quinta-feira, 19 de julho de 2012

Descalços e banguelos - Um causo sério




Em 1968. Como este, ano eleitoral. Campanha de tramas. Na cidade, tempo de eleição era um Deus nos valha e acuda. Matreirice à solta. Burlas a lei.

Candidatos no ludibrio ao eleitorado. Terra de paupérrimos, analfabetos e desdentados. Pontos fracos do povão e fortes dos políticos curraleiros da desgraça humana.

Miguelim, riso fácil, papo do vai dar certo, promessas dos sem faltas e dos sem dúvidas era vezeiro na corrupção. Ou “malfeito”?

Época da popularização das sandálias japonesas. Identificou-as como meio importante na vitória urnária. Encomendou uma carrada da mesma cor, separadas meio a meio, para os pés direito e esquerdo. Pouco antes da votação, distribuiria as primeiras e, vitorioso fosse, o votante a apresentaria e faria jus à complementadora do par.

Novas ideias surgiram-lhe. Contratação de protético que elab
oraria duas mil dentaduras. Superiores e inferiores. De tamanhos diversos. Enquanto isso, um dentista extrairia os restos de dentes naturais dos desejosos em utilizar mastigadores postiços.

Eleito, distribuiu a chinela faltante a um dos pés do eleitor. As pererecas foram entregues, porém, com dificuldades. Nos locais de fornecimento, existiam mesa e caixa contendo várias chapas. Em fila, os banguelos, um a um, experimentavam as próteses e, quando as mesmas se adaptavam ao formato bucal, passavam a pertencer-lhes. Alguns testavam dezenas, sem êxito, devolvendo-as à caixa. Outros as pegavam, mergulhavam na água de pequena bacia e as premiam nas gengivas. As trocas duraram dias. O município? Perguntem ao Miguelim. Não raro, já velho, vem a Capital. Assuntos politiqueiros...


Geraldo Duarte (Diário do Nordeste)

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