segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Novela vivida




Ultrapassava a paixão. Era o viver a novela. Incluir-se em cada cena. Sofrer, alegrar-se, rir, chorar. De viva voz, buscar interagir com o televisor, exigir-lhe respostas. Aplauso, protesto ou manifestação de contentamento mostrava-se de quando em vez.
Dona Luzia transformava-se de telespectadora em participe. Não raro, levantava-se da cadeira e encaminhava-se para junto do receptor. Parecia querer entrar naquele mundo de ficção. Para ela, insofismável realidade.
- Conta à verdade toda! A hora é esta! Deixa de querer ser boazinha! Pronto! Agora está sem jeito, sua tola! Ah, vai chorar, né? Bestalhona! A outra vai te passar para trás! 


Na foto, montagem com cena da TV Ceará. Em primeiro plano João Ramos eKarla Peixoto


E mais um capítulo chegava ao fim com os aconselhamentos, protestos, exclamações e, até, interrogações da aficionada fã.
O calendário marcava um dos anos sessenta. Dois ou três depois de inaugurado o primeiro canal televisivo na Capital. Longe da chegada do videoteipe, os dramalhões apresentavam-se ao vivo. Atores locais, também intérpretes de novelas radiofônicas, formavam o elenco das oito da noite nas telinhas convexas, de cantos arredondados, com imagens de pouco brilho, em preto e branco, além das interferências conhecidas popularmente como “chuvisco”.

Raras casas possuíam o novo entretenimento. Daí nasceu à figura do televizinho, o sem-TV que infernizava a vida dos proprietários do novo aparelho.

Nossa personagem integrava aquele grupo. Todas as noites fazia-se penetra em uma das únicas duas casas dos providos da rua. As salas ficavam cheias. Os que não mais ali cabiam, postavam-se na calçada. Espremiam-se nas janelas e portas das residências para assistir aos programas. 



A privacidade das famílias findava-se. O sossego também. As intervenções inesperadas da idosa senhora chegavam a assustar uns, merecer críticas de alguns e os “psius” da maioria. Ela chegava ao extremo da descompostura aos reclamantes, exigindo suas retiradas do recinto. Enquanto isso, os donos da casa evitavam incompatibilidade com os moradores conhecidos e sofriam resignados e silentes.
Novidades tecnologias sempre têm preços e sacrifícios altos.








Artigo do amigo e colaborador Geraldo Duarte

2 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkk adooooooorei o Buraco do reitor :) olá amiga Leila que saudade do tempo em que sentavamos à sala olhando aquele caixote em preto e branco, belos tempos, velhos dias... Amiga Vim te convidar a participar das brincadeiras pelo aniversário de 2 anos de renascimento da minha Ilha. O convite está acima das postagens e basta dá um clic que serás levado a festa. Temos 2 brincadeiras e a grande festa dia 13 de fevereiro. Te espero lá. Beijos no coração ♥ ♥ ♥

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  2. huahauhauhauhauahuh o nome do bar é sem dúvida, mais uma do ceará moleque. :D

    Oba! É festaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! \o/

    Vou lá agora mesmo.
    Estou levando brigadeirão.

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