quinta-feira, 8 de março de 2012

Gafieira Rabo da Jumenta - Bela Vista




Março de 1971. Logo empossado chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública, atendi a uma comissão de moradores do bairro Bela Vista. À frente, o padre Alberto Oliveira. Depois dos cumprimentos, o religioso expressou o objetivo da visita. Próximo ao templo da Santa Madre Igreja, instalara-se a Gafieira Rabo da Jumenta, “antro do pecado e da perdição”. Estabelecida em prédio abrigando, na frente, um bar, no centro, um salão de dança e, nos fundos, quartos para utilização horária pelos frequentadores. Funcionamento diário. Da boca da noite ao raiar do dia. Amplificador de som, com cornetas irradiadoras fixadas no alto de um poste, dirigindo som ensurdecedor aos quatro pontos cardeais e ouvidos dos paroquianos. Devido aos críticos e inflamados sermões do vigário, vieram às represálias. 

Nas madrugadas, os notívagos satisfaziam seus intestinos e bexigas nas portas da casa santa, afora ações solertes de intimidação e vandalismo. Em sequência, falou a coordenadora da Liga das Senhoras da Paróquia de N. S. de Sallete. Comparou o local a Sodoma e Gomorra. Sinalizador do fim dos tempos. Desencaminhador de jovens. Incentivador de vícios e de prostituição. Além de outras e mais outras acusações que se sucederam. O rosário de queixas continuou com o presidente da Associação dos Moradores denunciando os fumadores de maconha, tratados por “esquadrilha da fumaça”. O salão de danças, rala-bucho ou bate-coxa. O conjunto de cubículos para trocas de interesses íntimos, “matadouro”. “Embuchamento” de moças, coito de vagabundos e ponto de fuampas mereceram acerbadas e indignadas críticas do autoassumido líder comunitário. Com repetidos acenos de concordância e aprovação, os demais acompanhantes mantiveram-se silentes. 


Finalmente, o pároco fez-me a entrega de uma pasta, contendo memorial e abaixo-assinado, requerendo providências contra o forrobodó. À época, Fortaleza não possuía motéis, somente cabarés e rendez-vous. Garanti-lhes averiguações e providências. Dias depois, chegou à comunicação do delegado responsável ao gabinete: “Esta autoridade fechou o Rabo da Jumenta”.

                                  Texto do amigo e colaborador Geraldo Duarte 
(advogado, administrador e dicionarista)  



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