Toda uma longa vida de trabalho, de fé e de coragem está naqueles setenta e oito anos fatigados que parecem mais velhos, no esgotamento do seu grandioso esforço.
Vinte livros já saíram das suas velhas mãos trêmulas, mãos que fizeram tanto bem e espalharam tanta luz, mãos que hoje só se exercitam nos dois grandes gestos do amor: a esmola, que socorre, que alimenta e que conforta; a benção, que eleva, que purifica e que perdoa.
Vinte livros. Toda a história dolorosa das secas e a tragédia nostálgica dos êxodos, nas páginas atormentadas de "Fome", do Paroara". Os grandes dramas de sangue, as velhas lendas heroicas de banditismo e sertão, no "Os Brilhantes", no "O Condurú", em "Maria Rita". E a irônica vergastada de "Memórias de um engrossador", a encantadora utopia do "Reino de Kiato", e o doce lirismo intelectual de "Telesias", e o sombrio satanismo de "Violação"...
E toda uma obra de paciente saber, de apaixonado estudo, na grande bagagem dispersa copiosamente em meio da produção artística.
Hoje, o dono da alma heroica que venceu a peste negra, naquela luta gigantesca em que ia procurar lá dentro da sua cidadela de casebres a praça forte da miséria e da morte hoje, como uma grande relíquia preciosa, é que vive, branco e trêmulo, luz cansada que invoca a grande noite, desejoso do doce sono que o venha libertar do peso amargo da vida, da saudade da velha e amada companheira que se foi, saudade que é seu único mal e sua única e infinita tortura.
Mas é preciso que não se vá. Velho avô bem querido, que nos ensinou a chorar nossas dores e a curar nossos males, velho avô, carecemos demais do muito que aprendeu, do muito que sabe dedicar-se, do muito que sabe amar...
E, se a inveja, a inconsciência e a ignorância conseguissem fazer apagar e esquecer o que sua mão escreveu, nas cicatrizes benfeitoras que cada cearense traz nos braços, está gravada para sempre a marca da sua ciência generosa, velho avô..."
Rachel de Queiroz
Texto publicado no Álbum de Fortaleza de 1931
Olá, Leila, essa por acaso é que crônica de Rachel de Queiroz publicou na revista O Cruzeiro?
ResponderExcluirOi Charles, eu não sei te dizer se tbm foi publicado na revista, mas eu tirei do Álbum de Fortaleza de 1931.
ExcluirAbraços
Olá, eu reli o texto e agora que percebi que a fonte que você mencionou está em cima do link de propaganda, que na verdade chamou mais a minha atenção do que a frase acima. Geralmente, eu não leio estes anúncios. Obrigado por responder, e mais uma pergunta. O livro que você pesquisou é seu ou você leu em alguma biblioteca de Fortaleza?
ResponderExcluirO livro é meu!
ExcluirEita dona Rachel aqui neste texto foi deveras primaz!
ResponderExcluirLí os livros dela e principalmente "O QUINZE", leitura gostosa que nos prende da primeira à última página.
Leila, irei mergulhar mais na vida dele prá ver mais coisas, visto que já morei no Rodolfo Teófilo e sempre tive curiosidades de saber quem realmente ele foi.
O blog é bom porque aqui vc ( com seu trabalho de genia ) juntou brilhantemente tudo e deu no que deu: CULTURA PRÁ DAR E VENDER. Bjs e Boa Sorte!
Patrício!
rsrsrsrsrs Obrigada!!! :D
ExcluirMergulhe mesmo, com vontade, tenho certeza que não irá se arrepender! :)
Abraços amigo
Leila, o livro " O poder e a peste" do escritor cearense Lira Neto, fala da vida do grande Rodolfo Teofilo. Deixo aqui a sugestāo .
ResponderExcluirObrigada pela sugestão, Isabel, vou procurar pelo livro, pois tenho enorme admiração por Rodolfo Teófilo! :)
ExcluirBjos
Ó Deus que criou o mundo
ResponderExcluirCom o teu saber me ensina
Pra fazer versos perfeitos
Sob a luz que me ilumina
Falando dos grandes feitos
Do autor da Cajuína.
A sua história fascina
Por tudo o quanto ele fez
Por isso é que me proponho,
Já pela segunda vez,
Descrevê-lo nos meus versos
Louvando-o com sensatez.
Direi o nome a vocês
Desse homem de valor
Rodolfo Marcos Teófilo
Farmacêutico e Escritor
Que do povo cearense
Foi um grande benfeitor.
Rouxinol do Rinaré (introdução de um cordel)
Lindo demais esse verso!!!
ExcluirAmei!
Forte abraço
Sobre ter sido Rodolpho Teophilo o "inventor" da cajuína, vc teria alguma referência? Dizem q a Rachel de Queiroz teria escrito isso numa de suas crônicas daquelas mais antigas? Vc sabe quem ficou com o espólio científico e literário do Rodolfo Teófilo? Será q a ACL não teria algum manuscrito dele sobre a cajuína? Dizem tb q ele é o inventor da própria palavra cajuína. Isso é verdade? Onde e em qual fonte é q a gente poderia dar certeza disso?
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