesta cidade de Fortaleza, capital da "Terra da Luz", antigo Siará Grande, uma sociedade de rapazes de Letras e Artes, denominada Padaria Espiritual, cujo fim é fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral.
2) A Padaria Espiritual se comporá de um Padeiro-Mór (presidente), de dois Forneiros (secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda-livros na acepção intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador das Coisas e das Gentes, que se chamará Olho da Providência, e demais Amassadores (sócios). Todos os sócios terão a denominação geral de Padeiros.
3) Fica limitado em vinte o número de sócios, inclusive a Diretoria, podendo-se, porém, admitir sócios honorários que se denominarão Padeiros-livres.
4) Depois da instalação da Padaria, só será admitido quem exibir uma peça literária ou qualquer outro trabalho artístico que for julgado decente pela maioria.
5) Haverá um livro especial para registrar-se o nome comum e o nome de guerra da cada Padeiro, sua naturalidade, estado, filiação e profissão a fim de poupar-se à Posteridade o trabalho dessas indagações.
6) Todos os Padeiros terão um nome de guerra único, pelo qual serão tratados e do qual poderão usar no exercício de suas árduas e humanitárias funções.
7) O distintivo da Padaria Espiritual será uma haste de trigo cruzada de uma pena, distintivo que será gravado na respectiva bandeira, que terá as cores nacionais.
8) As fornadas (sessões) se realizarão diariamente, à noite, à excepção das quintas-feiras, e aos domingos, ao meio-dia.
9) Durante as fornadas, os Padeiros farão a leitura de produções originais e inéditas, de quaisquer peças literárias que encontrarem na imprensa nacional ou estrangeira e falarão sobre as obras que lerem.
10) Far-se-ão dissertações biográficas acerca de sábios, poetas, artistas e literatos, a começar pelos nacionais, para o que se organizará uma lista, na qual serão designados, com a precisa antecedência, o dissertador e a vítima. Também se farão dissertações sobre datas nacionais ou estrangeiras.
11) Essas dissertações serão feitas em palestras, sendo proibido o tom oratório, sob pena de vaia.
12) Haverá um livro em que se registrará o resultado das fornadas com o maior laconismo possível, assinando todos os Padeiros presentes.
13) As despesas necessárias serão feitas mediante finta passada pelo Gaveta, que apresentará conta do dinheiro recebido e despendido.
14) É proibido o uso de palavras estranhas à língua vernácula, sendo, porém, permitido o emprego dos neologismos do Dr. Castro Lopes.
15) Os Padeiros serão obrigados a comparecer à fornada, de flor à lapela, qualquer que seja a flor, com excepção da de chichá.
16) Aquele que durante uma sessão não disser uma pilhéria de espírito, pelo menos, fica obrigado a pagar no sábado café para todos os colegas. Quem disser uma pilhéria superiormente fina, pode ser dispensado da multa da semana seguinte.
17) O Padeiro que for pegado em flagrante delito de plagio, falado ou escrito, pagará café e charutos para todos os colegas.
18) Todos os Padeiros serão obrigados a defender seus colegas da agressão de qualquer cidadão ignaro e a trabalhar, com todas as forças, pelo bem estar mútuo.
19) É proibido fazer qualquer referência à rosa de Maiherbe e escrever nas folhas mais ou menos perfumadas dos álbuns.
20) Durante as fornadas, é permitido ter o chapéu na cabeça, exceto quando se falar em Homero, Shakespeare, Dante, Hugo, Goethe, Camões e José de Alencar, porque, então, todos se descobrirão.
21) Será julgada indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à Fauna e à Flora brasileiras, como: cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho etc.
22) Será dada a alcunha de "medonho" a todo sujeito que atentar publicamente contra o bom senso e o bom gosto artísticos.
23) Será preferível que os poetas da "Padaria" externem suas idéias em versos.
24) Trabalhar-se-á por organizar uma biblioteca, empregando-se para isso todos os meios lícitos e ilícitos.
25) Dirigir-se-á um apelo a todos os jornais do mundo, solicitando a remessa dos mesmos à biblioteca da "Padaria".
26) São considerados, desde já, inimigos naturais dos Padeiros - o Clero, os alfaiates e a polícia. Nenhum Padeiro deve perder ocasião de patentear seu desagrado a essa gente.
27) Será registrado o fato de aparecer algum Padeiro com colarinho de nitidez e alvura contestáveis.
28) Será punido com expulsão imediata e sem apelo o Padeiro que recitar ao piano.
29) Organizar-se-á um calendário com os nomes de todos os grandes homens mortos, Haverá uma pedra para se escrever o nome do Santo do dia, nome que também será escrito na Ata, em seguida à data respectiva. 30) A "Avenida Caio Prado" é considerada a mais útil e a mais civilizada das instituições que felizmente nos regem, e, por isso, ficará sob o patrocínio da Padaria,
31) Encarregar-se-á um dos Padeiros de escrever uma monografia a respeito do incansável educador Professor Sobreira e suas obras.
32) A "Padaria" representará ao Governo do Estado contra o atual horário da Biblioteca Pública e indicará um outro mais consoante às necessidades dos famintos de idéias.
33) Nomear-se-ão comissões para apresentarem relatórios sobre os estabelecimentos de instrução pública e particular da Capital relatórios que serão publicados,
34) A Padaria Espiritual obriga-se a organizar, dentro do mais breve prazo possível, um Cancioneiro Popular, genuinamente cearense.
35) Logo que estejam montados todos os maquinismos, a Padaria publicará um jornal que, naturalmente, se chamará O Pão.
36) A Padaria tratará de angariar documentos para um livro contendo as aventuras do célebre e extraordinário Padre Verdeixa.
37) Publicar-se-á , no começo de cada ano, um almanaque ilustrado do Ceará contendo indicações uteis e inúteis, primores literários e anúncios de bacalhau.
38) A Padaria terá correspondentes em todas as capitais dos países civilizados, escolhendo-se para isso literatos de primeira água.
39) As mulheres, como entes frágeis que são, merecerão todo o nosso apoio excetuadas: as fumistas, as freiras e as professoras ignorantes.
40) A Padaria desejaria muito criar aulas noturnas para a infância desvalida; mas, como não tem tempo para isso, trabalhará por tornar obrigatório a instrução pública primada.
41) A Padaria declara desde já guerra de morte ao bendegó do "Cassino".
42) É expressamente proibido aos Padeiros receberem cartões de troco dos que atualmente se emitem nesta Capital.
43) No aniversário natalício dos Padeiros, ser-lhes-á oferecida uma refeição pelos colegas.
44) A Padaria declara embirrar solenemente com a secção "Para matar o tempo" do jornal "A Republica", e, assim, se dirigirá à redação desse jornal, pedindo para acabar com a mesma secção.
45) Empregar-se-ão todos os meios de compelir Mané Coco a terminar o serviço da "Avenida Ferreira".
46) O Padeiro que, por infelicidade, tiver um vizinho que aprenda clarineta, pistom ou qualquer outro instrumento irritante, dará parte à Padaria que trabalhará para pôr termo a semelhante suplício.
47) Pugnar-se-á pelo aformoseamento do Parque da Liberdade, e pela boa conservação da cidade, em geral.
48) Independente das disposições contidas nos artigos precedentes, a Padaria tomará a iniciativa de qualquer questão emergente que entenda com a Arte, com o bom Gosto, com o Progresso e com a Dignidade Humana.
Amassado e assado na "Padaria Espiritual", aos 30 de Maio de 1892.
Simplemnete lindo .Adorei.
ResponderExcluirAjudou muito a entender mais sobre eles! Foi um grande movimento literário.
ResponderExcluirFoi sim! :)
ExcluirLeila sabe que adoro seu blog.
ResponderExcluirVejo que este ambiente faz parte dos provaveis locais onde o povo se reunia para ouvir a PRK9.
Até quando existiu a Padaria espiritual?
Vou precisar de histórias de pessoas ou relatos de pessoas que conviveram alguém da época (1933 - 1944) para poder desenvolver a dissertação.
Preciso entender o que mudou na Fortaleza desses anos no que diz respeito ao Ceará Rádio Clube.
Abs
Muito obrigada, Beto, fico feliz!
ExcluirA padaria funcionou até 20 de dezembro de 1898, data de sua extinção.
Acho improvável que vc consiga, mas nda é impossível!
Abraços