quinta-feira, 21 de maio de 2015

Zé Tatá - O Grande Chalaça que entrou no folclore da cidade


"Quem conheceu Zé Tatá, que aqui nesta cidade residiu desde os fins dos anos quarenta até os anos noventa, e teve a calidez do convívio momentâneo e apaixonante de 

um cabaré, sentiu realizado o desejo ou frustrada a vontade, por não ter conhecido e participado das noites na zona, soube distinguir que o sussurro do impacto causado na paróquia, era maior do que o próprio pecado que já não era original, mas patrocinado pelo amor consagrado no impulso misto de virtude e pecado, que em nós pecadores se instalava como morada, tudo comandado pela força da mocidade, iniciada na infância, para realizar essa vontade quando se atinge a maioridade.

Era rumo à Pensão do Zé Tatá que toda juventude se dirigia como quem faz o caminho da roça em direção ao cortiço, como as abelhas, fazendo revoadas em torno dos mancebos, se acasalando naquele colmeal aconchegante do amor.

Zé Tatá, pessoa simples, era pouco alfabetizado, mas de tino comercial muito aguçado, o que lhe deu condição de administrar suas casas noturnas, porque era sobretudo uma figura hilariante, conhecedor de boa parte da sociedade Fortalezense, que lá frequentava e nutria suas paixões pelas desencaminhadoras odaliscas que dos diversos recantos dos Estados de Pará, Maranhão, Piauí, Recife e até do Rio de Janeiro, aqui chagavam para inquietar os corações dos cearenses desprevenidos da picada do “cupido”.

Sua maior lembrança ficou no nosso folclore, ao se dar nome de TATAZÃO ao famoso viaduto da Avenida Alberto Nepomuceno, esquina com a rua José Avelino - antiga rua Mesquita, que marcou a última morada na mencionada rua José Avelino n.° 156, quase esquina com a citada Avenida Alberto Nepomuceno.


Hoje, no viaduto Tatazão, uma multidão passa de carro por cima e outros tantos veículos por baixo, e alguém até dorme debaixo dele.

Funcionou inicialmente como casa noturna, na Rua Major Facundo entre as ruas Senador Alencar e São Paulo, em cima do prédio onde ficava Agência Admiral de Peças de Motores, “A pensão Ubirajara, depois transferiu-se para um sobradão antigo, com escadaria de madeira, Pensão Tabariz na rua Pessoa Anta n.° 120, em cima do prédio da Booth Line, onde mantinha música ao vivo, composta de vários instrumentos, sanfona, bandolim, cavaquinho, maracas, pandeiro e instrumentos de sopro, como saxofone e flauta, que faziam uma boa orquestra e se dançava até às 3 horas da manhã ao sons de samba, rumba, bolero, samba canção, valsa e fox. Mesmo dançando “colado”, o cavalheiro aguardava o momento próprio, quando se recolhia para curtir as carícias manifestadas no salão, dando “cheiro na orelha em busca do cangote da parceira”.

O prédio da rua Major Facundo com Senador Alencar em dois tempos, 1910 e 1975 - Nirez e Nelson Bezerra respectivamente


Foi na Pensão Tabariz que obteve talvez maior êxito no ramo, pela exuberância do local, frequência e mulheril que lá se hospedava. Depois Zé Tatá, abriu a Pensão Hollywood, na rua Barão do Rio Branco, em cima de uma Cooperativa com resumido espaço que não dava para dançar.


As pessoas mais relacionadas com Zé Tatá eram as colegas Marion, que se dedicava a arte de pedicure, Marlene, Paulete e o famoso Tereza que com ele trabalhou durante muitos anos e foi talvez a maior e a mais fiel amizade que teve, e ainda hoje vive, ostentando os seus oitenta e uns “biscoitinhos” de existência morando na Praia do Futuro e com o mesmo ramo de negócio.

Zé Tatá era versátil, acompanhava passo a passo os eventos que nessa cidade se desenrolavam, participando ativamente dos festejos carnavalescos. Assim durante o período momino se fantasiava e fazia parte do Bloco das Baianas, que no seu porte de “homão” ocupava, no bloco, proeminente posição, recebendo calorosos aplausos de todos quanto assistiam o corso que se iniciava na Avenida Dom Manuel, percorrendo a Avenida Duque de Caxias até alcançar a Avenida Padre Ibiapina, quando fazia o retorno pelas mesmas avenidas até a Praça do Cristo Redentor, na Igreja da Prainha. Era, para seu gáudio, momento de delírio e ardente satisfação, receber e retribuir os aplausos que do povo partiam em forma de manifestação e de apreço pelos trajes primorosamente trabalhados para ornar a fantasia.

Gazeta de Notícias - 30 de janeiro de 1957

Com o passar dos tempos, não participava mais do “Bloco das Baianas” mas, alugava um caminhão alegórico e, com pequeno número de músicos e instrumentos de sopro, fazia no corso a exibição de seu plantel que residia no “chateau”, cujas mulheres eram suas comensais e durante a noite faziam “salão”, como profissão, na conquista do amor à primeira vista trocando carícias e, em contra partida, tendo remunerado o seu tempo.

Era o amor sensação, amor volúpia, bem parecido com o que se vê nas atuais novelas exibidas em horário nobre, despertando na juventude o que deveria ter o tempo certo, apropriado, para tais explicitações.

Zé Tatá era muito extrovertido, bem humorado, às vezes, irônico, um tanto satírico. Seus ditos procuravam a hilaridade condizente, no bom sentido, com os histriões fesceninos.

Aqui não se quer discutir ou tecer considerações ou dúvidas quanto a sua masculinidade, mas lembrar a figura humana, por ser igual aos demais seres, do “chalaceador”, que de forma espirituosa deixou vivas recordações nesta cidade, que o acolheu como cidadão passando a fazer parte do folclore cearense recebendo seu pseudônimo, o batismo de um viaduto, “O Tatazão”. Era do seu temperamento dizer gracejos animando os frequentadores de sua casa noturna, onde imperava a alegria, com danças e folguedos, virando alegoria, após viver nesta cidade, por mais de oitenta anos, vindo de Sobral, sua terra natal, entrando assim, no conjunto das tradições do povo, expresso em costumes espalhados na população.

Assim, aquela figura exótica, cuja estatura de aproximados dois metros de altura, com quase 120Kg de massa corpórea, traços fisionômicos corretos, de prolongada calvície, de cor parda, semblante alegre, caminhar compassado, sem muita afetação, bem trajado, com sandálias quase femininas, mas com roupa adequada. Trazia o pescoço ornamentado por correntes de puro ouro, relógio no pulso e anéis com pedras preciosas.

Arquivo Nirez

Aquele homão despertava certa curiosidade a todos quantos com ele cruzassem no centro da cidade, e porque nos anos 50 cinquenta, pouca gente ousava bater papo ou mesmo trocar palavras com Tatá, pois o simples cumprimento, poderia ser comprometedor e deixar dúvidas... ou denunciar alguma preferência...

Enfim todos receavam e se preveniam de por em dúvida, naqueles idos tempos, a boa reputação. Temiam o refrão “quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele” ou “dize com quem andas, que te direi que és!” Se fosse visto ou flagrado pelos filhos de “Candinha”, estava frito e com a cotação abaixo da crítica.

Ah, sociedade retrógrada, exigente, muitas vezes era hipócrita com os seres humanos. Afinal não têm culpa de terem nascido homossexuais ou lésbicas. Biologicamente não se auto-principiaram. Já nasceram assim e por isso não deixam de ser criaturas como todos nós. Têm tudo que nós temos e às vezes virtudes que nem todos têm.

E essa discriminação que existia não só para ele, mas se estendia até para as grinfas que moravam nas “pensões altas”, do centro da cidade, e eram também excluídas da sociedade.

Quase não saiam pela cidade para fazer compras, porque as jóias e o vestuário eram vendidos na própria pensão. Quando saiam, apanhavam o carro na porta da pensão e os motoristas aguardavam na porta da loja, quase sempre sapataria - enquanto experimentavam sapatos, sandálias etc, tudo com muita rapidez.

Se, por ventura encontrassem alguém conhecido, faziam questão de não cumprimentar guardando a maior distância para não serem identificadas por seus michês, ou frequentadores dos salões.

Assim nessa pesquisa - um personagem diferente dos tradicionais - dos que também se dedicavam a manter pensões alegres ou casas noturnas, que tradicionalmente - se intitulavam - as pensões altas, por serem localizadas sempre no andar superior dos prédios antigos do centro da cidade, que foram residências das tradicionais famílias, de viscondes,
de barões, de comerciantes, enfim pessoas de fino trato, que formavam a requintada classe alta da sociedade alencarina.

Desse tempo o que se ouve dizer é que as moças com longos vestidos, com anquinhas, corpetes, cabelos com penteado de cócó, com longos pentes, fivelas e travessas cravejadas de pedras, prendiam os cabelos no alto da cabeça dando um ar senhoril às damas e senescal aos cidadãos, que vestidos com casimira inglesa nos diversos tons e cores sem se falar do excelente tecido de linho inglês, paletó preto ou azul marinho, calça bege ou riscado, ou mesmo almofadinha, jaquetão, traduziam o hábito de vestir da época dos que se dirigiam ao Passeio Público, passeando pelas alamedas da Avenida Caio Prado - local reservado na quadra, para as famílias gradas. Havia no Passeio Público, junto ao centro da praça, outra alameda que se destinava à camada social de “gente do povo”, evitando que houvesse a mistura das classes sociais. Uma chamada classe “rica” e na outra classe “pobre” ou dos empregados domésticos.


Com a retirada da banda que fazia retretas e das famílias nobres que residiam no centro da cidade, os casarões deram lugar aos estabelecimentos comerciais situadas nas principais ruas do centro.

Como exemplo cito o do meu bisavô - português Joaquim Dias da Rocha, comerciante que permaneceu por muitos anos na rua Major Facundo antiga rua da Palma, com Senador Alencar - antiga rua das Hortas, no fundo do Banco Frota Gentil- hoje Edifício Jangada, com Armazém de Secos e Molhados produtos vindos dos diversos países da Europa ainda no início do século XIX.

Eram estas ruas no lado norte do centro nervoso do alto comércio de Fortaleza, composto das mais importantes firmas comerciais, que predominavam abastecendo a capital e às diversas cidades do Ceará, no comercio atacadista e no retalho, desde os móveis de fabricação da
Áustria, Inglaterra, Portugal, França, como tecidos, pianos, instrumentos musicais, perfumes, ferragens e etc.

Como tudo na vida tem o seu tempo certo e sofre mutações com o passar do tempo, os casarões do centro da cidade foram ocupados por pensões alegres - e as mariposas ou famosas raparigas tomaram lugar “sentando praça”, como se costuma dizer, depois que entram na vida mundana.

Antes do Zé Tatá, existiam outros locais destinados às libações, como a pensão da Amélia Campos a mais famosa e outras de menor procura -Maria Cabelão” gaguinha - Irinete Alves Cabral, Oitão Preto e tantas outras. Já no dourados anos sessenta.

Prédio em frente a Padaria Lisbonense - Próximo a Praça do Ferreira

Aqueles casarões antigos do centro da cidade que outrora abrigavam nobres famílias, foram pouco a pouco se transformando em lupanares alojando as grinfas que provinham dos mais longínquos recantos do Estado e estados vizinhos, que infestavam o mercado da nossa urbe para retalhar amores a granel nos mais variados apetites masculinos.

Zé Tatá, figura de retórica a tudo assistia manifestando seu hilariante humor, animando a todos. No salão a contra-dança era com uma das comensais de sua preferência para estimular aos que participavam daquela alegria mundana, não só para mancebos, mas para respeitáveis senhores daqui da nossa paróquia ou oriundos das distantes cidades do nosso sertão cearense, que quando por lá apareciam, eram verdadeiros termômetros das boas safras algodoeiras, de sementes de mamonas, cera de carnaúba, peles e couros que faziam a receita do nosso Tesouro, manifestada pela exportação para o Sul do país e outros países, os nossos apreciados e divulgados produtos.

Dessa forma o Cabaré do Zé Tatá, também participava dessa fartura econômica, vendo os coronéis (pessoas abastadas do sertão) que lá se aboletavam formando grandes mesas num festival de raparigas que dançavam, pulavam de alegria bebendo tudo que tinham direito, comandadas pelo coronel, que simploriamente vestido no seu dolman, chinelos de rabicho e chapéu de bombucacho, dominava aquele ambiente festivo “do jeito que o diabo gosta”...

Entre os vivas e aplausos quem mais atirada fosse, ganhava o coronel, cuja preferência, a estas alturas, já não se dava conta e dizia - “o que cair na rede é peixe”...

Até porque toda aquela exultação era fruto de uma boa negociação de um agricultor que realizara entre os grandes atacadistas da “praia” como eram conhecidos os comerciantes de peles, couros, algodão e sementes que se situavam nas ruas José Avelino, Pessoa Anta, Dragão do Mar, Boris, Senador Almino, Almirante Jaceguai e outras ruas próximas.

As mariposas elegantemente vestidas de “soirée” nos tons vermelho, preto, azul, amarelo, verde, róseo mais espalhafatosos e berrantes - era no que se diz hoje - “no tom cheguei!”... “Para abafar”... e enfezar a turma...

Mas era por demais interessante frequentar a casa do Zé Tatá - por ser na sua exuberância, local para divertimento de toda faixa etária, onde todos se distraiam esquecendo o tempo passar. Ainda não se conhecia tão vulgarmente o “Stress”, a hipertensão, e principalmente a
tão conhecida “depressão”. Existia de vez em quando a melancolia ou tristeza que após uns tragos de bebida, boa música e uma odalisca de lado ia embora dando lugar à alegria para cantar a música da trilha musical da novela Da cor do pecado, segundo meu estimado amigo Dr. Bosco Câmara, curioso musicófilo no bom sentido, me diz ser de autoria de Bororó - Alberto de Castro Simões da Silva(1898-1986) - descendente direto da Marquesa de Santos - amante de D. Pedro II, gravação original de 1939, interpretado por Silvio Caldas:

Esse corpo moreno/ Cheiroso e gostoso/ Que você tem/ É um corpo delgado/ Da cor do pecado/ Que faz tão bem/ Esse beijo molhado/ Escandalizado que você me deu/ Tem sabor diferente/ Que a boca da gente/ jamais esqueceu/ Quando você me responde/ Umas coisas com graça/ A vergonha se esconde/ Porque se revela/ A maldade da raça/ Esse cheiro de mato/ Tem cheiro de fato/ Saudade tristeza/ Esta simples beleza/ Teu corpo moreno; morena enlouquece/ Eu não sei bem porque/ Só sinto na vida/ O que vem de você.
Zé Tatá - homenzarrão era também muito disposto, respeitado por todos que conheciam sua fama, por não ser morredor. Era um tipo destemido e extrovertido, ninguém nunca o via abichornado, estava sempre satisfeito com a vida e de nada se queixava, vivia em paz consigo
mesmo, assim diziam todos que a sua casa frequentavam bem como as suas amigas hóspedes. Cumpria com seriedade as obrigações comerciais que assumia, daí porque todos lhe creditavam no comercio local, granjeando bom conceito que o distinguia como ótimo pagador das dívidas por ele contraídas.

Arquivo Nirez

Na Boate Tabariz - Zé Tatá era quem abria a festa rodopiando no salão ao som da orquestra de pau, corda e sopro, escalando uma dançarina-noturna que bem pudesse representar o cabaré, na contra-dança.
Essa se chamava Francisca - conhecida pela alcunha deChica ou na sua falta - Das Doresou Clébia que eram conhecidas como pés de ouro...

De repente todos os presentes começavam a dançar com muita animação e não demorava muito o cabaré se inflamava com as músicas nos seus diversos ritmos - desde samba, samba-canção, bolero, fox, baião, valsa, terminando sempre com o famoso tango na voz de Carlos Gardel.

O cancioneiro predominado por Chico Alves, Nelson GonçalvesAlcides Gerardi, Ciro Monteiro, Luis Gonzaga, Erivelto Martins, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e o cearense Carlos Augusto interprete de “Vitrine”, “Negue o seu amor” e varias composições de Adelino Moreira, cuja família composta de vários cantores, a partir de sua mãe Nenen Bandeira detentora de linda voz, Cleide e Adamir Moura (irmãs-vocalistas) e Henriqueta Moura que inaugurou a rádio P.R.E. 9, juntamente com os cantores José Jataí, Hildemar Torres, José Lisboa, Terezinha Holanda, as Três Marias, filhas da Professora de Música Maria de Lourdes
Gondim
, Mário Alves - Trio Nagô, Zuíla Aquiles, Keyla Vidigal, Maria Guilhermina e Telma Regina, que formavam o grande elenco de artistas cearenses, sem esquecer os grandes compositores Lauro Maia, Evaldo Gouveia e Aleardo Freitas.

Um detalhe que merece realce, diz respeito à gente boa que frequentava o seu cabaré, e se por ventura com ele cruzasse nas ruas do Centro da cidade ou no Mercado Central, onde diariamente fazia suas compras, demonstrava que não conhecia ou simplesmente acenava com o olhar num cumprimento cauteloso, para não ser notado por outras pessoas nem comprometer, evitando enxovalhar o bom nome e a reputação da pessoa com quem falava...

Era próprio do provincianismo que dominava a nossa cidade cheia de preconceitos ou atavismo. Parecia até que a indigitada pessoa era portadora de doença, cujo mau poderia pegar até num simples cumprimento. Tudo causava horror e admiração diante do pieguismo e primitivismo cultural e social da nossa gente naquela época.

Hoje tudo mudou. É tudo tão diferente. Parece até que houve inversão de valores, que só Freud poderia explicar com exatidão essa transformação do entendimento racional das pessoas que antes se escondiam por detrás de pseudo moralismo e hoje já se expõem com exagero dando lugar às insinuações malévolas. Será por depuração da sociedade ou, mesmo evolução dos tempos? Deixemos esses questionamentos para os estudiosos no assunto, os sexólogos, psicólogos ou médicos psiquiatras que tão bem sabem se desincumbir da missão.

Aqui se tem em mente, lembrar tipos, episódios, pessoas e coisas que marcaram no passado seus jeitos, construindo nesta nossa querida cidade, marcos indeléveis que devem ultrapassar o tempo, não deixando a memória morrer no esquecimento, trazendo até subsídios de qualquer ordem que possam interessar aos historiadores, antropólogos, arqueólogos e demais interessados no passar dos tempos.

Por isso, em evidência, um ser humano - Zé Tatá, que durante décadas e mais décadas preencheu com hilaridade o folclore cearense."

Zenilo Almada

Bônus: A Pensão do Zé Tatá - Luizinho de Irauçuba


Causos na Pensão do Zé Tatá

“Nosso saudoso Zé Tatá, sobralense ilustre, dono de uma pensão alegre que guardava e garantia o trabalho de meninas de vida...vamos dizer...livre pra não falar fácil (fácil?)

Pois bem. Veio do Recife para Fortaleza um time de futebol e no time um carinha metido a besta, desses pernambucanos que no passado achavam que o mundo começava e terminava entre as doenças do Capibaribe e do Beberibe.

Depois do jogo procurou um lupanar e foi cair na Pensão do Zé Tatá.

Bebeu, dançou, foi pro quarto com uma das meninas, apalpou desagradavelmente outras tantas e no fim botou boneco. Não queria pagar.

Era coisa de três horas da manhã e o tal cavalheiro começou a esculhambar com todo mundo, gritando que no Ceará não tinha homem, que macho ali só tinha ele e que não ia pagar coisa nenhuma e essas coisas que todo bonequeiro faz. Uma das meninas foi acordar o Zé Tatá e contou.

Tatá subiu nos tamancos e foi ao salão. Quando o valentão viu aquele armário (quase dois metros de altura por dois de largura e pelo menos um de fundos) tentou afinar. Zé Tatá limitou-se a dar-lhe uma patada que jogou o tal pernambucano na metade da escada já gemendo de dor. Zé desceu e foi chutando o besta até a porta. Lá embaixo, com o cara de cara amassada, costela quebrada, coração parando.


Zé Tatá pegou o cabra pelas bitacas, e deu-lhe a porrada de misericórdia, não sem antes avisar; Vá seu corno. E diga lá no Recife que no Ceará levou uma surra de um Viado.


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Zé Tatá - O Rei da noite
Fonte: O Bonde e outras recordações - Zenilo Almada/ http://macariobatista.blogspot.com.br/
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