terça-feira, 27 de agosto de 2013

Liga Contra os Chapéus nos Cinemas e Teatros





































O ano era 1917...

Desde o aparecimento dos primeiros cinemas, na Europa e nos Estados Unidos da América, os empresários dessas casas viram-se obrigados a promover campanhas educativas, através de projeções fixas de avisos e recomendações.
Mensagens do tipo - “Por favor não fume! È desagradável para senhoras.”, “Damas! Retirem gentilmente seus chapéus!", “Favor ler os títulos para si mesmo. Ler alto perturba o vizinho!”, “Não cuspa no chão!” - são lidos,mundo à fora, em todos os idiomas.

E numa época em que os chapéus femininos eram obrigatórios, ditados pelo império da moda, foram estes uma fonte de constante protesto. O semanário cearense, "Perfil", ano II, agosto de 1917, dá noticia da criação em Fortaleza da “Liga contra os Chapéus nos Cinemas e Teatros":

LIGA CONTRA OS CHAPÉUS NOS CINEMAS E TEATROS

“Por todo êste mês será fundado nesta cidade a “Liga contra os Chapéus nos Cinemas e Teatros”. Excusado é entrarmos em minudencias quando todo mundo, pelo título, sabe os fins a que se destina a novel e justa sociedade.

Efetivamente é um suplício pior do que o de Tantalo ou mesmo do Conde Ugolino a gente ter de assistir uma sessão de cinematógrafo ou teatro com um chapéu "dreadnought” em nossa frente. Achamos “trop chic, excessivement chic” o chapéu na mulher, mas achamos “trop grave, excessivement grave” quando elas o conservam no alto da sinagoga.

Calculem as nossas gentilíssimas leitoras um homem pequeno sentado por trás de uma mulher de grande chapéu.

Já o nosso velho amigo e confrade Mário de Almeida, escrevia, com todo o
"humour", há pouco o seguinte trecho que bem vale ser lido: Entre as nossas elegantes apareceu um chapéu enorme, um chapéu desabado, onde a costumada pluma à Gainsborough é substituido por uma simples rosa chá, minúscula, pendida naquela imensa roda maciça de carro minhoto. Tinha razão “à bessa” o escritor alfacinha classificando de “roda de carro minhoto” aos modernos chapéus. Tem, também, carradas de razão, o amigo carioca que o apelidou de “dreadnought".

Que um doutor José Silveira, um tenente Pedro Bittencourt, um doutor W. Watson, um José Vianna, um Pedro Barboza (Pedrão) e outros tenham à sua frente uma roda de carro minhoto, vá lá, mas, um homem pequeno é que não está direito.

Por um formidando “furo” sabemos que a “Liga”será composta dos seguintes
cavalheiros: o primeiro tenente dr. Àlvaro Rêgo, o doutor Benjamin Moura, o jornalista H. Firmesa, o acadêmico Edgar Pinto, o comerciante Cassiano Rocha, o senhor Álvaro Cabral (Cabralzinho), o senhor José Porto (Portinho), o senhor Miguel Xavier, o dentista \/irgílio Morais (Moraisinho), o comerciante Bernardino Proença (Proencinha), o senhor Hypolito Lima, o senhor Carlos Costa (anão do 'Diário do Estado'), os Irmãos Patrício, o senhor Raimundo João, o doutor Domingos Solon, o senhor Christovam Guerra, o caricaturista Roman Scall, o doutor Carlos Alberto e o senhor Francisco Vasconcelos.

(Grafia da época) 

Nós cá de casa secundamos à ideia e estamos às ordens da futura “Liga".

Fonte:  Livro Fortaleza e a Era do Cinema de Ary Bezerra Leite


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