domingo, 30 de setembro de 2012

Fábrica Myrian - A pioneira a extrair óleo de Oiticica



Fachada da Fábrica Myrian - Álbum Fortaleza 1931
A Fábrica Myrian, da firma C. N. Pamplona & Cia., inaugurou no dia 03 de agosto de 1929, na Rua da Alfândega (Avenida Pessoa Anta), esquina com a Rua Almirante Jaceguai, na Praça Almirante Saldanha. A Fábrica foi o primeiro estabelecimento no Ceará a extrair óleo de oiticica através de maquinaria apropriada.

Não se sabe ao certo quem primeiro explorou o óleo de oiticica na região, mas o historiador cearense Geraldo Nobre, no livro 'O Processo Histórico de Industrialização do Ceará', oferece pistas que levam ao Barão de Ibiapaba como o pioneiro da empreitada. Fundamentado em outros importantes estudiosos, como Raimundo Girão, José Guimarães Duque e Paulo de Brito Guerra, ele conta que "O Barão de Ibiapaba, em 1876, pôs em funcionamento uma fábrica, em Fortaleza, composta de um esmagador de sementes, duas prensas verticais e um motor a vapor, para extração do óleo e fabrico de sabão, mas o empreendimento fracassou", em razão de falhas no processo de liquefação da massa obtida com o esmagamento do fruto.

Nova tentativa teria sido feita em 1914 (auge da efervescência industrial movida pelas indústrias automobilística, aeronáutica, química e bélica, que necessitavam de quantidades cada vez maiores de tintas, vernizes e lubrificantes), pela Companhia Fabril e Navegação, do Rio Grande do Norte, "igualmente fracassada". Dessa vez, "por se não ter conseguido neutralizar o mau odor do suco oleaginoso".

Coube, então, aos industriais Franklin Monteiro Gondim, que chegou a exercer interinamente o governo do Estado, e a seu cunhado e sócio, Carlito Narbal Pamplona, em parceria com a Condoroil Tintas S/A Tintas Ipiranga, dirimir os gargalos e fazer da oiticica uma mina de dinheiro e prosperidade. Mas não sem muito esforço, como conta Geraldo Nobre: "Carlito foi o quarto agraciado pela FIEC, em 1975 – post-mortem, com a Medalha do Mérito Industrial. Hoje, também é o nome de um dos bairros mais tradicionais de Fortaleza".
Operários em frente a fábrica - Álbum Fortaleza 1931
O primeiro passo da dupla, que à época, por volta de 1923, mantinha a firma C.N. Pamplona & Cia., foi enviar amostras da amêndoa para laboratórios nos Estados Unidos e Alemanha. Os resultados não poderiam ser melhores. As sementes, originárias da Fazenda Viração, em Icó, de propriedade de Franklin Gondim, tiveram o seu óleo comparado ao da Tung, até então a principal matéria-prima usada no mundo, mas que tinha o inconveniente de ser importada da China, isso num período de constantes ameaças de guerra entre os Estados Unidos e o Japão. Portanto, o achado seria "de grande vantagem comercial, se houvesse matéria-prima para a industrialização em escala competitiva", escreveu Geraldo Nobre.

De posse dos laudos, a empresa providenciou o levantamento de informações sobre a produção de sementes de oiticica no Ceará e estados vizinhos, assegurando-se da viabilidade do negócio. Certos também disso, os empreendedores encomendaram da Alemanha os maquinários necessários à empreitada. Em 1926, teve início a montagem da fábrica, mas, devido à falta de mão de obra especializada, os últimos ajustes só findaram em meados de 1929.

Batizada de Fábrica Myrian, a inauguração foi em 3 de agosto daquele ano, “com grande  concurso de autoridades e convidados especiais, além de populares, atraídos pela curiosidade à Praça da Alfândega (atual Almirante Saldanha), onde ficava o estabelecimento, a pouca distância do porto, localização escolhida para maior facilidade dos carregamentos para o exterior”, segundo Geraldo Nobre.

Entretanto, antes de se consolidar como um grande sucesso, um outro problema engrenou o negócio. Agora foi a coagulação do óleo, que se tornava pastoso e, em contato com o ar, adquiria consistência parecida com a da borracha. Entrave que contou com o empenho pessoal do então secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Tomás Pompeu de Sousa Brasil Filho, ao intermediar o envio das análises ao laboratório do Instituto Nacional de Óleos, no Rio de Janeiro, em 1930.  Apesar dos esforços, o caso não foi resolvido pelo recém-criado órgão público, nem pelos demais laboratórios no Brasil e no exterior que também receberam as amostras.


Franklin Monteiro Gondim - Proprietário - Álbum Fortaleza 1931
Geraldo Nobre registra que “a pertinência dos cearenses permitiu, no entanto, uma solução intermediária”: a fervura do óleo a temperaturas de 180° a 220° graus centígrados e a adição de solventes na porção necessária para obter uma densidade com a qual “a Fábrica Myrian passou a produzir uma tinta em condições de uso satisfatório, como demonstrou pintando grande número de casas da capital e de outras cidades cearenses”.

Com o slogan “Ajudem a defender o produto cearense”, o arremedo foi eficaz o suficiente para alavancar os negócios a ponto de os comerciantes de tintas importadas ficarem temerosos da queda de seus negócios. O repentino êxito do óleo de oiticica para fabricação de tintas despertou o interesse de empresas estrangeiras. Entre elas a indústria francesa C. Coteville & Cia., estabelecida no Rio de Janeiro, que propôs à de Fortaleza a compra de toda a sua produção de óleo, sob a condição de exclusividade.

Carlito Narbal Pamplona - Proprietário - Álbum Fortaleza 1931
Depois de consultar um dos maiores especialistas do ramo de tintas no mundo, o diretor-presidente da Condoroil Tintas S/ATintas Ipiranga, M. E. Marvin, os cearenses resolveram não aceitar a proposta. Em seu livro, Geraldo Nobre explica que para Marvin “a firma cearense tinha um grande futuro, desde que superado, definitivamente, o problema da coagulação. Ele até se ofereceu para trazer ao Brasil o químico Henry Gardner, considerado o maior especialista em assuntos de óleos vegetais nos Estados Unidos”.

O prédio da Fábrica Myrian, é a atual Boate Armazém
Proposta aceita, o norte-americano Marvin se tornaria mais do que um conselheiro; seria, de fato, sócio de um grande e lucrativo negócio, que começou após a solução definitiva proposta pelo especialista americano. Era o início da Brasil Oiticica S/A, em 14 de novembro de 1934, menos de seis meses após o entendimento. A nova sociedade foi firmada no Rio de Janeiro, a então capital federal, mas manteve Fortaleza como sede.


Créditos: Gevan Oliveira, Álbum Fortaleza 1931 e Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

sábado, 29 de setembro de 2012

Avenida Pessoa Anta - Rua da Praia


Serviço de arrasamento das dunas, para o prolongamento da rua da Praia - Década de 30

A Avenida Pessoa Anta que até então era apenas um caminho chamado "Caminho da praia", foi surgindo com a chegada do progresso e dos históricos prédios, passando a chamar-se Rua da Praia em 1932.
A avenida foi urbanizada em 1931-32, na gestão do major Tibúrcio Cavalcanti.
O nome da avenida é uma homenagem a João de Andrade Pessoa Anta (1787-1825), mártir da Revolução de 1824, no Ceará. Foi bacamartado no dia 30 de abril de 1825.


As construções da rua da Praia. Novos edifícios comerciais também passam a despontar na zona costeira da cidade. Acervo - As Construções, 1928.


Já recebeu também o nome de Rua da Alfândega.

No local onde antes era apenas um terreno baldio cheio de árvores, quando a avenida ainda não existia, instala-se a Alfândega de Fortaleza em 01 de julho de 1812, criada por alvará de 1810, sendo logo suprimida em 20 de setembro de 1834.
Mas a construção do prédio de pedras ainda não havia se iniciado, existindo no local apenas o terreno. 


Rua da Praia aberta sobre as dunas foi um importante melhoramento na gestão do Major Tibúrcio Cavalcanti - Década de 30

Fatos Históricos da Avenida:

Em 26 de novembro de 1864, a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará é criada pelo decreto nº 3.347 assinado pelo então ministro da Marinha Francisco Xavier Pinto Lima e pelo Imperador D. Pedro II, com o nome de Companhia de Aprendizes Marinheiros.
Sua instalação deu-se a 31/03/1865 na Rua da Praia (Pessoa Anta) em casas pertencentes ao Barão de Ibiapaba.
Depois se mudou para a Avenida Alberto Nepomuceno.
Em 1908 foi para o Jacarecanga, no local onde hoje se encontra.
Foi extinta pelo decreto 20.607 de 05/11/1931, sendo restaurada em 1940.



1875 - Fundada em Fortaleza a firma J. Lopes & Cia(Casa J. Lopes), do coronel Jesuíno Lopes de Maria, na Praça do Ferreira nº 50 (antigo), e Rua da Alfândega (Pessoa Anta) nºs 25/27, importadores e exportadores.
Depois (1937) mudou-se para edifício próprio na mesma rua nº 290, entre a Rua São Paulo e Rua Senador Alencar, com frente também para a Rua Barão do Rio Branco nº 795, projeto do arquiteto Emílio Hinko e construção do engenheiro Alberto Façanha de Sá (Alberto Sá). 


Pátio de armazenagem da Alfândega a céu aberto - Foto de Junho de 1913 e Maio de 1911 - Acervo Ofipro

Antes de o prédio ser construído, a Alfândega funcionou em prédio modesto na Praça Almirante Saldanha.
A construção iniciou-se e o prédio foi inaugurado no dia 15/07/1891, passando a funcionar ali não apenas a Alfândega, mas também a Guardamoria do Estado.
A construção esteve a cargo da Ceará Harbour Corporation Ltd., sob direção dos engenheiros Tobias Lauriano Figueira de Melo e Ricardo Lange.
Até o prédio foram levados trilhos dos bondes de tração animal e dos trens, para carga e descarga de mercadorias.
Na administração do Interventor Luís Cavalcanti Sucupira (Luís Sucupira), entre 1941 e 1945, o prédio sofreu reformas, entre elas a construção do andar superior que existia apenas na parte dianteira.
Lá passou a funcionar a Receita Federal, hoje na Rua Barão de Aracati.

A rua da Praia (Pessoa Anta) já pavimentada - Década de 30

07 de setembro de 1886 - A Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará inaugura-se em prédio na Rua da Praia, pertencente ao negociante José Maria da Silveira, onde depois funcionou a Escola de Aprendizes Artífices e desde 1927 funciona em novo prédio, a Recebedoria do Estado, hoje Secretaria da Fazenda.

10 de agosto de 1887 - Após algumas modificações, reinaugura-se o ramal da Estrada de Ferro de Baturité que vai até a Alfândega (na Avenida Pessoa Anta).

Fachada da Firma Salgado, Filho & Cia

1891 - Instalou-se, na Rua da Praia (Avenida Pessoa Anta) nºs 1/13, esquina com Avenida Almirante Tamandaré, na Praça Almirante Saldanha, a firma Holderness & Salgado, sucessores de Singlehurst & Comp., que depois mudou para Salgado, Rogers & Ciae em 1921 passou a denominar-se Salgado, Filho & Cia.
São exportadores de peles de cabra e carneiro, algodão e cera de carnaúba.

Fachada da Firma Salgado, Filho & Cia

11 de novembro de 1909 - Criada a Escola de Aprendizes Artífices do Ceará pelo Decreto 7.649.
Instalou-se em 24/05/1910, na Rua da Praia, mudando-se depois para a Praça Marquês do Herval (hoje Praça José de Alencar).
Se transformaria na Escola Industrial de Fortaleza, na Escola Técnica Federal do Cearáe depois no Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará - Cefet-Ce.
Atualmente está na Avenida 13 de Maio nº 2081, Benfica, tendo uma filial na Aldeota, na Rua Nogueira Acioli nº 621.


12 de janeiro de 1914 - Inaugurada a linha de bondes de tração elétrica da linha da Praia, dia em que circulou pela última vez um bonde de tração animal (puxado por burros), sendo o último da linha do Alagadiço, guiado pelo bolieiro Fialho.
O caminho de ida da linha da Praia era pela Rua Floriano Peixoto, Rua Castro e Silva, Praça da Sé, Avenida Alberto Nepomuceno, Avenida Pessoa Anta, Avenida Almirante Tamandaré e Rua Tabajaras, voltando pelas mesmas vias até a Praça da Sé, onde toma a Rua Sobral, Rua General Bezerril e Rua Guilherme Rocha, chegando na Praça do Ferreira.

08 de julho de 1924 - Lançada a pedra fundamental do edifício da Secretaria da Fazenda, na Rua da Praia, época em que já estavam concluídas as fundações.


Pátio de armazenagem da Alfândega a céu aberto - Foto da primeira década do século XX.

27 de junho de 1925 - Lei municipal muda o nome da Rua da Praia, que passa a denominar-se Avenida Pessoa Anta, homenagem ao coronel João de Andrade Pessoa Anta, um dos sacrificados em 1825, no Centenário de sua morte.

24 de julho de 1926 - Inaugura-se, às 15h, na Rua da Alfândega (Pessoa Anta) nº 14 (antigo) a Fábrica São Bernardo, para beneficiamento de algodão e extração de féculas, da firma Gonçalves Jucá.

27 de novembro de 1927 - Inaugurado o prédio da Secretaria da Fazenda, na Rua da Praia, às 16h, na administração do desembargador José Moreira da Rocha.
O prédio foi benzido pelo monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa).
O projeto é do arquiteto José Gonçalves da Justa.

Fotografia do final do século XIX

03 de agosto de 1929 - Inaugura-se, na Rua da Alfândega (Avenida Pessoa Anta), esquina com a Rua Almirante Jaceguai, na Praça Almirante Barroso, a Fábrica Myrian, da firma C. N. Pamplona & Cia., primeiro estabelecimento no Ceará a extrair óleo de oiticica através de maquinaria apropriada.

Fachada da Fábrica Myrian do Álbum Fortaleza 1931

01 de julho de 1933 - Fundada a firma Paschen & Companhia, na Avenida Pessoa Anta nº 73 (antigo), formada dos sócios Ernesto Paschen e Hermann Schimmelpfeng, alemães que tratavam de exportação e importação.
Eram representantes da Norddeutscher Lloyd, Bremen (navios), da Lufthansa, do Zeppelin e do Syndicato Condor Ltda.

10 de agosto de 1976 - O Museu de Minerais do Ceará Professor Odorico Rodrigues de Albuquerque, do Departamento de Minas da Secretaria de Obras e Serviços Públicos do Estado, inaugura sua nova sede, na Avenida Pessoa Anta nº 274.

A segunda foto é do final do século XIX

28 de janeiro de 1978 - O prédio da Receita Federal, na Avenida Pessoa Anta, sofre um incêndio de grandes proporções, com início às 20h, provocado por um curto-circuito que destrói metade do segundo bloco.
É o antigo prédio da Alfândega, aquele todo de pedra. Em outubro do ano seguinte a Receita mudou-se.


01 de novembro de 1979 - A Superintendência e a Delegacia da Receita Federal mudam-se do prédio da Avenida Pessoa Anta nº 287 (antigo prédio da Alfândega - hoje CAIXA Cultural Fortaleza), para o novo edifício, no quarteirão entre a Rua Pereira Filgueiras, Rua Carlos Vasconcelos, Rua Iracema, com frente para a Rua Barão de Aracati nº 287.

06 de julho de 1993 - A Tyresoles do Ceará inaugura o Parque industrial de recauchutagem e Centro de caminhões Goodyear no km 18,5 da BR-116, no Eusébio e mais duas lojas, uma na Avenida Pessoa Anta nº 14 e outra na Ceasa de Maracanaú


07 de agosto de 1998 - Aberto o Centro Cultural Dragão do Mar, na Rua Dragão do Mar nº 81, no bairro da Praia de Iracema, compreendendo vários quarteirões entre a Rua Boris, Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste), Rua Almirante Jaceguai e Avenida Pessoa Anta, mas sua inauguração realizou-se posteriormente, quando estava totalmente pronto.
Hoje chama-se Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.


Créditos: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Álbum Fortaleza 1931 e Arquivo Nirez

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fátima - Bairro Abençoado (2ª Parte)



Veio o calçamento da Av. 13 de Maio, feito com pedras toscas de rio e a doação do terreno para ser edificada a Paróquia de Fátima pelo doutor Pergentino Ferreira e esposa. O calçamento da Av. 13 de Maio era feito de pedras tão pontiagudas e mal distribuídas que, o carro que passasse por ela, tinha que desenvolver o mínimo de velocidade, pois se acelerasse, esse carro no mesmo dia estaria precisando de consertos.


Longe da Av. 13 de Maio, em outros bairros, muitos diziam, quando avistavam um local cheio de buracos, "parece o calçamento da Av. 13 de Maio". Com a Igreja de Fátima, veio a venda de mais lotes de terra e a abertura de muitas ruas. A via de acesso se tornou importante e alguns começaram a comprar lotes ao longo da avenida e nas laterais extremas direita e esquerda, isto é, para o lado do sertão e para o lado do centro da cidade. No Início, poucos desejavam ter a sua residência em local tão distante do centro da cidade, pois Fortaleza tinha poucos bairros ainda, e tudo centralizava-se na Praça do Ferreira. Era preciso ser um visionário para almejar bom futuro para o bairro que ensaiava ser somente para os abastados e pessoas de alto nível.

Surgiu a idéia de centenas de pessoas que a data 13 de maio era importante e referia-se a Nossa Senhora de Fátima, pois que deveria ser construída uma Igreja, sem dúvidas em homenagem a Nossa Senhora de Fátima. Logo, passaram a examinar este projeto com carinho; contrataram arquitetos e, em 1955, fizeram a inauguração com a imagem da Virgem de Fátima, que veio direto de Portugal especialmente para a festa. Na inauguração da Igreja houve um fato inusitado: na ocasião das falas pela inauguração, o palanque estava cheio demais e proibiram qualquer pessoa subir. Só que os grandes benfeitores – Dr. Pergentino Ferreira e esposa ainda não tinham chegado para a festa – e ao chegarem não havia mais lugar, pois a multidão era grande. Resolveram ficar parados e assistiram tudo muito tristes a boa distância do palanque. Alguém os viu e certamente foram chamar o casal, pois eles deveriam estar no palanque. Logo perceberam a indelicadeza de não guardarem um lugar reservado e resolveram assistir de onde estavam mesmo (Stélio, o neto do Dr. Pergentino é que conta essa história).


Logo, os moradores de Fátima começaram, através da orientação paroquial, a se reunir e organizar diversos tipos de reuniões com a intenção de congregar mais fiéis. Com isto veio a consciência solidária e a distribuição de atividades em toda a comunidade fazendo nascer novos grupos pastorais, que tanto influenciaram os quatro cantos do bairro de Fátima e os próprios moradores da Av. 13 de Maio. O bairro sempre se caracterizou pela paz e tranquilidade, o seu crescimento residencial e comercial tirou-lhe, enfim, o bucolismo e a imensa vontade de ser o bairro mais aprazível de Fortaleza.


Sem exorbitâncias, como que por providência divina, suas casas são construídas em lotes médios, possui ruas bem definidas, asfaltadas; é composta de irrestrito comércio, e tem infra-estrutura compatível a elegantes bairros da cidade de Fortaleza. Tem significativo número de equipamentos de educação, saúde e transporte, segurança, e hoje conta com bancos, clínicas de saúde, edifícios residenciais, comerciais, restaurantes, boutiques de grife e postos de serviço. Hoje, o seu referencial econômico de casas e apartamentos é equivalente ao da Aldeota.


A 1ª Parte AQUI



Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor 


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fátima - Bairro Abençoado (1ª Parte)


Ele nasceu, quem sabe, de um fio de estrada que existia antes da cidade de Fortaleza propriamente dita, ligando o nascente ao poente; nasceu dos ventos uivantes das matas, do cheiro de água doce dos riachos existentes; ela nasceu, talvez, do farfalhar das bananeirais, da fértil sombra tênue dos milhares de coqueiros da região. Nasceu certamente com o grito dos índios canoeiros e no silêncio deles caçando onça pintada, ou pescando, na época em que os curumins se misturavam e se abandoavam aos passarinhos.

Igreja de Fátima na década de 60 - Acervo Pedro Leite

No verde da selva baixa das matas que seguiam para a foz distante do rio Cocó, eis que surge a esperança de uma estrada que daria o nome a um bairro chamado Fátima. Como predestinada a ser a florescente região abençoada pelas bênçãos de uma santa, na certa quando tudo indicava a transformação de todos os riachos, lagoas, açudes, alagados e matas, neste imenso cenário residencial e comercial, nasce uma longa estrada que em breve ganharia o nome de Av. 13 de Maio. Era uma longa artéria aberta no meio da mata sem fim. E tudo passou tão ligeiro... até que vieram os novos ocupantes cheios de documentos das terras prometidas; os posseiros, depois, os coronéis. Eram as matas do Dumma, rasgada que estava pela nesga gigante, futura Estrada do sol, via de principal acesso aos futuros aglomerados civilizados. Com ela, veio as criações de gado, os grandes pastos; os arrozais dos alagados, (Aguanambi e contorno) as plantações de milho e mandioca. Eram os novos ocupantes, os fazendeiros que moravam na cidade e no campo, ao mesmo tempo em suas belas mansões ou casas de fazenda onde abrigavam as suas famílias. O acesso para suas fazendas então se dava por esta via que, por causa do ambiente promissor passara a se chamar Bom Futuro.

 
Avenida 13 de Maio - Arquivo Nirez

E logo, vieram as denominações para esta estrada que também se chamara do Sol. Tudo o que transitava por ela vinha da estrada do gado ou Estrada de Mecejana, estrada viscinal às três fazendas da localidade. Consolidava-se aquela que cortava os extremos da cidade de uma ponta a outra ligando o outro lado da cidade às ruas centrais da Cidade de Fortaleza. Tudo era o começo da Av. 13 de Maio, sob os olhares atentos de alguns moradores e ocupantes das terras do doutor Pergentino, doutor Almendra e doutor Aldenor, assistida que foi pela presença de muitas outras casas e algumas aglomerações. E quem passava por ela, depois chamada a Flor do Prado, podia ver de uma ponta a outra as muitas residências do Bairro Prado, futuro Benfica, do outro, casas e chácaras – Bairro Vermelho – futuro Atapu.

A primeira fazenda, confrontando com o início da estrada do sol, localizava-se no alto onde hoje é o conjunto residencial Segredo de Fátima, de onde se tinha deslumbrante vista do açude da sede da fazenda e dos alagados que ficavam desde a proximidades da fazenda aos extremos da Aguanambi, e que bem se identificava como um imenso pântano. A segunda ficava nas imediações do Centro Educacional, onde hoje ainda existem várias mangueiras centenárias que ficaram, ainda, no final da rua Napoleão Laureano. E a terceira, mantinha a sua sede da fazenda em frente onde hoje é o 10° GAC, na Av. Luciano Carneiro. Casarão bem construído, cheio de áreas cobertas livres e quase toda alpendrada e edificada com as paredes cobertas de pedra lapidada, onde fica hoje a sede da Editora FTD, na Luciano Carneiro. As fazendas possuíam muitas criações e cultivo de frutas e verduras. Eram residências fartas, sempre festivas e concorridas, além de bastante visitadas pelos amigos dos que ali moravam. As festas eram animadas com muitos folguedos e nunca se deixava de perceber muita gente em São João, Natal e Ano Novo, feriados, carnaval e aniversários. Não posso esquecer que na sede da fazenda do doutor Pergentino existia um bando de quarenta, cinquenta ou mais gansos pretos e brancos, que nunca se cansavam de andar para todos os lados como que mesmo vigiando os quatro cantos da casa dos lados de fora. Quando algum estranho aparecia, mesmo que fosse passante, eles corriam atrás ferozmente e atacavam com bicadas e quachás ensurdecedores. As charretes, os carros, cavalos e passantes teriam de andar sempre devagar para não chamar atenção dessas aves. Na fazenda-sítio do doutor Almendra havia criação de cavalos, charretes e muitas fruteiras; na outra, imperava a criação de gado leiteiro, e o leite sempre era vendido para muitas residências nessa Av. 13 de Maio até alguns anos atrás.



Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

50 Anos da Avenida 13 de Maio II


O prédio já abrigou a Escola Industrial do Ceará, a Escola Técnica federal do Ceará, o Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET e o IFCE- Instituto Federal de Educação Tecnológica. Fica na 13 de maio, entre Senador Pompeu e Marechal Deodoro (vulgo Cachorra Magra).

O primeiro bar na Avenida 13 de Maio, com três ou quatro cadeiras na calçada foi um sucesso enorme. Muitos imaginaram logo que outros fariam o mesmo, transformando a avenida e implantando de vez o estilo americanizado no bairro. Chamava‑se Ponto Quente, na esquina da Av. 13 de Maio com a rua Napoleão Laureano, onde hoje é o Mercadinho Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (fechado). Pela primeira vez, fora do centro da cidade, podíamos comer sanduíche mixto quente com coca-cola ou cachorro quente, únicas novidades extras existente em toda a extensão da avenida 13 de maio. O primeiro local chic que serviu para encontros sociais no Bairro de Fátima foi lá, no Ponto Quente, muito tempo depois surgiu o clube S.B.F., típico da Av. 13 de Maio ou da Sociedade do Bairro de Fátima, onde o Sr. Eduardo e o Sr. Cajazeiras foram, com certeza, um dos cinco diretores mais empreendedores. Ali nasceu a felicidade de muitos casais do bairro, pois foi onde desfilou as deusas que as mães guardavam em casa. Todo fim de semana se podia dançar, jogar voleibol, futebol, e divertir‑se próximo de casa. Lá conhecemos as mais lindas mulheres da região. Era um centro social de muitas atividades, onde reunia em grandes eventos os mais conhecidos jovens não só da localidade, mas de outros bairros próximos, desde a Av. Lauro Maia até a Avenida Visconde do Rio Branco. Quem frequentava a S.B.F, incluía‑se no roteiro dos grandes eventos. Passaram por lá os mais importantes conjuntos e bandas do Nordeste, como Alberto Mota e seu conjunto, Os Brasas, Ivonildo e seu conjunto, Canhoto e seu conjunto, Os Tremendões e mais outros de destaque que eram conhecidos no Nordeste. 
O Clube Maguary oferecia eventos maiores e festas mais importantes; era comum sair do Maguary e terminar a festa na S.B.F ou vice‑versa. Muitos rapazes e moças tinham como certa esta trajetória nos finais de semana. Naquele tempo, não existia os Chicos do Caranguejo. E as músicas mais badaladas eram: “Há um alguém..., na multidão... que vai lhe adorar..., com devoção...  , ou, “Moon River”..., Bobby Sollo”, “Nico Fidenco”“Domenico”“Tequila”“Caramelito”Mambo Cubano”, “Mambo Jambo”“Sumer Holliday”“Volare”“Not for Sale”“The Pop’s”The Platters” e por que não Ivonildo e seu conjunto ou um dos maiores sucessos do mundo, “The Great: pretendet” ou mesmo “The Mamas and Papas”; assim, os mais alucinados jovens dançarinos, pode-se dizer, nunca deixavam de ver nos olhos das suas garotas que se transformavam em (verdadeiras compotas de lágrimas), quando tocava uma das músicas mais contagiantes como “coruja”, imagine, “coruja... “você agindo assim só vai sofrer, pois chegará o dia em que ninguém vai perceber, existe uma coruja no lugar... coruja...”. E para os mais bregas, Paulo Sérgio, com a Última Canção... ou quem não se deliciou ouvindo ou cantando... “Quero que você... me aqueça nesse inverno, e que tudo mais vá pró Inferno...”.

Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Av. 13 de Maio ainda em construção, em 1955.

A Praia do futuro era o maior deserto que conhecíamos em Fortaleza (Nossa turma da 13 vivia lá também). Havia as luaradas, para quem desejava um piquenique a noite na praia, com todo mundo “arrumado”, digamos assim. Eram feitos encontros na Beira-Mar, ou outra praia qualquer, onde se levava um grupo de amigos com as namoradas para sentar na areia. Tomava‑se drink drea.. trazidos de casa, gelado, (uma das mães teria de ser portadora desse ideal sonífero) e comia‑se um sanduíche caseiro, (pão de forma - com o tradicional corte das partes queimadas e recheio de presunto enlatado) geralmente preparado, também, por uma das mães das meninas, ou a mais prendada, digamos assim.

As ruas mais agitadas naquele tempo da “bossa nova”, na Av. 13 de Maio eram a Saldanha Marinho, a Pe. Leopoldo Fernandes e Napoleão Laureano, Mário Mamede e outras, onde havia maior permanência de jovens festeiros. Todas bem próximas da Igreja de Fátima, nosso centro religioso e cultural ao mesmo tempo.

Cruzamento da Av. 13 de Maio com Av. da Universidade - Foto anterior a 1974

Um dia chegou o twist e os namorados da Vanessa e Vládia, filhas do Sr. Mancito, (moravam na rua Pe. Leopoldo Fernandes) foram os lançadores dessa música aqui no bairro. Foi qualquer coisa assustadora para todos, pois não se conhecia esse jeito descontraído de dançar. Um sucesso garantido durante noites e noites seguidas aqueles dançarinos modernos que mostravam um estilo americanizado de dançar. Os mais beneficiados com tudo isso foi a nossa turma festeira, composta pela Aíla e a Ângela, a Glória, Medina, Ana Célia e a Célia Sá, além da Glória Pordeus, o Cláudio, o Gerardo e Glória, sua irmã e os meus irmãos. A proporção que outras ruas iam tomando conhecimento vinham se aproximando dessa casa.

O mesmo cruzamento sem a fonte.

Era uma música de som alto e todos se arrepiavam estranhamente pelo desprendimento e desinibição daqueles que sabiam dançar música americana. Vinham pessoas de todos os lugares de Fortaleza. Todo bairro ficou cotaminado. Queriam ver como funcionava a nova moda. Muitos ficavam de olho durante a semana para saber onde era a “tertúlia” do sábado, com certeza, tinha que ter twist para dançar, e certa seria a presença das “turmas”, primeiramente na residência da festinha, depois o clube da S.B.F seguido do Maguary. Não se deixava por menos. Festa era o que não faltava mais. Muitas vezes íamos duas, três e até quatro tertúlias nos fins de semana, mesmo porque na própria festinha tomava-se conhecimento de outra nas redondezas. Onde tivesse chance de dançar twist, todos queriam ir. Era comum nas casas de família, ser servido o famoso ponche de maçã, alguma mistura próxima de maçã picadinha, cachaça, água, açúcar e vinho para dar cor. Esse líquido geralmente ficava em um grande depósito em cima da mesa da sala, junto com os copos para ser servido à vontade pelos participantes. Essa era a “bomba atômica” que todos tomavam como cortesia da chic residência para encorajar e alegrar os participantes. Era um grande depósito transparente cheio daquele tônico, com os pedaços de maçã flutuando. Naquele tempo, ainda existia a concepção da inibição e os casais gostavam de algo relaxante para “criar coragem”. Nem que no outro dia sua cabeça sentisse que ia estourar. Nas casas mais sofisticadas servia-se sanduíche em pão de forma, elegantemente, cortado nas laterais, com pasta apresuntada e cortado ao meio, mas, feliz aquele que tomasse um copo de coca-cola, só oferecido aos íntimos.


Assim era a Av. 13 de Maio. O comércio se restringia a pequenas mercearias. Não tinha nenhum comércio além das mercearias. As maiores foram a do Simeão e Pontista. Tudo era no centro da cidade. Lembro de um dia, reunidos no casarão do meu amigo poeta, o Dr. Mamede Cirino de Lima, um dos fundadores da Faculdade de Odontologia de Fortaleza, pessoa bem relacionada e cheia de valores, resolvemos comprar uma garrafa de uísque para uma comemoração. A Angélica, nossa grande mediadora, facilitou a aquisição de uma garrafa de uisque. O Rogério teve de ir ao centro da cidade de bicicleta, para trazer aquela garrafa, pois era impossível alguém vender este produto aqui na Av. 13 de Maio.
Um acontecimento marcante foi quando inauguraram a Panificadora Central, local ocupado hoje pelo Habib’s. Tempos depois, vieram umas poucas casas de comércio, sorveterias, depois outras melhores e hoje a Av. 13 de Maio ainda é aquela avenida que guarda além da esperança, os mesmos estilos, mas nunca deixou de pensar, certamente, ser o melhor bairro de Fortaleza.

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Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor e fotos do Arquivo Nirez