domingo, 13 de novembro de 2011

Um trem na Praia de Iracema - O primeiro ramal ferroviário do Mucuripe



Praia Formosa - Dique de Proteção - 1943 - Assis de Lima

Em 25 de dezembro de 1933, fora inaugurada uma linha ferroviária, que ligou a ponte metálica ao Mucuripe. A mesma fora desativada em definitivo em 1946, apesar de em 1941 ter sido inaugurada a linha Parangaba/Mucuripe. O Viaduto Lucas Bicalho é a Ponte dos Ingleses errôneamente chamada de metálica. Essa nunca funcionou como porto, e sim como atração turística desde 1994.


Viaduto Lucas Bicalho Ponte dos Ingleses 1923

Em 1933 foi inaugurado o ramal ferroviário do Mucuripe. O caminho não era o atual, que sai de Parangaba, mas um ramal que saía da estação central, passava pelo Arraial Moura Brasil, Secretaria da Fazenda, Alfândega, seguia pela praia até chegar no Farol do Mucuripe, na Ponta do Mucuripe.

A  bifurcação em Y da avenida Aquidabã, hoje Raimundo Girão era o percurso ferroviário.


Praia em alguma época do passado - Assis de Lima

O estudo da formação urbana da praia de Iracema encontra-se, diretamente, ligado ao desenvolvimento das atividades portuárias em Fortaleza. Nos primórdios de sua ocupação, já se verificavam dois núcleos de desenvolvimento - o centro e a praia - demarcados em mapas e cartas de diversos períodos.

O porto fora instalado em continuação ao núcleo de povoação original, após a margem do rio Pajeú, até então limite leste da pequena vila de Fortaleza. Até meados do século 19, suas instalações eram precárias e bastante ineficientes, contando, basicamente, com uma ponte e uma área de desembarque próxima à praia. Com o aumento de sua atividade, possibilitado pelo aumento das exportações de algodão, a área adquiriu feições de um porto típico. Alguns galpões, armazéns e comércio atacadista - que fornecia suporte e viabilidade à atividade portuária - começaram a ocupar a área entre o Seminário Episcopal e a praia, em uma região conhecida como Prainha


Defesa da Praia de Iracema - Assis de Lima

A faixa litorânea se mostrava isolada do restante da cidade, sendo ligada ao núcleo central, principalmente, por duas vias - a rua da Alfândega e rua da Praia - e, no final do século 19, por um ramal ferroviário e uma linha de bonde.

"O comércio de exportação ocupara as áreas entre a e a Praia Formosa, dado apenas pela proximidade do porto de embarque, mas sem praticamente explorar as visuais para o mar, constituindo-se, na verdade, em uma barreira entre a Praia e o Centro da cidade." (ROCHA JR., 2000, p. 117)

Até o início do século 20, a então Prainha - como era denominada a faixa litorânea da praia de Iracema na época - tinha como principal atividade a exportação de algodão, café, couro e cera de carnaúba produzidas no Ceará. Era marcante, na paisagem do bairro, a presença dos edifícios do Seminário da Prainha e a Casa Boris. Este último, localizado na antiga travessa da praia (atual rua Boris), perpendicular à rua da Praia (hoje avenida Pessoa Anta), foi fundada em 1869, tendo como razão social a firma "Théodore Boris & irmão", responsável pelo comércio e exportação de produtos cearenses.

Em meados da década de 20, a área começou a despertar o interesse das classes mais altas. A praia do Peixe, área litorânea mais a leste da praia de Iracema, marcada por um vasto coqueiral, passou a ser vista como espaço de lazer da elite fortalezense. O local foi ocupado por casas de veraneio das famílias mais ricas e teve seu nome mudado para praia de Iracema. Esse espaço da cidade, antes famoso pela presença dos pescadores, passou a ser um dos cartões-postais de Fortaleza por sua beleza natural.

Nessa mesma época, já se discutia a retirada do porto da área, considerada muito próxima ao centro. Segundo os especialistas, o lugar mais adequado era a enseada do Mucuripe, a leste do centro da cidade. Essa transferência só aconteceu no final da década de 40. Ainda segundo Rocha Jr., " as implicações com a construção do Porto do Mucuripe interrompiam três décadas de glória, destruindo a privilegiada paisagem praiana, restando apenas pequenos trechos de praia utilizáveis" (ROCHA JR., 2000, p. 119). Em conseqüência disto, ocorreram diversas alterações nos usos do solo, pois a ocupação típica da área era justificada pela adjacência ao porto. Diversos armazéns e casas comerciais ligados às exportações foram abandonados, algumas residências antigas passaram a ser ocupadas por usuários mais pobres e outros edifícios tiveram prostíbulos instalados. O entorno do ramal ferroviário da praia de Iracema passou a ser ocupado por população de baixa renda, formando a Favela do Poço da Draga (SCHRAMM, 2001). 


Enrocamento Praia do Meireles - Assis de Lima

Erros na construção do novo porto deram início a um processo de assoreamento da faixa de praia a oeste, passando a representar uma ameaça às casas de veraneio.

"A destruição de parte do casario e a drástica redução da faixa de praia iriam provocar o abandono dos usos que lá se verificavam: o balneário entrou em decadência e os pescadores, em sua maioria, partiram para outras praias." (SCHRAMM, 2001, p. 43)

O bairro foi, durante muitos anos, caracterizado como residencial e habitado, principalmente, por uma população de classe média baixa. No início dos anos 70, a praia de Iracema iniciou uma mudança em seu quadro de estagnação, quando os intelectuais e artistas fortalezenses escolheram os bares lá existentes como reduto da boemia (SCHRAMM, 2001).

No final dos anos de 1980, intensificou-se o processo de mudança no uso e ocupação do bairro. Nesse período, por forte pressão popular, a praia de Iracema foi reconhecida como patrimônio histórico da cidade pela aprovação de uma lei que designava a área como Zona Especial (ZE) - Área de Interesse Urbanístico. Esta estabelecia diretrizes que tentavam compatibilizar o uso residencial e de lazer no bairro e procuravam deter o processo de verticalização, o qual já acontecia em toda a cidade (SCHRAMM, 2001).

Fontes: Assis de Lima, Praia de Iracema e a revitalização de seu patrimônio histórico - Sabrina Studart Fontenele Costa e Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Nirez

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