Por volta do ano de 1797, no tempo do Brasil - Colônia, o Ceará era governado pelo oficial da Marinha Portuguesa Luiz da Mota Féo e Torres*. Fortaleza era ainda uma pequena aldeia, muito embora tivesse o status de capital do Estado.
Fagundes morava numa casinha em frente e fazia da sombra do cajueiro, seu açougue.
Certa vez, passando a cavalo por baixo da árvore o Governador Feo e Tôrres, um galho baixo arrancou-lhe o chapéu, que caiu no chão.
Feo e Tôrres chamou Fagundes, que estava por perto descansando, e mandou que lhe apanhasse o objeto caído. Fagundes não se moveu do lugar. O Governador repetia a ordem e o outro, ainda, não deu um passo, nem se alterou. Não gostava de ser mandado, muito menos quando o pedido não era feito com educação.
Feo e Tôrres, indignado por esta desobediência, avançou para Fagundes e disse-lhe que pretendia apenas cortar o galho baixo, mas que agora, mandaria derrubar a árvore toda. E seguiu para o Palácio.
Do palácio, na Rua Conde d’Eu, partiu a ordem de deitar abaixo o cajueiro.
No dia seguinte vieram os homens do Governador armados de machados para cumprir a ordem recebida.
Fagundes protestou e à frente dos seus magarefes armados de facas, não deixou que os soldados executassem a ordem e expulsou-os.
Voltaram acompanhados de soldados. Já o Fagundes lançara pela pacata vila o brado da revolta. Auxiliado por açougueiros, fiandeiros, merceeiros, carapinas, ferreiros e até por pescadores, todos armados de pistolas e bacamartes, levantou trincheiras na encruzilhada de três ruas, e abriu fogo contra a tropa, que recuou.
Daí o nome das três ruas perpetuando o episódio: Rua do Cajueiro (Pedro Borges), Rua das Trincheiras (Liberato Barroso) e Rua do Fogo (Major Facundo).
Após o ocorrido, o governador desistiu de derrubar a árvore, Fagundes ficou triunfante e o cajueiro no seu lugar.
A questão do cajueiro não foi uma simples briga de galos, mas um acontecimento retumbante, quase uma revolução. Deve ter sido um conflito sério e grande, bastante para passar à História e à crônica.
Livro Fortaleza Velha de
João Nogueira
*Luiz da Motta Féo e Torres e seu governo no Ceará
Resolvida a muitas vezes impetrada a exoneração do governador Coutinho de Montaury, houve por bem a Metrópole mandar a governar a Capitania do Ceará, o cadete e moço fidalgo Luiz da Motta Féo e Torres.
A Carta Régia de sua nomeação data de 12 de janeiro de 1789.
Partindo ele do Reino, aportou à colonia a 14 de novembro e com as formalidades prescritas foi empossado ao cargo a 9 do mesmo mês.
Teve por secretário José de Faria, o mesmo que servira com seu antecessor.
Como militar que era, e pelo muito atraso e desarranjo que encontrou nesse ramo de serviço, foi das primeiras ocupações do novo governador a de fazer construir em frente do aquartelamento um pequeno reduto de madeira, em que trabalhou a tropa terraplenando o terreno, reduto que ficou guarnecido com peças e alguns reparos vindos de Pernambuco.
O que havia limitava-se a algumas peças quase desmontadas e incapazes de servir, colocadas sobre um monte de areia sem mais estacada ou coisa que o valha, e tudo isso condecorado com o título pomposo de forte. rsrsrs
A tropa compunha-se então de um bando de maltrapilhos, que de longa data não conheciam outro fardamento senão a camisa e ceroulas, figurando mais de mendigos do que de soldados e portanto provocando a compaixão dos nacionais e o escárnio de algum estrangeiro, que por acaso aportava e percorria a colonia.
Revista Instituto do Ceará de 1890
Acabo de ler um pouco mais sobre o famoso cajueiro no excelente livro de Araripe Júnior entitulado O Cajueiro do Fagundes, edições demócrito rocha,Fortaleza 2017.
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