quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rádio Club Cearense 1924 - Reportagem do Jornal "Diário do Nordeste" - Caderno CULTURA - 19/2/1984

A idéia de efetivar em Fortaleza uma consciência comunitária para a fundação da radiofonia cearense, para surpresa nossa, decorreu do estado de espírito inovador de expressivo grupo de pessoas, que ocupavam, na capital, importantes cargos administrativos. devendo-se mencionar como inspirador desse momento inicial o chefe do Distrito Telegráfico, Sr. Elesbão de Castro Velloso, engenheiro, a quem se deve a iniciativa de reunir a 20 de janeiro de 1924, em sua repartição, para discussão da constituição de entidade de radiotelefonia (assim se denominou antes a radiofonia), os engenheiros Antônio Eugênio Gadelha, Humberto Monte, João de Carvalho Góes, Clóvis Meton de Alencar e Alfredo Euterpino Borges.

O próprio Elesbão de Castro Velloso, em reunião posterior à primeira, a 30 de janeiro do mesmo ano, seria indicado para redigir o estatuto da associação que tomou o nome de Rádio Club Cearense.
Manuelito Eduardo Pinheiro Campos - No Auditório da Ceará Rádio CLub, altos do Edifício Diogo, centro de Fortaleza, preparando seu programa "Paisagem Sertaneja" e músicos.

Aquele grupo já aí passava a contar com novas e importantes adesões. Assim, além dos mencionados engenheiros, o movimento pioneiro obteria o concurso do Dr. Carlos da Costa Ribeiro, de Clóvis de Araújo Janja e Augusto Menna Barreto, este último telegrafista do Telégrafo Nacional.

Mais reuniões desses idealistas aconteceriam a seguir nos dias 4, 5, 6 e 10 de fevereiro, quando o pequeno número inicial de fundadores da novel entidade, subiria para trinta e sete. A 15 de fevereiro de 1924, já aprovado o estatuto, ocorreria a eleição da primeira diretoria do Rádio Club Cearense, assim constituída: Presidente - Engenheiro Elesbão de Castro Velloso; Secretário - Dr. Carlos da Costa Ribeiro; Tesoureiro - Dr. Antônio Eugênio Gadelha. Havia Comissão Fiscal, integrada pelos Drs. Humberto Monte, João de Carvalho Góes e Joaquim Antônio Vianna Albano; e Comissão Técnica, figurando nesta pessoas da mais alta importância na sociedade cearense: Thomaz Pompeu Filho, Clóvis Meton de Alencar e Alfredo Euterpino Borges.

A diretoria do Rádio Club Cearense tomou posse em sessão solene, realizada a 9 de março do ano em causa, na sede da Fênix Caixeiral, presentes todos os associados.

Essas informações tomâmo-las à revista “Rádio”, número 24, do Rio de Janeiro, fundada e dirigida pelo grande Roquette Pinto, graças à valiosa colaboração do jornalista Antônio Camelo, dos “Diários Associados” de Pernambuco, bastante interessado em elucidar os fatos históricos da radiodifusão nordestina.

Podemos ver ainda na longa notícia da revista acolhendo informações de seu correspondente em Fortaleza, que a sociedade logo contou com a participação de duzentos sócios, freqüentadores de sua sede social, instalada na Rua Barão do Rio Branco, No. 21, possivelmente na primeira ou segunda quadra do início da rua, nas proximidades do Passeio Público.

Diretoria do Rádio Club Cearense de colocar em funcionamento, quanto antes, “uma pequena estação emissora de 3 watts (devia ser de 30 watts), “que construíra à pressa, a envidar esforços para inaugurar ainda no decorrer de março”.

Na sede da sociedade operava uma “receptora de 3 válvulas, circuito T. S. F., com alto falante Ericsson - Super Ione”. Além desse receptor, refere mais a revista, existiam em Fortaleza: “um receptor de circuito de reação a 2 válvulas, de propriedade do sócio Clóvis Meton de Alencar e por ele construído (veja-se esse detalhe!); um outro idêntico, do sócio Alfredo Euterpino Borges igualmente por intermédio um regenerativo com circuito de placa sintonizada, pertencente ao sócio engenheiro João de Carvalho Góes e um receptor a dupla reação pertencente ao sócio Augusto Menna Barreto.

A única emissora radiofônica sintonizada em Fortaleza na época, e precariamente, era a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro: “sem a nitidez e a segurança que é para desejar”.

Anote-se, por exemplo, esta queixa registrada pelo correspondente da revista “Rádio" : “No Ceará: porém não são muitos os que compreendem o alcance altamente patriótico, instrutivo e recreativo que a radiotelefonia proporciona a todas as classes, e, daí, certo retraimento por parte do público, na cooperação indispensável à pronta realização daquele objetivo. Não teve a menor coadjuvação das classes conservadoras nem logrou nenhum incentivo dos poderes públicos". (grifamos).

Por essas razões, certamente o movimento pioneiro exauriu-se sem conseguir fundar, àquele tempo, a estação de rádio que, de modo precário, somente em 1932, passaria a funcionar sob o prefixo PRA-T, para transformar-se em realidade em 1934, de modo oficial, da Ceará Radio Club, com o prefixo PRE-9. A loja especializada em material eletrônico “A Instaladora”, com sede na rua Uruguaina, 150, (Telefone Norte 810), do Rio de Janeiro, tinha um estoque receptores Neutro Dyne, Kellogg, Turca e Grosley (aparelhos mais sofisticados, mesmo para a época, pois seus circuitos operavam com mais de duas válvulas), e receptores de uma válvula, marca Myera, cuja audição era obtida com a ajuda de fones.

Para terminar, vale a pena mencionar os nomes de alguns sócios mais conhecidos do Radio Club Cearense de 1924: Thomaz Pompeu Sobrinho, Demócrito Rocha, João Batista de Paula, (da Light); Vicente Linhares, Álvaro Wayne, Antônio Diogo Siqueira, Dolor Barreira, Mozart Pinto, Jáder Carvalho, César Cals, Ignácio Gomes Parente, Abel Ribeiro, João de Deus Cavalcante, Manuel Sátiro, Amâncio Filomeno F. Gomes, Luiz de Moraes Correa, etc.



Crédito: As matérias sobre a Ceará Rádio Club foram extraidas do site oficial da CRC

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