segunda-feira, 30 de julho de 2012

O cinema e a cidade


No início, os filmes foram exibidos como curiosidades ou peças de entreato nos intervalos de apresentações ao vivo em circos, feiras ou carroças. Essa forma de difusão permaneceria viva em zonas suburbanas ou rurais. Nos grandes centros urbanos dos países industrializados, porém, a exibição de filmes muito cedo se concentrou em casas de espetáculos de variedades, nas quais se podia também comer, beber e dançar, conhecidas como music - halls na Inglaterra, café - concerts na França e vaudevilles ou smoking concerts nos Estados Unidos. O cinema era então uma das atrações entre as outras tantas oferecidas pelos vaudevilles, mas nunca uma atração exclusiva, nem mesmo a principal. A própria duração dos filmes que era de alguns segundos e não mais do que cinco minutos, impedia que se pensasse em sessões exclusivas de cinema nos primeiros anos de cinematógrafo. O preço cobrado pelo ingresso não podia funcionar como mecanismo de seleção do público, pois era ainda muito baixo e coincida de ser o mesmo dos vaudevilles. No período que vai de 1895, data das primeiras exibições públicas do cinematógrafo dos Lumière, até meados da primeira década do século seguinte, os filmes que se faziam compreendiam registros dos próprios números de vaudeville, ou então gags de comicidade popular, contos de fadas, pornografia. Os catálogos dos produtores da época classificavam os filmes produzidos como "paisagens", "notícias", "tomadas de vaudeville", "incidentes", "quadros mágicos", "teasers" (eufemismo para designar a pornografia). 

COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema: espetáculo, narração, domesticação. 
São Paulo: Scritta, 1995 - (Coleção Clássica) e MACHADO, Arlindo. 
Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas, SP: Papirus, 1997 
(Coleção Campo Imagético). 


Em Fortaleza a presença de exibidores ambulantes começa a ocorrer nos últimos anos do 
século XIX se estendo até o início do século XX. As exibições ocorriam em salas adaptadas, 
teatrinhos, na Praça do Ferreira, no Passeio público ou em ruas do centro da cidade como a Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) e a Rua Major Facundo. Algumas exibições eram parte integrante da programação de circos e até o ano de  1908 a exibição não ocorria em espaços exclusivos para o cinema.

Com relação ao cinema, este, em sua origem, era um lazer barato, um divertimento popular, sendo os filmes exibidos em locais como circos, feiras e sendo parte de um espetáculo de variedades. O seu público era composto principalmente por pessoas pobres, “iletradas” e do sexo masculino. Posteriormente, com a sua maior autonomia e crescimento, a exibição cinematográfica deixa de ser uma atividade de exibidores ambulantes para se fixar em salas.

No Brasil, a primeira sessão cinematográfica teria ocorrido na Rua do Ouvidor, número 57, no dia 8 de julho de 1896, na então Capital Federal, a cidade do Rio de Janeiro. As projeções itinerantes existentes nesse período foram levadas a algumas cidades brasileiras, dentre elas, Fortaleza. Tais exibições eram compostas de vistas em movimento, as quais eram feitas geralmente em locais públicos, como cafés, parques de diversão, circos e quermesses. Estas fitas eram geralmente mais uma atração com animais adestrados, como macacos, cães, cobras, acrobatas, jogos, mulheres barbadas e prestidigitadores.

Em 1897, seria inaugurada a primeira sala fixa de exibição cinematográfica no Brasil. Tal inauguração ocorreu no Rio de Janeiro na Rua do Ouvidor, número 141, sendo esta sala denominada inicialmente por “Salão de Novidades” e, posteriormente, vindo a ser chamada “ Salão Paris no Rio,” sendo de propriedade de Paschoal Segreto e Cunha Sales.

A cidade do Rio de Janeiro foi pioneira na atividade de exibição cinematográfica e no desenvolvimento de uma série de atividades relacionadas ao meio cinematográfico: Pode-se afirmar que a atividade cinematográfica no Brasil teve seu inicio no Rio de Janeiro; não apenas porque na então capital federal foram feitas as primeiras exibições e rodadas as primeiras imagens em películas, mas sim pelo fato dessas ações terem se desenrolado no tempo de maneira contínua e crescente. No rastro dessas atividades surgiram laboratórios e ateliês, textos na imprensa sobre o assunto, empresas representantes de equipamentos cinematográficos, homens dispostos a investir, salas fixas de exibição e técnicos que adquiriam formação e experiência.


A transformação física destes espaços destinados à exibição cinematográfica, assim como, a feitura de novos filmes, foram fundamentais para que um novo público adotasse o cinema como lazer. Famílias, crianças e mulheres, no caso, da elite, adotaram tal espaço, onde até sessões especificas eram destinadas a este novo público.

Rua Barão do Rio Branco, onde em 1909, Henrique Mesiano inaugurou o Cine Rio Branco. A foto é de um ano depois da inauguração - Arquivo Nirez

Em Fortaleza, no ano de 1915, em um anúncio, do “Cine Rio Branco”, pertencente a Henrique Mesiano, esta sala se intitulava como a preferida pelas famílias. O seu público era composto por cavalheiros que pagavam $800 pelo ingresso, senhoras que pagavam $500, menores $400 e o público da geral que também desembolsava $400. Percebemos a valorização de um público “respeitável” onde a presença de cavalheiros, senhoras e crianças da elite comercial da capital cearense, demostra que o cinema possuía um significado diferente de outrora, no caso, do final do século XIX, quando no âmbito mundial, ou mais
precisamente na Europa, as exibições eram realizadas nas periferias, próximos aos cordões industriais, onde a diversão suspeita misturava-se facilmente com a prostituição e a marginalidade. Nesses lugares, o cinematógrafo nasceu e tomou força durante os seus 10 ou 20 primeiros anos.

Em 1915,  o filme que seria exibido no “Cine Rio Branco”, era uma fita policial da 
Aquila – films intitulada Bastarda, dividida em quatro partes. Quando foi exibido este
filme, foi exatamente a data em que o cinema, no âmbito mundial, passou por uma profunda mudança na feitura filmica e nas práticas de exibição cinematográfica como um todo com as inovações realizadas por David Wark Griffith
Vale ressaltar que neste mesmo ano foi que Luiz Severiano Ribeiro entrou na atividade cinematográfica com a inauguração do “Cine Riche”. 

Severiano Ribeiro arrenda o local do Café Riche, realizando projeções diárias em horários sincronizados com o Café. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche, uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado, é inaugurado em dezembro de 1915. Ficava na Rua Guilherme Rocha

Nos Estados Unidos, o cinema constituía-se em um entretenimento de alcance popular, mesmo quando passou a ser considerado uma arte. O cinema tornou-se uma importantíssima atividade econômica após a Primeira Guerra Mundial com a consolidação da indústria norte-americana montada no tripé produção, distribuição, exibição e o declínio da produção cinematográfica européia.
No Brasil, apesar da diferença econômica e social se comparado aos Estados Unidos, algumas tendências foram reproduzidas, no que concerne às práticas de exibição cinematográfica. No caso, o tamanho e o estilo das salas, necessidade imposta pelas próprias companhias que aqui instalaram suas filiais nos anos de 1920.
No Rio de Janeiro, as salas passaram por um processo de enobrecimento de forma mais intensificada a partir de 1924, com a construção do Quarteirão Serrador. No ano seguinte, o mesmo ocorreria em São Paulo:
A evolução da sala de espetáculo cinematográfico brasileira se dá em estreita correlação com as transformações do produto fílmico importado. Surge em função dele e se adapta estruturalmente às suas características técnicas mais salientes. Ainda assim traveste-se aqui e ali de influências locais, seja na arquitetura, seja nas práticas e costumes engendrados em seu interior.


 
O Cine Majestic em 1918 - Acervo de Roberta Freitas

Na capital cearense, o Cine-Theatro Majestic Palace e o Cine Moderno são exemplos de salas luxuosas, uma tendência mundial, adotada aqui por Luiz Severiano Ribeiro visando atender a elite que frequentava os Clubes e o Passeio Público. Estas salas ficavam localizadas na Praça do Ferreira, principal logradouro da cidade. 

Cine Moderno

A supracitada praça era um local que até a década de 1960 concentrava atividades como lazer e trabalho, sendo um ponto de referência urbana para os habitantes da cidade.
A partir dos anos de 1960, este local começou a perder sua hegemonia enquanto espaço de sociabilidade da população.
Quanto à posição de pólo de lazer, tinha de entrar em concorrência com os clubes praianos, com a recém aberta Avenida Beira-Mar, com as próprias praias, a partir de então frequentadas em massa pelas novas gerações: a condição de tribuna política se esvaziara com a mudança das sedes do poder; quanto aos transportes urbanos, ia perdendo gradativamente a situação de centro distribuidor, com a remoção dos terminais para as praças periféricas, mais distantes, de maiores dimensões e contíguas às vias de saída do centro; o horário
noturno sofria também a interferência da televisão...

Praça do Ferreira, vendo-se o Cine teatro Majestic Palace inaugurado em 1917


Ao longo da existência desse logradouro, várias denominações lhe foram dadas: Feira Nova, Largo das Trincheiras, Pedro II, Praça do Ferreira, Municipal e novamente Praça do Ferreira, permanecendo com esta denominação até os dias de hoje.
  
A denominação de “Praça do Ferreira” é em homenagem ao boticário Antônio Rodrigues Ferreira Filho que exerceu cargos políticos de 1842 a 1859 na capital cearense sendo, vereador e Presidente da Municipalidade (Intendente), vindo a falecer em 1859. 
Quando da gestão do Intendente Cel. Guilherme César Rocha, em 1902, a praça foi arborizada e nela foi construído o Jardim 7 de Setembro, que era cercado por grades. Além do seu aspecto físico, a praça era ponto de encontro de intelectuais que circulavam pelos “cafés” (quiosques edificados com madeira) instalados neste logradouro, caso do Café Java e do Café do Comércio, dentre outros que compunham as edificações deste espaço.

Além das salas de exibição cinematográfica, havia uma variada atividade comercial composta por armazéns de estivas, cereais e miudezas, lojas de secos e molhados, lojas de calçados, alfaiatarias, joalherias, tabacarias, casas de fumo, leiteria, restaurantes e cafés. A partir de um mapeamento feito ao longo da década de 1920 identificamos a seguinte composição comercial existente na Praça do Ferreira:

Restaurantes E Cafés 
Restaurante Guerreiro de J. Guerreiro, nº 32
A Gruta de Theophilo Cordeiro, nº 184
Art-Nouveau de Pedro Eugênio & Cia
Café Riche de Jucá & Ramon
Café Avenida de Ellery & Cia
Ponto Chic, nº 42
Café do Commércio, nº 50
Café Iracema de Ludgero Garcia, nº 52.

Lojas de Modas e Confecções 
Estrela do Oriente de V. Soares & Cia
Crysanthemo de M. Guil. me & Irmão, nº 95
Empório da Moda, nº 181/183
Paulo Caminha, nº 197
Sultana de C. Codes, nº 42
Anthero Coelho de Arruda, nº 44

Armazéns de Estivas, Cereais e Miudezas
Loureiro & Cia, nº 181
Luiz Perdigão Bastos, nº 183
V. Castro, nº 187
J. de Oliveira, nº 193
M.C. de Oliveira, n° 205
Leitão e Silva, nº 207-209
Vasconcelos & Cia J. Leopoldino da Silva, nº 199

Além dos supracitados estabelecimentos, também havia na Praça do Ferreira: Salões de Bilhar, Cine “Majestic Palace” de Severiano Ribeiro, nº 204; “Polytheama” de Juvencio Brito, nº 204, Molduras de A. Medeiros, nº 36, Ateliers de Costuras e Confecções de Chapéus: “A Formosa Cearense” sob a direção de D. Maria Celina Sisnando Costa e D. Esther Moreira, nº 205, Ateliers de Retratos a Crayon e a Óleo: “J. Ribeiro” - Diploma de Honra, nº 220, Casas de Fumos: Rua Agostinho, nº 38, Tabacarias: “Polytheama” de J. Bezerra Netto; Theophilo Cordeiro (A Gruta), nº 180; Castello (Café do Commércio) ,nº 48, Alfaiatarias: “Amancio” de V. Amancio Cavalcante, nº 34; “Guimarães” de Alfredo Guimarães, nº32, Livrarias e Papelarias: “Americana” de Souza, Gentil & Cia, nº 186, Lojas de Louças, Vidros e Miudezas: SOUZA, Gentil & Cia, nº 188; Almeida & Cia, nº212, Loja de Ferragens: J. Patrício & Cia, nº 201, Casas 
Exportadoras e Importadoras: J. Lopes & Cia, nº 50, Farmácias e Farmacêuticos: “Pasteur” de Eduardo Bezerra & Cia, nº202; “Galeno” de Joaquim Studart da Fonseca, nº214; “Normal” de Jaime Studart, nº 222.

 

Percebemos que a Praça do Ferreira era um espaço de consumo e serviços o que favorecia a presença de um grande número de pessoas. Isso demostra o quanto era significativo possuir uma sala de cinema neste conceituado logradouro repleto de atividades comerciais.
A presença dos salões de bilhar do Majestic Palace e do Polytheama demostram que, além da sala de exibição cinematográfica, o público tinha a opção de frequentar também estes outros estabelecimentos de diversão e sociabilidade. Ao contrário das salas de cinema que eram frequentadas pelo público de ambos os sexos, os salões de bilhar eram espaços eminentemente masculinos. A presença feminina no espaço público era algo ainda bastante acanhado no início do século XX.
As salas de exibição cinematográfica existentes na “Praça do Ferreira”, nos anos de 1920, ficavam localizadas à rua Major Facundo, formando uma espécie de “quarteirão do cinema¹.
Vale ressaltar que, antes mesmo desta década, a Praça do Ferreira já era o espaço por excelência das salas de cinema. A primeira sala de exibição cinematográfica fixa de Fortaleza, o Cine DiMaio, inaugurado em 1908, pelo italiano Vitor DiMaio, localizava-se neste logradouro. No entanto, de 1908 até 1917, possuir uma sala de exibição cinematográfica na Praça do Ferreira era um privilegio de poucos. No decênio seguinte, apenas Luiz Severiano Ribeiro possuía salas de cinema na Praça do Ferreira, as demais ficavam localizadas em outros pontos da cidade. 
Existia três tipos de salas de exibição cinematográfica existentes nesse período: as salas
comerciais, as de associações leigas e as paroquiais, ligadas à Igreja Católica ou a associações religiosas:


•Comerciais: Cine-Theatro Majestic Palace, Cine Moderno e Cine Polytheama
• Associações leigas: Cine Centro, Cine Dramático Familiar, Cine Recreio Iracema, Cine MerceeirosCine Phenix;
• Paroquiais: Cinema São José, Cinema Pio X, Cinema União dos Moços Católicos, Cine Paroquial.

Na Praça Cristo Redentor ficava localizado o Cinema São José pertencente ao “Circulo de Operários e Trabalhadores Católicos São José”. Esta associação mantinha uma escola noturna para sócios e crianças pobres, além de possuir uma orquestra com vinte e três músicos. O Cinema São José foi inaugurado em 1917, tendo funcionado até 1941. Possuía 1088 lugares, o mesmo número do Cine-Theatro Majestic Palace. Atualmente o prédio abriga o “Teatro São José”.
Na Avenida Duque de Caxias, esquina com rua Barão de Aratanha, ao lado do Convento dos Capuchinhos foi inaugurado em 1923, o Cinema Pio X, pertencente à Ordem dos Capuchinhos.
Ainda na Avenida Duque de Caxias, mas agora esquina com Avenida Tristão Gonçalves, ficava localizado o Cine Centro, pertencente ao Centro Artístico Cearense, uma sociedade constituída a sete de novembro de 1926. O Cine Centro possuía trezentos lugares tendo como público associados e moradores das proximidades.
Na Rua Barão do Rio Branco, nº 1.826, ficava localizado o Cinema União dos Moços Católicos, que foi inaugurado em 1927. Esta sala de exibição cinematográfica foi instalada em um prédio construído pelo Centro Cívico Epitácio Pessoa

Por iniciativa do Centro Cívico Epitácio Pessoa, a cidade ganhara no dia 27 de junho de 1923, um imponente prédio, á rua Barão do Rio Branco, 1826, que serviria de sede ao Instituto Epitácio Pessoa. Doado à Arquidiocese de Fortaleza, destinou-se ao desenvolvimento de cursos e atividades voltadas à instrução popular.
O prédio sediaria também à organização sócio-religiosa União dos Moços Católicos, que dentre suas inúmeras atividades decidiu pela manutenção de um cinema. Sua programação notadamente popular, de filmes mudos, tem como primeiro registro na imprensa, no dia 4 de dezembro de 1927, a exibição “Fama e Fortuna” ( Fame and Fortune; Fox Film Corp., 1918, 5 rolos, direção de Lynn F. Reynolds, apresentação William Fox, estória de Charles Alden Seltzer, cenário de Bennett R. Cole, com Tom Mix, Kathleen O’Connor, George Nicholis, Charles McHugh, Annette DeFoe, Val Paul, Jack Dill, E. N. Wallock e Clarence Burton).

No ano de 1928 são inauguradas duas salas de exibição cinematográfica, o Cine Dramático Familiar e o Cine Recreio Iracema. A primeira, ficava no prédio do Grêmio Dramático Familiar que havia sido criado pelo teatrólogo cearense Carlos Câmara, em 1918. Tal sala estava localizada no Boulevard Joaquim Távora nº 2.046. A segunda sala, o Cine Recreio Iracema, ficava localizada no Boulevard Visconde de Cauipe, nº1.023, no ponto final da linha do bonde do Benfica. Na década de 1930 tal sala passou a ser conhecida também como Cine Benfica em alusão ao bairro que leva o mesmo nome. 

Cine Benfica, em frente ao Dispensário dos Pobres do Sagrado Coração 
Acervo Ivan Gondim

No ano de 1930 três salas são inauguradas, o Cine Paroquial, o Cine Merceeiros e o Cine Phenix. A Associação Phênix Caixeiral, fundada em 1891, ficava localizada à Rua Municipal (atual Rua Guilherme Rocha) esquina da Rua 24 de maio. Esta associação atuava sobretudo na área educacional e de assistência aos trabalhadores do comércio e aos seus filhos. O seu palacete comportava a sala de exibição cinematográfica e a Escola Fênix Caixeiral.
Com relação ao Cine Merceeiros esta sala de exibição cinematográfica também pertencia a uma associação ligada ao comércio. Era a “Associação dos Merceeiros” que foi fundada em 1914, vindo a inaugurar sua sala de cinema em 1º de novembro de 1930. Esta sala ficava à Rua Major Facundo, esquina com Clarindo de Queirós, na Praça do Carmo.
O Cine Paroquial, inaugurado em seis de setembro de 1930, estava localizado na Rua Coronel Ferraz, ao lado da Igreja Pequeno Grande e próximo à Escola Normal.

Na década de 1920, todas estas salas adquiriam as fitas para projeção em uma única empresa, a de Luiz Severiano Ribeiro que neste decênio tornou-se o nome mais forte da atividade de exibição e distribuição cinematográfica local expandindo seu poderio para o restante do país.



¹As salas que ficavam neste quarteirão eram as seguintes: Cine-Theatro Majestic Palace, Cine Moderno e Cine Polytheama. Com relação ao “Cine Moderno”, o memorialista Edigar de Alencar afirma: “ à sua última sessão, de domingo, acorria toda a sociedade de Fortaleza, que antes espairecia na retreta do Passeio Público. Antes das nove horas, o mundo elegante abandonava o velho logradouro e desembocava pela rua Major Facundo, desfilando pelas inúmeras rodas da calçada das residências dos sírios rumo ao Moderno”. ALENCAR, Edigar de. Fortaleza de ontem e anteontem. Fortaleza: Edições UFC; Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1980, p.47.

Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

sábado, 28 de julho de 2012

Cine Nazaré - Uma demonstração de amor pelo cinema...Parte III



A paixão pela sétima arte levou um aposentado cearense a reabrir as portas de um dos cinemas de bairro mais tradicionais da cidade


O que as novas gerações não sabem é que o cinema é uma antiga paixão do aposentado. Em 1949, seu Vavá, como é conhecido no bairro, tornou-se carregador de filme do Cine Familiar, que pertencia à Paróquia de Nossa Senhora das Dores (Otávio Bonfim). Ficaria na empresa até 1968, assumindo outras funções - de revisor até gerente geral. Ao longo dos anos, entre um filme e outro, seu Vavá desenvolveu uma grande paixão pela sétima arte, que continua acesa até os dias de hoje.


A motivação para reabrir o Cine Nazaré, portanto, foi mais romântica do que comercial, o que remete ao Totó do filme “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tonartore. Boa parte da vida de seu Vavá foi passada dentro de um cinema. “Sempre me senti em casa vendo aqueles filmes.” Depois de deixar o Cine Familiar - a sala fechou -, seu Vavá aproveitou a experiência para montar cinemas em outras cidades do Ceará, entre eles o Cine Ideal, em Juazeiro do Norte, no final dos anos 60. Mas, em 1970, resolveu tocar seu próprio negócio, alugando o prédio do antigo Cine Nazaré - funcionou de 1945 a 1952 -, transformando o espaço em uma nova sala, que recebeu o nome do antigo cinema.



Ao mesmo tempo que tocava o Cine Nazaré, seu Vavá arrendou outras salas no Interior do Estado. “Meus filmes faziam o circuito Fortaleza, Sobral, Crateús, Aracati e Russas”, recorda. Esta rotina durou três anos. Em 1973, seu Vavá teve que fechar o Cine Nazaré e sair do ramo. Anos difíceis para os cinemas de bairro e de pequenas cidades. “A legislação federal da época beneficiava só os grandes exibidores. As exigências eram absurdas e a perseguição intensa. A Polícia Federal vivia na porta do meu cinema, vigiando tudo, até as fotos dos cartazes. As pessoas temiam ser presas”, diz.


Foi o golpe de misericórdia nos cinemas de bairro. De uma em uma, as pequenas salas foram fechando suas portas. Tinham ficado para trás os anos dourados de pequenos cinemas como o Ideal (Damas), o Familiar (Otávio Bonfim), o Mucuripe (Beira-Mar), o Odeon (Otávio Bonfim) e o América (Jardim América). “A gente chegou a ter uns 15 cinemas de bairros, fora os luxuosos, como o Moderno, o Majestic. E todos os dias com um filme diferente. Era assim...”, relembra.


Délio Rocha

Depois de andar por alguns quarteirões, chegamos a uma rua de pedras, onde encontramos uma casa rosa de dois andares. Quando apertamos o botão para acionar o interfone, percebemos algo incomum no lugar onde se coloca as correspondências. 
Não havia só o lugar para as cartas. Além da porta para as cartas, havia também duas portinhas. Em uma estava escrito pão e na outra leite.


Logo em seguida escutamos uma voz mansa ao interfone, do senhor que mesmo após uma operação de catarata, nos recebeu para uma entrevista. 
Perguntava: É a Natália? E eu respondi que sim. Logo em seguida com uma risada calma, seu Vavá perguntou se o “batalhão” tinha vindo também. 
O senhor simpático de 81 anos, já com a cabeça repleta de cabelos brancos veio abrir a porta nos cumprimentando e pedindo-nos para entrar. Entramos todos. Eu, Renata, Georges, Soraya e Julianna.


Ao chegar na sala da casa que assim como as casas antigas, tem um imenso vão, encontrei muitos objetos antigos - o rádio, os porta-retratos - coisas que lembram o passado.
A partir daí nos sentamos e começamos uma conversa que durou por volta de duas horas, onde seu Raimundo Getúlio Vargas Carneiro de Araújo  nos contou histórias sobre cinema, religião, família, ditadura, conflitos e armações de gente poderosa. A história do Cine Nazaré é contada como uma história de vida, que durou anos e vive até hoje através da paixão pelo cinema.


Seu Vavá, morador do bairro Otávio Bonfim, fez da paixão pelo cinema, a sua vida.
Desde muito novo despertou uma imensa satisfação pelo cinema, que surgiu ainda quando criança ao assistir filmes de faroeste onde o bem sempre triunfava sobre o mal. “O heroísmo do mocinho dominar o bandido que estava errado, aquilo me deu simpatia de ver. Também o heroísmo dos animais, o Rin Tin Tin, o Cavalo Silver, quando o artista estava em alto perigo ele assobiava e o cavalo vinha em socorro dele, tirava as cordas que estavam o amarrando. Aquilo para o espectador e principalmente para a criança, que queria ver o herói triunfar… me deu cada dia mais afeto em ver o cinema”, diz.


Desde essa época aproximou-se cada vez mais do cinema, e para isso valia de tudo. Mesmo sem dinheiro para o ingresso, entrava escondido para ficar assistindo das brexas, ou em alguns cinemas, do palco, onde dava para se esconder.


Durante a juventude, a paixão pelo cinema continuou a crescer, e então surgiu a oportunidade de trabalhar em alguns cinemas, como o Cine Familiar dos frades, e por lá confrontou até Luís Severiano Ribeiro, dono de mais de 80 cinemas, dominava um verdadeiro monopólio em todo o país.
Seu Vavá conta que quem trabalhava para o Ribeiro tinha cinema, quem não trabalhava, não tinha.


Nessa época, o Cine Familiar ficou independente, e passou a exibir filmes que seu Vavá se encarregava de conseguir até mesmo com os empregados do Ribeiro por uma quantia de 50 reais. “Eles sempre liberavam”, diz.
O Cine Nazaré foi adquirido depois que perdeu o emprego no Cine Familiar dos frades, onde trabalhava. Sem saber fazer outra coisa, acabou alugando o prédio onde hoje funciona o Cine, que passou a ser seu próprio cinema. 
A montagem do Cine foi rápida. Já tinha a máquina de rodar o filme, que foi comprada em uma de suas viajens ao interior, as cadeiras foram adquiridas do Cine São Luís, quando a Eva ligou oferecendo-as por uma quantia que seria sugerida por seu Vavá. Depois de um tempo descobriu que o Cine São Luís precisava ser desocupado, e eles gastariam milhões para levar todas aquelas cadeiras para o Lixão. “Eu acabei fazendo um favor para ela”, conta. O grande acervo de filmes que tem, foi doado por vários colegas como o Nirez para quem presta serviços como conserto de discos.
Na época do Regime Militar, com o Cine Nazaré enfrentou a censura da polícia federal dentro do seu cinema, revistando seus filmes e fotografias. Essa época, segundo seu Vavá, foi um tempo difícil para o cinema no Brasil, onde houve uma desestruturação, e o cinema que não sofria com nenhuma burocracia, começou a entrar em crise.



Os filmes tinham que passar pela polícia, para ter aprovação do Estado para poder ser colocado em cartaz. Seu Vavá conta, que a sensação que sentia, era a mesma que ele via nos filmes sendo vivida pelos judeus na Alemanha, de Hitler, quando eles iam receber o visto para poder sair do País.
Hoje, o Cine Nazaré vive outra realidade.
Seu Vavá, exibe sessões de filmes antigos de faroeste, bíblicos e romances, as quartas-feiras, às 17 e 19 horas, sábados e domingos, às 19 horas.


As sessões costumam ter um número de 75 pessoas, sucesso atribuído ao nome dos filmes exibidos, que apesar de antigos, são muito bons de rever, segundo seu Vavá, que exibe filmes mais antigos, pois precisa ter os direitos comprado desses filmes.
Apesar de ser um cinema feito para a comunidade, o Cine Nazaré tem contado com a presença de pessoas de todas as partes da cidade, de variadas idades, e diferentes classes sociais. Pessoas mais humildes e com mais dinheiro, demonstrando uma preferência pelos mais idosos, que são mais calmos, e segundo ele, respeitam o cinema, sabem aproveitar o lugar. Já as crianças, os mais jovens, são muito bagunceiros, e chegam até mesmo a estragar as cadeiras e jogar lixo no chão.
Diferentemente dos cinemas dos shoppings, no Cine Nazaré o preço da sessão tem um valor simbólico, que chega a ser espontâneo. Existe uma urna na entrada da sala, e as pessoas passam e depositam alguma quantia de dinheiro. Uns mais, e outros menos. Seu Vavá diz que dificilmente alguém entra sem colocar nada, até por ficar meio sem jeito. 
Segundo ele, o preço do cinema tem que ser bem mais barato do que se cobra. “R$ 7, R$ 8, é algo absurdo, o cinema deveria cobrar R$ 1, R$ 2, no máximo”, diz.


O cinema para seu Vavá, é um empreendimento, pois tira algum dinheiro para mantê-lo, mas é um valor que é necessário para manter a subsistência do cinema. Envolvido pela paixão, seu Vavá procura fazer seu cinema baseado nos seus ideais, naquilo que acredita ser de fato o cinema. Suas pretensões nunca passaram de fazer cinema com amor e com tudo aquilo que acredita, talvez esse, seja o grande segredo do sucesso do Cine Nazaré.


Natália Cristina Guerra

Fontes: Diário do Nordeste e Jornal O Estado

Cine Nazaré - Uma demonstração de amor pelo cinema...Parte II


Do Bang-bang à Bíblia, até de tamanco

Para atrair o público, seu Vavá recorre aos mais variados filmes antigos. “Escolho aqueles não são encontrados nas locadoras e que não passam na televisão. Assim, não tenho concorrência e ainda ofereço produtos de qualidade”, explica. A programação é puro saudosismo. Entre os filmes que entraram em cartaz, estão “O Ébrio” (1946), que consagrou a música homônima de um dos grandes ídolos do rádio, Vicente Celestino; os faroestes “Abutres Noturnos”, com o cowboy das matinês Allan Rocky Lane, e outro faroeste clássico, “O Dólar Furado” (1969), ambos em versões dubladas.

Para o período da Semana Santa, seu Vavá abre uma exceção na programação e coloca em cartaz filmes mais recentes, como “Judas” (2000), da Coleção Bíblia Sagrada; “Sansão e Dalila” (1996), com Dennis Hoopper e Elizabeth Hurley; e “Pedro” (2006), com Omar Shariff. E, claro, não podia também faltar uma versão de “Paixão de Cristo”. “Só lamento a falta de cultura religiosa nas pessoas. Tem gente que não quer assistir a ‘Paixão de Cristo’ porque acha o ‘artista’ do filme mole, já que apanha muito sem reagir. Já ouvi este tipo de comentário, que revela a ignorância de valores”.

Cine Nazaré - Acervo de João Otávio Lobo

Cena de “O Ébrio”, produzido em 1946


Nada, porém, tira o entusiasmo de seu Vavá pela sétima arte. Mas ele sente saudades dos tempos áureos dos cinemas de bairro. “Ir ao cinema era um acontecimento. As pessoas passavam duas horas na frente da tela e iam pra casa felizes, já pensando numa nova sessão”, conta.



Tamanco permitido

O figurino do público também era outro. “As pessoas se arrumavam mais, principalmente aos domingos. Com o tempo, as exigências foram ficando menores, mas o uso de tamanco ficou proibido por muito tempo. Quem chegasse na porta do cinema de tamanco, só entrava com ele na mão. Senão era aquele toc-toc, toc-toc. E isso não podia”, sentencia. “Agora pode”, avisa. 

Histórias de cinema

22 cinemas já chegaram a funcionar simultaneamente em Fortaleza, no início da década de 50, quando a cidade mal chegava aos 300.000 habitantes. Um número que impressiona, até mesmo em relação aos de hoje. A maioria dessas salas exibidoras localizava-se nos bairros ou no entorno do Centro, onde ficavam os grandes cinemas lançadores como o São Luiz, o Diogo e o Majestic Palace, este último especializado em faroestes e filmes em série.

1950 foi o ano da implantação da cadeia exibidora Cinemar, fruto da ousadia do empresário e cinéfilo Amadeu Barros Leal. Ele ousou enfrentar o monopólio dos grandes circuitos nacionais, dominados pelos produtores de Hollywood, e trazer até Fortaleza os grandes clássicos do cinema europeu. Mas, a corajosa iniciativa só vingou pouco mais de uma década e as salas tiveram que ser vendidas a outros grupos.

1974 foi o ano da inauguração do primeiro cinema de 'shopping' em Fortaleza, o Cine Gazeta, localizado no Center Um da Aldeota, onde funcionaram por algum tempo as sessões do Cinema de Arte coordenado pelo crítico de cinema do Diário do Nordeste, jornalista Pedro Martins Freire


Continua...

Parte I

Matéria publicada no Jornal Diário do Nordeste

Cine Nazaré - Uma demonstração de amor pelo cinema!


Foto

1945 - Abre-se, no Otávio Bonfim, em prédio na Rua Padre Graça nº 65, o Cine Nazaré, pertencente ao marchante do Mercado São Sebastião, José Marcelino, que tinha paixão por cinema. Depois foi adquirido pela empresa Luís Severiano Ribeiro que o fechou em 1954.
Em 18 de maio de 1969, o antigo operador do Cine Familiar, Raimundo Carneiro de Araújo (Vavá), adquire e reabre o Cine Nazaré, na Rua Padre Graça nº 65, com o filme "Desafio de Gigantes".


 
Foto George Hudson

Matéria de 05/07/2006 do Diário do Nordeste:

Em frente à Lagoa da Onça, a um quarteirão do Cercado do Zé Padre, no Otávio Bonfim, o número 65 da Rua Padre Graça é cheio de história. É a Oficina São Pedro, mas ali já funcionou o Cine Nazaré, que faz parte da história do bairro e de Fortaleza. Apesar de a lagoa ter sido aterrada, de o cinema não funcionar mais e de o lugar hoje ter carros no lugar das cadeiras, o que aconteceu no local e nos seus arredores reaparece como um filme na lembrança dos moradores mais antigos. Talvez a sala seja a única que, quando chovia, ninguém reclamava de assistir ao filme com os pés na água. O bairro, considerado calmo por muitos dos moradores, ainda tem casas antigas, principalmente perto da Igreja de Nossa Senhora das Dores, construída em 1951, pela Ordem Franciscana Menor (OFM). Ali próximo ficava também o Cercado do Zé Padre, faixa de terra em duas ruas, que abrigava diversas famílias. Nas imediações, onde hoje se encontram casas, comércios ou onde foram abertas ruas, ficavam os pontos de aluguel de carros e bicicletas. É que, na época, o transporte mais comum era o bonde. Já o trem, que chegou ali pela extinta Rede de Viação Cearense (RVC), não só deu o nome de Otávio Bonfim à estação como o sobrepôs sobre o nome oficial do bairro, Farias Brito. Ali há relíquias. Não só materiais, mas outras subjetivas que ganham vida nas lembranças do radiotécnico Vavá, que até os 18 anos foi Raimundo Getúlio Vargas Carneiro de Araújo e hoje, aos 75, não leva mais o nome do ex-presidente, só o apelido.



Sala de exibição do Cine Nazaré - Arquivo do blog Percursos Urbanos

No final dos anos 40 e início dos 50, os cinemas passaram a ser uma das principais diversões na Capital. Lazer dos mais modernos e disputados. Havia diversas salas em Fortaleza, espalhadas em bairros periféricos ao Centro. Muitos dos espaços eram do Grupo Severiano Ribeiro que, com a inauguração do São Luiz, desfez-se das parcerias para priorizar, a partir dos anos 60, a mais luxuosa sala da Capital.

Segundo Seu Vavá, como é conhecido o radiotécnico, em 1945, quando foi erguido o prédio do Cine Nazaré, o Otávio Bonfim era completamente diferente. A começar pela Lagoa da Onça, marca do bairro, e que hoje não existe mais - a não ser no imaginário dos moradores e nas marcas de algumas paredes que insistem em brejar no lugar do aterro. O primeiro arrendatário do Nazaré foi o marchante José Marcelino, que cortava carne no Mercado São Sebastião.

Na época, já existia o Cine-Teatro Familiar no bairro, feito pelos frades ao lado da igreja. O inusitado do espaço é que os espectadores assistiam ao filme praticamente ao ar livre, pois não havia paredes, só uma coberta.


O Nazaré, por sua vez, começou a funcionar em 1945, final da guerra. “Anoiteceu, o pessoal ia para o cinema, não para bar, restaurante. Muitos casamentos começaram e terminaram ali”, conta Seu Vavá, acrescentando que as mulheres levavam até crianças de colo. A não ser que o filme fosse censurado. No caso, aqueles de terror, com monstros ou os mais insinuantes, com mulheres de maiô ou cena de beijo.


Em sua programação, além de filmes comerciais, películas dos anos 40, 50... 
 Arquivo do blog Percursos Urbanos 

Sobre a censura, o radiotécnico, que também foi censor, lembra que, ao ser exibido um filme científico, com cenas de parto e informações sobre doenças sexualmente transmissíveis, foi preciso fazer duas sessões: uma para mulheres, às 15 horas, e outra para homens, às 22. “Foi algo fora do comum, por volta de 56”, diz.

O Cine Nazaré foi tão marcante naquela época que, na exibição de “O Ladrão de Bagdá”, foi necessário abrir uma segunda sessão. Tantas pessoas esperavam do lado de fora e na lateral do cinema, que o muro caiu. “O pessoal começou a se amontoar, a gritar ‘o gato a miar’, a empurrar. Quando o muro caiu, quem estava vendo o filme nem ligou, continuou assistindo”, recorda, divertindo-se.

No cinema cabiam 300 pessoas. Havia dois tipos de ingresso: 200 nas cadeiras, de madeira no assento e no encosto, e 100 ‘na geral’, bem na frente da tela, com banco sem encosto ao invés de cadeira. Na ‘geral’, onde o ingresso era menos de metade das cadeiras, 400 réis, quando chovia era um sufoco.

A água emanava do chão, já que todo o terreno ao redor da Lagoa da Onça ficava encharcado. Para solucionar o problema, oito pisos foram sobrepostos, para aumentar o nível do chão, cuja base foi construída abaixo do nível da lagoa. “Ou a pessoal ficava de cócoras em cima do banco ou tirava o sapato, chinelo ou tamanco e ficava com as pernas na água, vendo o filme”, explica. Do lado de fora, vendedores de bolo, tapioca e café esperavam os cinéfilos para o lanche. Nada de pipoca, ainda.

Seu Vavá ressalta que sempre foi “louco for cinema”. Em 1938, passou em frente ao Teatro São José e viu, deitado no chão e brechando pela fresta da porta, o filme projetado no palco. No Cine Familiar, o dos frades, Seu Vavá começou carregando rolo de filme, com 18 anos.

Por volta de 1960, com o fim dos cinemas longe do Centro (fecharam o Ventura na atual Aldeota, o Dioguinho na praça do Colégio Militar e outros), o Nazaré também fechou. Em 1968 foi a vez do Familiar.

Dois anos mais tarde e dedicando profissionalmente somente ao cinema, Seu Vavá resolveu arrendar o Nazaré e o reabriu. Passou um ano projetando filmes repassados pelo Grupo Severiano Ribeiro, até que as despesas ficaram altas demais. Na década de 60, também arrendou salas em Sobral, Crateús, Russas e Aracati.

Esperança e Criatividade - Matéria de 2008 (Diário do Nordeste)



Arquivo de Juracy Mendonça


Já que não podia manter funcionando sua sala, seu Vavá, movido pelo saudosismo, comprou, nos anos 70, o prédio onde funcionou seu cinema, que é mantido sem alterações. É o mesmo espaço onde, agora, mais de 30 anos depois, ele instalou a nova versão do Cine Nazaré (a terceira), que ganhou corpo com o aproveitamento de equipamentos de vários outros cinemas. As 75 poltronas do lugar pertenceram ao antigo Cine Fortaleza. Os carpetes são os mesmos que cobriam as paredes e pisos das salas do North Shopping -antes da reforma. E o projetor, com mais de 60 anos de uso, veio de Belém. “É um dos melhores projetores que existem”, garante seu Vavá.

Mas nem tudo foi só na base da criatividade. O teto, em PVC, é novo. Assim como o aparelho de ar-condicionado e as instalações do banheiro. “A gente só precisa ficar de olho na entrada do banheiro das mulheres, pois não existe porta para homem sem-vergonha”, conclui. Os filmes são exibidos em três dias da semana, com duas sessões aos domingos e às quintas-feiras (16 e 19 horas) e uma sessão aos sábados (19 horas). O preço do ingresso é simbólico: dois reais a entrada inteira e um real para estudantes e idosos. Por enquanto, ainda não tem pipoca. Mas seu Vavá já pensa em terceirizar o serviço de lanches. Assim, ele garante que “o pipoqueiro que pagar o ingresso vai ter o direito de vender seu produto na entrada”.

A primeira sessão do novo Cine Nazaré foi com o filme “O Pequeno Polegar”. Trinta e cinco pessoas pagaram ingresso. Seu Vavá sabe que não será fácil manter o espaço com o que for arrecadado na bilheteria. E mais difícil ainda obter algum lucro. “Pelo menos, o que foi investido já está pago. Mas sei que, nos três primeiros meses, não vou conseguir cobrir os gastos com energia, aluguel dos filmes - ele traz de São Paulo - e com o pagamento de uma moça que me ajuda”, consola-se. “Se o movimento for bom, porém, as coisas vão ficar mais fáceis”, completa, esperançoso.

Continua...

Vale resaltar que o querido 'Seu Vavá' e sua paixão já viraram filme: "Seu Vavá e sua paixão pela sétima arte”.  O Filme é um curta sobre Raimundo Carneiro de Araújo, que dedica sua vida ao Cine Nazaré. O roteiro é de Iasmin Matos.



Imagem do filme de Iasmin Matos - Arquivo do Site Travessias

Fontes: Diário do Nordeste e Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Otávio Bonfim - Os Frades Alemães



No último quartel do século XIX, a Província Franciscana de Santo Antônio, sediada no Nordeste, originária de Portugal, contava com um reduzido número de frades menores, para fazer frente à avalanche de obrigações religiosas e comunitárias. Em razão desse fato, fez um apelo às províncias franciscanas da Europa, em tom de socorro, encontrando ressonância na Província Franciscana da Saxônia, na Alemanha, que aquiesceu em mandar frades ao Brasil, para reforçar os recursos locais.


(Foto ao lado do benfeitor Frei Teodoro Haerke, franciscano zeloso)



A Província de Santo Antônio, a 12 de dezembro de 1889, foi confiada à Província da Santa Cruz da Saxônia. Na data de 27 de dezembro de 1892, chegaram da Europa os novos confrades que se instalaram no Convento de São Francisco de Salvador-BA. A incorporação jurídica teve como base a Congregação Capitular dos antigos e novos frades realizada no dia 2 de março de 1893. Assim, teve início, notadamene, a reforma e a renovação da Província de Santo Antônio, no Nordeste brasileiro.


Em primeiro de março de 1929, foi lançada a pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora das Dores, que sucedia à antiga capela de São Sebastião, levantada na praça a que deu nome, depois soerguida na antiga Estrada do Gado, atualmente, rua Dr. Justiniano de Serpa. Frei Odilon Gethaus e Frei Lucas Vonnegut, ambos alemães, foram os dois grandes construtores desse templo e do convento franciscano anexo. O primeiro, por motivos de doença, não chegou a ver as obras concluídas, justo por ter falecido em 22 de janeiro de 1930, quando chegava aos 59 anos de idade.


Foto Arquivo Nirez

Para dar continuidade aos trabalhos, Frei Lucas Vonnegut, modelo perfeito de discípulo do "poverello de Assis", chegou a Fortaleza, aos 25 de janeiro de 1930, vindo de Canindé, onde era superior interino do convento. Em 13 de junho de 1930, dia de Sto. Antônio, deu-se a festa da bênção da Igreja de Nossa Senhora das Dores. Em 18 de novembro de 1932, coube a D. Manuel da Silva Gomes abençoar os sinos, vindos da Alemanha, bem assim o altar-mor do templo recém-construído. Após essa solenidade, houve missa cantada, tendo por oficiante Frei Lucas Vonnegut.

Muitos frades alemães passaram pelo convento do Otávio Bonfim, tanto assim que, durante a II Guerra Mundial, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, o prédio foi sitiado, tendo o claustro conventual sido ocupado durante um dia, para uma longa operação das forças de segurança interna, que realizaram varredura infrutífera, em busca de rádio-transmissores ou quaisquer elementos, que se prestassem à espionagem; o resultado, como não podia deixar de ser, foi negativo, porque embora germânicos, os religiosos não tomavam partido no conflito belicoso.


Foto da Avenida Bezerra de Menezes - Arquivo Nirez

Para o laicato, as investidas do povo brasileiro, com os brios feridos pelo torpedeamento de navios mercantes do Brasil, foram de pura e absoluta retaliação. De fato, propriedades e bens pertencentes a cidadãos do Eixo (alemães, italianos e japoneses) foram violados e alvo de pilhagem dos nossos compatriotas, que observavam aqueles como inimigos da Pátria. Aqui, em Fortaleza, o Jardim Japonês, de Seu Guilherme Fujita, foi arrasado ou destroçado pela turba; as Casas Veneza, da família de Francesco, foram saqueadas e depredadas; as lojas de tecidos, da família Lundgren, foram pilhadas, ainda que pertencessem a alemães apátridas, perseguidos na Alemanha nazista, por serem judeus.

Muitos foram os frades tedescos que atuaram na Igreja, e, depois, na Paróquia de Nossa Senhora das Dores (criada pelo Decreto nº 02, de 20/09/1963, da Arquidiocese de Fortaleza), como: Frei Cecílio Sommer, Frei Teodoro Haerke, Frei Hildebrando Kruthaup, Frei Francisco Solano Szczepanek, Frei Venceslau Wallerus, Frei Hermano Wiggenhorn, Frei Fernando Schnitker, Frei Gregório Reckers, Frei Rainério Kroger, Francisco José Goedde, sendo até difícil listá-los, assim, completamente.

Mais complicado é destacar os feitos e as obras de cada um deles, não obstante terem todos, em comum, o espírito empreendedor, a tenacidade e a disciplina germânicas, logicamente que acostados às condições externas, servindo de êmulo à concretização dos trabalhos projetados. A título de representação de diferentes momentos inscritos na história do convento franciscano, à guisa de exemplo, o perfil de quatro desses frades, que depois de um profícuo trabalho, retornaram à Casa do Pai: Frei Teodoro -um franciscano zeloso e desportista nato, Frei Hildebrando - empreendedor audacioso e humanista; Frei Lauro - um apóstolo da juventude, e Frei Humberto - um evangelizador social, exibe a marca indelével das ações realizadas em prol da comunidade do Otávio Bonfim, bem como de seus arrebaldes.


Créditos: Marcelo Gurgel Carlos da Silva (Diário do Nordeste) e Arquivo Nirez

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Otávio Bonfim dos velhos tempos...


Avenida Bezerra de Menezes - Arquivo Nirez

Na escala do tempo, quarenta e tantos anos já fazem uma boa diferença. Isso se verifica com as pessoas, principalmente, e também com os locais onde as coisas, outrora, acontecem.

Na década de sessenta, por exemplo, o bairro Otávio Bonfim, oficialmente Farias Brito, na zona oeste da capital, tinha um charme bem particular. Não era de classe alta. Também não estava na linha da pobreza.

O que mais o diferenciava de outros, existentes em Fortaleza, naqueles idos, era o clima de família que reinava ali, campeando entre as arvores centenárias que se erguiam na Praça com o nome oficial de Libertadores.

Em cada canto, era comum ver-se mulheres com uma banquinha de café, fazendo fogo ali mesmo e lavando os utensílios em alguidar de barro, deixando a água escorrer pelas coxias.

De vez em quando tinha uma espiga de milho cozida, uma tapioca de goma fresca, sem respeito às normas de higiene, é claro, mas tão gostosas que até se esquecia de alguns prováveis transtornos gastrointestinais.


Avenida Bezerra de Menezes - Arquivo Nirez

Os moradores de bairro tinham uma intimidade bem grande com aquela pracinha. Aposentados ficavam ali papeando, casais de namorados aproveitavam o bucolismo do local, para as costumeiras juras de amor, donas de casa levavam os filhos pequenos para andar de velocípede ou mesmo bicicleta, transeuntes iam e vinham despreocupados, ou com alguma preocupação, que isso já era frequente antes mesmo da virada da economia.

Não havia lugar mais apropriado que a pracinha, para ler os jornais do dia, inclusive a Tribuna do Ceará, de saudosa memória. Muita gente circulava por ali, justo porque lá era ponto de desembarque dos ônibus que vinham do interior, com entrada pelo Antônio Bezerra.

A praça e a Igreja de Nossa Senhora das Dores pareciam geminadas, sequer dando oportunidade de se pensar em uma, sem estar pensando na outra. Até se tinha a impressão de que a primeira era uma extensão da segunda, e vice-versa.


Belíssima vista da Igreja de Nossa Senhora das Dores tendo ao lado o Posto Carneiro & Gentil - Arquivo Nirez

Era só atravessar o passeio de pedra tosca, entre as ruas Justiniano de Serpa e Dom Jerônimo, e lá se estava em frente ao Santuário de Santo Antônio, parede e meia com a igreja.

Nos dias de terça-feira, acontecia a distribuição do pão dos pobres. Nem se falava do Lula, mas o bairro, ou melhor, os frades franciscanos do Otávio Bonfim, já engatavam movimentos sociais de combate à fome, com a ajuda dos paroquianos.

Uma grata recordação que vem daqueles tempos está ligada ao Cine Familiar, que ficava na lateral esquerda da igreja, fazendo quina com a Rua Dom Jerônimo. O Vavá era o grande artífice da 7 ª arte.


Posto Carneiro & Gentil - Situado na Avenida Bezerra de Menezes. O catavento da fotografia ficava no quintal da casa em que morava a família Gurgel Carlos, na rua Justiniano de Serpa, nº 53 - Arquivo Nirez

Era ele que cuidava da exibição das películas, já que sabia só tudo sobre como manejar os rolos na velha geringonça, fazendo hoje com que nos lembremos do Cinema Paradiso.

Tudo isso se foi na enxurrada do tempo, mas o que até agora não sai das retinas cansadas, nem dos ouvidos adormecidos, é a imagem do trem, meio sujo, vindo dos lados do Acarape, rodando e rangendo sobre os trilhos presos aos dormentes, que iam dar na Estação João Felipe. Poderia ser o inverso, se o destino mudasse para Maracanaú.

Nas manhãs de sábado, não tinha passeio melhor do que pegar os filhos menores, subir no trem, e, de joelhos, nas poltronas rasgadas, acompanhar, das janelinhas abertas, o desfile de casas, árvores, pessoas que, indiferentemente à observação, postavam-se à beira do caminho.

Arquivo Nirez

Não se sabia, àquelas alturas, o que era uma bala perdida. No entanto, vez por outra, um garoto mais afoito pegava sua baladeira e conseguia estraçalhar a vidraça ou alcançar a cabeça de um passageiro menos avisado. Quem morava nas imediações da linha férrea, junto à parada do trem, no Otávio Bonfim, costumava despertar com o som estrépito da máquina, anunciando sua chegada à estação.

Muitos dos moradores da área residiam em casas construídas pela RVC, no último quarteirão da Rua Domingos Olimpio e já na Av. José Bastos, indo para a Av. Bezerra de Menezes.

Na verdade, o ícone de maior destaque, naquele quadrilátero urbano, era a Igreja de Nossa Senhora das Dores, apinhada de fiéis, nas missas dominicais, e que, em tempo de festa, "mandava ver" com grandes atrações, incluindo, barracas, quermesses, lembrando antigos costumes das cidadezinhas do Interior.

Av. Bezerra de Menezes em 1982 

Aquele pedaço de Fortaleza foi sempre um reduto da Família Gurgel. Se não era parente, era amigo ou conhecido. Na Rua Justiniano de Serpa, morava D. Dulce Gurgel Valente, mãe do Fernando, dono da Mecesa, do Flávio, funcionário do Dnocs, da Adélia e da Fernanda.

Do outro lado da Bezerra de Menezes, já depois da linha do trem, ficava a Siqueira Gurgel. Era lá onde se fabricava o Sabonete Sigel, o óleo Pajeú, a gordura de coco Cariri e o famoso sabão Pavão.

Arquivo Nirez

Havia, na época, um jingle muito popular: "uma mão lava a outra com perfeição, e as duas lavam roupa com sabão pavão". O óleo de algodão Pajeú, produzido na Siqueira Gurgel, ficou na história, isso porque a lata trazia estampada a figura de uma negrinha de tranças, bem sapeca em seus modos. Os tempos mudaram, a Siqueira Gurgel foi vendida e a área pertence hoje a uma rede de Hipermercado.


Ninguém lembra mais que na confluência da José Bastos com Bezerra de Menezes havia a Farmácia da D. Rosélia, mãe dos Professores Benito e Lúcio Melo, servindo a toda a população do bairro, necessitada de remédios, curativos e injeções.

Otávio Bonfim - Acervo Marcelo Gurgel

A pracinha, mesmo depois de passar por sucessivas reformas, que lhe presentearam com canteiros, mudas de plantas, calçamento novo, perdeu um bocado do seu encanto. Ficou menos bucólica e mais suja.

A Sumov, então, deu lugar à Regional I, tornando-se um ninho de políticos ligados à gestão municipal. O que não mudou, foi a questão física do perímetro. Por um lado, caminha-se para o Beco dos Pintos, por outro, vai-se para o Cercado do Zé Padre.

Essa é uma versão de Fortaleza, em tempo real. Há marginalidade, há religiosidade, há urbanidade, tudo convivendo democraticamente, em que pese a violência instituída que está impondo aos moradores do bairro fechar suas portas, tão logo o sol descamba na linha do horizonte. Sinais dos tempos!

"Matadouro do Otávio Bonfim, que funcionava perto da estação de trem e onde hoje está o prédio da regional I, ao lado da pracinha. O Matadouro existiu até o ano de 1926. Fortaleza teve quatro matadouros. O primeiro matadouro foi no centro; o segundo, foi este do Otávio Bonfim, o terceiro foi o do Jardim América e o quarto era o Frifort, depois dele, não surgiu mais nenhum e hoje a população não sabe a origem da carne que consome." Nirez

Otávio Bonfim & Farias Brito
Muitas pessoas chamam o bairro de Otávio Bonfim, no código urbanístico da cidade tem, na verdade, o nome de Farias Brito. De igual forma, a praça que fica em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores, diferentemente do que imaginam os transeuntes, é denominada Praça dos Libertadores. Otávio Bonfim, assim conhecido o bairro Farias Brito, foi integrante do quadro de pessoal da antiga Rede de Viação Cearense, tendo sido por conta da sua condição de engenheiro, responsável por obras da RVC, que a sua figura ficou vinculada àquela área da cidade, dando nome, inclusive, à primeira estação do trem, após sua saída do terminal, no centro de Fortaleza, na direção norte-sul. O cine Familiar, vizinho à Igreja das Dores, por muitos anos, até o final da década de 1960, polarizou a atenção do moradores do bairro, que tinham ali um ponto de encontro para assistir filmes projetados, com o maior cuidado, pelo Vavá, um amante, como poucos, da sétima arte.

As pessoas confundem Praça das Dores com Praça do Otávio Bonfim. Na verdade, nem uma coisa nem outra. A praça é dos Libertadores e, se por acaso, tornou-se conhecida como Praça das Dores, o fato deveu-se à Igreja de Nossa Senhora das Dores, ali construída em 1932, e entregue aos frades franciscanos, muito dos quais alemães, empenhados em difundir a palavra de Cristo, entre os moradores da área, especialmente o grupo de jovens, fossem eles mais ou menos abonados.


 
Linda casa do bairro - Arquivo Nirez

A história do bairro, que de direito é Farias Brito, e de fato, é chamado de Otávio Bonfim, ganhou notoriedade por seu ecletismo, haja vista o registro de uma convivência pacífica entre quem, por exemplo, trabalhava, sol e chuva, no ferro velho, junto ao Mercado São Sebastião e quem, como o Sr. Jusako, cultivava flores, no Jardim Japonês. O catolicismo, por sua vez, convive em paz, com outras manifestações religiosas, haja vista a existência, no bairro, de muitos cultos evangélicos.

 
Arquivo Nirez

A renda 'per capita' dos moradores também é bastante variável. Há comerciantes, profissionais liberais, residindo na área, do mesmo modo que a marginalidade também dá suas caras ali, sendo os abusos coibidos pelo 3º Distrito Policial, instalado bem ao lado da linha do trem. O charme do bairro está na sua diversidade e, certamente, no clima de interior, que ainda circula por lá.




Créditos: Diário do Nordeste (Elsie Studart Gurgel/Marcelo Gurgel) e Arquivo Nirez