Os clubes sociais recreativos foram criados pelos ingleses no século XIX. Formaram-se a partir de uma associação de pessoas reunidas, em lugares permanentes, com um objetivo comum - como os oficiais, que, retornando à Londres das guerras napoleônicas, buscavam um lugar de encontro para refeições e reminiscências. Até 1883, os clubes eram, em geral, restritos aos homens, quando, então, surgiram aqueles exclusivamente femininos.
Expressão da sociabilidade e da utilização do tempo de lazer, os clubes representaram, no princípio, um privilégio das classes economicamente favorecidas. Com a diminuição das horas de trabalho e uma melhor distribuição da riqueza, surgiu, no século XX, um grande número destas associações, oferecendo atividades recreativas e culturais aos associados, os clubes atuam como agentes socializadores do lazer.
A partir de 1831, Fortaleza passou a manter relações comerciais regulares com a Europa. Para aqui vieram ingleses, portugueses, alemães e franceses que, estabelecendo-se nesta cidade, abastaram-se com seu comércio.
Muitos destes estrangeiros tornaram-se parte do corpo diplomático. Como representantes dos vice-consulados estrangeiros no Ceará, uniram-se às importantes famílias da terra. Nessa época, a cidade desenvolveu sua integração com o capitalismo internacional, consolidando-se como centro político e econômico do Ceará. Foram os ingleses que construíram, em Fortaleza, os portos, os desembarcadouros (como a conhecida “Ponte dos Ingleses”) e a Via-Férrea. Trouxeram a iluminação da cidade com hidrogênio carbonado (The Ceará Gás Company Limited), o seu abastecimento de água (Ceará Water Work Co. Ltd.) e a eletricidade para o transporte coletivo dos bondes e para a iluminação elétrica de Fortaleza (The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd).
O baile de inauguração do Club Cearense
Antes da existência dos clubes, as reuniões da alta sociedade de Fortaleza aconteciam em seus salões residenciais. Formada por pessoas de sólida posição econômica, dispondo de condições de lazer e refinamento cultural nos grandes centros do Velho Mundo, a elite fortalezense, associando-se aos europeus aqui radicados, fundou no dia 19 de abril de 1867, copiado do modelo inglês, o seu primeiro clube: o Club Cearense. Inaugurado com deslumbrante baile* no dia 7 de setembro do mesmo ano, num sobrado residencial da rua Senador Pompeu, de propriedade de Dona Manuela Vieira, o Club Cearense posteriormente se instalaria defronte ao Passeio Público, emoldurando o logradouro mais elegante da cidade. Primeiramente, ocupou o prédio da esquina da rua Floriano Peixoto, que serviria, mais tarde, ao Hotel do Norte, depois pertencente à Coelce.
Belíssimo prédio situado em frente ao Passeio Público, na esquina das ruas Floriano Peixoto e Dr. João Moreira. Segundo endereço do Club Cearense.
A seguir, ocupou o belo palacete na entrada da rua Major Facundo, que aparece num croqui** feito por Gustavo Barroso, reproduzido, a partir do seu livro de memórias. Este palacete serviria, depois de reformado, ao Palace Hotel, sendo hoje a sede da Associação Comercial do Ceará.
O Club Cearense era frequentado pelas famílias mais destacadas de Fortaleza. Promovia encontros regulares de amigos e parentes, conversações, leituras, jogos de bilhar francês, recitais de poesia, apresentações musicais e deslumbrantes bailes. O Club Cearense conquistou, como escreveu Raimundo Girão, “o ápice do nosso aprimoramento social, com os seus salões sempre a giorno, com os seus jogos de recreação, a finura de seus dirigentes, o fausto de suas partidas dançantes”.
Depois o Club Cearense ocupou o belo palacete na esquina da rua Major Facundo com Dr. João Moreira, em frente ao Passeio Público.
Nascido no tempo do Segundo Reinado, o Club Cearense contava, entre seus associados, com titulares do Império, representantes consulares, comendadores, magistrados e médicos famosos da cidade, além dos mais ricos proprietários da terra. Para o pesquisador da história de Fortaleza, os sócios do Club Cearense representavam, com segurança, as figuras mais destacadas do Ceará no século XIX. Apesar do seu prestígio, o Club Cearense não superou as dificuldades financeiras nos tempos republicanos, cerrando suas portas na passagem do século XX.
Vanius Meton Gadelha Vieira
*O baile de inauguração foi iluminado por lampiões a gás hidrogênio carbonado. O clube surgiu da necessidade de congregar a gente elegante da terra. Seus jogos de salão, bailes e o luxo dos seus associados ofereceram a Fortaleza a formação do primeiro e mais importante reduto social da aristocracia da época. Muitos sócios do Club Cearense pertenciam à Associação Comercial do Ceará, inaugurada um ano antes do clube. Eram administradores, comendadores, representantes de consulados estrangeiros, juízes, vereadores.
** Croqui de Gustavo Barroso:
Fatos Históricos do Club Cearense:
- 19/abril/1867 - Surge o Club Cearense na Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) nº 50 (antigo), iniciando suas festas no dia sete de setembro num sobrado da Rua Senador Pompeu, pertencente a Manuela Vieira. Depois esteve no prédio da esquina da Rua Dr. João Moreira com Rua Major Facundo (hoje Associação Comercial) e depois na esquina da mesma Rua João Moreira com Rua Floriano Peixoto. Seu primeiro presidente foi Vitoriano Augusto Borges.
- 07/setembro/1867 - Primeira festa realizada pelo Club Cearense, no sobrado na esquina da Rua da Misericórdia (hoje Rua João Moreira) com Rua Boa Vista (hoje Rua Floriano Peixoto). Sua sede ficava na Rua Formosa (hoje Rua Barão do Rio Branco) nº 50, ocasião em que houve a primeira experiência com a iluminação com lampiões a gás hidrogênio carbonado.
- Janeiro/1901 - Extingue-se o Club Cearense.
Fonte: Cronologia de Fortaleza - Nirez
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