sábado, 28 de julho de 2012

Cine Nazaré - Uma demonstração de amor pelo cinema...Parte II


Do Bang-bang à Bíblia, até de tamanco

Para atrair o público, seu Vavá recorre aos mais variados filmes antigos. “Escolho aqueles não são encontrados nas locadoras e que não passam na televisão. Assim, não tenho concorrência e ainda ofereço produtos de qualidade”, explica. A programação é puro saudosismo. Entre os filmes que entraram em cartaz, estão “O Ébrio” (1946), que consagrou a música homônima de um dos grandes ídolos do rádio, Vicente Celestino; os faroestes “Abutres Noturnos”, com o cowboy das matinês Allan Rocky Lane, e outro faroeste clássico, “O Dólar Furado” (1969), ambos em versões dubladas.

Para o período da Semana Santa, seu Vavá abre uma exceção na programação e coloca em cartaz filmes mais recentes, como “Judas” (2000), da Coleção Bíblia Sagrada; “Sansão e Dalila” (1996), com Dennis Hoopper e Elizabeth Hurley; e “Pedro” (2006), com Omar Shariff. E, claro, não podia também faltar uma versão de “Paixão de Cristo”. “Só lamento a falta de cultura religiosa nas pessoas. Tem gente que não quer assistir a ‘Paixão de Cristo’ porque acha o ‘artista’ do filme mole, já que apanha muito sem reagir. Já ouvi este tipo de comentário, que revela a ignorância de valores”.

Cine Nazaré - Acervo de João Otávio Lobo

Cena de “O Ébrio”, produzido em 1946


Nada, porém, tira o entusiasmo de seu Vavá pela sétima arte. Mas ele sente saudades dos tempos áureos dos cinemas de bairro. “Ir ao cinema era um acontecimento. As pessoas passavam duas horas na frente da tela e iam pra casa felizes, já pensando numa nova sessão”, conta.



Tamanco permitido

O figurino do público também era outro. “As pessoas se arrumavam mais, principalmente aos domingos. Com o tempo, as exigências foram ficando menores, mas o uso de tamanco ficou proibido por muito tempo. Quem chegasse na porta do cinema de tamanco, só entrava com ele na mão. Senão era aquele toc-toc, toc-toc. E isso não podia”, sentencia. “Agora pode”, avisa. 

Histórias de cinema

22 cinemas já chegaram a funcionar simultaneamente em Fortaleza, no início da década de 50, quando a cidade mal chegava aos 300.000 habitantes. Um número que impressiona, até mesmo em relação aos de hoje. A maioria dessas salas exibidoras localizava-se nos bairros ou no entorno do Centro, onde ficavam os grandes cinemas lançadores como o São Luiz, o Diogo e o Majestic Palace, este último especializado em faroestes e filmes em série.

1950 foi o ano da implantação da cadeia exibidora Cinemar, fruto da ousadia do empresário e cinéfilo Amadeu Barros Leal. Ele ousou enfrentar o monopólio dos grandes circuitos nacionais, dominados pelos produtores de Hollywood, e trazer até Fortaleza os grandes clássicos do cinema europeu. Mas, a corajosa iniciativa só vingou pouco mais de uma década e as salas tiveram que ser vendidas a outros grupos.

1974 foi o ano da inauguração do primeiro cinema de 'shopping' em Fortaleza, o Cine Gazeta, localizado no Center Um da Aldeota, onde funcionaram por algum tempo as sessões do Cinema de Arte coordenado pelo crítico de cinema do Diário do Nordeste, jornalista Pedro Martins Freire


Continua...

Parte I

Matéria publicada no Jornal Diário do Nordeste

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