quinta-feira, 15 de março de 2012

A Vila Gentil III


Descrever a localização das casas com os nomes dos moradores é uma tarefa muito difícil, ou quase impossível. Foram dezenas de famílias que por ali passaram em um quarto de século. Uns mudaram de local na mesma vila, outros demoraram pouco, sendo ocupadas durante certo tempo por vários inquilinos. Vamos tentar dar informações gerais sobre esse fato sem descaracterizar o todo. As omissões ficam justificadas.


Ônibus da Empresa Santo Antônio que fazia a linha Maracanaú, estacionado em frente a sua primeira sede na Travessa Sobral, 91. Em 1962 – Arquivo Cepimar


Rua Redenção antiga Travessa Sobral. Conhecida, inicialmente, como Vila Gentil por ter sido a primeira vila construída, no ano de 1931.

Arquivo Elmo Júnior.

Aquelas construídas na Travessa Sobral, localizadas no outro lado dessa quadra eram, também, casas simples, menores que as citadas. Entre os dois conjuntos existia um terreno estreito, arborizado, onde existiam longas fossas para serventia delas. Lembro-me que morava ali a família de um cidadão que trabalhava de vigia e complementava seu salário vendendo carvão para a vizinhança. Moramos em frente a esse terreno na rua Padre Francisco Pinto, nº. 382, esquina com a Vila Santana, que falaremos mais adiante. O sistema de esgotos da Gentilândia nunca deu problemas ao longo de décadas, e se distribuía em vários locais da vila.


Vila Santana com entrada pela Rua Padre Francisco Pinto, 2006.

Arquivo Elmo Júnior

Na citada Travessa existiam casas mais simples no lado do poente, confrontando com estas, no outro lado da rua, as casas estavam fora dos padrões destas; possuíam um pequeno recuo, eram um pouco maiores e mais bem acabadas. Lembro-me que moraram ali, no lado do poente, um colega da Escola Padre Anchieta, chamado José Barrocas; outro o “Quim”, devia se chamar Joaquim, seguiu a carreira militar, na Aeronáutica, seu irmão Luiz, foi Agente Fiscal do Imposto de Consumo, seu pai era pequeno negociante no Mercado Central. No outro lado da rua o Sr. Aneuso Gurgel da Silva Rossas, sócio da Livraria Gurgel, e seus filhos Neuisa, Luciano, Hamilton, Neide, Rutênio e outras moças, que não me vem a lembrança; ele era irmão do Sr. Zenith Gurgel da Silva Rossas, casado com D. Betina, neta do coronel Gentil, que morava na Rua Nossa Senhora dos Remédios. O Fausto Pontes, irmão do Augusto Pontes, ex-Secretário da Cultura do Estado do Ceará. Muitos ali residiram de passagem; dentre outros o Sr. Marcelo Benevides.

Escola Industrial (atual Centro de Educação Tecnológica do Ceará – CEFET), instalada em sede própria na av. 13 de maio, onde existia o Campo do Prado. Arquivo MIS

Na rua 13 de Maio (depois avenida) correspondente a Vila Gentil existiam apenas três quarteirões pertencentes a Imobiliária. No primeiro, ocupando meia quadra, existia a mansão da família Gentil, no segundo quarteirão, apenas uma, localizada na esquina da rua Nossa Senhora dos Remédios, onde morava o subtenente Tobias, pai do Mauricio, que seguiu a carreira militar chegando a coronel do exército, e mais duas irmãs. O terreno que lhe seguia era todo murado, correspondendo a um quarto da respectiva quadra, não possuía construções, apenas muitas mangueiras onde foram guardadas capotas dos bondes desativados. Vem-me a memória uma frondosa mangueira de mangas coité, assim chamadas por serem muito grandes, existente naquele terreno, localizado na esquina da rua Rodolfo Teófilo. Alguns meninos da Gentilândia brincavam de pega-pega sobre elas. Esse lugar era vigiado por uma família humilde, recém- chegada do interior. Na quadra seguinte, existia um mangueiral, onde atualmente é o Parquinho da Gentilândia, ou Praça José Gentil,
onde jogávamos futebol.



Portão principal do palacete do Cel. José Gentil, localizado na esquina das avenidas 13 de maio e Universidade, antiga Visconde de Cauípe, durante algum tempo permaneceu como entrada principal da Sede da Reitoria da Universidade Federal do Ceará. Arquivo Nirez, 1959.

Naquela época o Antônio Gumercindo, famoso torcedor do time do Fortaleza, era um dos poucos “dono da bola” pois não era um objeto comum. A dele era grande e de borracha, aquelas de couro eram luxo.
As “bolas de meia” eram as mais comuns para se jogar “gol a gol”. As duas casas seguintes, no outro quarteirão, foram demolidas com o alargamento da rua 13 de Maio e faziam parte da Vila Santo Antônio. Habitaram nelas, por algum tempo, o Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos, meu confrade no Instituto do Ceará e professor da Universidade Estadual do Ceará, e o Renan Montenegro, atualmente conceituado médico endocrinologista, nosso contemporâneo no Ginásio Sete de Setembro. Seguia-se o bar Ponto Chic, muito famoso naquela época, onde findava a linha do bonde do Prado.
O lado fronteiro a esse que descrevi não pertencia a Vila Gentil, mas era historicamente uma parte dela porque seus moradores se interrelacionavam. Na esquina da rua 13 de Maio com a avenida Visconde de Cauipe, encontrava-se a mansão do Sr. Francisco Queiroz, em estilo europeu, atualmente é o Centro de Cultura Germânica da UFC, em seguida vinha um sobrado onde residia o comerciante Francisco de Oliveira, casado com D. Maria Mendonça de Oliveira e filhos. A Marta de Oliveira Sampaio, sua filha, era casada com o Fernando Sales Sampaio (Fernandão), assim chamado pelos amigos devido sua estatura elevada. O Fernando teve morte prematura em um acidente, e quando solteiro,
morava na rua Rodolfo Teófilo. No sobrado que lhe seguia morava o médico oftalmologista Honório Correia Pinto. Após um terreno grande, murado, encontrávamos a sobrado de residência de outro médico, o professor Joaquim Alencar, e logo após, encontrava-se uma sequência de casas conjugadas duas a duas que iam até a esquina da Rua Rodolfo Teófilo. Na primeira delas morou meu colega de Escola Padre Anchieta e amigo, Luís Carlos Riquet Nogueira Aragão com sua mãe D. Corina (viúva) e três irmãs. Duas delas foram morar nos Estados Unidos. Seguiam-se outras onde residiam diversos membros da família Albuquerque de Souza, dentre as quais me lembro a de D. Souzinha, mãe do Deim, irmã
de D. Naninha, residente com suas filhas na Vila Santana, eram irmãs do desembargador Faustino de Albuquerque de Souza, ex-governador do Estado do Ceará; Wildson Monte Silva, contador, cunhado do Chico Periquito, assim chamado pelos amigos por falar muito; e D. Dodô, casada com o Sr Filipe, italiano. O Haroldo, filho deles, deu muito trabalho aos pais com diabruras, foi servir na Marinha. Seguia-se um terreno, depois ocupado pelas casas do advogado e professor do curso de jornalismo da UFC Luiz Queiroz Campos e aquela que pertenceu ao Artemilton Braga Arraes; antes moradores na Rua São José do Tauape, esse último residiu depois na rua Padre Francisco Pinto; seguindo-se residências já existentes, do Dr. Raimundo Araújo França, dentista, aquela do médico Dr. Pamplona, e mais outras.


Casa, 276 na rua Padre Francisco Pinto, onde residiu o Dr. Dorian Sampaio, 2006. Arquivo Elmo Júnior

A rua Paulino Nogueira não possuía muitas casas, mas confluíam para ela três vilas interiores, ditas particulares, denominadas Vila Santa Rita, Vila Santa Cecília e Vila Santa Luzia. No lado correspondente, onde atualmente encontram-se os blocos administrativos da UFC, existiam quatro frondosas mangueiras, junto ao meio fio, que eram usadas pelos namorados mais afoitos. Vizinho morava o Sr. Adolfo Gonçalves Siqueira, já idoso, casado com D. Amélia, foi ex-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, ex-prefeito interino de Fortaleza e presidente da Fênix Caixeiral por muitos anos; instituição essa considerada a de mais utilidade pública em Fortaleza. Essa casa fazia esquina com a entrada da Vila Santa Cecília. Na outra que lhe ficava fronteira, definindo a entrada dessa vila, morava o Dr. José Freire, agrônomo, que foi Inspetor Chefe da Defesa Sanitária Vegetal, no Ceará, casado com D. Consuelo Carvalho Freire, tinham oito filhos: José Geraldo, fiscal da Secretaria da Fazenda, Teodósio Mauro, comerciante, Maria Celina, funcionária pública, Maria Consuelo, professora do Parque das Crianças, casou-se com José Batista de Campos Paiva, funcionário dos correios, Maurício, funcionário da Defesa Animal, Maria Nilda (Anita) Freire Gomes, casou-se com o Gen. Valdir Gomes, Armado Máximo, comerciante, casado com Evangelina Barata Freire, Maria Helena Freire Arruda, casou-se com Eliano Arruda, advogado. Na casa vizinha, esquina com a rua Nossa Senhora dos Remédios, com frente para essa rua, morava o engenheiro da Prefeitura Nelson Machado, casado com D. Gabriela Fiúza Machado e seus filhos: Isnélio, Wanda, Nelson (Nelsinho), casou-se com a professora da UFC Maria Cecília Chaves, Helena, casou-se com o coronel do exercito Ney Borba.

Residência de Amélia Gentil de Aguiar na rua Paulino Nogueira, 1956.

Arquivo Elmo Júnior.


O quarteirão seguinte não possuía casas, apenas os muros laterais de residências de esquina que tinham frente para as ruas Nossa Senhora dos Remédios e Rodolfo Teófilo, respectivamente. Logo em seguida existia uma quadra, muito arborizada com mangueiras. Em sua primeira metade, funcionava o Serviço de Piscicultura da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS) posteriormente chamadas DNOCS, depois de 1945. A segunda metade era ocupada pelo PARQUE DA GENTILÂNDIA já referido, um dos locais mais característicos da Gentilândia, com alamedas calçadas com piso de cerâmica vermelha, localizado entre as ruas Rodolfo Teófilo, Padre Francisco Pinto e São José do Tauape

Parque da Gentilândia, vendo-se ao fundo casas da rua São José do
Tauape. Na foto (1961) estão da esquerda para a direita: Ruth, Ângela, Valéria,
Maria de Lourdes, Simone. Maria de Lourdes ainda viva, lúcida, com 96 anos,
morando na Vila Santo Antônio. Arquivo de Pedro Alberto de Oliveira Silva

Na área da Piscicultura anteriormente encontrava-se um prédio muito bonito, onde funcionou o Gentilândia Club, logo após a criação da Vila Gentil, havendo ali festas muito concorridas, reunindo pessoas vindas de outros locais. Afirmava-se que ali havia jogo de baralho; o clube deixou de funcionar quando foi ocupado como sede do serviço de piscicultura.

 
Gentilândia Club, posteriormente sede da Piscicultura do IFOCS (Inspetoria

Federal de Obras Contra as Secas) e depois, DNOCS. (Arquivo Nirez).

Existiam, naquele local, muitos tanques de alvenaria cheios de água onde eram criados alevinos e peixes para estudos e distribuição para açudes. Existiam dois poços profundos, com respectivas caixas d’água, para uso da piscicultura e das casas que lhe ficavam adjacente na rua São José do Tauape, sendo uma delas localizada num pequeno local do lado de fora. Todo dia vinha um servidor da Gentilândia ligar um motor para encher a caixa. Esta quadra encontra-se totalmente ocupada por casas de aspecto variado e um prédio pertencente à UFC, funcionando como residência universitária.

No último, localizavam-se cinco casas. Na esquina com a São José do Tauape, residia o Sr José Gondim, pelo que me lembro, era viajante comercial, casado com D. Cristina Sales e seus filhos: Glice, casou-se com o professor Heródoto, Gelsa, casada com Joahannes Maehlmann (Rani), exportador. Posteriormente mudaram-se para a rua São José do Tauape no primeiro quarteirão. A casa que lhe seguia, fora dos padrões de outras da Vila, habitou o médico Hyder Correia Lima, casado com D. Sara, e seus filhos Iaci, Mário, médico destacado no Rio de Janeiro e a Emília Correia Lima (foi Miss Brasil), casou-se com um oficial da Aeronáutica. Depois foram morar na rua Carapinima, por trás da Igreja dos Remédios. Nesta mesma casa, morou um filho de um advogado chamado Renato, que me vem à memória, pois era o “dono da bola” de couro com a qual jogávamos futebol. Posteriormente o desembargador Zacarias Amaral Vieira, casado com D. Elza Amaral Vieira. Conhecemos dois de seus filhos: Francisco José Amaral Vieira, professor da UFC e o Roberto Amaral Vieira que foi Ministro da Ciência e Tecnologia, por algum tempo. A casa seguinte pertencia ao Dr. Roberto Bezerra de Menezes, casado com D. Eduarlinda. Vizinho encontrava-se três garagens que eram alugadas. Logo em seguida foi construído um sobrado por D. Amélia Gentil de Aguiar Figueiredoneta do Sr. José Gentil, casada com o Sr. Alceu Figueiredo. Dona Amélia negociava com jóias de Juazeiro, e depois que se mudou da Gentilândia abriu uma joalheria na rua Barão do Rio Branco. Eram filhos do casal: o Edson, o Dirceu, Alceu Carlos, chamado por nós, carinhosamente, de Brocoió, e a Alcélia (Nena). 
Finalmente encontramos no final desse quarteirão a casa do Sr. Renato Batista Carneiro casado com D. Maria Luiza Carneiro e tiveram onze filhos: João Batista, Eduardo, Osmar, Aldemar, José, Renato Filho, Maria Luiza, Maria de Lourdes, Mercedes, Iolanda e Fernando. Seu Renato era muito conhecido na Gentilândia, foi o primeiro motorista do coronel Gentil e depois, como funcionário da Imobiliária, era o cobrador dos alugueis das casas. Era mais um serviço especial para os moradores que não precisavam se deslocar para o Banco. Sua casa era bem ampla, alta e antiga, com um quintal bem grande. Ficava na esquina, bem em frente ao portão de entrada de carros para o Estádio Presidente Vargas. Nos quarteirões em frente a estes, na mesma rua, começando na avenida Visconde de Cauipe, havia o muro lateral da segunda casa daquela avenida construída por José Gentil para seus filhos. Nela morou seu neto Nestor Gentil, depois o Sr. José Albuquerque Monteiro, “Seu Pepino”, como era conhecido, que posteriormente mudou-se para a Rua Marechal Deodoro. Entre essa casa, de luxo, e a que lhe seguia, na esquina com a Vila Santa Rita, morava D. Francisca da Frota Gentil (Dona Chiquita) a filha solteira do Coronel Gentil. Sua casa era ampla, em um terreno de profundidade, mas sem luxo. Era uma pessoa muito simples, caridosa, e ajudava muito a Igreja dos Remédios. Presenteava, também, os padres com petiscos. Na referida esquina da Vila Santa Rita o Sr. Amélio João Terceiro Fiório, caminhoneiro e depois funcionário da Prefeitura Municipal de Fortaleza, casado com D. Luzanira Cabral de Araújo Fiório, irmã do conhecido radialista e ex-prefeito de Fortaleza Paulo Cabral de Araújo. No outro lado residia o Sr. Raul Memória, telegrafista dos Correios e Telégrafos (DCT), casado com D. Ester Maravalho e três filhos: Raimundo, postalista do DCT, José Afrânio Memória, médico oftalmologista, nosso colega do Liceu do Ceará, e um seu irmão, bem mais novo. Vizinho morava o Sr. José Domingos; o José Domingos (filho), casou-se com a teatróloga Glice Sales, e sua irmã Mirsa casou-se com um membro da família Mesquita. Essa casa fazia esquina com a Vila Santa Luzia. Fronteiro a ela, esquina com a rua Nossa Senhora dos Remédios, morava o advogado Francisco Vale. Filho do citado Lauro Vale. No quarteirão seguinte havia as laterais de duas casas. Após elas estava o atual Parque da Gentilândia (Praça José Gentil); era uma quadra sombreada com muitas mangueiras, onde a meninada e adolescentes do bairro jogavam futebol. Na esquina do parque, com a rua São José do Tauape, morou um cidadão da família Teles Campos, por algum tempo, e depois o Dr. Agamenon Frota Leitão; vizinho a essa casa residiu o Sr. Virgílio Alves Barata, depois residente na Vila Santa Rita. Era avô da Evangelina Barata Freire, e do Virgílio Alves Barata Neto, nosso grande amigo de adolescência. Seguia-se o outro parque arborizado, atualmente conhecido como Parque da Feira da Gentilândia, mas seu nome oficial é Isaac Amaral conforme a Lei 1422/05/10/1959, publicada na gestão do Prefeito Manuel Cordeiro Neto. Secretário Raimundo Girão.



Continua...

A Vila Gentil I
A Vila Gentil II

Crédito: Revista do Instituto do Ceará - 2010 
A Gentilândia e o bairro do Benfica de 
Pedro Alberto de oliveira Silva 
(Sócio efetivo do Instituto do Ceará)


2 comentários:

  1. Realmente o nome certo é Evangelina Barata Freire e o marido Armando,ela é prima do meu ex-marido.Eles meus sogros) moraram muitos anos na Rua Valdery Uchoa(era outro nome).

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