sábado, 14 de maio de 2011

Praça da Lagoinha e sua história ferroviária


Foto do dia da inauguração da Praça em 12 de julho de 1930.

Aquela quarta-feira, 12 de julho de 1930, seria de excitação geral. Pelas estreitas, imundas e nuas ruas do Oeste da cidade, mas também pelas avenidas belas, bem cuidadas e pavimentadas em paralelepípedos do lado Leste o assunto era um só: a inauguração da Praça Comendador Teodorico, enfeitada pelo aromático e colorido Jardim Thomas Pompeu com suas flores de mel, margaridas, rosas e até crisântemos refugiados da longínqua Ásia. Entretanto, a atração principal daquela noite seria a tal Fonte importada da Alemanha. Há meses os fortalezenses esperavam para ver de perto o mais novo brinquedo, comprado a peso de ouro, com o parco dinheiro dos munícipes e, como sempre, gasto a rodo pelos governantes. “Ora vejam! Gastar com um chafariz de ferro de enfeite enquanto os bairros mais pobres nem uma bica possuem e se valem da água de cacimbas imundas ou de córregos para onde também são enviados as águas servidas e os dejetos das latrinas”. (Livro A Ordem da Sereia - Em produção) - Leonardo Nóbrega.

Arquivo Assis de Lima

Lagoinha¹ ficava cerca de trezentos metros da rua das Trincheiras (Liberato Barroso), próximo a Praça Marquês do Herval (José de Alencar), com a rua da Intendência (Guilherme Rocha), pois era uma pequena lagoa, de onde os escravos traziam água para seus patrões.
A Pequena lagoa em seguida fora aterrada, reduzindo-se o espaço da mesma e dizem até com lixo.



Foto do acervo Assis de Lima

O trem na Praça da Lagoinha - Foto do acervo Assis de Lima

O Comerciante Abel Costa Pinheiro fornecia água para as casas, em carroças com barris através de uma cacimba que, era forrada com anéis de madeira, cuja construção data de 1850.

Arquivo Assis de Lima

Em 1860 houve a inauguração da Companhia de Água do Benfica; A Cacimba ficou ao abandono até que a Estrada de Ferro de Baturité a reconstruiu em alvenaria e passou a utilizá-la.

Casa de Saúde Dr César Cals - Foto do Acervo Assis de Lima

Arquivo Assis de Lima

Foi construída uma caixa d'água que foi pintada de vermelho. Tinha um cata-vento que acionava a bomba e, ao lado por onde passava os trilhos, tinha uma torneira, pois, era um dos pontos de abastecimento das locomotivas à Vapor.

Eram abastecidas neste local as locomotivas MaranguapePacatuba, Acarape e a pioneira Fortaleza, máquinas adquiridas na Inglaterra construídas por The Hunslet Company Leeds.


Após a inauguração da via férrea foram construídos prédios e, fora dada vida naquelas imediações.

Casa de Saúde São Lucas - Foto do Acervo Assis de Lima
No dia 30 de Abril de 1928 é inaugurada a Casa de Saúde São Lucas, sob direção do Dr. Abdenago da Rocha Lima, na Avenida Tristão Gonçalves, ao lado da Praça da Lagoinha 
(atual Capistrano de Abreu).

Arquivo Assis de Lima

Aos 16 de outubro de 1917 devido ao crescimento da cidade, a linha teve de ser retirada do centro; Houve o desvio no sítio Amaral, bairro de Porangabussu que cortara o Farias Brito (à época Matadouro), sendo acompanhada pela Av. José Bastos, tal como está.



Arquivo Assis de Lima

A Estação de Matadouro foi inaugurada em 30 de dezembro de 1922, homenageando posteriormente o Engº Otávio Bonfim (Chefe da Via Permanente RVC-1923) em 1926.

Voltemos a Lagoinha...

No dia 12 de julho de 1930 era inaugurada a Praça Comendador Teodorico com o Jardim Tomaz Pompeu; Esta praça recebeu do então prefeito Álvaro Weyne a Fonte dos cavalos² (Adquirida na Alemanha) que depois foi parar na Avenida 13 de Maio no cruzamento com a Avenida da Universidade e hoje está na Praça Murilo Borges (BNB).
Após a saída do trem dessa Rua Trilho de Ferro ( Avenida Tristão Gonçalves) ainda por muitos anos, assim continuou sendo chamada.


Casa da Família Pompeu - Foto do livro Centro Histórico de Fortaleza - Ensaio Fotográfico Mauricio Cals

Aos 03 de maio de 1965, na gestão de Murilo Borges, fora inaugurada a estátua do historiador Capistrano de Abreu, cearense de Maranguape.



Arquivo Assis de Lima

Finalizando prevalece a popularidade: Praça da Lagoinha, contudo guardando silenciosamente na etnologia/topográfica, uma página da História Ferroviária.



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¹Antes era uma praça de areia, sem urbanização nenhuma, onde os escravos apanhavam água numa pequena lagoa existente no centro e que de seca em seca foi desaparecendo.
Em 1850 foi cavado um poço forrado de aduelas de madeira.
Com a inauguração dos poços do Benfica em 1860, a cacimba (poço) foi abandonada e o lixo da cidade passou a ser colocado ali.
Em 1884 a estrada de ferro mandou aterrar o restante da lagoa com areia do morro Croatá a fim de preservar a população do alastramento do cólera-morbus.
Foi levantado um cata-vento e uma caixa d`água para abastecimento das locomotivas que passavam pelo Trilho de Ferro, como era denominada a hoje Avenida Tristão Gonçalves.
Hoje existe, no centro da praça, uma estátua sem nome, de autoria de H. Leão Veloso, e na parte que fica a sudeste, uma herma com os dizeres: "Ao Dr. Abdenago da Rocha Lima, homenagem do Instituto de Proteção e Assistência à Infância, no Cinquentenário de sua fundação, 19/05/1963".


²Fonte importada, toda em bronze trabalhado, ornamentada de cavalos e sereias.
O arquiteto responsável pela obra foi Rubens Franco.




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Leia tbm o texto maravilhoso de MCals

Todos os créditos vão para o amigo e colaborador Assis de Lima

9 comentários:

  1. Oi, Leila
    É dessas, que eu gosto! Que castelo lindo,o da Famlia Pompeu...quantas mudanças nesse trecho todo que, hoje, a gente conhece tão bem como está.
    Ainda alcancei a "Fonte dos Cavalos" na prç. da Lagoinha. Minha avó materna, em 1947, ficou internada na Cesar Cals, e eu fui visitá-la...
    eu ainda não tinha 5 anos...era agosto,e eu faria 5 em outubro. Ainda era o prédio antigo. A praça ainda é bonita, mas muito mal tratada..
    Lamentável e PRONTO!...nada, se faz, né?

    Beijos, amiga, boa e produtiva semana!

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  2. Muitas mudanças mesmo, não lembra em nada a Praça da Lagoinha de hoje.
    Li outro dia no site do Diário do Nordeste que a praça já é ocupada há mais de 30 anos pelos ambulantes¬¬ E que há um projeto que prevê a junção das praças José de Alencar e Lagoinha, vc sabia disso? Não existirá mais a praça da Lagoinha? Será apenas uma, a José de Alencar?!?!?! Estou confusa agora rsrs

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  3. Obrigado pela retificação Leila. Visite meu blog:http://mcals.blogspot.com/
    Abs
    MCals

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  4. O seu blog é bastante conhecido. Já o tinha visitado diversas vezes. Parabéns e obrigado pelas palavras gentis sobre o meu.
    Abs
    Mauricio

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  5. Eu que agradeço! :)

    Sobre o comentário que fiz, não foi apenas gentileza, eu gostei realmente, seu blog é muito bem feito, vc se expressa muito bem e as postagens são bem cuidadas, parabéns!

    Beijos

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  6. Obrigado por divulgar os espaços públicos da minha Fortaleza. Esta Praça da Lagoinha foi um de meus inesquecíveis pontos de passeios de velocípede aos 4, 5 anos de idade!

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    1. Tem anos que não vou ao centro de Fortaleza. Na última vez que passei na praça da Lagoinha, meu espírito ficou abatido e meus olhos marejados ao ver o espaço onde brinquei quando criança nos anos 60/70 abandonado. Era uma praça muito linda!

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  7. Obrigado pela divulgação do trecho do meu novo romance. Abraços.

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    1. Oi Leonardo, que prazer! :)
      Não vejo a hora de ter a oportunidade de ler sua obra, deve ser magnífica!

      Forte abraço

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