terça-feira, 28 de junho de 2011

As pensões da cidade


Já quase não se ouve falar nas mulheres das pensões altas ou alegres, como eram conhecidas na década de 1950. Suas proprietárias foram morrendo e as ´borboletas noturnas´ foram banidas para outros locais fora do perímetro central, mas continuaram seus encontros para deleite da juventude da época, renovado sempre o plantel. Busquemos um pouco no espaço das ´odaliscas´ e façamos um percurso ao Centro da cidade, à noite, para vermos onde elas ficavam costumeiramente encasteladas a esperar um parceiro de qualquer idade, embora houvesse as preferências no íntimo, para vender amor a retalho... e a quem melhor pagasse, ou atender às solicitações íntimas.

Embora em crônica passada tenha em breve abordagem comentada sobre as casas noturnas, bordéis, casa de cômodo denunciando feito cortiço, nos idos anos de 1940 aos anos 1970, aos jovens que se iniciavam na vida sexual .Assim, persuadido por diversos amigos, mesmo despretensioso por não ser o último abencerrage do perscrutado para falar sobre os cabarés dos anos 1950 a 1970.

Apenas para atender persuasão dos mesmos e satisfazer a curiosidade de quem nada sabe o porquê de tão elevado número de casas de recurso das ´damas da noite´, que tornava alegre a cidade, pelas diárias festas nas ´boites´, ´pensões altas´, ´casas das grinfas´, ´viveiro de borboletas noturnas´, eram nomes para uma infindável nomenclatura das pensões das ´mulheres fatais´, ´marafonas´, ´mariposas´ que vinha desde o longínquo sertão cearense, outros Estados e até outros países, e, aqui ´sentar praça!...´ como se dizia naqueles idos tempo dos anos 1940.

De preferência o Centro da cidade foi o local mais procurado para elas, e, em aqui chegando a ´madame´ que recebia, com certa manifestação de apreço das outras ´borboletas noturnas´, já veteranas na casa. O cuidado maior da madame da pensão era não deixar permanecer no prostíbulo, menor de idade, como segurança - medida de precaução, só maior de idade.

De logo, era levada para se apresentar na Chefatura de Polícia, onde ficava fichada e em seguida fazia exame ginecológico, evitando transmitir aos jovens iniciantes, preocupante ´gonorréia´ e outras doenças infecciosas que grassavam naquela época aos desprevenidos ou outras tipos conhecidas comumente como ´doenças do mundo´, ´doenças dos famosos´, ´doença venérea´ e mazelas, porque nem se falava no uso da camisinha. Como conseqüência toda cortesã que ´sentava praça´ era rigorosamente fichada no Departamento de Diversões e Costumes da Secretaria de Polícia, para registro de sua permanecia do local, ou, servindo de anotações de antecedentes de sua vida pregressa, e proteção de segurança pessoal.

Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, a Licença de Funcionamento do lupanar era cassada por inobservar às ordens da Policia.

A jovem após exame ginecológico, preenchida a Ficha de Cadastro junto à autoridade policial, regularizava situação de prostituta, uma vez cadastrada, tinha assegurada a permanência na pensão onde estivesse, tudo com autorização da proprietária do cabaré e o visto da Delegacia de Costumes - da Chefatura de Policia - hoje, Secretaria de Segurança Pública. Tudo isso para satisfazer o desejo utópico do momento de transe, aliado ao apetite de cortejar a dama da noite, - a odalisca que quando se aproximava do cortesão, cujos olhos se transformavam em festa de atração mútua.

A cidade de Fortaleza esse quadrilátero perfeito, traçado por Adolfo Herbster, quando prefeito, agrupando avenidas, ruas, travessas, becos e vilas, serviu para atender a preferência dos primeiros habitantes que aqui se instalaram, quer no comércio, quer para residência muitas delas mista - comércio e residência, no caso da Rua Senador Pompeu - antiga Rua D´Amélia
, mas também para abrigar as doidivanas...



Rua Senador Pompeu - Foto de 1958


Pois nesse quadrilátero da cidade se estabeleceram as mais requisitadas pensões das ´andorinhas´, ´marafonas´, ´messalinas´, ´biscas´, ´chinas´, ´damas´, ´éguas´, ´fadistas´, ´mariposas´, ´moças do fado´, ´mulheres da comédia´, ´grinfas´, ´fuampas´, ´meretrizes´, ´cangatinas´, ´prostitutas´, ´horizontais´, ´mulheres de vida fácil´ e outros chulos que postadas na porta dos ´cortiços´ ou ´cabeça de porco´ aguardavam o freguês para fazer uma boa gamação - hoje ´barato legal´. Tudo sob mais auspiciosos segredos para que não transpirasse no seio das gradas famílias, que a tudo ocultava de forma sepulcral. Era assim como um verdadeiro ´sepulcro caiado´ os encontros previamente marcados com uma meretriz das ´pensões altas´ do Centro com os senhores maduros de idade.
Fazendo um percurso pelo Centro da cidade, recordando as coisas que o tempo levou, subindo e descendo velhas escadas de casarões que antes abrigavam famílias ilustres hoje lembranças guardadas no peito. Dos tempos mais recuados, vem a ´Pensão da Amélia Campos´, defronte a Padaria Lisbonense, na Rua Dr. Pedro Borges - Beco dos Pocinhos -a mais antiga.


Era em frente a então Padaria Lisbonense (Hoje Shopping) que ficava a Pensão da Amélia Campos


Na rua Governador Sampaio, Nº 80, permaneceu por mais de uma década a ´Pensão Boite da 80´, que importava as mais chiques mulheres do Sul, sob a orientação do ´caraxué´ que atendia pela alcunha de ´Paulete´; na rua Conde D´Eu, diagonal para a Catedral, tinha um prédio antigo com escadaria de madeira e três andares, na esquina da Travessa Crato, onde funcionou durante muito tempo a ´Pensão Paraibana´, que no início dos anos 1950 pegou fogo; na rua Conde D´Eu - a ´Pensão da Graça´, de propriedade de duas irmãs paraenses; pela Travessa Crato, perto da Praça da Sé, a ´Pensão do Zé Tatá´; seguindo a Travessa Crato, esquina com a rua Floriano Peixoto, a casa da estimada Cristalina - ´Pensão Cristal´;


Rua Conde D'Eu - Anos 40


Na rua Major Facundo Nº 154/156, primeiro quarteirão entre a rua Senador Castro e Silva com rua Senador Alencar - sobrado do Dr. José Lourenço de Castro e Silva, com três andares, mais antigo prédio de Fortaleza, tombado pela Secretaria de Cultura do Ceará e restaurado em 2006, pelo Governo do Estado.

Neste local, funcionou dentre outras a Loja - Casa das sombrinhas e guarda-chuva do Sr. Antonio Correia, onde também fazia conserto de sombrinhas... Depois a ´Boite Miami Beach´ - ocupava a parte dos altos com entrada pela porta principal; anteriormente funcionou nos anos 1950 a ´Pensão Marajá´; vizinho, a ´Boite Fascinação´, rua Major Facundo, Nº 160, ambas de propriedade de Maria Medeiros - conhecida por Mariinha, com amplas dependências que se assemelhava a um pequeno hotel, com perfeita estrutura arquitetônica; na rua Major Facundo, entre a rua Guilherme Rocha e rua São Paulo, funcionou a ´Pensão Estrela´, da madame Generosa, sobradão com quatro janelões de frente, de propriedade do Sr. Sólon; ainda na rua Major Facundo com a rua Senador Alencar, a ´Pensão América´, da conhecida Madame Nininha.



Zenilo Almada


Fonte: Diário do Nordeste

3 comentários:

  1. Tempos bons aqueles, muito embora eu não tenha par
    ticipado.Todos se respeitavam,se podia ir a pé a todos esses lugares a qualquer hora da noite, sem
    ser incomodado por ninguem. Bem diferente de agora.

    ResponderExcluir
  2. Nem me fale...hoje em dia a gente sai de casa e não sabe se volta!
    Devia ser muito bom sair tranquilo pelas ruas da cidade!

    ResponderExcluir
  3. Leila sua transcrição do livro Fortaleza Inesquecível, historiador e memorialista Zenilo Almada, esta muito boa, mas a leitura deste livro e especialmente este capítulo, ah! é bom de ver. - Clóvis Acário Maciel

    ResponderExcluir