Depois da inauguração da Paróquia de Fátima, na Av. 13 de Maio, no ano de 1955, o bairro veio a ser cobiçado como promissor, e, em grau de importância, chegou a ser dito por muitos que seria o bairro do futuro, tão importante quanto a Aldeota. Achavam que a cidade não tinha mais para onde crescer e que a imensa faixa de terra plana cheia de matas, principalmente do lado do sertão, onde tinha sítios de cajueiros e mangueiras, seria explorado. Quase tudo era mata do Dumma. Casas bonitas foram feitas por engenheiros e arquitetos importantes como Ageu Romero e dezenas de outros. Residências foram sendo ocupadas por importantes e ricas famílias, donos de indústrias e casas de comércio no centro da cidade onde quase tudo era verde e com árvores cheia de passarinhos. Em lotes pequenos, a maioria construiu suas casas que chamavam modernamente de os novos bangalôs.
A Av. 13 de Maio era o grande negócio imobiliário naquele momento e todos tinham visão midiatizada, digamos, globalizada. A Estrada do Sol, ou Av. 13 de Maio começa na Visconde do Rio Branco e termina no trilho do Parque Araxá. Para o nascente, a precária Pontes Vieira. Pequeninas casas, muito barro, calçamento e coqueiral; era só o que mais se via ali. Do lado contrário, ou seja, para o nascente, o final da Av. 13 de Maio e o início da estreita rua do Parque Araxá, também cheia de casinhas. Fátima surgia, então, como bairro dos novos ricos, com calçamento, iluminação, casas de sobrado por todos os lados e, uma larga perspectiva de crescimento. Uma das primeiras residências deste lado do bairro, ou seja, o da Paróquia de Fátima, foi uma casa bangalô construída há mais de 60 anos, distante um quarteirão e meio da Av. 13 de Maio para o lado do riacho do Jardim América, no meio das matas, sem sistema de água, esgoto, ônibus, e nenhum comércio ou qualquer infra‑estrutura, por perto. Era na rua Pe. Leopoldo Fernandes em frente a nossa casa nº 168. Casa onde morava o seu Albertino e D. Suzete e filhos.
A Paróquia de Fátima, certamente não há que negar, em nome do seu primeiro vigário, o padre Gerardo, foi a grande responsável pela sustentação e performance do bairro. Muitas reuniões foram feitas com os moradores e, vagarosamente, cumprindo o seu papel, a Igreja conseguiu cercar‑se de muitas famílias, ao mesmo tempo em que abraçava a todos em torno dela. Daí veio a consolidação do bairro de Fátima, mais loteamentos, novas ruas e tudo começou a mudar.
Os primeiros divertimentos do bairro era o futebol que se jogava em frente a Igreja, onde se via os treinos do Fortaleza x Ceará, aos domingos e, eventualmente, quando não havia jogo, acampamento de ciganos nesse mesmo local. Diga‑se rapidamente, este local era uma espécie de imensa praia de areia limpa, talvez proveniente das enormes enchentes em tempos remotos, do caudaloso rio que corria ao longo da Av. Aguanambi, (hoje, o canal) transformando tudo em grande praia nessas imediações da avenida 13 de maio.. Hoje, o estuário desse rio é um canal de esgotos que corta a Av. 13 de Maio e é encaminhado para o Lagamar, que desemboca no rio Cocó e em seguida no mar. De ano em ano, também tínhamos as festas da paróquia, os leilões, as novenas aos domingos, alguns arriscavam sair de suas casas a dar pequenos passeios a ver distante alguns aviões na BaseAérea de Fortaleza, pois tudo era descampado e, quem sabe, para conhecer novos moradores.
Havia um riacho que cortava as matas mais baixas da Av. 13 de Maio, era o Jardim América (este que hoje é o canal ao longo da Av. Eduardo Girão), naquela época com milhares de peixes (corta todo o Bairro de Fátima). Tudo era pitoresco e envolto em clima agradável, típico das promissoras fazendas e sítios, como as que tínhamos próximas. A do doutor Almendra, que ficava em frente ao 10° GAC, na Av. Luciano Carneiro, com criação de cavalos e gado leiteiro; a do doutor Agenor, com frutas diversas, onde é o Centro Educacional e a do doutor Pergentino Ferreira que se localizava exatamente onde hoje é o conjunto de prédios residenciais Segredo de Fátima, nas proximidades da rodoviária – A casa sede desse sítio era muito grande e toda cercada de alpendres, cujas colunas lembravam as curvas em meia lua do Palácio da Alvorada, na Capital Federal. Tudo se via de longe: a lagoa, os currais, as plantações, toda a bela imagem da fazenda do doutor Pergentino Ferreira. Quem olhasse para direita ao ingressar na estrada rumo a Messejana, via‑se a paisagem. Lá se criavam também gansos enormes, que, em conjunto, faziam um barulho infernal para afugentar estranhos quando se faziam presentes no local.
Era comum, para as pessoas que moravam para o lado da Igreja, andarem a pé, de suas casas, para apanharem o ônibus na Av. 13 de Maio. Este só passava de duas em duas horas, às vezes até mais de duas, por isso, sempre tinha alguém esperando numa esquina da avenida, e este, a todo instante olhava sempre para ver quando o veículo apontava distante. Quando longe ele surgia, inconfundível, aí se ouviam os gritos para alertar a quem estivesse no meio do quarteirão a caminho do ponto: corre...?! Lá vem um ônibus... A pessoa às vezes encontrava‑se distante um quarteirão e saía em disparada para não ficar esperando pelo outro veículo com destino a Praça do Ferreira. Muito tempo depois surgiram os microônibus da Empresa São José de Ribamar com nome de Bairro de Fátima e circulava entre as ruas do bairro. A partir daí, ficou mais fácil chegar na Praça Coração de Jesus, local onde esses veículos deixavam todos os passageiros, de lá retornando para a Av. 13 de Maio.
Continua...
Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor e fotos do Arquivo Nirez
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