A Praia do Futuro no contexto de Fortaleza
Praia do Futuro anos 60 - Da esquerda p/ direita: Waldir Diogo, Governador Faustino de Albuquerque, Dr. Olavo Rodrigues, Paulo Cabral, Murilo Mota e Adahil Barreto. Arquivo Nirez
Segundo divisão administrativa da Prefeitura de Fortaleza, a área de estudo divide-se em Praia do Futuro I e II.
Outro registro de intelectuais na tranquila Praia do Futuro dos anos 60: Da esq p/ dir: Waldir Diogo, Olavo Rodrigues, Faustino de Albuquerque, Paulo Cabral, Adahil Barreto, Murilo Mota - Arquivo Nirez
Em meados de 1955, com o inicio da urbanização da Avenida Beira-Mar, e antes disso, com a construção do Porto do Mucuripe, desencadeou-se um processo de desapropriação, pela Prefeitura, das famílias de pescadores que residiam nesta região. Grande parte destas famílias mudou-se para as terras próximas à Lagoa do Coração, de propriedade da família Diogo, na atual praia do Futuro, e outra parte estabeleceu-se ao redor do porto, nos atuais bairros do Serviluz e Farol.
Construção da Avenida Beira- Mar - Jornal O Povo 18/12/1963
As famílias assentadas ao redor da Lagoa do Coração tiravam dela sua subsistência e a pesca era a fonte de alimentação para a comunidade local. A ocupação desta região ocorreu de forma desorganizada, sem preocupação com o saneamento básico, o que diminuiu cada vez mais a qualidade de vida das famílias.
Personalidades e intelectuais que visitaram a praia do Futuro nos anos 60. Arquivo Nirez.
Da esquerda p/ direita: Waldir Diogo, Murilo Mota, Faustino de Albuquerque, Olavo Rodrigues, Adahil Barreto e Paulo Cabral. Em 1949 o jornal Correio do Ceará publicou uma grande reportagem de autoria de Luciano Carneiro, intitulada "A Praia do Futuro ainda não tem nome, os aviadores que a amam, chamam-na de praia por trás do farol do Mucuripe"
Em entrevista no dia 27/12/04, os lideres comunitários do Conselho Comunitário da Lagoa do Coração assim falaram: “A maioria da população veio de outros bairros, tipo Castelo Encantado e depois para a Lagoa, e já vinham do interior”.
Por volta de 1972, com o crescimento do mercado imobiliário, construtoras interessadas na região da praia do Futuro iniciaram a desapropriação das famílias da área, o que culminou com o aterramento da lagoa do Coração, alegando-se na época a contaminação desse aquífero. A maioria dos moradores resistiu e, em agosto de 1979, fundaram o Conselho Comunitário da Lagoa do Coração, cujo presidente era o Sr. Luiz Bezerra da Silva, líder do movimento, que culminou com a permanência das famílias na região, até os dias atuais.
Em 1977, a área do Luxou, assim denominada pelo fato de ter existido ali o clube com esse nome, a primeira unidade social a instalar-se na praia do Futuro (atualmente denominado Mar Azul), o local foi invadido por quatro famílias provenientes de Canindé (FONTE: SER II).
O terreno pertencia às famílias de Pedro Lazar e ao Moinho M. Dias Branco. A área do Luxou tornou-se historicamente um área de invasão e, por volta de 1985, a ocupação tomou proporções desgovernadas. Chegavam famílias de vários municípios do Estado - Chorozinho, Acaraú, Eusébio, Mossoró do Estado do Rio Grande do Norte, do Piauí e Maranhão, uma família por dia (FONTE: SER II).
A praia do Futuro, no início dos anos 70. postal Edicard.
Essa ocupação atualmente já chega a 800 edificações aproximadamente, segundo moradores do local. Em entrevista com uma atual moradora da comunidade do Luxou, em 15/07/04, mostra como é o comércio de “barracos” nas comunidades da praia do Futuro, especificamente na comunidade do Luxou:
"Sr.Tomás quando vendeu já era da irmã dele, de outra pessoa que passou para a irmã dele e depois pra mim. Preço dos barracos, troca por eletrodoméstico, minha irmã deu o som dela, televisão e uma bicicleta e mais uma pequena quantia em dinheiro e conseguiu um terreno grande, onde a casa dela está construída hoje em dia."
A praia do Futuro, no contexto de Fortaleza, estende-se territorialmente por 6 km aproximadamente, segundo o atual PDDU do Município, que estabelece a divisão: trecho IX da faixa de praia marítima leste, sendo também área de preservação ambiental (dunas). Administrativamente, ela está dividida em praia do Futuro I e II e Vicente Pinzón. Esta definição administrativa da Prefeitura Muncipal de Fortaleza tem como objetivos definir as equipes de atendimento do Programa de Saúde da Família.
Poucas construções na Praia do Futuro dos anos 80
A Prefeitura criou, assim, as “UBASF” (Unidade Básica de Atendimento de Saúde da Família), no sentido de administrar, no aspecto de saúde da família, a área da praia do Futuro. Sendo assim, a UBASF Aída Santos e Silva compreende os bairros Vicente Pinzón e Praia do Futuro I. Esses bairros foram divididos em quatro áreas de realidades distintas: área do Morro Antônio Carneiro, Lagoa do Coração, Conjunto São Pedro, Luxou e Morro do Sandras. Nesta UBASF, em 2000, foram cadastradas 4634 famílias (FONTE: SER II).
Vista do antigo restaurante Sandra´s nos anos 90. Foto Fortal
Esta região urbana, determinada pelo PSF (Programa de Saúde da Família), tem como limites: ao leste, Oceano Atlântico; ao oeste, as ruas Dolor Barreira e Trajano de Medeiros; ao norte, as ruas Ismael Pordéus e Álvaro Costa e ao leste, a rua Paulo Mendes. Possui cerca de 5,4 km² de área territorial correspondente na parte leste; é área da praia com frente para a Avenida Zezé Diogo e a porção oeste formada por dunas e morros, que foi habitada de maneira desordenada, onde não existe saneamento básico (FONTE: SERII).
Á área da praia situada ao noroeste da área de abrangência caracteriza-se por apresentar as melhores condições de urbanização e saneamento e nível socioeconômico de toda a área de abrangência. A área do morro corresponde à subida e ao ápice de uma grande duna. É, juntamente com o Luxou, a porção mais carente e problemática, pelas precárias condições de saneamento, habitação, higiene, nutrição e baixo nível social, econômico e educacional.
O chamado Conjunto São Pedro tem seu território limitado ao oeste pela rua Princesa Isabel; ao leste pela rua Trajano de Medeiros; ao Norte pela rua Álvaro Costa e ao Sul, pela rua Josias Paulo de Souza. Trata-se de uma região onde há invasão, não há saneamento básico. Esta foi denominada área do Conjunto, por abrigar o conjunto habitacional São Pedro, construído em regime de mutirão, para onde foram relocados os moradores da Favela das Placas (FONTE: SER II).
Conjunto São Pedro, Praia do Futuro I em 21/08/2004 - Pedro Itamar de Abreu Júnior
O denominado Morro do Sandras, onde hoje funciona o Restaurante La Maison, é delimitada ao leste pela rua Trajano de Medeiros; ao oeste, com avenida Dolor Barreira; ao norte, com Avenida Clóvis de Matos e ao sul, pela rua Visconde de Taunuay. Esta é a localidade que abriga a população mais carente de toda abrangência. Pode ser dividida em duas partes, com características distintas: a parte da cota da rua para baixo, com boas condições de urbanização, ruas pavimentadas, água e um conjunto habitacional, e a parte acima da rua da cota, que consiste na subida íngreme de uma grande duna de areia, sem nenhum saneamento, habitações precárias e população extremamente carente (FONTE: SER II). É uma área de invasão recente, em franca expansão. A única fonte de água encanada é uma torneira coletiva, instalada na frente da casa de um líder comunitário. Exceto uma associação de moradores, praticamente inexistem equipamentos sociais. É área de muitas mães abandonadas pelos maridos e de muito alcoolismo, consumo de drogas, adolescentes grávidas, adultos analfabetos e crianças fora da escola.
Leia a Parte I
Crédito: Praia do Futuro - Formas de Apropriação do Espaço Urbano - Pedro Itamar de Abreu Júnior
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