segunda-feira, 31 de maio de 2010

FORTALEZA 1910



Casa Boris Frères & Cie., impresso em Nice, na França.

"FORTALEZA 1910" - é aqui acompanhada de corpo inteiro em fotografias
de várias poses reunidas num álbum feito entre 1908 sob o título original de "Vistas do Ceará".

A presente edição é um fac-simile do original, produzido pela UFC (Universidade Federal do Ceará), em 1980

"Álbum de Vistas do Ceará 1908" – Fortaleza 1910"

O álbum foi confeccionado em Nice (França) no ano de 1908 que reúne o mais difundido e variado conjunto de registros fotográficos sobre a Capital do Estado nessa época. Sob os auspícios da firma Boris Frères - na época o maior estabelecimento comercial de importação e exportação aqui instalado - a publicação fotográfica visava a divulgação da prosperidade e beleza do Ceará no estrangeiro e em outras partes do Brasil. Em 1908 a firma Boris Frères presenteou Fortaleza com dois álbuns impressos na França, mais precisamente em Nice, com dezenas de fotografias de Fortaleza e algumas do interior do Estado. O álbum grande tinha dezesseis páginas com dez fotos cada uma, num total de 160 fotos e o pequeno era exatamente a metade. No início da década de 1980, foi republicado o álbum editado originalmente com o título de "Álbum de Vistas do Estado do Ceará Brasil - 1908" por iniciativa da firma Boris Frères, pela Universidade Federal do Ceará - UFC, com o título de Fortaleza – 1910.

Eu já havia feito uma postagens com algumas fotos desse livro AQUI
Como as páginas do livro são bem maiores, clique nas imagens para melhor visualização.

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Vemos na foto um balão imenso, de nome "Pereira da Luz".

Sobre esse balão que sobrevoou Fortaleza,
como vemos na imagem, em 1908-1910:

FORTALEZA DOS BALÕES...

Todo mundo - inclusive vocês, confessem. - já ouviu dizer: "para a vida ser plena, tem de se fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore". É o que dizem por aí, há muito tempo. Eu que sempre fui tentado a discordar, pus à prova: primeiro, da única gravidez, tornei-me pai de minhas duas primeiras filhas, Luana e Liana, que, "para piorar", são lindas (e estão fazendo aniversário este mês); depois, numa crise de sandice, que se tornaria literariamente crônica, escrevi um livro. Como não distingo bem os gêneros, - refiro-me aos literários -, escrevi um romance em tom de crônica e com nome de conto. Porém, faltava-me plantar a tal árvore para alcançar a vulgarmente propalada e desejada "plenitude da vida". Digo bem: Faltava! Numa manhã de abril, acordei decidido a concluir essa trilogia e, no quintalzinho da casa onde moro, plantei uma pequena árvore, quase um arbusto, que trouxe ainda nos ombros. Renovei e preparei a terra, juntei toda aquela gororoba de uréia, húmus, adubos orgânicos e finquei a plantinha ao lado da lavanderia. Pronto! No outro dia de manhã, acreditem se quiserem, fui surpreendido por uma imensa lufada de vento frio no quarto. As janelas se debatiam como loucas. Aturdido, corri para trancá-las embaraçando-me às cortinas esvoaçantes... e não consegui. Meus amigos, não imaginam o pasmo que tive quando me dei conta, ao rés do parapeito, da altura fabulosa em que estava suspensa a nossa humilde casinha. E sabem a que se devia isto? À simples escolha errada de árvore. Como poderia saber que aquela inofensiva plantinha, quase um arbusto, eu disse, se transformaria num benjamim gigante? Para estudar com calma a situação, peguei uma caneca de café bem quente e sentei-me à varanda enlevando os pés numa nuvem gentil. A temperatura estava muito baixa e a fumacinha do café dobrava-se em cristais com carinhas sorridentes. Lógico que isso não era engraçado! De longe, vi passar um homem de capacete, envolvido em papel alumínio e suspenso por um monte de balões coloridos. Perguntava, aos berros, se eu tinha carregador de celular. Só podia ser delírio ou propaganda dessas operadoras telefônicas. Imagine... Nem liguei. Depois, não menos estranho, assisti surgir, turvo e enevoado, o balão de cor amarelo-queimado, uma espécie de "laranja gigante", que por um momento me fez pensar se tinha errado a dose do café. Se é que era apenas café!... Mas, logo, logo, percebi-lhe escrito na seda: "Brasil". Abaixo dele, surgiam cordas sustentando a barquinha de vime rodeada de sacos de areia. Um caboclo corpulento acenava-me com simpatia. Estacionou no mezanino, desceu para cumprimentar-me colocando o quepe no braço e, sem cerimônias, sentou-se. Sedento, abriu uma torneira daquela nuvenzinha, - ainda bem que era época de muita chuva -, e bebeu-lhe um pouco d'água fresca, antes de solfejar algumas notas da clarineta que trazia no bolso. Seu nome era José Pereira da Luz, ou capitão Zé da Luz, como preferia. Pernambucano, foi retirante. Como soldado participou da Guerra de Canudos, mas o que queria mesmo, desde menino, quando viu uma chuva de estrelas no céu do sertão, era fabricar o seu próprio balão e voar bem lá no alto! E assim o fez; e não foi só um, mas todos se incendiaram. Construiu também um pára-quedas "de algodãozinho" que, justo na hora, não abriu, quebrando-lhe a perna. Mas ele não desistiu, não. O cabra continuou! Daí, comprou em Paris um aeróstato, um nome pomposo para... balão! Vocês não lembram, mas aqui em Fortaleza, quando o balão "Brasil" veio na passagem do ano de 1907, foi um alvoroço... Partiu da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e ergueu-se sublime a balançar ao sabor dos ventos bravios. Pena que, numa segunda vez, o "Brasil", sabe-se lá por que, tropicou nos telhados próximos ao Passeio Público e esparramou-se, como batatas, pelo chão: - Visse, Raymundo, que enquanto eu estava internado na Santa Casa, uma senhora muito humilde veio perguntar-me se, quando eu pairava no céu, tinha encontrado algum dos anjos do Senhor? E o mais engraçado era a molecagem do povo que me dizia: "Já vi pereira dar pêra, mas pereira 'dá' luz..." Cearense é bicho gozador! Após o bom conversado, para não perder o costume, pedi-lhe carona para descer. Como estando a bordo de "Brasis" sempre é bom se prevenir, trouxe um aparelho de GPS (Sistema de Posicionamento Global) com manual anexo, é claro. No que sucedeu depois, não irei me deter, por absoluta falta de espaço, e pela leve desconfiança de que posso não estar agradando, contudo, afirmo que a antiga máxima da plenitude da vida (filho - livro - árvore) é uma grande besteira, e eu sou testemunha disso. O céu, heróicos leitores, só é o limite para quem não aprendeu a enxergar acima dele. José Pereira da Luz (pai do poeta Pierre Luz) sempre teve vocação musical. Um dia, porém, ao ler o Dicionário Enciclopédico Português, na letra B, ressurgiu-lhe o desejo de voar que trazia desde criança. Realizou vôos em Recife, Ceará (1/01/1907) e na Bahia. No Rio de Janeiro não alcançou êxito. Em janeiro de 2008, o último vôo do "Brasil" completou cem anos sem lembrança e sem memória. Texto: Raymundo Netto, autor de Um Conto no Passado - cadeiras na calçada, um lunático amador que sofre de perda de memória recente.


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Crédito: Fortal

domingo, 30 de maio de 2010

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Guilherme Rocha / Rua da Municipalidade)

A Rua Guilherme Rocha, que hoje é um calçadão onde não passam carros, já foi uma rua muito movimentada, com trânsito de automóveis, ônibus, bondes, caminhões e carroças, além de pessoas e animais. Ela já se chamou travessa Municipal, Rua Municipal, Rua Nº 9, Rua 24 de Janeiro e Rua Coronel Guilherme Rocha. Hoje é apenas rua Guilherme Rocha.

Estamos vendo o cruzamento dela com a rua Major Facundo, na praça do Ferreira na década de 20. Do lado esquerdo vemos a esquina onde ficava o "Maison Art-Nouveau" e logo depois o "Restaurante Chic", tendo antes passado pouco tempo como "Maison-Riche". Na esquina do lado direito, temos o sobrado do Comendador Machado tendo no térreo o "Café-Riche", onde se reunia a intelectualidade de então.

Na foto antiga, além das casas citadas, vemos ainda muita gente, civis e militares, o bonde nº 28, da "Light" e dois automóveis típicos da época, com seus pneus estreitos parecendo de motocicletas. Naquela época (a foto deve ser de 1927) todos andavam de chapéu, velhos, moços, crianças, mulheres, todos tinham algo na cabeça, quer fosse um chapéu de massa, um de palhinha, um quepe, uma boina, enfim, qualquer coisa que servisse de cobertura para a cabeça, o que ainda hoje deveria ser usado, com o sol que temos.

A fotografia atual, de Osmar Onofre, traz o mesmo local totalmente modificado. O prédio do "Maison" foi substituído, em 1934, pelo edifício Granito e hoje tem em seu andar térreo a loja "Tok-discos" e no primeiro andar o Clube dos Advogados. A outra esquina, do "Riche", foi substituída em 1931 pelo "Excelsior Hotel" que tem hoje na esquina a loja "Presentes Nobre", que é também tabacaria; seguida da "Itamaraty" e da "King Jóia". Os carros já não transitam por ali e as pessoas hoje andam mais descompromissadas, mais à vontade, vestidas como se estivessem em casa. No calçadão foram plantadas árvores que já estão adultas.

RUA GUILHERME ROCHA - NA PRAÇA DO FERREIRA
Vemos o encontro da Rua Guilherme Rocha com a Rua Floriano Peixoto, na Praça do Ferreira, em foto que data do início da década de 20, quando ainda havia o quarteirão entre a Rua Floriano Peixoto, Travessa Pará, Rua Major Facundo e Rua Guilherme Rocha, em frente à Praça do Ferreira. Naquele quarteirão estava o mais antigo sobrado da cidade, que abrigava a Intendência Municipal, da qual vemos a torre. Pelo lado da Rua Guilherme Rocha, ou Praça do Ferreira, estiveram várias lojas como a "Livraria Edésio", "Casa Mundlos", "Café do Comércio", "Crysanthemo", "Café Emygdio", para citar as mais famosas.

Depois do quarteirão citado, vem o sobrado do Pastor, que data de 1914, onde no andar superior funcionou o telégrafo antes de unir-se ao correio, enquanto no andar térreo funcionou a loja de João Carvalho "Rosa dos Alpes", e posteriormente ali esteve o "Café Globo" e depois o "Armazém Paissandu", a Aplub e por fim o Restaurante "Le Scale".

Do lado direito, temos o Palacete Ceará, construído em 1914 pelo comerciante e banqueiro José Gentil Alves de Carvalho que contratou a firma Rodolfo F. da Silva & Filhos, para construí-lo, com planta de João Sabóia Barbosa. Consta que foi construído por Eduardo Pastor. Abrigou o Clube Iracema tendo na parte térrea a "Rotisserie Sportman", de Efrem Gondim. Depois o palacete foi vendido à Caixa Econômica Federal do Ceará que ali se instalou. No dia 8 de julho de 1982, o prédio foi devorado por um incêndio, restando apenas sua fachada. Foi planejada sua demolição para levantar um prédio moderno, mas a grita do povo, dos arquitetos e da imprensa fez com que os dirigentes da Caixa reconsiderassem o plano e o prédio foi reconstruído.


Ao fundo da Rua Guilherme Rocha vemos a fachada do Palácio da Luz e também a copa do famoso "oitizeiro do Rosário".

A foto nova mostra a ausência do quarteirão da esquerda, hoje substituída pela ampliação da praça com as bancas de jornal e revistas, o sobrado do Pastor hoje abriga o restaurante "Le Scale" no andar superior e no térreo a "Contágio", "Bicho do Sol" e alguns bares pela Rua Guilherme Rocha, tendo como vizinho pela Rua Floriano Peixoto a "Casa do Desenho" o prédio onde foi a Livraria Comercial é hoje a Livraria Paulus. Do outro lado o já falado Palacete Ceará abrigando ainda a Caixa, quase coberto por uma árvore da praça e por cima desta parte do prédio também da Caixa, que fica na Rua do Rosário.

RUA GUILHERME ROCHA - ESQUINA COM RUA FLORIANO PEIXOTO

Estamos na esquina da Rua Guilherme Rocha com Rua Floriano Peixoto, olhando para o lado do mar. Temos duas fotos da esquina nordeste. A foto mais antiga mostra o sobrado construído em 1914 que abrigou, de 1916 a 1930 o "Café Avenida", de Jaime Magalhães. Depois veio a loja "Rosa dos Alpes", que antes funcionava no meio do quarteirão. Era uma casa que vendia gramofones, vitrolas, discos, bilhares, material religioso, bandeiras, estandartes, etc. Seu proprietário era João Carvalho. A loja mudou-se em 1938, quando em seu lugar Edilberto Góis Ferreira abriu o "Café Globo" que ali permaneceu 20 anos. Nasceu então o "Armazém Paissandu", de Francisco Pegado que foi até 1972. Surgiu então ali a APLUB e hoje a "Contágio", tendo na parte superior, o restaurante "Le Scale".

A foto intermediária data do início da década de trinta, quando ainda existia um quarteirão que ficava entre a Rua Guilherme Rocha, Rua Major Facundo, Travessa Pará e Rua Floriano Peixoto, local hoje ocupado pelo prosseguimento da Praça do Ferreira, ou seja, onde ficam algumas bancas de jornal e revistas, entre elas a do Bodinho.Lá existia um dos mais antigos sobrados de Fortaleza, ocupado pela Intendência Municipal e onde também funcionava a Câmara Municipal. Depois de sua demolição, foi construído no local e também já foi demolido, o Abrigo Central. Vê-se a "Rosa dos Alpes" e distante o prédio da Assembléia Legislativa e o Mercado de Ferro.

A foto atual, de Osmar Onofre, mostra o antigo sobrado abrigando a "Contágio" e o restaurante "Le Scale", com um poste trazendo uma grande placa da "Caixa" à frente. No seguimento vemos o antigo prédio da assembléia - hoje Museu do Ceará - seguido do Palácio do Comércio, Banco do Brasil e Correios.

RUA GUILHERME ROCHA ESQUINA COM RUA BARÃO DO RIO BRANCO

A Rua Barão do Rio Branco já se chamou Rua Formosa e a Rua Guilherme Rocha já foi Rua Municipal. No encontro das duas, quando já tinham os nomes atuais, em 1953, foi colhida pela objetiva da Aba Film a foto mais antiga que ilustra essas linhas.

Nela vemos um velho sobrado onde no andar térreo funcionava na época a "Farmácia Conceição" que tinha endereço no nº 214 pela Rua Guilherme Rocha, com sua proteção contra o sol feita por lonas penduradas na marquise de alumínio.

Seguindo pela Rua Barão do Rio Branco tínhamos, vizinho, a "Casa Plácido", de mosaicos de propriedade de Pierina Hinko. Pela Rua Guilherme Rocha existiam "A Guanabara", "O Cancão", "O Sansão", "Casa Rio", "Casa Movado", "Estabelecimento Benjamin Angert", "Cearazinho", "A Ideal" e o Excelsior Hotel onde no seu andar térreo existiam entre outras a "Livraria Imperial", a "Livraria Aéquitas" e na esquina a "Farmácia Francesa".

A Segunda foto que é atual nos mostra no lugar do velho sobrado da farmácia Conceição o imponente Edifício Jalcy Metrópole, que tem em seu andar térreo uma agência da Viação Aérea São Paulo - VASP, e na sobreloja depósito da Tok-Discos avizinhando-se do Edifício do Excelsior Hotel pelo lado da Rua Guilherme Rocha.

No lugar das lojas antigas hoje estão a "Casa dos Relojoeiros", "Ótica Bela Jóia", "Água de Cheiro", "Excelsior Hotel", "Talismã Jóias" e "Center Meias". Enquanto o Edifício Jalcy Metrópole tem em seus muitos andares as salas ocupadas com dezenas de firmas, advogados, etc., o Excelsior Hotel está hoje abandonado, residindo lá apenas seu proprietário, o arquiteto Emílio Hinko.

A Rua Guilherme Rocha que na primeira foto tinha trânsito de carros, como pode ser visto um ônibus, na foto atual, de Osmar Onofre, já não tem, havendo sinalização para pedestres.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO CRUZAMENTO COM RUA GUILHERME ROCHA
96 anos separam as duas fotos. É o cruzamento da Rua Formosa (hoje Rua Barão do Rio Branco) com Travessa Municipal (hoje Rua Guilherme Rocha).

Na primeira foto vemos o tipo de iluminação da época, combustores a gás, em contraste com a segunda, a vapor de mercúrio; os veículos também são outros, em lugar da carroça e do bonde de tração animal, automóveis com motor à explosão; o calçamento contrasta com o asfalto e os prédios trazem além da diferença de época nas construções, a atual poluição visual e comercial.

O sobrado na esquina, na velha foto, é do João Antônio Garcia e incendiou-se em 30 de setembro de 1929, sendo construído o que vemos na foto atual. Neste atual, funcionou a rádio Iracema, o Partido Comunista, a Liga Integralista a loja "A Espingarda", a sorveteria "Cabana", "A Esmeralda", em épocas diferentes.

O sobrado da esquerda era da família Justa e ali funcionou a "Pensão Familiar", a "Farmácia Albano", a "Farmácia Meton", a "Farmácia Fortaleza", o "Café Rex", "sorveteria Pontes", a casa de merendas "Pic-Nic" e hoje é o Edifício Jalcy, tendo no térreo as "Óticas Itamaraty", o "Palácio das Canetas" e o "Waldo's", café e tabacaria.

O calçamento na foto antiga é do tipo ainda hoje utilizado nos bairros distantes, e que foi apelidado de "cearalepípedo". São pedras toscas quebradas à marreta. Antes as pedras são extraídas nas serras, por meio de dinamite. Os calçamentos se iniciaram em Fortaleza ao tempo da seca de 1877, quando foi aproveitada a mão de obra dos flagelados que traziam os blocos de pedras nos ombros desde as pedreiras.

RUA BARÃO DO RIO BRANCO ESQUINA COM RUA GUILHERME ROCHA II
O velho sobrado da esquina da Rua Guilherme Rocha com Rua Barão do Rio Branco, deu abrigo, por muitos anos, a "Pensão Familiar", a "Farmácia Albano", a "Farmácia Meton", a "Farmácia Fortaleza", o "Café Rex", "sorveteria Pontes", a casa de merendas "Plc-Nic" e hoje é o Edifício Jalcy, tendo no térreo as "Óticas Itamaraty", o "Palácio das Canetas" e o "Waldo's", café e tabacaria.

Ao tempo da "Farmácia Albano", de Antônio Albano, pai, de José Gil Amora, nos fundos tirava o jornal "O Garoto'" da Academia Rebarbativa.

A foto antiga não é tão velha, datando da década de 1940 já em seu final. Apesar da presença dos trilhos e fios de bondes, talvez esses já não mais existissem, pois deixaram de circular em 1947. A rua ainda era calçada com paralelepípedos. Vemos no velho sobrado os "jacarés" para descida d'água.

A foto atual mostra. No local do velho sobrado da "Farmácia Albano" o Edifício Jalcy, inaugurado em 1959, que traz na parte térrea o "Waldo's" (café e tabacaria). Em seguida vêm várias lojas e depois o edifício Diogo, hoje transformado em "shopping" e várias lojas e bancos, com destaque para a "Casa Pio", "Fininvest", Bradesco, "Charmile", "Bunny's", "Lojas Pecary", Banco de Crédito Real de Minas Gerais, etc.

O asfalto, a sinalização, os carros, telefones públicos (orelhões), postes de concreto-armado, semáforos, iluminação pública a vapor de mercúrio, tapumes e vestimentas das pessoas, mostra a diferença de época das duas fotos.

Chamamos a atenção para a quantidade de aparelhos de ar condicionado nos prédios, principalmente no Jalcy.



Fonte: Portal da história do Ceará e arquivo Nirez

Ruas de Fortaleza - Mudanças ( Av. João Pessoa - Bairro Damas)


A antiga aldeia indígena Potyguaras transformou-se, em 1607, no lugarejo fundado pelos Jesuítas, Parangaba. O nome português dado ao lugar era Arroches, a partir de 1759, com a invocação de Bom Jesus dos Aflitos. Depois passou a chamar-se Porangaba. A estrada Fortaleza-Porangaba, distando 7km e 200m, era de areia batida até 1929, quando o governo federal, na época de Washington Luiz, mandou fazer a estrada de concreto. Quem construiu a estrada foi a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas - IFOCS, que contratou o serviço com uma firma construtora. Ao terminar a avenida esta ganhou o nome de Washington Luiz, mas logo veio a Revolução de 1930 e o povo arrancou as placas e substituiu por João Pessoa, que tinha sido assassinado naquele ano e embora o crime fosse por razões pessoais a ocasião o transformou em crime político para fortalecer os antagonistas da candidatura do governo*.

Os meios de transporte para Porangaba eram os ônibus e o trem. Na década de 40 havia alguns pequenos ônibus tipo lotação do Rio de Janeiro que ajudavam no transporte para Porangaba.

Depois Porangaba trocou o "O" pelo "A" e passou a chamar-se novamente Parangaba, como os indígenas a chamavam. Em 1967, na administração Murilo Borges, foram introduzidos em Fortaleza os ônibus elétricos e uma das linhas era a de Parangaba.

A avenida João Pessoa já foi conhecida como "avenida da morte", quando tinha duas mãos e era a única via entre os dois locais. Hoje Fortaleza é ligada a Parangaba por várias vias, sendo as principais as avenidas Alberto Magno, João Pessoa e José Bastos.

Já nada, absolutamente nada mais existe da antiga avenida na foto atual, de Osmar Onofre, nem o concreto, que foi coberto pelo asfalto.


*Há controvérsias: 







Fonte: Portal da história do Ceará e Nirez

sábado, 29 de maio de 2010

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Almirante Jaceguai - Descida da Prainha)


A foto antiga data de 1905 e mostra a atual rua Almirante Jaceguai vista da avenida Leste Oeste, ou começo da avenida Monsenhor Tabosa, olhando para o lado do mar. Do lado esquerdo, o oitão da casa construída no século passado pelo senhor José Pio de Farias, que era agente do Loyd Brasileiro. A casa tinha uma torre de onde ele observava a saída e chegada de navios. Depois a casa foi vendida para o engenheiro inglês Francis Reginald Hull, conhecido apenas como Mister Hull e que hoje é nome de avenida em Fortaleza. Ele aproveitou a torre para fazer suas observações astronômicas e meteorológicas, fazendo-se autoridade em estudos climáticos do Nordeste. No horizonte, vê-se um navio, já que o porto era a ponte de desembarque que ficou conhecida como Ponte Metálica.

A rua, na fotografia antiga, tinha, no meio da ladeira, vários degraus. Na época havia somente bondes de tração animal e não havia nenhuma linha que fosse até ali, mas no período dos bondes elétricos uma linha ia até os degraus e tinha o destino "Prainha", era da companhia Inglesa "The Ceara Tramway Light & Power Co."

A Segunda foto data de 1990 quando a casa foi parcialmente depois demolida, passando a servir de estacionamento de carros. O restante da rua tinha algumas casas que serviam de armazéns e/ou casas comerciais, muitas de exportação e importação. Distante, o prédio que abriga a Capitania dos Portos.

Na foto atual, de autoria do fotógrafo Osmar Onofre,percebe-se que além das mudanças naturais de época, como o calçamento pelo asfalto, as calçadas e meio-fio, postes em vez de combustores e a destruição da casa de Mr. Hull, a vegetação próxima à praia, onde além das árvores de copa, abundavam coqueiros, foi dizimada.

Foi construído no local, em 1998, tomando vários quarteirões, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, inaugurado em 1999, entre a Rua Boris, Avenida Leste Oeste, Rua Almirante Jaceguai e Avenida Pessoa Anta, com salas de exposições, cinemas, teatro, anfiteatro, auditórios, café, ateliê de arte, salas de aulas e espaços para "shows". Dentro do Centro, são também inaugurados o Planetário Rubens de Azevedo, pelo próprio, e o Anfiteatro Ministro Sérgio Mota. A Rua Almirante Jaceguai foi alargada e hoje tem um canteiro no centro.

RUA ALMIRANTE JACEGUAI - Subida da PRAINHA

Temos aqui três fotografias da atual Rua Almirante Jaceguai, que nasce na Avenida Pessoa Anta e morre na Avenida Leste-Oeste, em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha. A foto mais antiga data de 1912(detalhe para os degraus que aparecem na foto), a do meio é de 1985 e a outra é atual.

Em 1839, Antônio Joaquim Batista de Castro requereu à Câmara Municipal licença para construção de um templo sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, ao mesmo tempo em que pedia a abertura de um beco nas imediações.

De posse da licença, foi criada uma irmandade para conseguir meios para a construção. Conseguem com o arquiteto e engenheiro José Antônio Seiffer a planta da capital. A partir de 1864, é criado o Seminário Episcopal e os dois prédios passam a ser um bloco só.

Vemos na foto antiga o final da linha de bondes e também dos fios. Ali o bonde tinha sua lança virada e seus bancos também, ficando o encosto como assento e vice-versa. Também estão presentes dois combustores a gás carbônico, além de um poste de madeira.
Na esquina, a torre do observatório existente na casa do Mister Frances Hull, onde ele fazia suas observações astronômicas e meteorológicas, além de observar a chegada e saída dos navios no porto - na época, a ponte metálica. Como antigamente não havia carros, existiam degraus em toda a largura da rua, além das calçadas. No alto vemos a citada igreja.



A segunda foto já traz o asfalto, o meio fio, a uniformidade das calçadas, postes de concreto com transformadores, os restos da casa de Mister Hull, que foi derrubada para ser transformada em estacionamento. A igreja permanece com antes e já não há os degraus na rua.



Ontem e hoje

A foto mais recente mostra a nova rua que foi construída como um dos acessos ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com duas pistas; ambas descendo, os restos da casa de Mr. Hull desapareceram; placas nos postes e lixo na calçada compõe a nova paisagem; continuam incólumes a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o Seminário da Prainha que já não é mais seminário.





Fonte: Portal da história do Ceará e Arquivo Nirez

Palácio do Bispo - Paço Municipal




Casarão construído na primeira metade do século XIX pelo Sargento Mor e comerciante português Antônio Francisco da Silva, que lá instalou o seu armazém de alimentos e que depois o vendeu ao comendador e rico negociador, Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, sendo seu proprietário até 1860. Foi um dos primeiros casarões de Fortaleza, originalmente de linhas neoclássicas, o sobrado destacava-se pelas aberturas encimadas com arcos plenos, apresentando uma predominância de cheios sobre vazios e um aspecto compacto, este expresso pelos altos muros que cercavam a edificação. Situado a Rua das Almas – Hoje Rua São José, entre as ruas Rufino de Alencar e Costa Barros.

Quando era o Solar dos Mendes, o palacete foi palco dos mais suntuosos bailes na Fortaleza do século XIX. Conforme os jornais da época, as festas atravessavam a noite e os convidados só saiam ao amanhecer.


Comendador Joaquim Mendes e sua esposa Joaquina Mendes Ribeiro.

Em 1860, o comendador, sua esposa dona Joaquina Mendes Ribeiro e o coronel José Mendes da Cruz Guimarães, o vendem por escritura pública ao Episcopado, perante a Tesouraria da Fazenda no dia 21 de abril, pela quantia de 60:000$000, ou seja, 60 contos de réis, conforme autorização do Ministério do Império em Aviso de 12 de março do ano citado. A entrega deu-se no dia 21 de junho do mesmo ano. Em 1892 a Tesouraria fez entrega do prédio para o Bispado de Fortaleza (Conforme a lei nº 25, de 28 de outubro de 1892), passando a ser conhecido por Palácio do Bispo e por fim veio parar nas mãos da Municipalidade, chamando-se hoje Palácio João Brígido (em homenagem ao jornalista, advogado e político, de acordo com a Lei nº 4.176, de 21 de maio de 1973) e é ocupado pelo Paço Municipal


Interessante salientar que na época do Solar dos Mendes (também chamado de Chácara dos Guimarães), o palácio ainda fazia parte do bairro Outeiro e era considerado afastado do Centro, apesar de ficar por detrás da . Foi essa proximidade que o fez ser comprado em 1860 para residência dos bispos, apesar de ainda não haver bispo em Fortaleza naquela época, coisa que só viria a mudar em 1861, com a chegada de Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo da capital, mas ele não ficou no palácio, que só seria ocupado por um bispo em 1892, sendo seu primeiro morador Dom Joaquim José Vieira. O prédio é reformado e adaptado para as novas funções. 

 
O Palácio em 1928

Em 1911, pela ordem nº 226, da Diretoria do Gabinete do Ministério da Fazenda, foi posto à venda e, em março de 1912, foi adquirido por compra pela Diocese (a quem pertenceu até 1973, quando novamente voltou a ser propriedade do poder público).

Uma grande reforma é feita em 1931, pelo arquiteto prático José Barros Maia (o "Mainha"), ocasião em que sua fachada é completamente alterada.
Em 1973, sendo arcebispo Dom José Delgado (Que dá nome ao bosque), na gestão do prefeito Vicente Fialho, o prédio é vendido por mais de três milhões de cruzeiros a Prefeitura Municipal de Fortaleza, passando a funcionar o Paço Municipal. Além do Gabinete do Prefeito, outros órgãos administrativos passam a funcionar no prédio. 




Nesse mesmo ano, o Palácio passa por uma nova reforma, conservando num entanto, a fachada projetada por “Mainha”, um arranjo eclético, marcado pelo desenho neoclássico das molduras de suas portas e janelas e pelos arremates Art. Déco de seu frontispício. A fachada leste, voltada para o bosque, apresenta varanda e escadaria monumental.

O Bosque Dom Delgado, espaço aberto do sítio, é repleto de mangueiras, azeitoneiras, pitombeiras e palmeiras de dendê que dividem o lugar com os jardins projetados por Burle Marx. No bosque também se encontra o segundo baobá da cidade, ao lado de espécies exóticas. 



Lembro até hoje da entrevista do Sr. Milton, um zelador do Palácio do Bispo, que trabalhou durante muitos anos no prédio, desde a gestão do prefeito Vicente Fialho e que contou várias coisas interessantes e curiosas sobre o Palácio, como a passagem subterrânea que ia até a Catedral e que os padres, quando morriam, o caixão era colocado lá, não havia enterro. Sr. Milton era responsável por orientar a limpeza do riacho, o cuidado com o bosque, com o jardim e que pessoalmente, trazia plantas do horto e mandava replantar no Paço. Nessa mesma entrevista, ele relembrou quando o Riacho Pajeú virou ponto de fuga de assaltantes que fugiam da antiga Cadeia Pública (Hoje Emcetur) e aproveitavam o muro baixinho do Palácio para entrar e se esconder. Depois o prefeito da época mandou colocar grade e guarda municipal tomando de conta.

O Palácio foi sede ininterrupta da Prefeitura de 1973 até setembro de 1991, quando a Prefeitura Municipal de Fortaleza - PMF muda-se para a Serrinha, na Avenida Dr. Silas Munguba (Avenida Dedé Brasil na época), passando a funcionar no antigo Palácio do Bispo a Secretaria do Trabalho e Ação Social da Prefeitura e em caráter provisório a Fundação Cultural de Fortaleza



Palácio em 1931 após a reforma de "Mainha"

Em 21 de outubro de 1996, após ser reformado, o agora Palácio João Brígido, antigo Palácio do Bispo, recebe novamente o Gabinete do Prefeito que lá fica até 11 de dezembro de 2001, quando se muda novamente, agora para prédio na Avenida Luciano Carneiro nº 2235 no Vila União.

Finalmente, em janeiro de 2010, após 18 meses de reforma, a Prefeitura retorna ao Paço Municipal. A construção, com traços neoclássicos e Art-déco recebeu trabalho de restauro, onde um estudo foi elaborado para retomada dos antigos lustres, do piso e da fachada, sendo o restante da obra adaptada para atender as necessidades atuais, como novas instalações elétricas, hidráulicas, novos sanitários, pontos logísticos para recursos tecnológicos, câmeras de segurança e condições de acessibilidade para pessoas com deficiência (blocos de elevadores e rampas internas), sendo, no entanto, respeitado o projeto arquitetônico. As obras tiveram início em maio de 2008 e custaram a Tesouraria Municipal o valor de R$ 4.646.890,00. 


Foto aérea vendo-se o Palácio detrás da igrejinha da Sé 

 
O Paço Municipal (assim como o Bosque que o circunda) foi tombado em 2005 pela importância histórica do espaço da cidade em que está inserida a edificação, como referencial mais antigo do processo histórico que constituiu a cidade de Fortaleza, como também, os valores simbólicos agregados ao prédio, que o transforma num significativo espaço de memória. Tem uma área total de 5.529,22 metros quadrados. 


Fachada leste, voltada para o bosque, vendo-se a linda varanda e escadaria monumental. 
 
Não posso terminar essas linhas sem uma breve citação sobre Manoel Cavalcanti Rocha (homem de confiança do Bispo Dom Joaquim), porteiro do Palácio (chegou logo que instalada a Arquidiocese) e mais conhecido por Manezinho do Bispo. Manezinho era uma figura, um dos tipos populares da nossa Fortaleza antiga e valia-se da seção “Ineditoriais”, que a imprensa da época reservava às colaborações dos leitores, para publicar seus confusos escritos sem pé nem cabeça. Simplório, divertido e bem intencionado, praticando as letras com ingenuidade e despretensão.

Andava sempre empacotado num desbotado e surrado terno de alpaca, gravata preta e chapéu. Os bolsos do paletó, abarrotado de papeis, seus escritos. Dias e noites, era comum avistá-lo na abençoada portaria do Palácio.

Sobre ele, escreveu Gustavo Barroso em seu terceiro livro de memórias, Consulado da China: “Também nos visitava a miúde Manuel Cavalcanti Rocha, o célebre Manezinho do Bispo, débil mental (sic), magro, pálido, anzolado, que publicava uma vez por outra, folhetos de pensamentos os mais disparatados do mundo. No meio, alguns deliciosos: "Rapaz moço e sem emprego que se casa com uma moça de dinheiro, dá um tiro com a pistola da besteira nos miolos do futuro".


Fonte: Portal da história do Ceará, Arquivo Nirez, Jornal O Povo, Tribuna do Ceará, Diário do Nordeste, www.fortaleza.ce.gov.br