segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Palácio da Luz



Edificação do século XIX. Pertenceu à Câmara Municipal, passando para o Estado pela Provisão Régia de 27 de julho de 1814.
O antigo Palácio do Governo é um polígono com frentes para a rua Sena Madureira, Praça General Tibúrcio e Rua do Rosário e fundos para a rua Guilherme Rocha. A parte oriental do edifício, onde funcionava o gabinete do Presidente, é de um andar em consequência da depressão do terreno, e a parte ocidental, que é térrea, era destinada à Secretaria do Interior. O lado sul da edificação era ocupada pela residência dos Presidentes do Estado.

Postal de 1902

Em 1847, o Presidente Ignácio Correia de Vasconcellos, fez uma muralha de 384 palmos de extensão para sustentar o aterro do largo do palácio. Com essa medida, a capital teve um lugar que foi, por muito tempo, uma espécie de passeio público e que hoje é a Praça General Tibúrcio. Em 1856, foram feitos serviços nas salas da frente do edifício, a reconstrução do terraço, os jardins e aterros do quintal. 


Em 1892, foram feitos novos reparos no edifício, mandando-se substituir os beirais do telhado pelas platibandas que ainda hoje permanecem.
O antigo Palácio da Luz, depois de vários usos, foi transformado em Casa de Cultura de Raimundo Cela a 1º de março de 1975.
Protegido pelo Tombo Estadual segundo a lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968, através do decreto n° 16.237 de 30 de novembro de 1983. Tombado duas vezes através também do decreto nº 15.631 de 23 de novembro de 1992.



O Palácio da Luz foi construído com o auxilio de mão-de-obra  indígena, para servir de residência  ao capitão-mor Antônio de Castro Viana. Posteriormente pertenceu a Câmara Municipal e por uma Provisão Régia de 27 de julho de 1814, foi adquirida pelo Governo Imperial. Ainda na primeira metade do século XIX, a edificação passou por uma série de transformações. Em 1931, Antonio Simões Ferreira e o pedreiro Braz Quintão de Souza apresentaram  uma planta para o paredão do “Largo do Palácio”.


No ano de 1839, foram realizados alguns acréscimos que levaram a edificação até a rua de baixo, atual Rua Sena Madureira. No governo do Presidente da província, Coronel Ignácio de Vasconcelos (1844/1847), foi construída uma muralha criando  uma espécie de passeio público, pois ele levantou pilares na referida muralha, guarneceu-a  de assentos e gradaria de ferro e colocou no centro uma escadaria para dar passagem para a "rua de baixo".  

"Uma temeridade do governo de Parsival Barroso! 1961: Venda do quarteirão onde se localizavam os jardins do Palácio da Luz. Note que parte dele já havia sido demolida para a continuidade da rua Guilherme Rocha. O terreno vai do prédio da Caixa Econômica ao Calçadão da rua Pedro Borges. Levaram até a caixa d'água. A razão seria arrecadar dinheiro para a construção do Palácio da Abolição." Lucas Jr - Foto Jornal Unitário


No inicio de segunda metade do século XIX, realizaram-se obras nas salas da frente do edifício, reconstruiu-se o terraço, os jardins e os aterros do quintal. Em 1892, os beirais de tornaram obsoletos sendo substituídos pela cimalha elevada. Na segunda metade do século XX parte da edificação foi destruída para a abertura da rua Guilherme rocha. Em 1975, no governo Cesar Cals, passou a abrigar a Casa de Cultura Raimundo Cela e, hoje, sedia a Academia Cearense de Letras. O antigo Palácio do Governo esta localizado entre as ruas Sena Madureira, do Rosário, Guilherme Rocha e a Praça General Tibúrcio.  


O edifício foi construído de acordo com a técnica tradicional de tijolo e madeira, utilizando-se material da região. Em virtude das inúmeras alterações sofridas ao longo do tempo, não é possível defini-lo dentro de um movimento arquitetônico específico. A edificação destaca-se por seu valor histórico e por ser parte integrante do conjunto urbano que compreende a Assembléia Provincial e a Praça General Tibúrcio. 


Fatos Históricos

 (1086 bytes)11 de janeiro de 1809 - O Palácio da Luz, que foi residência do Capitão-mor Antônio de Castro Viana e onde funcionou a Câmara Municipal, é vendido ao Estado e passa a abrigar o Governo.
Em 1892 foi gravemente danificado quando da deposição do presidente Clarindo de Queirós pela Escola Militar.
Em fevereiro de 1960, na gestão do governador Parsifal Barroso, metade dele foi vendido, sendo aberta uma rua dividindo-o.
Já abrigou a Biblioteca Pública, a Casa de Cultura Raimundo Cela (1975) e hoje abriga a Academia Cearense de Letras.



 (1086 bytes)Em 16 de fevereiro de 1892, uma revolta do Colégio Militar iniciou um bombardeio contra o Palácio da Luz, ocupando a praça, e um tiro acertou a estátua do General Tibúrcio, que caiu de pé.
Foi deposto o presidente do Estado, José Clarindo de Queirós.
A estátua voltou ao seu lugar, sobre um pedestal mais elegante, em 24/05/1893.
Em 1912, quando da deposição do comendador Antônio Pinto Nogueira Acióli e conseqüente deposição do intendente coronel Guilherme César da Rocha (Guilherme Rocha), assumiu o filho de José Albano, Ildefonso Albano, que logo cuidou de prosseguir o trabalho de seu pai, desapropriando várias casas em redor da praça e formando o atual quadrilátero, obra iniciada em 1913 e terminada em 1914. 
 

Comemoração do centenário de nascimento de Raquel de Queiroz

 (1086 bytes)16 de fevereiro de 1892 - Cadetes da Escola Militar do Ceará, revoltam-se contra o governador do Estado, José Clarindo de Queirós, obtendo adesão das forças federais, e o depõem na manhã do dia seguinte.
Os tiros de canhões derrubam a estátua do general Tibúrcio na Praça do Palácio, mas ela cai de pé.
O motivo foi que Clarindo de Queirós era aliado de Deodoro da Fonseca e o golpe dado por Floriano Peixoto determinou a deposição de todos os governadores que apoiavam Deodoro.
Assume o governo o coronel José Freire Bezerril Fontenele (General Bezerril), que passou o governo para o vice-major Benjamin Liberato Barroso (Benjamin Barroso) no dia 18 de fevereiro de 1892. 



 (1086 bytes)10 de outubro de 1929 - Nesta data uma sugestão de 'O Nordeste’ ao Presidente Matos Peixoto no sentido de se chamar de Palácio da Luz o Palácio do Governo do Ceará

 (1086 bytes)22 de janeiro de 1937 - Reúnem-se no Palácio da Luz, a convite do Governador Menezes Pimentel, representantes das diferentes classes, para o estudo de providências que atenuem a carestia da vida. 



 (1086 bytes)26 de fevereiro de 1938 - Chega em Fortaleza, às 10h25min, a bordo do hidro-avião "Marimbá", do Sindicato Condor, desembarcando no aeroporto da Barra do Ceará, o Ministro do Trabalho, Waldemar Cromwel do Rego Falcão (Waldemar Falcão), sendo saudado no Palácio da Luz com discursos de João Perboyre e Silva e Eduardo Mota, transmitidos pela Ceará Rádio Clube - PRE-9. 



 (1086 bytes)20 de fevereiro de 1952 - Festa pré-carnavalesca oficial com presença da Banda de Música do 23º Batalhão de Caçadores - 23BC e da Banda de Música da Polícia Militar do Ceará - PMC, doze blocos carnavalescos e, em palanque armado junto à Coluna da Hora, o prefeito Paulo Cabral de Araújo discursa fazendo entrega da chave simbólica da cidade ao Rei Momo Luísão I e Único.
Em agradecimento falou o jornalista Daniel Carneiro Job, o "Profeta da Cova", secretário real de sua majestade.
Do local seguiram para o Palácio da Luz onde os esperava o governador Raul Barbosa e o comandante da 10ª Região Militar, general Edgardino de Azevedo Pita e o Secretário de Polícia e Segurança Pública coronel Aldenor Maia.
Da sacada do Palácio novos discursos foram proferidos.


 (1086 bytes)06 de dezembro de 1952 - Morre em Fortaleza, vítima de colapso cardíaco, no Palácio da Luz, João de Sá Cavalcante, funcionário do Tesouro que exerceu por vários anos o cargo de coletor estadual.
Era pai de Walter Sá Cavalcante e Hermenegildo de Sá Cavalcante.


 (1086 bytes)08 de novembro de 1953 - No salão de recepção do Palácio da Luz realiza-se às 11 horas, a cerimônia de transferência do Governo do Estado, recebendo-o o vice-governador Stênio Gomes da Silva, das mãos de Raul Barbosa, que viajará para o Rio de Janeiro, permanecendo ausente durante trinta dias.
Presentes ao ato todo o secretariado do Governo, parlamentares, próceres políticos, jornalistas e outras pessoas gradas.

 (1086 bytes)01 de julho de 1958 - Solenidade, no Palácio da Luz, na qual o governador Paulo Sarasate transmite a chefia do Poder Executivo ao vice-governador Flávio Marcílio, desincompatibilizando-se, assim, para concorrer a uma cadeira na Câmara Federal.
Registrando o fato, escreve L.S.
(Luís Sucupira): ‘Deixou o governo com a saúde abalada, com os bolsos vazios, com a alma amargurada, com o espírito abatido.
E os que concorreram para isso, em vez de dar-lhe ao menos uma impressão de reconhecimento pelos sacrifícios exigidos, correm pressurosos a cercar o novo ídolo, num abissinismo muito conhecido e demasiado clássico'

 (1086 bytes)02 de fevereiro de 1960 - Nas administrações do Prefeito Manuel Cordeiro Neto e do governador Parsifal Barroso, com a complacência do historiador Raimundo Girão, é iniciada a derrubada de parte do Palácio da Luz (do Governo do Estado), para dar lugar ao prosseguimento da Rua Guilherme Rocha, até a Rua Sena Madureira.
148 anos de história destruídos para nada, já que o intuito era dar fluxo aos carros que circulavam pela Rua Guilherme Rocha e a rua seria aberta até unir com a Avenida Santos Dumont.
Na Guilherme Rocha, há muito tempo não circulam carros.



 (1086 bytes)20 de fevereiro de 1960 - Declaração à imprensa do Dr. Pompeu Sobrinho, presidente do Instituto do Ceará, sobre a divisão do Palácio da Luz, a qual, na sua opinião, ‘Não fere a tradição histórica’.


 (1086 bytes)1963 - O Palácio da Luz, no início da Rua do Rosário, deixa de ser a residência do governador e sede do Governo, sendo transferido para a Avenida Barão de Studart nº 410/598, casa projetada pelo arquiteto prático José Barros Maia (Mainha), para residência do senador Fausto Augusto Borges Cabral (Fausto Cabral), em 1951.
Em 1971 foi desapropriada e passou a abrigar o Museu Histórico e Antropológicodo Ceará.


 (1086 bytes)29 de dezembro de 1966 - Instala-se no Palácio da Luz, sob a presidência do general Raimundo Teles Pinheiro, a Companhia de Desenvolvimento Agronômico e Pecuário do Ceará (CODAGRO).


 (1086 bytes)26 de janeiro de 1967 -  A Biblioteca Pública do Estado, que estava funcionando no Palácio da Luz, começa a mudar-se para sua sede própria, na Praça do Cristo Redentor.
O autor destas linhas, Nirez, presenciou livros raríssimos sendo jogados ao lixo por estarem com as capas soltas.

 (1086 bytes)01 de março de 1975 - Inaugura-se, às 17h, no Palácio da Luz, a Casa de Cultura, pelo governador César Cals, ficando sob a direção do museólogo Henrique Barroso.


 (1086 bytes)15 de gosto de 2001 - Durante solenidade comemorativa dos 107 anos da Academia Cearense de Letras - ACL, com início às 19h30min, em sua sede, no Palácio da Luz, na Rua do Rosário nº 1, é outorgado o Diploma de Mérito Cultural ao jornalista e escritor José Blanchard Girão, ao radialista e jornalista Edilmar Norões, a beletrista e apresentadora de TV Fernanda Maria Romero Quinderé (Fernanda Quinderé), ao músico Frederico Barreto (Fred Barreto), a Mozart Machado, ao banqueiro Newton Freitas, ao engenheiro Paulo Bandeira de Melo e a escritora Yolanda Gadelha Teófilo, falando em agradecimento Newton Freitas.
Na ocasião o acadêmico Carlos Mauro Cabral Benevides (Mauro Benevides) usa da palavra para homenagear Luís Cavalcante Sucupira (Luís Sucupira) no seu Centenário.
A solenidade é encerrada com coquetel após recital do violinista Fred Barreto.


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Créditos: Secult, http://centrodefortaleza.com.br, Portal do Ceará, Álbum de vistas do Ceará 1908, Morar em Fortaleza, Gracinha Bezerra, Academia Cearense de letras, http://www.mar.mil.br e pesquisas na internet

sábado, 29 de outubro de 2011

A Pernambucana


A Pernambucana da Praça Capistrano de Abreu, 74

Há mais de 100 anos a Pernambucanas está ao lado da família brasileira. Sempre com o objetivo de atender as suas necessidades e desejos oferecendo uma ampla variedade de produtos e serviços. Moda, eletrodomésticos, cama, mesa e banho, utilidades, eletroeletrônicos, tapetes, cortinas e muito mais. Tudo feito com qualidade e muito bom gosto.

De família sueca, Herman Theodor Lundgren foi para a cidade de Recife em 1855 para abastecer navios que passavam pelo porto.



Departamento de crediário das Lojas Pernambucanas em 1974 - Centro. Foto de Nelson Bezerra
 
Departamento de crediário das Lojas Pernambucanas em 1974 - Centro. Foto de Nelson Bezerra

Como falava alemão e inglês, servia de intérprete para comandantes, tripulantes e passageiros, e isso fez seu negócio prosperar.

Abriu fábricas de pólvora e fertilizantes, exportou cera de carnaúba e sal para a Europa e assumiu o controle de uma indústria têxtil em Olinda.


Lojas Pernambucanas da Rua Major Facundo

Em 1906, Lundgren fundou a primeira loja de varejo, para vender os tecidos que fabricava. No ano seguinte, com a sua morte, seus negócios começaram a ser tocados pelos filhos, principalmente por Frederico João e Arthur.


Com o passar dos anos a rede cresceu muito, se modernizou, tornou-se uma marca ao mesmo tempo popular e fashion para a camada mais baixa da população.



A Arthur Lundgren Tecidos S/A - Casas Pernambucanas, é uma empresa totalmente informatizada, operando com tecnologia de ponta com todas as lojas ligadas em rede ao escritório central.

O povo levanta-se contra os nascidos nos países do eixo Roma-Berlim-Tóquio, em virtude do afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães e italianos e quebram os estabelecimentos comerciais de italianos, alemães e japoneses.

O Livro Álbum de Fortaleza - datado de 1931 - Organizado por Paulo Bezerra diz*:

A Pernambucana

Grande Emporio de tecidos
Lundgren & Cia. Limitada
"Estabelecida em Fortaleza ha vinte anos, "A Pernambucana" conseguiu impor-se ao publico consumidor pelas virtudes comerciais que a caraterisam.
Grande distribuidora de tecidos nacionaes, com 500 filiais de norte a sul, tornou conhecida a cuidadosa renovação de seus "stoks" e a preocupação sincera de vender barato, angariando a atenção de todas as classes.
As duas qualidades primordiais da "A Pernambucana": A garantia de suas estamparias - CORES FIRMES - e a sinceridade nas vendas, para todos os seus clientes, sem distinção de estado e condição - PREÇOS FIXOS.
Importa, igualmente, em grande escala, artigos estrangeiros, competindo em toda linha com as praças nas quais opera.
É uma das grandes organisações comerciais que se estendem pelo paiz inteiro, honrando e enriquecendo o patrimonio mercantil brasileiro."
*Grafia da época
A Pernambucana incendiada

Em 08 de agosto de 1942 acontece o chamado quebra-quebra, em represália ao afundamento de vários navios mercantes brasileiros na costa brasileira, torpedeados por submarinos italianos e alemães.
Estabelecimentos de alemães, italianos e japoneses são depredados, assaltados e incendiados pelo povo revoltado.
Até estrangeiros que nada tinham a ver com o "eixo" foram "punidos" por terem nomes complicados.
Na voragem foram incendiadas as lojas A Pernambucana e Casa Veneza e a firma Paschen & Companhia.
A Padaria Italiana muda seu nome para Padaria Nordestina, durante a revolta popular.


Em 23 de junho de 1958 anuncia-se que o governo do Estado irá pagar às ‘Pernambucanas’ 7 mil contos como indenização pelo incêndio que o povo lhe ateou em 1942, ao tempo da II Grande Guerra Mundial.

Comercial antigo




Jingle









Créditos: Álbum Fortaleza de 1931, Fred Guilhon, Fortaleza Cronologia Ilustrada, Ceará terra do sol, livro Ah, Fortaleza e Portal da História do Ceará e youtube

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Praça dos Correios - Uma praça que já foi três

  
Praça dos Correios - Rua Floriano Peixoto

No século XIX. O Largo da Assembleia, a Praça Waldemar Falcão e o Largo do Mercado, antiga sede do Mercado de Ferro, já foram um espaço só. Alterado pelo tempo, o povo resolveu uni-los outra vez. Agora, como Praça dos Correios


O Engenho Central Bembem

A então Assembléia Legislativa em 1930

A praça dos Correios não nos convida a ficar. Mesmo debaixo das árvores que fincam sombra e vento de fim de tarde, não há muita gente que se demore. Os gatos pingados entre o povo que vai e volta, da agência dos Correios ao Banco do Brasil e deste, ao Palácio do Comércio, se param, é para lustrar o sapato preto, comer um pedaço de abacaxi ou tomar uma água de coco. De pé. Não que a praça em si não seja agradável. É, sim. Porém, os bancos arrancados nunca mais foram repostos. E quem quer sentar e parar para ver o Centro passar tem de se conformar com escadarias, ou então, uma nesga de pilar da estátua de Waldemar Falcão


Prédio do atual Museu do Ceará


Foto de Assis de Lima

"Ele era advogado e foi ministro do Trabalho na época do Getúlio Vargas. E ele era de Baturité", surpreende, ropendo meu preconceito, Expedito Gomes, 67, enquanto tira um pente preto e fino do bolso e arruma os cabelos grisalhos. Os olhos embebidos pela catarata tentam me identificar enquanto a boca, quase toda lisinha, calcula mais de 30 anos na profissão de luzir sapatos. Quando chegou de Quixeramobim, foi ser engraxate na Praça do Ferreira e na José de Alencar até fixar terreno naquela beira de Centro. "Fui eu quem escolheu o lugar não, foi a Prefeitura. A profissão tá fraca, menina, agora sapato é tudo de pano e de borracha. A gente bota mais é virola (a ponta do salto) em sandália de moça. Hoje mesmo, não engraxei nenhum", coça a barba rala com o pente e narra conformado, sem lamentação. A vida de seu Expedito é o Centro. Mora há algumas quadras dali, na rua 24 de Maio, é viúvo. 

  
O Mercado de ferro em 1909

Em casa, ele e Deus. Os movimentos lentos de seu Expedito em nada se parecem com aquele meio de praça, de gente correndo, vendendo, falando. "O que eu acho dessa praça aqui? Minha filha, a gente mede pelo movimento. Se tem freguês para engraxar, tá ótimo, se não tem, a praça fica feia", avalia baixinho, quase como confidência, porque já tem gente que se achega. "Quer, amorzinho, tapioca e pão?", para uma mulher e seus mantimentos. "Hoje, não"


A praça e a Assembléia

As ruas que circundam a praça não conseguiram fixar um tema para as vendas. Redes, papelarias e nada mais apropriado para a área dos Correios - bancas especializadas em revistas velhas de mulheres novas e nuas, bancos e cabeleireiros, calcinhas nunca usadas estendidas em varais de comércio, rapadura e castanha, queijo fresco e uma infinidade de nada especializado arrodeia a praça dos Correios. Deixam longe, perdida no tempo, a praça que um dia foi chamada de Carolina, homenagem de 1817 à arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina


Dependências do mercado

Mercado de ferro

Família real

A distinção real, no entanto, permanece. Dessa vez, com o rei e a rainha do abacaxi. "Meu marido foi o primeiro a chegar aqui", orgulha-se Luíza de Marilac, 47, pastorando a banquinha lotada da fruta coroada e somando mais de 20 anos do Rei do Abacaxi (com tudo maiúsculo, porque virou o nome dele), tempo em que ele teria sido o primeiro desbravador do setor cítrico/frutífero do Centro da cidade. 

O local onde antes ficava o Mercado de ferro, hoje é ocupado pelo Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Banco do Brasil


A fruta é servida do jeito que o cliente desejar. O mel pode escorrer na hora, com a infrutescência descascada, pronta para degustar; embalada e sem casca para comer em casa ou ainda in natura, do jeito que vem da Ceasa, por sua vez, fornecida pela Paraíba, "onde tem os melhores abacaxis", garante Lúcia. A rodela grossa é R$ 1 e o abacaxi inteiro sai por R$ 2. Vendem muito; renda média do casal é de R$ 2 mil por mês. "Para a gente fazer nossas comprinhas e pagar nossos crediários". Eles aproveitam uma sombrinha para armar a banca e proteger a fruta. "É tudo fresquinho e a casca é forte, não estraga não", garante a mulher. 


Café Fênix quando a praça ainda se chamava José de Alencar

A praça dos Correios é caminho e ponto de referência aos domingos para quem quer cerveja gelada num alarido organizado do Raimundo dos Queijos. A confraria já não é mais na praça, mas se bica com ela e ajuda a mudar a esquisitice do Centro no dia santo. A receita é simples: queijo fresco, vindo de Tauá e Iracema, cerveja sempre gelada, cadeiras no meio da Travessa Crato* e uma banda formada por três irmãos, troando na seresta e no forró o mundo que não podem ver. Vanda Lúcia no vocal e triângulo; Francisco Honório, no violão; Valdeci, na sanfona, formam com outros dois amigos o grupo Regional Asa Branca

Rua Floriano Peixoto - Correios - Arquivo Assis de Lima

Ed. Correios e Telégrafos-1934

Dessa história, Marcos Sérgio Silva de Nascimento só ouviu falar. Dia de folga, foge do Centro da cidade. Ora, já basta a semana. Na pele, a vida marca experiências bem mais profundas que os 30 anos poderiam dar. Aparenta ter mais e sabe disso. "Trabalho aqui metade da vida, desde os 15", emenda. Começou como office boy, mas foi promovido há 12 anos a ascensorista do Palácio do Comércio. "A gente pode conversar, mas tem que ser aqui dentro. Eu não consigo ficar nem 15 minutos parado". Então vamos lá. 

Ed. Correios e Telégrafos

No sobe e desce, é um som fino de campainha que avisa que alguém chama. Manobra uma manivela, puxa a grade sanfonada, o grupo entra, ele conduz novamente o elevador. "É o dia todo e tem gente que não dá nem bom dia", reclama. Marcos tem medo de perder o emprego com a modernização do ascensor, mas defende a tecnologia manual por ser mais segura. Difícil um antigo dar problema. Plin! Mais uma passageira. "Eu morro de medo desses elevadores antigos, Ave Maria!", e desce a moça de salto, para o riso incontrolável de Marcos Sérgio. "Todo dia tem uma história assim". Imagine, então, o que reserva toda a praça. 

Palácio do Comércio na época de sua inauguração

Banco do Brasil

Saiba mais

A praça Waldemar Falcão foi definida após a retirada do Mercado de Ferro que foi construído no quadrilátero da ruas São Paulo, Floriano Peixoto e General Bezerril. Com a construção do Palácio do Comércio, Banco do Brasil e Correios, a área ficou delimitada por três espaços. Atualmente, Largo da Assembleia, Praça Waldemar Falcão e Largo do Mercado

Prédio do IAPB e o busto de Waldemar Falcão na Praça

O prédio dos Correios foi inaugurado em 14 de fevereiro de 1934. 
Os três espaços são limitados pelas ruas São Paulo, General Bezerril e Floriano Peixoto

A praça Waldemar Falcão é chamada assim desde 1960. Antes, foi praça Carolina, praça da Assembleia (1871), Praça do Mercado, Praça José de Alencar (1881), praça Capistrano de Abreu
O Largo do Mercado tem área de 960m², o Largo da Assembleia de 700m² e a praça Waldemar Falcão tem área de 1,500m². 

Dados Históricos

1812 - Construído o primeiro mercado de Fortaleza que foi um pavilhão de madeira, ou telheiro, no meio do cercado da Casa da Câmara.
Em 1814 foi iniciada a construção de um mercado na Praça Carolina.
No mesmo local foi construído um outro inaugurado em 1897.
No centro da Praça Carolina - no local hoje ocupado pelo Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Banco do Brasil - inaugurou-se em 1897 o Mercado de Ferro, para venda de carne fresca.
o espaço chamou-se Praça Carolina e depois Praça José de Alencar (não é a atual).
Em setembro de 1932 foi inaugurado o Mercado Central onde hoje está o Centro de Referência do Professor, entre as vias: Rua Coronel Bezerril (General Bezerril), Travessa Crato (Rua Sobral) e Rua Conde D`Eu.




Foto de Manilov

Foto de Eliomar de Lima

1817 - A Praça Carolina - Sua denominação foi uma homenagem à Arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina, por ocasião do seu casamento com D. Pedro II - era um grande largo que ficava entre a atual Rua São Paulo, Rua Floriano Peixoto, Rua Sobral e Rua General Bezerril, onde foi inaugurado, em 18/04/1897, o Mercado de Ferro.
Chamou-se, depois, Largo da Assembléia e Largo do Mercado.
Quando dividida, já se chamou Praça José de Alencar (o lado norte) e Praça Capistrano de Abreu (o lado sul).
Hoje, no local estão, o Palácio do Comércio, a Praça Waldemar Falcão, o Banco do Brasil (agência metropolitana) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT.
O Mercado de Ferro foi desmontado em 1939 sendo dividido em duas partes, indo uma para a Praça Paula Pessoa (São Sebastião) e a outra metade para a Aldeota, na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões).
A parte da Praça São Sebastião foi desmontada em 1968 e levada para a Aerolândia, onde ainda se encontra e no local foi levantado um galpão de alvenaria, com telhas de amianto, que já foi demolido, para a construção de uma praça para o novo mercado de São Sebastião.
Ao lado da Praça Carolina, foi construído o Mercado Central, que agora tem novo prédio na Avenida Alberto Nepomuceno, e já foi desativado em sua parte interna.
Na parte norte da praça, existia dois quiosques de ferro/madeira, a mercearia do João Aleixo e o Café Fênix, tendo por trás, um outro retangular, que abrigava o Engenho Bem Bem, que comercializava a garapa de cana, hoje chamada caldo de cana.
A Praça Waldemar Falcão inaugurou-se em 1939.

Foto de Ricardo Sabadia

Palácio do Comércio-Krewinkel Terto de Amorim

12 de setembro de 1881 -A antiga Praça Carolina, que ficava entre a Rua da Assembléia (Rua São Paulo), Rua do Quartel (Rua General Bezerril), Rua Boa Vista (Rua Floriano Peixoto) e Travessa do Mercado (Rua Sobral), recebe, no dia 12 de setembro de 1881, o nome oficial de Praça José de Alencar (não é a atual).
Hoje parte dela é Largo do Mercado e outra, Praça Waldemar Falcão.


18 de abril de 1897 - Inaugurado, na então Praça Carolina depois Praça José de Alencar (hoje Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão, Banco do Brasil e Correios), o Mercado de Ferro.
A Praça Carolina já foi Praça José de Alencar e Praça Capistrano de Abreu.
O Mercado de Ferro foi construído com dinheiro conseguido através dos bilhetes de crédito conhecidos como borós.
Era a administração do intendente (prefeito) Guilherme César da Rocha e do presidente (governador) comendador Antônio Pinto Nogueira Acioli.
O Mercado de Ferro era destinado à venda de carne verde (fresca), e de verdura, sendo a obra contratada com o mestre Álvaro Teixeira de Sousa Mendes (Álvaro Mendes), que utilizou nas calçadas granito cearense.
Sua estrutura metálica foi fabricada na França por Guillot Pelletier, de Orleans, obedecendo a projeto de Lefevre.

Foto de Ricardo Sabadia

14 de agosto de 1913 - Instalada a agência do Banco do Brasil em Fortaleza, sob a direção do Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, numa casa na Rua Barão do Rio Branco, tendo como gerente Francisco Barbosa de Paula Pessoa, passando em julho de 1914 para o Palacete Brasil; na Rua General Bezerril na Praça General Tibúrcio; em 1925, foi para a esquina da Rua São Paulo com Rua Floriano Peixoto, em sede própria; e em 07/03/1942 para outra sede própria, na Praça Waldemar Falcão (hoje agência metropolitana José de Alencar) e finalmente para a Avenida Duque de Caxias, esquina com Rua Barão do rio Branco, na Praça do Carmo.

Sede dos correios-Daniel Souza Lima

01 de maio de 1939 - Inaugurado, às 16h30min, na então Praça Capistrano de Abreu, o busto do ministro Waldemar Falcão, iniciativa do jornalista Gilberto Pessoa Torres Câmara (Gilberto Câmara), que o fez através de subscrição pública.
Na solenidade falaram José Ramos Torres de Melo, Vital Félix de Sousa, Gilberto Câmara, Antônio Fiúza Pequeno e o Interventor Menezes Pimentel.
Hoje tem o nome de Praça Waldemar Falcão.

Foto de José Alberto Ribeiro

01 de março de 1940 -Iniciam-se as obras de construção do prédio sede própria do Banco do Brasil, na Praça Waldemar Falcão.

07 de março de 1942 -Inaugura-se o prédio do Banco do Brasil, na Praça Waldemar Falcão, onde hoje funciona a Agência Metropolitana José de Alencar, entre o Palácio do Comércio e os Correios.
Na ocasião, discursaram Fernando Lemos Basto, gerente do Banco do Brasil, Genésio Falcão Câmara e Joaquim Antônio de Andrade Furtado, representando o Interventor.

Sede dos Correios - Foto de Zemakila

29 de abril de 1943 - Lançada a pedra fundamental do edifício do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários - IAPB, na Rua General Bezerril nº 275, no Mercado Central, em frente à Praça Waldemar Falcão.

05 de dezembro de 1975 -Dado o nome de Largo da Assembléia, ao espaço existente entre os prédios do Museu do Ceará e o Palácio do Comércio e Rua Floriano Peixoto e Rua General Bezerril; e Largo do Mercado, ao trecho entre os Correios e o Banco do Brasil, e Rua General Bezerril e Rua Floriano Peixoto, na administração do prefeito Evandro Ayres de Moura.

*A Travessa Crato - Foto de Daniel Souza Lima

Travessa Crato - Valmikleiton


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Fonte: Jornal O Povo, Portal da História do Ceará, Livro Cronologia ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural Vol I, Àlbum de Vistas do Ceará 1908, Assis de Lima, Nirez