A importância do rei dos animais contrasta com a modestia dos
frequentadores da praça Gentil Tibúrcio.
Em posição majestosa estão os leões da Praça General Tibúrcio. Trazidos de Paris, os reis dos animais, ainda que só da floresta, enaltecem a riqueza arquitetônica de um dos recantos mais tradicionais do centro de Fortaleza. Ostentando glória que um dia residiu na praça, os leões dão identidade ao espaço que é mais conhecido como a praça deles. Deles, os leões.
A área ocupada pela praça, hoje, ganhou relevância, inicialmente, por estar de frente para o que, na metade do século XIX, era a sede do governo cearense.
Recebendo assim três denominações: “Largo do Palácio”, “Pátio do Palácio” e “Praça do Palácio”.
Em 1877, por decisão da Câmara Municipal, o espaço passou a denominar–se “Praça General Tibúrcio”, em homenagem ao cearense Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza, que lutou na Guerra do Paraguai.
Um ano depois, imortalizou-se no centro da praça, um monumento em honra ao General, com a primeira estátua erguida no Estado do Ceará. Como na época as pessoas mais importantes eram enterradas dentro de uma igreja, Tibúrcio, por toda a sua coragem, ganhou importância e um monumento próprio, onde foram colocados seus restos mortais, localizado debaixo da sua estátua.
A praça está localizada no centro de Fortaleza, entre as ruas Sena Madureira, General Bizerril, São Paulo e Guilherme Rocha. Ela hoje forma um importante conjunto arquitetônico com a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a Academia Cearense de Letras (Antigo Palácio da Luz) e o Museu do Ceará (Antiga Assembléia Municipal).
José Pereira, 50 anos de praça: muitas histórias.
Antes de fazer parte do conjunto arquitetônico, o local já foi cenário para a passagem de mais importantes figuras políticas. Conta José Pereira, de lúcidos 92 anos de vida, que no púlpito, que subiram desde parlamentares a mendigos a urinar, foi palanque até para discurso do ex - presidente Getúlio Vargas.
Pereira, como é conhecido na praça onde trabalha há mais de 50 anos, recorda saudosamente do seu primeiro abrigo, logo quando chegou a Fortaleza. Vindo da sua cidade natal, Jaguaruana, depois de quatro dias de viagem, encontrou repouso embaixo das frondosas copas das árvores da praça.
Chegou à capital “sem lenço, sem documento”, com a vontade inabalável de vencer na vida. A praça foi palco de todas as suas tristezas, alegrias, superações. Seu primeiro emprego foi no Sombreiro Bar (atual Restaurante Lions), local onde já funcionou o mais importante restaurante de Fortaleza. No prédio também funcionava o Hotel Brasil, o mais renomado da cidade. Ele abrigava todas as ilustres figuras que pela cidade passavam.
Hoje, Pereira trabalha em uma banca do Paratodos, uma ilegalidade nordestina, que a polícia finge não ver. Exerce essa atividade com o prazer de retornar todos os dias para o seu primeiro porto.
A Praça General Tibúrcio já foi área nobre de Fortaleza.
Hoje, com a expansão da cidade, o centro se tornou um espaço mais comercial, que funciona de 8h da manhã às 18h da noite. Com isso, a praça perdeu sua vitalidade.
Pereira conta que há quarenta anos, os ricos e boêmios freqüentadores da praça, podiam chegar bêbados, portando bens de valor e se darem ao luxo de adormecer nos bancos. Ao acordarem percebiam que nada lhes faltava. Com a desvalorização do centro como área nobre, a praça passou a abrigar almas marginalizadas e prostituídas.
Muito dos comércios que hoje existem nas proximidades, antes eram motéis. Esta realidade contribuiu para que a praça deixasse de ser bem freqüentada e que seu espaço não fosse utilizado devidamente. De acordo com o cambista Emanuel Mendes, que trabalha na praça há
mais de 30 anos, chegou uma época que não se podia andar na General Tibúrcio em plena luz do dia, sem ser assaltado.Emanuel freqüenta a praça desde criança. Visitava todos os dias, quando ia deixar o almoço dos pais e tios, que lá trabalhavam como cambistas.
A estátua de Rachel de Queroz: agrega valor à praça apesar da ação de vandalos.
Ele vivenciou uma época quando ainda havia um estacionamento na Rua General Bizerril, que acabou quando construíram um calçadão que interliga a praça ao comércio de papelarias. Emanuel lembra que, depois da construção do calçadão, passou a funcionar o comércio, que
hoje é conhecido como beco da poeira. Depois de muito tempo o comércio foi retirado da General Tibúrcio, por conta da sujeira deixada.
Outra presença ilustre está sentada em um banco de madeira ao lado de uma árvore peculiar da praça, Ficus – Bejamim: uma estátua da Rachel de Queiroz, no auge de sua elegância. Ela foi colocada no começo de 2005, e presencia o atual cotidiano do logradouro, que flutua desde a comercialização do corpo até o exercício da solidariedade.
Fernando Moreira, porteiro da Academia Cearense de Letras, Conta que Rachel gostava muito da praça. Por conta dos vândalos, havia a intenção de colocar a estátua dentro da Academia Cearense. familiares da escritora porém fizeram questão de que ela fosse colocada no local que mais gostava. A vida da praça começa com a chegada dos comerciantes. O comércio abre, o sol esquenta, mas ela continua com sua sombra e ar fresco. Propício para receber quem está enfadigado dentro das lojas, quem espera alguém ou até mesmo quem passou a noite catando latas na cidade. Paulatinamente começa a se formar um grupo de amigos, batizados legalmente como: Associação amigos do Dominó. São aposentados, advogados, comerciantes, policiais fora do horário de serviço, que “brincam” por distração, para passar o tempo, a labuta.
Os amigos do dominó formam uma associação muito organizada, que se instalou na praça há mais de 15 anos. Para participar tem que cumprir a regras, para que não vire bagunça, nem prejudique ninguém. Só pode jogar quem for associado e apresentar a carteira de associado.
As regras consistem em: Não pode... Fumar quando estiver jogando; Estar embriagado;
Jogar com pessoas estranhas; Eles começam a jogatina logo cedo e se tiver componente
vão até anoitecer. O aposentado Francisco Ribeiro da Silva, 72, vai todos os dias, de ônibus, do bairro Benfica, para a praça, só para jogar. “É meu divertimento”, diz ele. A associação é sem fins lucrativos. O presidente da associação pede apenas para que os conveniados contribuam com um presente infantil, para animar as festas organizadas pelos amigos do dominó no dia das
crianças e no Natal. Essa festa é feita anualmente, para crianças carentes que vivem perto da praça.
A Praça dos Leões é espaço para muitas manifestações de caridade. No logradouro, também acontece de terça a quinta-feiras um sopão, ofertado pela Catedral de Fortaleza, que alimenta pessoas carentes que rodeiam a praça. São distribuídos cerca de duzentos copos. A sopa é feita com os donativos doados na Igreja do Rosário e na Catedral.
A praça que ainda preserva a passagem do antigo bondinho, que funcionava antes do automóvel dar o ar da sua graça, recebe visitantes de todos os tipos. Seja para visitar a Igreja; seja para visitar a Rachel, que tem melhorado a freqüência dos visitantes da praça; seja só de passagem, quem desceu ou quem vai pegar o ônibus; seja para fazer o comércio do café, de livros ou até do próprio corpo; seja para engraxar os sapatos; seja para fazer uma aposta no jogo do bicho. E no passar do dia, pode – se observar a quantidade de vidas, de objetivos, de realizações, de esperanças, de um momento de cada um que passa por ali.
Independente do sexo, idade, cor, raça ou religião. Todos que contribuem direto ou indiretamente para a história da praça, que há muito morre e revive.
Crédito: Isabella Purcaru
A "Praça dos Leões" é, para mim,a mais linda da cidade. Pena que eu sinta,atualmente, muito medo de passar por lá. Mesmo assim, quando passo não só aprecio a beleza do largo como "cumprimento" a querida Raquelzinha, que tanto nos deu.
ResponderExcluirQuando sei que furtaram,de novo, seus óculos, lembro de meu pai que tinha uma definiçao inusitada para a nossa cidade: "Fortaleza, cidade que FURTA e LESA a alma da gente"!!!!...esta frase, agora, teria que ser alterada???......sei não!!!!
Boa semana, amiga!
Beijinhos!
Eu tbm sempre que passo pela praça,
ResponderExcluirfaço uma "visitinha" a Raquel, tão
serena sentadinha naquele banco...
A frase do seu pai está super atual,
parece uma definição feita hoje!
Linda semana para ti tbm, linda! :)