sexta-feira, 8 de maio de 2015

Corta Bunda - Os Maníacos que aterrorizaram o José Walter


Conjunto José Walter, cenário dos ataques dos corta bundas.

Em meados dos anos 80, o conjunto habitacional Prefeito José Walter foi tomado pelo medo do ataque de um maníaco que cortava a bunda das mulheres.

Quando um homem armado com uma lâmina começou a invadir as casas do Zé Walter para traçar uma linha de sangue nas nádegas femininas, o resto da cidade não pôde mais ignorar aquele pedaço de Fortaleza. Entre 1985 e 1987 , os crimes do Corta-Bundas ocupavam espaço frequente nos jornais da Capital.

Conjunto José Walter
um dos bairros mais populares de Fortaleza, com suas ruas estreitas e numeradas, foi construído em 1970. A primeira etapa do conjunto habitacional foi inaugurada em 1969 e recebeu o nome do Prefeito de Fortaleza, José Walter.

Em 1985, um maniaco psicopata começou a atacar mulheres (adultas e crianças), ele não matava, não roubava e nem abusava sexualmente das suas vitimas, apenas fazia um corte profundo com navalha, estilete ou bisturi na região das nádegas. 


Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Ele colocou pânico e fez diversas vitimas durante dois anos, de 1985 a 1987. Foram mais de 70 mulheres atacadas, mas apenas três formalizaram a queixa e constaram no processo contra ele. 
O corta bundas deu muito trabalho para a policia que não conseguia pegá-lo e muito menos identificar o agressor.


Ocasião da prisão de Evandro em 06 de fevereiro de 1987

Apenas em 06 de fevereiro de 1987, a policia consegue capturar Francisco Evandro Oliveira da Silva de 26 anos.
Preso e reconhecido, Evandro confessou os crimes e acabou morto no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO) pelos próprios presos.

 Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Bom, mas antes de Evandro ser preso e identificado como o corta bundas que estava aterrorizando o José Walter e colocando toda a população em polvorosa, outros também foram presos e apontados como o maníaco.

Foto ao lado: Evandro tinha em seu poder instrumentos cortantes. Acervo Jansen Viana.

Em 12 de outubro de 1986, Aparecido dos Santos Reis, foi preso e identificado como o marginal que estava cortando as nádegas de mulheres e crianças.

Os Maniacos corta bundas que aterrorizaram o José Walter


Relato Minucioso de Aírton Lopes, então Comissário de Polícia, que fez parte da equipe responsável pelas prisões na época. Leia na íntegra AQUI

12 de outubro de 1986 - 10:00hs. 
Dia das Crianças e Momento de Campanha Eleitoral
Contada pelo Líder Comunitário Airton Lopes, na época Comissário de polícia, que trabalhava na Sétima Delegacia Distrital.
Prisão efetuada pelo comissário e pelos soldados Írio e Leonardo da PM/CE. Posto a disposição do Comissário pelo Tenente Gondim do Coe.

"No dia 12 de outubro de 1986, o comissário de polícia civil Airton Lopes, que trabalhava na época no 7º Distrito Policial, bairro Nossa Senhora das Graças, e os soldados da polícia militar: Írio e Leornardo, na época integrantes do COE, um morava no conjunto José Walter (Írio) e o outro morava no Conjunto Industrial (Leonardo). Eles prenderam o segundo corta bundas (o primeiro foi Mc Donald) do José Walter, Aparecido dos Santos Reis, vulgo “Topo Gigio”. Em sua casa, na hora da prisão, foram encontrados: uma peruca loira, um estilete e uma substância negra, tipo uma graxa (ele usava no corpo para ficar liso). Materiais usados na prática dos crimes. Dentre suas características físicas, ele tinha uma tatuagem de sereia no peito direito. Ele cortava as vitimas com um estilete e emendava o ânus com a vagina. 

O primeiro corta bundas que se tem notícia, foi Luiz Donald Uchôa Félix, vulgo “MC Donald, filho de um motorista policial da SSP. Mc Donald” cortou várias bundas, mas como ele nasceu no Conjunto José Walter, foi fácil para as vítimas o reconhecerem. Após investigações, o pai de uma das mulheres de Mc Donald encontrou uma carta nas coisas de sua filha e entregou ao comissário Aírton Lopes e este entregou ao Dr. Vicente Ferreira, delegado do 8º Distrito. O comissário descobriu que Mc Donald estava morando em Brasilia-DF, no bairro da Ceilândia, trabalhando numa oficina mecânica. A polícia daqui entrou em contato com a de Brasilia, que o prendeu e o transferiu para Fortaleza de avião. 
Enquanto ele estava foragido, apareceram outros corta bundas. O segundo, “Topo Gigio”, começou a praticar o mesmo crime, no intuito de inocentar o primeiro. Com a prisão do segundo (Aparecido dos Santos, o Topo Gigio), surgiu um terceiro, chamado Evandro
Eles negavam a autoria dos cortes. Apresentamos as vítimas do tarado “Topo Gigio” e as investigações só chegavam na mãe de "MC Donald" (Dona Mirtes, já falecida), como mandante. 
Presa por tráfico de drogas, D. Mirtes negou que houvesse contratado Topo Gigio e Evandro para cometerem os crimes e assim, forjar a inocência do filho. 

Prisão do corta bunda Evandro - Jornal O Povo
(Clique para ampliar)

 As vítimas de Evandro - Acervo O Povo

O terceiro corta bundas, Evandro, foi morto no Instituto Penal e o acusado de matá-lo foi o elemento conhecido por “fonfon” que estava preso no IPPOO, e era "de dentro" da casa de D. Mirtes, caracterizando uma queima de arquivo
Tanto um quanto o outro, sempre negaram que fossem o corta bundas ou que a mãe de Mc Donald os havia contratado. 
A verdade é que as vítimas estão por aí, para contar as suas tristes histórias... 

Observações: Os três tarados (maniacos) do José Walter, as vítimas e os policiais, moravam no conjunto e se conheciam, todo mundo conhece todo mundo, por isso foi fácil chegar até eles.
Nós, moradores do conjunto, não dormíamos, uns pastoravam os outros. A gente trocava a noite pelo dia, era um inferno!

Acervo Jansen Viana

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Quando "MC Donald" sentiu que tinha sido descoberto, ele fugiu. O problema, é que mesmo estando foragido, os cortes continuavam, foi aí que os policiais chegaram no segundo tarado, o “Topo Gigio”.  Preso o Donald e o Topo Gigio, os ataques continuaram. Foi então que chegamos no Evandro, que foi reconhecido por Dona Berenice, que aliás, não sofreu o ataque, ele apenas entrou, passou uns 10 minutos no interior de sua casa, bebeu água e foi embora. Na casa estavam dona Berenice e sua filha menor. 

Na época da prisão, os três policias conversaram com a mãe de Evandro, e esta estava preocupada, porque Evandro andava estranho e endinheirado. 

Foto ao lado: Corta bunda Evandro

Certa vez ele disse para mãe: -Mãe eu estou fazendo uma coisa errada, mas, deixa para lá. 
"Evandro não era sadio da mente. Houve uma noite em que Berenice estava sentada no portão de casa, quando de repente, Evandro vinha pilotando uma bicicleta sentado no guidom da mesma, foi quando ela me procurou na casa de minha sogra, que era a uns 2 quarteirões e esta mandou que Berenice ligasse para o oitava Distrito Policia (Delegacia do Conjunto) o que foi feito e Evandro foi preso no “pedim”, um trailer antigo na segunda etapa."

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Topo Gigio, deu trabalho para ser preso, pois foram meses de investigações, chegamos a conversar com a mãe do Mc Donald, D. Mirtes, pedindo que ela nos entregasse o seu filho que nós o levaríamos para um hospital mental.

Mc Donald e Topo Gigio, continuam morando no conjunto, bem como as vítimas: Sulamita da Silva e Carla Cândido Cavalcante, Tereza Maria Alves (Terezinha) e Maria das Graças Pereira. O acusado foi reconhecido por quatro vítimas. Duas testemunhas no 8º Distrito Policial e uma testemunha, que eu não posso revelar seu nome, e que morava no Barracão, reconheceu Topo Gigio, pois ele tentou entrar na sua casa.
A manchete do Jornal O Povo do dia 14 de outubro de 1986, trazia:
''Preso um dos tarados do conjunto Zé Walter”

Como ocorreu a prisão:
Às 10 horas do dia 12 de outubro de 1986 para prender o tarado, fingimos estar fazendo campanha, pois era época de Campanhas Eleitoral
O comissário saiu num carro com duas vítimas de Topo Gigio com a finalidade de reconhecer o tarado. Num outro carro, estavam os soldados e uma senhora que iria entregar ao Topo Gigio uma carteira de identidade civil, que ela havia tirado e que havia prometido um emprego e que os dois soldados seriam os patrões. Quando Topo Gigio saísse para falar com os soldados, as vitimas o reconheceria, deixariam cair os papeis no chão, e essa era a confirmação de que era o tarado. Isso foi feito, foi dado voz de prisão e ele foi conduzido para uma Companhia de Policia Militar na Maraponga, evitando assim um linchamento."

Airton Lopes (Líder Comunitário e Ex-Inspetor de Policia)
São Gonçalo do Amarante, 28 de setembro de 2010


Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Acervo Jansen Viana (Clique para ampliar)

Como vimos, há quem diga que Evandro (o mais "famoso" e que pagou com a vida pelos crimes que cometeu) não era o 'verdadeiro' Corta-bundas. Ou pelo menos, não o único. O mito prossegue no imaginário do bairro...




Fontes: Livro "Corta bunda - O Maníaco do Zé Walter" de Jansen Viana, Blog Jairton Lopes e diversas pesquisas




5 comentários:

  1. Olá, vi que entre as imagens na postagem, existe uma que me parece ser parte de um vídeo, reportagem de tv.Estou fazendo uma pesquisa sobre o assunto para iniciar um documentário. Gostaria de saber se vocês tiveram acesso a vídeos do caso e como eu poderia encontrar. Abraço

    ResponderExcluir
  2. Morei no José Walter nesse período e lembro-me muito bem o pavor dos moradores,as pessoas não iam ao quintal sozinha,à noite,eram colocadas panelas nas portas,janelas..qualquer barulho estranho,poderia ser um sinal do bandido corta-bundas....

    ResponderExcluir
  3. Bom dia, excelente material.
    O corta-bundas chegou fazer uma vítima em frente a minha casa.
    Minha amada mãe foi entrevistada na ocasião.
    Passou no jornal.
    Será se existe uma maneira de reaver esse material. Hoje ela é falecida.
    Seria maravilhoso vê-la a 40 anos.

    ResponderExcluir