sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Guindaste Titan - Mucuripe




Graças a ajuda do Guindaste Titã, há mais de 70 anos, o Porto do Mucuripe vive um momento de prosperidade. 
Aperte o play, ouça a música de Sérgio Costa e Wilson Cirino, em homenagem ao gigante de aço e curta a postagem!


Enseada do Mucuripe antes da Construção do Porto - Arquivo Nirez

Postal Porto do Ceará
o Presidente da República, Getúlio Vargas, modificando o decreto anterior, lança o Decreto-Lei nº 544, de 7 de julho de 1938, e o faz publicar no Diário Oficial da União e decreta em seu Artigo 1º:

Art. 1º Fica transferida a localização do Porto de Fortaleza para a enseada do Mucuripe a que se refere a concessão outorgada ao Estado do Ceará, pelo decreto nº 23.606, de 20 de dezembro de 1933, para construção, aparelhamento e exploração do referido porto (Espíndola, 1978; p. 32). 


Foto do Guindaste Titan em 1940 - Arquivo MIS
Em 23 de julho de 1938 as obras tiveram início no Mucuripe. Segundo Espíndola, foram projetados dois enrocamentos laterais e paralelos, de 240 e 320 metros, com três metros de largura e nove de altura cada, um enrocamento transversal levantado por 102 colunas de concreto chamadas tubulões, cada uma com 2 metros de diâmetro por 12 metros de altura ligadas por vigas de concreto e sobre as quais se ergueria o cais de embarque e desembarque, espaçadas em oito metros. Um quebra-mar de 1.480 metros de comprimento à frente dos enrocamentos com função de amortecer as ondas e guiar as correntes para o largo. A conclusão da obra previa a realização de dragagem para alcançar oito metros de calado, aterro do espaço entre os enrocamentos utilizando o material dragado, um calçamento de paralelepípedos sobre o aterro e a construção de armazéns de carga e administrativos e instalação de geradores. 


A previsão de conclusão foi de 32 meses, prazo que não foi cumprido. Segundo Jucá (2000) e Espíndola (1978), o atraso e a posterior paralisação das obras do agora Porto do Mucuripe se deveram à inadimplência, ao assoreamento e aos fatores externos, como a crise financeira do Estado. A partir daí as idéias de ligação do Porto à cidade foram também abortadas. Conta Jucá que a construção do porto “incrementou o anedotário” (JUCÁ, 2000; p. 129) para muitos quando se referiam a tempo indeterminado ou ao dia de “São Nunca”. Assim se diziam que os play-boys da cidade se casariam no dia da inauguração do porto. Outro fator que emperrou a construção foi o conhecido acidente* do Guindaste Titã. O guindaste vinha operando já há alguns meses em péssimas condições de uso no transporte de pedras e na construção do quebra-mar. Segundo relata Espíndola, no dia 3 de junho de 1940 

[...] ao descarregar um dos carros de pedra, o Titã sofreu ruptura numa chaveta e, em seguida, quebra de uma mensageira. Nesse instante, a lança já se encontrava desnivelada pelo carrilho, resultando então no desequilíbrio e tombamento de toda a estrutura metálica [...] (Espíndola, 1978; p. 38). 


Acervo Carlos Juaçaba
o conserto do guindaste levou dez meses, durantes os quais os trabalhos de lançamento de pedras e construção do quebra-mar foram interrompidos. Mas o imaginário popular ganhou espaço. A praia onde desabou o Titã acabou ganhando o nome de Titã, e mais tarde Titãzinho.

O transporte das pedra

O Guindaste Titan em plena atividade

O Guindaste fez história e virou símbolo:

"Em 1939, chegava em Fortaleza o guindaste Titan, gigante de aço que, durante anos, foi símbolo da construção do Porto do Mucuripe, erguendo toneladas de rochas para a formação do quebra-mar que ainda hoje mantêm as águas tranquilas do Porto. A partir do Mucuripe, o Ceará passou a romper fronteiras com o mundo e Fortaleza ganhou status de metrópole."
Sergio Novais

(Diretor Presidente da Companhia Docas do Ceará)

O gigante de aço
Titãns

"Usual em toda imprensa fazer referência a “Luta de titãs” sobre qualquer coisa principalmente em futebol. 
Quando se construía o porto de Fortaleza, havia um guindaste de proporções avantajadas. Era o titã que pontificava na Ponta do Mucuripe para encher com pedras. Era o espanto para quem chegava a Fortaleza. 
Gago Coutinho foi visitar Fortaleza. A comissão de recepção do Clube da praia de Iracema fez homenagem. Convidou o herói para a visita. Subiu no Titã até o ponto mais alto. Foi espetáculo assistido pelo povo. 
Daí por diante quando uma coisa era grande, deixou de ser “jagularau”. Titã tomou conta do resto. "

Ari Cunha
(Correio Braziliense)

"...Viajei no passado, lembrando-me de que, quanto jovem, aluno do Liceu do Ceará, cheguei a aventurar em deliciosos mergulhos naquelas águas tendo como testemunha o antigo e simbólico e gigantesco guindaste Titã, que anos depois, já bastante corroído pela ação do tempo e da maresia, tragicamente desabou matando operários ao ser desmontado para venda em ferro velho. Foi a “fúria do Titã”, como registrou o jornal O POVO, onde eu na época era repórter político. Hoje, o local é emoldurado pelas vistosas torres geradoras de energia eólica. Mas isto é outra estória..."

Paulo Tadeu

(Jornalista)


Colocação das pedras do quebra-mar do porto pelo guindaste Titan. Ao longo dos anos, a praia ao lado do porto ficou conhecida como Praia do Titanzinho - Acervo Jaime Correia
Sobre o Porto, ao qual dedica especial atenção no livro 'Caravelas, Jangadas e Navios'; histórias do Ceará, Espínola descreve a presença do Titã, máquina responsável pela construção do molhe de pedras, para viabilizar sua construção. Era "o maior equipamento produzido pelo homem no Ceará. E o mais moderno e importante, porque não tinha semelhantes nas regiões Norte e Nordeste". E lamenta o pouco caso com a nossa história: "até ser transformado em sucata, por ideia de algum iluminado em troca de uns poucos dinheiros".


*Em 03 de junho de 1940, desaba a torre do guindaste Titan, no Mucuripe, que cai ao mar por não suportar uma carga de 50 toneladas. Saem feridos dez operários, dos quais um faleceu horas depois. 

No ano seguinte, no dia 20 de janeiro, acontece a bênção do guindaste Titan, que é recolocado na Ponta do Mucuripe, em cerimônia oficiada pelo cônego Joaquim Rosa.

Oito dias depois (28/01/1941), o Guindaste Titan volta à atividade.

Jornal Correio da Manhã - 31 de janeiro de 1941

Fotografia aérea com data aproximada de 1950. Demonstra o Porto de Fortaleza finalizado e já operando além a difração das ondas no molhe, formando a praia mansa. Arquivo Nirez

Curiosidade:

Em 04 de outubro de 1964, falece o comerciante e desportista José Antunes Queirós (José Queirós), irmão de Edson Queirós, em acidente, aos 32 anos de idade, quando foi cuspido da lancha em que estava, próximo ao guindaste Titan, no Mucuripe. Ele nascera em 19/03/1932.



Fontes: O Caso do Porto do Mucuripe e da Praia do Serviluz - Roberto Bruno M. Rebouças, Livro “Caravelas, Jangadas e Navios” de Rodolfo Espínola, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Livro Ah, Fortaleza!  e pesquisas diversas.

Um comentário:

  1. Este monstro de ferro também vitimou pessoas. O caso aconteceu no dia 28 de maio de 1971. Meu pai e mais três operários trabalhavam para uma firma ( Ney Rebouças) no desmanche do guindaste, que tinha sido comprado pela referida como ferro velho. A equipe estava cortando-o em pedaços quando o mesmo corroído pela ferrugem desmoronou, matando três pessoas, sendo o meu pai o único sobrevivente.
    Esta reportagem fez voltar a mente aquele dia fatídico que ficou marcado pra sempre na vida da nossa família.
    Maria do Socorro Barbosa de Araújo

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