sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nogueira Accioly - Década de despotismo no governo do Ceará

Foi presidente do Ceará pelo PRC (Partido Republicano Conservador)

Antônio Pinto Nogueira Accioly nasceu em Icó (Ce) no dia 11 de Outubro de 1840.
Durante a República Velha, foi um dos mais influentes político do Ceará. Foi também maçom pertencente a loja Fraternidade Cearense.

Nogueira Accioly nasceu em um sobrado na Rua Grande, em Icó, atual Av. Ilídio Sampaio nº 2131, onde hoje funciona o Paço Municipal, batizado de "Palácio da Alforria"

Filho do casal de primos José Pinto Nogueira, natural de Silvares (concelho de Lousada, Portugal) e Antônia Pinto (o sobrenome
Accioli
era de sua avó materna), era casado com Maria Teresa de Sousa Brasil, filha de Tomás Pompeu de Sousa Brasil, o Senador Pompeu, que era um sacerdote católico, e de sua common-law wife, esposa consuetudinária, Felismina Maria Filgueiras.


D. Felismina Filgueiras, matriarca da família Souza Brasil, e sogra de Nogueira Accioly.

Os pais, aparentados em Portugal, eram proprietários rurais em Icó (Ceará). O avô materno era português, José Pinto Coelho, natural de Silvares como o genro; fora o terceiro marido de Josefa Rosa Leonarda Accioly, batizada em Icó em 1758. Era Rosa Leonarda filha do cel. João Bento da Silva e Oliveira e de Jacinta Alexandrina de Moura Accioly, e por esta Jacinta, neta de Rosa Maria Pereira de Moura (filha de Filipe de Moura Achioli, alcaide-mor de Olinda e da prima D. Margarida Achioli) e de seu primo, o madeirense Jacinto de Freitas Achioli de Albuquerque.
Formou-se em direito pelo curso jurídico do Recife, em 1864, quando acrescentou o Accioly da avó materna a seu nome.
Nogueira Accioly - preferia escrever o nome com y - deveu ao sogro, o senador Pompeu, sua ascensão política. Sucede, ao fim do império, ao sogro na cadeira senatória, mas não chega a tomar posse devido à proclamação da república.
Sua grande oportunidade política se deu quando Bezerril Fontenelle assumiu o governo no quadriênio de 1892 a 1896, pois passou a ser vice-presidente do estado. Quando da sucessão de Bezerril Fontenele, este indicou Accioli para substituí-lo. Bezerril havia ganhado algum prestígio durante o seu governo, sendo Accioly eleito presidente do Ceará no quadriênio de 1896 a 1900.

Primeiro governo Accioly

Frustrando todas as expectativas do povo cearense, Accioly utiliza-se do poder para desenvolver a sua oligarquia. Tinha todo o apoio do governo federal e estadual, para os quais era considerado um homem honrado e íntegro. Assim manipulou a política de forma que favorecesse familiares e correligionários. Accioly não deu prioridade a setores responsáveis pelo desenvolvimento do estado. Preferiu voltar-se para a construção de obras onde pudesse tirar vantagem pessoal. Como exemplo podemos citar a construção de cinco pontes sobre o rio Pacotí, encomendadas à França através da Casa Boris Fréres. O dinheiro das pontes apareceu nas contas do Estado, mas as pontes nunca foram construídas. Não podemos esquecer de dizer que Boris era correligionário de Accioly.
Durante a seca que assolou o estado em 1898 e 1900 a oligarquia acciolina fez vistas grossas ao sofrimento sertanejo. Além da fome, ocorreu no estado uma epidemia de varíola. Rodolfo Teófilo, opositor de Accioli, fabricava vacina contra a varíola, saia conscientizando o povo e aplicando-a em quem permitisse. O grupo acciolino perseguiu a Teófilo, alegando que ele assim agia para desmoralizar o governo.
Terminando o seu quadriênio, Accioly foi substituído por Dr. Pedro Borges que a princípio quis voltar-se contra seu antecessor, mas acabou fazendo um acordo com ele. Acordo este que beneficiou a ambos. Borges governou o Ceará até 1904, com grande influência de Accioly. Durante o governo de Borges foi criada a Academia Livre de Direito do Ceará, feita com um único propósito: beneficiar os filhos de Accioly.

Segundo governo Accioly

A oposição e o povo de Fortaleza continuou a sua luta contra o domínio acciolino. Mas ainda não foi dessa vez. Em 1908 Accioly é eleito novamente presidente do Ceará, do ano de 1908 a 1912 quando foi deposto. Muitos movimento surgiram para derrubar Accioly do poder. O mais importante deles foi a Passeata das Crianças. Liderada por mulheres cearenses, cerca de seiscentas crianças, todas vestidas de branco, com laços verdes-amarelos e ostentando no pescoço um medalhão do coronel Marcos Franco Rabelo, desfilaram pelas ruas de Fortaleza, cantando e sendo olhadas por, mais ou menos, oito mil pessoas.

Postal de 24 de Janeiro de 1912, mostrando os estragos que derrubou Nogueira Acióli

O Babaquara, como era conhecido Accioly, enviou a polícia para combater o movimento. Esta agiu com rigor, tendo ocasionado a morte de várias pessoas. A reação de Accioly causou revolta no povo fortalezense que armou-se com o que pôde para tirar o Babaquara do poder. Accioly resolveu então renunciar. O responsável pelas negociações foi coronel José Faustino. A oposição aceitou a renúncia de Accioly desde que se cumprissem algumas condições, como:
  • Accioly jamais seria candidato ao governo do Ceará
  • Se comprometeria a não aceitar qualquer ajuda do Governo Federal para recolocá-lo no governo do estado
  • Deixaria de imediato o Palácio da Luz e se abrigaria no Quartel da Inspetoria do Ceará aguardando o primeiro navio que o levasse junto com a família para o Sul
  • Deixaria dois reféns : José Accioly e Glauco Cardoso, tutelados, mas com livre trânsito.

Barricadas contra Accioly - 1912

Exílio, morte do filho e morte de Nogueira Accioly


Deposto, é embarcado com a família, às pressas, para o Rio, num navio de cabotagem. Numa das escalas, bandidos (um de nome Clementino), pagos por grupos de seus opositores, invadem o navio, e matam seu filho Acciolito, Antônio Pinto Nogueira Accioly Filho. Ainda assim, Nogueira Accioly chega ao Rio, onde viveu até a morte, em 14 de abril de 1921 aos 80 anos de idade.
José Pompeu Pinto Accioly (Que ficou como refém), foi Senador da República pelo Ceará. Outro filho foi o embaixador Hildebrando Accioly. A esta dinastia familiar unia-se através de casamento o político udenista Juracy Magalhães, e, por sua primeira mulher a senadora Patrícia Saboya, o político cearense Ciro Gomes.

Embarque do presidente Antônio Pinto Nogueira Accioly (de cartola) quando de sua deposição.

A Revolta popular


Em Janeiro de 1912 as ruas e praças de Fortaleza se transformaram em campos de batalha. Na maior revolta urbana que o Ceará já conheceu, a população depõe o grupo político que dominou o Estado durante 20 anos, de 1892 a 1912. Comandado por Antonio Pinto Nogueira Accioly, o grupo teve como um dos principais representantes em Fortaleza o Intendente Guilherme Rocha, que ficou duas décadas no poder (de 12/07/1892 a 03/02/1912).

1912

Chefe político desde o final da monarquia, quando chegou a ser deputado, senador e vice-presidente da Província, Nogueira Accioly reorganizou seu grupo tão logo foi proclamada a República. Fundou o Partido Republicano Federal em 1890. A partir daí passou a comandar uma máquina política que ia da Assembléia, passava pela Câmara dos Deputados (onde elegeu toda bancada) até à maioria dos chefes políticos do interior, os chamados coronéis.
Essa situação favorecia práticas de nepotismo, fraudes, corrupção e atos de violência contra os adversários. A situação de violência extrema chegou ao ápice quando a oposição lançou Franco Rabelo para a disputa do governo do Estado. Diante da ampla aceitação do opositor na cidade, os partidários de Accioly passaram a usar da violência e intimidação.

1912 - Passeata em prol da candidatura de Franco Rabelo à presidência do Estado

O clima político, tenso, agravou-se com três passeatas pró-Rabelo reunindo milhares de pessoas. Nas duas primeiras a polícia interveio atirando, provocando correrias, atropelos e deixando pessoas feridas. Mas foi na terceira, uma passeata reunindo mais de 600 crianças, no dia 21 de janeiro de 1912, que o inesperado aconteceu: A cavalaria investiu sobre a marcha, atropelando e pisoteando quem encontrasse pela frente.
A partir desse fato começou o enfrentamento armado entre civis e policiais. A revolta teve início no dia 21 e só terminou no dia 24 com a deposição do oligarca.

Franco Rabelo, o candidato do povo! 
Convocação de 06 de maio de 1912.

Durante a revolta popular, Fortaleza se transformou em palco de guerra, com tiroteios, emboscadas, trincheiras e barricadas. A população enfurecida ocupou vários pontos da cidade, inclusive o Palácio do Governo, onde estava Accioly; promoveu saques e depredações, destruiu postes de iluminação, saqueou lojas, virou bondes e destruiu a fábrica de tecidos de Tomás Pompeu. Entre os alvos da depredação, a Praça Marquês de Herval, atual Praça José de Alencar e a Avenida Nogueira Accioly, instalada no seu interior.

Praça Marquês de Herval - A Praça foi completamente destruída durante a revolta popular de 1912. Na Praça tinha o Jardim Nogueira Acióli, inaugurado em 1903, na administração do intendente Guilherme Rocha. No dia 24 de janeiro de 1912 houve uma revolta e a consequente derrubada do governo Acióli e o povo rebatizou o jardim como Franco Rabelo.

As eleições vieram logo após a revolta, com a vitória do candidato da oposição Franco Rabelo, que não governaria mais do que 2 anos. Em 1914, da região do Cariri veio um exército de sertanejos, comandados por partidários de Accioly e abençoados pelo Padre Cícero, para depor pela força das armas, o novo governo. Novamente a população se preparou para o enfrentamento que acabou não acontecendo, face a intervenção do Governo Federal que substituiu Rabelo pelo Interventor Setembrino de Carvalho.

Telegrama de Franco Rabelo em 1912

Cartão-postal comemorativo da chegada de Franco Rabelo


Fonte: Wikipédia, Revista Fortaleza de Sebastião Rogério Ponte
Blog Icó Nacional, Biblioteca Nacional, Fco Antº Doria e Pesquisas na internet

16 comentários:

  1. Oi, Leila

    "Certos" assuntos não costumo discutir, como política e religião.....mas dá pra dizer que este
    foi um dos períodos mais conturbados na história cearense. Aliás, oligarquias nunca convém ao povo.
    Mas, é muito importante que conheçamos tudo da nossa história!!!!! Já conhecia um pouco da "era Acioli, inclusive li no "blog" fortaleza em fotos e fatos,da Fátima Garcia que sigo também por ser muito bom...

    Beijo, amiga!

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  2. Pois é, pelo o que pesquisei sobre
    o assunto, esse período foi negro para
    os cearenses, mas também ficou claro a
    garra e a coragem que tiveram ao bater
    de frente com um obstáculo até então
    intransponível.

    O blog da Fátima é realmente muito bom,
    muito rico.

    Beijos e um ótimo final de semana e
    feriado.

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  3. Pois é amiga, vivo "revelando" pessoas de minha família pra vc...rsrsrsr...
    Fátima é minha "consogra", ou seja,é sogra do Rodrigo Alboim,um dos fotógrafos dela (nas horas vagas),que é meu único e amado filho.

    Beijinhos, querida!

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  4. Sério?
    Que legal, amiga! :)
    Nossa, então vcs devem
    estar sempre às voltas
    com conversas sobre Fortaleza
    de antigamente, que máximo!!! rsrs

    Beijossssss

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  5. FORTALEZA é a "tecla" mais tocada, depois dos GATOS, que são nossos "netos" comuns.
    Nossos filhos,R/R,por enquanto, só têm gatinhos...rsrsrsrsr....estudam Veterinária, lembra?

    Beijos!!!!

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  6. Fortaleza tinha praças belíssimas! Lembro com saudades de minha infância, quando minha mãe me levava para a praça José de Alencar, onde tinha as paradas de ônibus perto do relógio central. É triste ver como nossos governantes deixaram as principais praças se acabarem, e principalmente o povo mal educado que suja e deteriora a cada dia, a história de nossa cidade.

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    1. O monumento a José de Alencar, virou banheiro público, é lamentável e vergonhoso!
      Isso sem falar dos vândalos com suas pichações q estragam nossos monumentos, prédios... Enfim, a cidade toda!

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  7. A pouco mais de 100 anos o Estado do Ceará livrava-sede um'governo sanguessuga',que por cerca de 20 anos(o famoso'ciclo de poder'),dominou o cenário político e econômico do estado,tendo ficado conhecido como o 'Dono do Ceará'.Mesmo depois da 'passeata das crianças',(estopim para a deposição do governo acciolino),Pinto Accioly continuou presente no cenário político,pois coordenou a criação de uma Assembléia Legislativa-dúbia,que funcionaria no Cariri-Crato,e a mesma elegeu como 'presidente' do estado(nomenclatura para o chefe de estado durante a República Velha-1889 a 1930),apócrifo-Dr.Floro Bartolomeu.À essa época a lei era a famosa-'lei de Chico de Brito,Eu ñ sei se a digníssima amiga Leila Nobre,já escreveu sobre o assunto.Dominava o cenário político a figura do 'coronel',(elite matuta,que comprava a patente da Guarda Nacional e dava sustentação ao sistema de governo da época).No Cariri com uma Assembléia dúbia,(funcionou de 1913 a 1914,e um governo estadual paralelo),o governo litorãneo-Franco Rabelo,passou pouco tempo no poder,pois em 14 de março de 1914 o Presidente do Estado,(apócrifo),lidera uma leva de sertanejos armados para deporem o governo legítimo.Que por sinal era um coronel de fato e de direito do Exército-Marcos Franco Rabelo,na famosa-'Sedição de Joaseiro'.O 23 BC,ficou de braços cruzados pois havia ordens expressas do Presidente da República o Marechal Hermes da Fonseca de que ñ deveriam reagir ao'levante sertanejo'.Olha haviam duas figuras preponderantes para a vitória da 'Sedição de Joaseiro',-Francisco Pinheiro Machado,Senador gaúcho que'pegava no pulso'de Hermes da Fonseca,(por isso da ñ reação do 23 BC-foi uma ordem do Pinheiro Machado).O segundo,o homem hj considerado santo pelos nordestinos que já à época tinha milhares de sertanejos que por Ele ,matavam ou morriam,parte desses foi com Floro Bartolomeu para depor Franco Rabelo,Padre Cícero Romão Batista. Texto Santana Júnior.

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    1. Agradeço o rico comentário, querido amigo Santana Júnior!

      Beijosssssssssss

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    Um abraço

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    2. Recife, Quinta-Feira, 19 de Novembro de 1998

      Comentarista político lança livro biográfico

      Conhecido da imprensa pernambucana por seus trabalhos de comentarista político na TV Globo e em vários jornais do país, o jornalista Márcio Accioly envereda agora pelo romance e lança, hoje, o livro Sagrada Família, em Casa Forte. O livro conta a história de uma família nordestina, de fortes raízes católicas, e é ambientado no início do século até os dias atuais.

      Através da narração de quase um século de existência desse clã, com traços autobiográficos, o escritor faz uma análise política do país. Episódios extraídos da vida real, como no golpe de 64, são romanceados no texto. "O romance é uma forma de buscar o embasamento que justifique este surrealismo da política nacional", ironiza Accioly.

      Ele defende a idéia de que buscar as origens da família é o melhor caminho para se entender a política. "É no núcleo familiar que a nação vai buscar a sua formação", avalia.

      Atualmente morando em Brasília, o escritor é pernambucano do município de Pedra de Buíque, distante 13 quilômetros de Arcoverde. SagradaFamília, editado pela Bagaço, é seu primeiro romance. Márcio Accioly prepara um segundo romance e um livro de contos.

      SERVIÇO
      Lançamento do livro Sagrada Família, de Márcio Accioly, Editora Bagaço, 250 páginas, R$ 15,00
      Quando: hoje, às 19h
      Onde: Editora Bagaço (Rua dos Arcos, 150, Poço da Panela, perto do bar Freguesia do Poço)

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      Marcio Accioly
      https://www.facebook.com/marcio.accioly

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