quarta-feira, 16 de junho de 2010

Início da história dos bondes de Fortaleza


Bondes puxados à burro - 1904

Dois empreendimentos marcaram, na mesma data - 31 de Junho de 1871 - e por iniciativa da mesma pessoa - Estevão José de Almeida -, o início da história dos bondes em Fortaleza. Um tratava-se de um “tram-road” (uma outra forma de dizer “tramway”) para veículos urbanos a tração animal, e o outro consistia numa via para bondes a vapor, ligando a cidade à povoação de Messejana. O prazo para a conclusão das obras, estipulado em três anos, não foi cumprido, pelo que efetuou-se novo contrato com Tomé A. da Motta, que denominou a empresa de “Companhia Ferro-Carril do Ceará”. Finalmente, em 25 de Abril de 1880, inaugurou-se o serviço dos bondes, com 25 veículos de cinco bancos, rebocados por muares, sistema que atravessou a virada dos séculos XIX / XX, mantendo-se por mais alguns anos. Por volta de 1910/11, começou-se a cogitar a eletrificação.


Um mapa de Fortaleza no qual se ver o traçado de linhas de bonde, provavelmente anterior ao mapa de Herbster. Agradecimento: J Terto de Amorim 

Mapa de Fortaleza feito por Adolfo Herbster em 1888 com o traçado das linhas de bonde e trem.


Detalhe do bonde elétrico


Em 4 de Fevereiro de 1911, chegou à cidade o engenheiro Ker Box, a fim de estudar as condições, chegando a uma conclusão favorável. Entrementes, a Cia. Ferro-Carril Cearense assinou contrato com a municipalidade, também expressando o intento de adotar a tração elétrica, e, não obstante, inaugurou mais uma linha de bondes a burro, ligando a cidade à região onde se localizava o Tiro Cearense. Por fim, em 24 de Junho de 1912, a CFCC passou à “The Ceará Tramway Light and Power Co. Ldt.”. Transcrevendo as palavras de Stiel, à página 124 da “História do Transporte Urbano no Brasil”, “Às duas horas da tarde, com a presença da sociedade cearense e representantes da imprensa, o coronel Tomé de A. Motta vendeu por escritura a referida empresa, bem como a do Outeiro... A nova empresa obteve concessão dos serviços de ‘tramways’ por 76 anos a partir de maio de 1911, luz e força elétrica. Eram então diretores da companhia, C. Hunt; A. A. Campbell Swinton; E. B. Forbes; Sir Howland Roberts e Tomé A. da Motta. Como quase todas as empresas de transporte da época, era de origem inglesa, sendo representantes no Brasil, Hugo Stenhouse na Av. Rio Branco, 46 - Rio de Janeiro.


Bonde de tração animal - Fortaleza - 1900. 
Em 25 de abril de 1880 é inaugurado o serviço de transporte de passageiros por bondes em Fortaleza, no Ceará. - Na foto vemos o bonde perto do Paço Municipal, fotografia do álbum Vistas do CE, princípio do séc. XX

Os primeiros bondes elétricos chegaram em 13 de abril de 1913 e a inauguração se deu no dia 9 de outubro do mesmo ano. Poucos meses depois a tração animal foi extinta na cidade. Os primeiros anos do bonde elétrico foram marcados pela baixa renda e a consequente precariedade, o que acarretou protestos por parte de usuários, chegando a ocorrer atos de vandalismo, como danos deliberados de via e veículo. A partir de 1925 foram perpetradas medidas para o melhoramento do serviço, construindo-se a nova linha para a Vila Messejana, e em 1927 inaugurou-se uma espécie um tanto bizarra de tramway, que consistia num sistema de bondes puxados por um trator inglês do tipo Simplex. Essa linha ligava Fortaleza a Cajazeiras. Em maio de 1945 a Light decidiu passar a empresa às mãos estatais, iniciando as negociações com o governo, que, por fim, assumiu o sistema, mas por pouco tempo. Por fim, como já ia acontecendo em diversas cidades brasileiras, o serviço de bondes também não foi estimulado em Fortaleza, acabando por extinguir-se em 1947. Mais tarde, como era de se esperar, constatou-se que os ônibus convencionais não davam vazão à demanda de transporte, e tentou-se a opção dos trolebus (cujo serviço começou em 1967), os quais, como de costume, tiveram o mesmo destino dos bondes, em 1971.

Bonde de tração animal: Foto do álbum "Vistas do Ceará", confeccionado em Nancy (França) no ano de 1908, que reúne o mais difundido e variado conjunto de registros fotográficos sobre a Capital do Estado nessa época. Sob os auspícios da firma Boris Frères - na época o maior estabelecimento comercial de importação e exportação aqui instalado - a publicação fotográfica visava a divulgação da prosperidade e beleza do Ceará no estrangeiro e em outras partes do Brasil. "Mais que um esmerado mostruário de Fortaleza na alvorada do século XX, o Álbum de Vistas do Ceará exprime uma das obsessões fundantes das sociedades modernas: a busca do controle programado sobre a memória a ser transmitida à posteridade, enfim, o desejo de perpetuar a imagem de uma era", enfatiza Cristina Holanda professora de História do Museu do Ceará. Nesta foto vemos a esquina da Rua Formosa (Barão do Rio Branco) com Travessa Municipal (Rua Guilherme Rocha), vendo-se, à frente da carroça, um bonde de tração animal.


Veja também:

O bonde - Parte II (Jacarecanga)
O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)




Fonte: Explanação baseada em dados colhidos da obra de Waldemar Corrêa Stiel, Álbum Vistas do Ceará e webshots de Fortal

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