segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O sapateiro poeta do Papicu


Seu Alves, a versão cearense do poeta Gentileza 

“Essa história é complicada, não tive nenhuma comunicação. Me senti violado, desconsiderado, tá certo que eu não sou nada na vida, mas eles não podiam ter feito isso”. É assim que Honorato Alves Pereira, 73 , mais conhecido como “seu Alves” inicia e descreve a própria história: a do sapateiro-poeta do Papicu, bairro localizado na zona-leste da capital cearense.

Há 23 anos ele trabalha como sapateiro em um dos pontos mais movimentados da cidade de Fortaleza, no horário de oito da manhã até às quatro da tarde, exercido religiosamente de segunda a sábado, embaixo de um puxadinho feito de madeira construído por ele mesmo. É nesse local que seu Alves tirou o ‘sustento’ para criar uma família numerosa.

“Filhos eu sei que são dez, agora os netos ainda não consegui contar direito, só os bisnetos, sei que são cinco”, contabiliza o homem que também foi carpinteiro e eletricista.

O sapateiro-carpinteiro há doze anos virou também escritor, quando resolveu utilizar o muro de um terreno localizado na Avenida Engenheiro Santana Junior para escrever mensagens que exaltam o amor e a família.


“Eu tenho isso aqui como um livro, eu coloquei isso para orientar as pessoas, as famílias estão se desfazendo.” Muitas mensagens escritas são em homenagem à mãe de seu Alves. “Não gosto muito de falar sobre a minha mãe, mas me lembro que ela sempre dizia: – meu filho, eu não tenho estudo, se eu pudesse, eu te dava. Cheguei a pedir esmolas com ela”, confessa entre lágrimas.

O sapateiro não sabe quantas mensagens escreveu, mas sabe que algumas conseguiram alcançar o objetivo. “Teve gente que veio aqui só me dizer que um dia foi tocado pelas minhas mensagens.”


A fama do sapateiro-escritor ultrapassou os limites da cidade, “vários estudantes e jornalistas de outros lugares vieram só ver minhas mensagens, teve gente da Itália, da França e do Paraguai. Eu tenho tudo guardado, todas as reportagens, tá tudo plastificado lá na parede da minha casa. Eu sou o Gentileza-cearense”, sorri enquanto se autointitula.

O sapateiro faz referência ao Profeta Gentileza, andarilho das ruas do Rio de Janeiro, que na década de 80 pintou 56 pilastras do Viaduto do Caju, numa extensão de aproximadamente 1,5km. As mensagens do profeta eram inscritas em verde e amarelo e mencionavam frases de gentileza. Uma das mais conhecidas é “gentileza gera gentileza”.

Mesmo sendo reconhecido como um personagem importante, seu Alves não conseguiu a conservação das mensagens, pois elas foram escritas em muro de uma propriedade particular. No local foi construído um supermercado de uma grande rede internacional. Com a construção do prédio, quase toda a extensão do muro foi pintada, apagando uma boa parte das mensagens.

“Eles estão apagando mensagens que podiam modificar as pessoas, me senti como se eu tivesse feito algo de muito ruim. Quando vi quase não acreditei, passei muitos dias sem vontade de comer, fiquei muito triste”, desabafa o sapateiro-escritor.

O muro-livro é também local de trabalho, e muitos dos clientes de seu Alves estão espalhados pelas adjacências. O sapateiro afirma que muitos deles estão contrariados, “todos dizem que isso é uma crueldade”.

Paulo Gusmão, 43, que é engenheiro de pesca e passa pela avenida quase todos os dias, desabafa: “a gente vai sentir falta”. A indignação vai além. Marcos Pedrosa, 34, comerciante, ressalta que “não faz sentido a retirada de todas as mensagens”. “Com isso uma parte do Papicu vai morrer”, reforça.


Seu Alves já é um personagem conhecido de todo o bairro e porque não dizer de toda cidade? Muitas pessoas passam pela Avenida Engenheiro Santana Junior diariamente e utilizam o muro até como referência de localização, como no caso do estudante Leandro Porto, 23, que está há pouco tempo em Fortaleza e utilizava o muro como referência. “Quando passei e não vi as mensagens, pensei que não estava perto do terminal, quase passei do ponto de descida”.

Além do muro, seu Alves também utilizou uma parte da calçada do terreno como painel, onde escreveu mensagens nas cores azul e vermelho.

Mesmo na pressa diária, alguns pedestres mais atentos param para ver palavras que falam de amor e felicidade. Palavras que desejam o fim das guerras com uma vontade infinita de que todos sejam felizes.


Colaboradora: Angélica Goiana
(Texto publicado originalmente em 07 de maio de 2013 no site Clichetes)
Fotos: Agência Fato


Saiba Mais:

Em março de 2015, as pinturas do Sapateiro chegaram ao Estoril na exposição Sapateiro Alves: amigo do pobre, conhecido do rico. Reunindo placas com frases de amor, fé e tiradas cômicas, a mostra ficou em cartaz até o mês de abril e se juntou à comemoração do aniversário de Fortaleza.

“A calçada pertence a nós”, brada o homem simples que achou que pediria esmola para sobreviver à velhice, mas que hoje, é “aposentado com casa própria”. E é do lar grafado de azul e vermelho no Bairro Vicente Pinzón que o Sapateiro percorre de ônibus toda a cidade, “da Messejana até Caucaia. Conhecido por muitos e até estudado por pesquisadores de tipografia, Alves não quer ser artista. “Sou uma pessoa como qualquer outra. Eu não tenho riqueza e nem quero. Eu quero mesmo é saúde”, gargalha.

Honorato Alves Pereira já foi carpinteiro, eletricista, ferreiro e chegou até a trabalhar como sinalizador na pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. “Me mandei pro Rio, cheguei lá querendo falar com o Getúlio Vargas (presidente à época), viram logo que eu era matuto”, conta. Já tendo passado por outros 10 estados, voltou e se firmou mesmo no Ceará, no bairro Papicu, onde fez muito velho virar novo. “Engraxar é como fazer o cabelo, tirar a barba. Eu deixo só o mi”.

Nos 30 anos que passou na famosa banca, tomou como missão colorir o cinza urbano. Chegou a ter problemas com a Polícia, mas ganhou o respeito dos pichadores. “Eles diziam que eram meus fãs”, conta, ressaltando que passou a pintar os muros só de madrugada. Preferiu não criar problema com os “barões”, sabe que “quem tem rabo de palha, não chega perto do fogo”.

O mural foi apagado inúmeras vezes. Ele não desanimava e refazia, até que achou por bem não pintar mais. Agora, as cores do Sapateiro chegam às galerias em mostra com curadoria de Bárbara Cariry e Diego Pontes. Orgulhoso do feito, Alves quer mesmo é passar suas mensagens. Com fala apressada e pandeiro à mão, pede para deixar um recado primordial: “Quer ser feliz? Faça alguém feliz”.

Fonte: Jornal O Povo - Matéria de Paulo Renato Abreu em 14/03/2015

Raras imagens de Fortaleza em 1963


Reportagem exibida pela extinta TV Tupi em 1963. 
Vemos lindas imagens sobre a nossa cidade. 
Infelizmente o áudio está corrompido, mas vale cada cena!!!



Agradecimento mais que especial a amiga Isabel Pires

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Mercado Público - Recordações



É impossível desassociar o movimento de mercado ou feiras livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias aos que estão defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante. O negócio é vender.

Praça Carolina em foto de 1893 do fotógrafo inglês Sir Benjamin Stone

O Mercado em 1925

O primeiro mercado livre de que há registro no centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.
O segundo, com planta do Engenheiro português Silva Paulet teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o Mercado Central na rua Cond'Eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.

Acervo Caroline Gurgel

O Mercado em 1913. Arquivo Nilson Cruz

Pois bem, a Fortaleza Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês! 


O Mercado de ferro na Praça São Sebastião em 1955. Acervo Clóvis Acário Maciel

Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Pinhões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.

Ao lado: Vendedor de potes de barro no Mercado de Fortaleza em 1915. Arquivo Nilson Cruz

No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu pai, fiscal Valdemar de Lima à época a serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatório de irregularidades, mas parece que a resistência do povão neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no popular Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “Sobral” e “Iguatú”.
Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos do bairro São Gerardo. Outros hoje são integrados ao Terminal de Antonio Bezerra.

O Mercado da Carne em 1913. Arquivo Nilson Cruz

A construção do novo Mercado São Sebastião resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a tradicional Padre Mororó. É só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio - Sesc...



Radialista

domingo, 11 de outubro de 2015

Palacete Brasil - Praça General Tibúrcio


Destaque para o Palacete Brasil

Esquina da Rua General Bizerril com a Travessa Morada Nova. Praça General Tibúrcio.

Majestosa edificação, estilo neoclássico, enriquece o conjunto de marcos históricos da área central de Fortaleza. Inaugurado como Edifício Brasil, fez-se conhecido por Palacete Brasil, ícone centenário.

1915. A firma Rodolfo F. da Silva & Filho incumbiu-se de construir a obra, projeto do engenheiro João Saboia Barbosa e encomenda da empresa Frota & Gentil, do coronel José Gentil Alves de Carvalho.




O Palacete objetivou a instalação da sede local do Banco do Brasil.

Em 17 de março de 1945, o ramo hoteleiro tornou-se a destinação do prédio. Era instalado o famoso Hotel Brasil. No térreo funcionava o Restaurante Brasil e, nos pisos superiores, acomodações de hóspedes.

Restaurado em 1994, pelo arquiteto Geraldo Jereissati Filho, continua abrigando, em mesmo lugar, um restaurante e os cômodos da então hotelaria, adaptados para salas comerciais.

Antiga Assembléia Provincial. Arquivo IBGE

No entorno, encontram-se o Palácio Senador Alencar (antiga Assembleia do Estado e, agora, Museu do Ceará), a Igreja de N. S. do Rosário (construída em 1730), a Praça General Tibúrcio com estátuas do herói da Guerra do Paraguai e da escritora Rachel de Queiroz), o Palácio da Luz, as representações esculturais de dois leões trazidas de Paris, no início do século XX, e um antigo coreto.


Foto da década de 30, vemos o Palacete Brasil, a Assembléia Legislativa, além de um carro de modelo da década de 20. Arquivo Nirez

A escultura do militar, instalada em 02/02/1887, foi o primeiro monumento exposto em logradouro da Capital.

Na Travessa, hoje calçadão, há simulados trilhos de bonde, um sebo e o desejo público da Secult colocar um vagão, original ou replicado, a servir de espaço estimulante à leitura."


Geraldo Duarte - Colaborador do Site
(Advogado, administrador e Dicionarista.) 

Saiba mais sobre o Hotel Brasil