Igreja Nossa Senhora dos Remédios na época da
Vila Gentil.
A presença da Igreja dos Remédios, foi uma das recordações queridas para nós e penso que para contemporâneos. A dedicação dos padres Lazaristas holandeses para com os paroquianos foi memorável. Atendiam aos fieis a qualquer hora do dia ou da noite que necessitassem de seus préstimos religiosos. As missas dominicais, dos dias santos e diárias, eram lembradas aos fieis pelo dobrar dos sinos, o Ângelus sempre nos levava a reflexão. O relógio, doado pelo coronel Gentil, batia os quartos, meia hora e as horas; ecoando para bem longe, estava sempre lembrando a Igreja. As aulas de catecismo ministradas por zelosas catequistas supervisionadas pelos padres era um reforço à fé católica. Havia, também, nos fundos da Igreja, o Salão São Vicente de Paulo onde ocorriam reuniões de várias natureza e a realização de aulas de alfabetização para adultos, geralmente ministradas por confrades da Sociedade de São Vicente de Paulo, os vicentinos, como eram chamados.
Foi marcante a participação histórica dela na vida social do bairro, como polo centralizador de pessoas das mais diferentes classes socioeconômicas, que tinham ali um lugar em comum. Por ser uma grande Vila, constituída por casas de aluguel com qualificações e preços diferentes,
vivendo num mesmo ambiente, formou-se nela uma verdadeira comunidade, no sentido exato do termo. Habitaram ali: profissionais liberais, comerciantes, comerciários, bancários, militares, funcionários públicos. Muitos foram temporários, outros permaneceram até a extinção da Imobiliária José Gentil, quando puderam comprá-las a prestação.
Além das missas que agregavam os moradores, pondo em contato direto uns com os outros, havia as novenas, principalmente as do mês de maio, dedicadas a Nossa Senhora, que atraiam grande número de fiéis do Benfica e de outros locais. Não era apenas o zelo religioso, era também o divertimento, principalmente para os jovens que iam ali para flertar, paquerar, somente que isso era um ato mais sentimental e casto. Os valores morais e éticos eram outros. Inesquecíveis foram as quermesses e os leilões organizados para angariar dinheiro para a realização de obras beneficentes da paróquia.
Os leilões eram uma vez ou outra realizados no pátio da Igreja, com doações de pessoas mais generosas. E pasmem, iam para leilão um frango ou peru assado, às vezes acompanhado com uma garrafa de vinho; um bolo confeitado, meia dúzia de garrafas de cerveja ou outros objetos de mais valor. Os arrematadores pagavam preços muitas vezes mais altos do que o valor real das prendas, a título de ajudar a renda do leilão ou para mostrar destaque financeiro. As quermesses duravam uma semana ou mais e tinham a mesma finalidade dos leilões. Algumas delas foram realizadas na rua Padre Francisco Pinto, ao lado da Casa das Missões, e o Dispensário dos Pobres, entre a avenida Visconde de Cauipe e a rua Carapinima, fechada ao tráfego de veículos que por sinal era muito pequeno, por não ser passagem de ônibus.
Outro local, coberto de mangueiras, onde se realizaram quermesses foi um terreno grande que havia entre a casa do senhor Joahannes Maehlmann, alemão de nascimento, gerente das Casas Pernambucanas, localizada na esquina da rua Padre Francisco Pinto e aquele onde existiu a mansão do senhor João Gentil depois Escola Doméstica, Ginásio Americano e Ginásio Nossa Senhora das Graças. Aquele cidadão possuía dois filhos: o Joahannes (filho), conhecido também por Rany, e sua irmã Aída, considerada uma das moças mais bonitas da Gentilândia.
O Rany afirmou que seu pai pagava Cr$ 400,00 de aluguel.
Mansão do Senhor João Gentil, posteriormente: Escola Doméstica, Ginásio
Americano e Ginásio Nossa Senhora das Graças. Foto tirada do alto da Igreja Nossa Senhora dos Remédios (Arquivo Nirez).
Atualmente todo aquele local está ocupado pelos blocos administrativos da Universidade Federal do Ceará. Alias, naquela época existiam apenas esses imóveis na avenida Visconde de Cauipe, confrontando com a Igreja dos Remédios e a Casa das Missões. No quarteirão que lhe seguia existia o terreno da mansão do coronel Gentil e mais duas casas de luxo que ele mandou construir para os filhos. O tradicional bairro do Prado estava localizado onde se encontrava o citado hipódromo e campo de futebol, e arredores. Logo após a construção do Estádio Presidente Vargas, no começo da década de 1940, aquela área ficou dividida pela rua Paulino Nogueira; ficando uma parte ocupada por aquela praça de esportes, e a outra desocupada. Nela funcionou por pouco tempo, durante a Segunda Guerra Mundial, o Serviço Nacional de Trabalhadores para a Amazônia (SENTA) onde ficavam em rudes telheiros os chamados soldados da borracha, esperando embarque para o Amazonas onde deveriam extrair borracha dos seringais como esforço de guerra. É um assunto pouco conhecido de nossa história. Aqueles operários ficaram ao findar a guerra completamente abandonados pelo poder público, entregues a própria sorte.
Vista aérea, mais recente, onde se localizava o Hipódromo e campo do Prado.
(Arquivo Nirez).
Maquete do projeto de construção do estádio Presidente Vargas na gestão do
Prefeito Raimundo Alencar Araripe. (1936 - 1945). - Arquivo Pedro Alberto de Oliveira Silva
Detalhe do estádio Presidente Vargas. Arquibancada de cimento armado,
lugar especial, vendo-se ao alto à esquerda, cabine da imprensa. (Arquivo Nirez).
Nessa época, os bondes do Prado tinham seu final de linha na esquina da rua 13 de Maio com Marechal Deodoro. Em maio de 1947 o serviço de bondes elétricos foi desativado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Quando foi prefeito, (1936-1945), Raimundo de Alencar Araripe possuía um passe para andar gratuitamente nos bondes. Após a extinção do SENTA, abarracavam temporariamente naquele lugar os circos que vinham a Fortaleza apresentar seus espetáculos. Lembramos de dois deles o Nerino e o Garcia. O primeiro apresentava o trabalho de palhaços, demonstrava espetáculos de acrobacia e peças de teatro; dentre essas haviam duas de muito gosto dos espectadores: Sempre no meu coração.
A cabana do pai Tomás. A participação do palhaço Piculino era muito apreciada. Um amigo nosso, residente na Travessa Sobral, foi apelidado com esse nome, o que muito lhe desagradava. O segundo, o Garcia, era muito maior e mais rico, pois apresentava além do peculiar, muitos animais selvagens domesticados, tais como leões, elefantes, zebras e outros. Posteriormente foram construídos naquele local estabelecimentos educacionais profissionalizantes do governo federal, sendo o último o Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). O Prado praticamente havia desaparecido.
“Passe Livre” para o prefeito municipal de Fortaleza usar os bondes da Light.
Arquivo Pedro Alberto de Oliveira Silva
Empresário empreendedor, como já foi dito, o coronel Gentil vislumbrou no mercado imobiliário (década de 1930) uma boa oportunidade de aplicar parte de sua fortuna. Fortaleza era uma cidade relativamente pequena, crescendo, porém pobre. O trabalho assalariado pequeno preponderava na maioria da população, constituída por funcionários públicos, comerciários, e outras atividades de pequena ou média renda.
O poder aquisitivo de grande parte dela considerava a posse de uma casa própria como um desejo difícil de ser realizado. Não havia crédito fácil, apesar dos juros serem relativamente baixos. As pessoas consideradas ricas ou de posses possuíam suas residências e imobilizavam parte de seu capital em casas para alugar.
A Imobiliária José Gentil S/A surgiu nessa conjuntura. Na Vila Gentil a maioria das residências era padronizada variando de tamanho e acabamento conforme o preço do aluguel, apresentando os seguintes tipos: as conjugadas, as livres de um dos lados, e aquelas fora do padrão das demais. As primeiras foram construídas a partir de 1931, exatamente na avenida Visconde de Cauipe na primeira metade do primeiro quarteirão, situadas entre as ruas Adolfo Herbster e Padre Francisco Pinto. Eram conjugadas com um recuo de bom tamanho onde foram plantados fícus-benjamim para fazer sombra, pois eram do lado do sol. Eram simples e não tinham forros, mas possuiam o teto muito alto, dentro dos padrões
de outras mais antigas localizadas na mesma avenida próximo ao Grupo Escolar Rodolfo Teófilo, onde atualmente funciona a Faculdade de Economia da UFC. Numa delas morou nosso amigo José Silvio de Oliveira Freitas, colega no Ginásio 7 de Setembro, com seu irmão Pedro, filhos do Sr. Altino de Freitas, proprietário de uma bomba de gasolina localizada na Praça Clóvis Beviláqua, e na última, esquina com a rua Adolfo Herbster, residiu o advogado Lauro Vale. Na frente delas terminava a linha do bonde e ficava o ponto final dos ônibus do Benfica, pertencentes à Empresa São José, passando depois para a Empresa Severino.
Ônibus da Empresa Severino que servia à Gentilândia -1945 (Arquivo Nirez).
As demais não eram uniformes e ficavam em frente ao Dispensário dos Pobres e o convento das Irmãs de Caridade. O Cine Benfica ficava no meio desse quarteirão.
Cine Benfica - 1926. Arquivo O Povo
A Vila Gentil I
Crédito: Revista do Instituto do Ceará - 2010
A Gentilândia e o bairro do Benfica de
Pedro Alberto de oliveira Silva
(Sócio efetivo do Instituto do Ceará)
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Li tudo sobre o bairro da Gentilândia, mas senti falta de relembrar a casa do meu a fim, Tio Geraldo Freire e de minha tia Noemi de Paula Freire e seus filhos: Gotardo, Roberto, Regis, Elba, César, Noemi Consuêlo e Marília e de seu irmão e vizinho Mauro Freire e sua linda esposa Lêda Porto Freire e seus belos filhos: cito apenas alguns: Mauro, Regina, Verônica, Mônica e outros. Tempos de brincadeiras sadias e vida tranquila. O Tom Barros, morava na rua seguinte, a da Rua N.Sra.dos Remédios, com suas frondosas mangueiras no meio da rua, bem atrás da Concha Acústica da UFC. Local bucólico e de casas bonitas e bem decoradas.
ResponderExcluirNasci na Gentilândia em 1940 na vila Santana casa 4 que fica na Pe. Francisco Pinto.De lá fui para Rua Santo Antônio 32 onde me criei e estudei no Colégio Santa Cecília,Me batizei e casei na Igreja dos Remédios.Ainda hoje moro perto ,na Av Imperador próximo ao Shopping Benfica.Na época de criança no local do Shopping era uma casa do Trajano Paula eu brincava muito lá.As recordações são muitas .Brincava nos circos que ficavam onde hoje é a Escola Técnica,etc...
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Jose Gentil é um filho sobralense que lutou e com dignidade e seu trabalho conseguiu um grande legado. De família numerosa foi um grande homem.
ResponderExcluirA historia que lê e conhece impressiona Em 2018 n projeto de Literatura Popular de minha autoria participei com um livro de Cordel no Mercado dos Pinhões em Fortaleza. Parceria com escritores da ACE e ALMOCE, juntamente com Luazaul do poeta Silas Falcão.
O cordel Cearense. A vida do Sobralense que foi para a Capital Cearense.