sexta-feira, 18 de março de 2016

Rua José Avelino - O bonde e a feira-livre


A estreita rua José Avelino, ainda possui o mesmo calçamento de pedras toscas, que guarda memórias da Fortaleza de outrora.

No início do século XX a rua virou palco de conflitos entre duas empresas, a Ligth e a Pedreira. Uma queria instalar os bondes e a outra, por fornecer as pedras toscas do calçamento, temia por sua destruição pelos trilhos do bonde.  




No dia 31 de dezembro de 1926, a antiga Rua do Chafariz, recebe o nome de Rua José Avelino (trecho compreendido entre os armazéns da praia (Travessa Icó) e o término da linha de bondes da Praia de Iracema).

A rua presta homenagem a José Avelino Gurgel do Amaral (1843-1901), aracatiense, bacharel e doutor em direito, jornalista e deputado.



Segundo estudos do arquiteto Liberal de Castro para abertura do processo de tombamento do calçamento da antiga rua do Chafariz, a cidade de Fortaleza, foi construída sobre imenso areal cercando pântanos, sempre apresentou muitas dificuldades à mobilidade urbana, seja de pessoas, animais e/ou veículos. 
A pavimentação reivindicada desde o século XVIII, só foi atendida na segunda metade do XIX, e num momento de crise, quando se precisou realizar obras públicas para aproveitar a mão de obra de sertanejos que migraram para a cidade por ocasião da seca de 1877. As pedras da pavimentação, nesse período, vinham da pedreira do Mucuripe




Limpeza das ruas


No começo do século XX, a pavimentação da rua precisou ser ampliada e adaptada para receber os trilhos dos bondes da Ligth. A criação dessa linha de “auto-bonde” gerou muitos desentendimentos entre a Ligth e a Pedreira (empresa responsável pelo fornecimento das pedras toscas), levando inclusive a acontecer conflitos de rua. 

Se a pavimentação das ruas foi uma exigência do passado, a instalação dos bondes foi um marco na modernização da cidade. As pedras toscas da Rua José Avelino, são vestígios materiais e signo dos movimentos das pessoas que fizeram e fazem a cidade de Fortaleza. 



O tombamento da rua é justificado por se trata de um dos poucos trechos da zona antiga de Fortaleza que ainda mantém pavimentação original em pedra tosca. Diante do que foi exposto compreende-se a importância dada a essa rua pela representação que ela possui na memória e na história de Fortaleza, em particular na história dos transportes coletivos. A intervenção que vem sofrendo a rua, com a presença do comércio (feira livre), proporciona grande preocupação do poder público municipal, pois a ocupação desenfreada do logradouro, pode trazer prejuízos materiais ao patrimônio público.



Fatos Históricos da rua


08 de setembro de 1813 - Inaugurado com grande festa, o primeiro chafariz de Fortaleza, dando nome a rua em que foi instalado (Rua do Chafariz), na gestão de Manuel Inácio Sampaio (Governador Sampaio). A título de curiosidade, o local do antigo chafariz, hoje é o nº 8 da Rua José Avelino.



Iluminação Pública


31 de dezembro de 1926 - A rua do Chafariz é denominada Rua José Avelino.

29 de março de 1930 - Um incêndio destrói o Café e Mercearia Maranguape, de propriedade de José de Lima Castro, na Rua José Avelino.

Maio de 1949 - J. A. Siqueira, de José Alcy Siqueira, muda-se de prédio alugado na Rua José Avelino nº 283, para prédio próprio na Rua Dragão do Mar nºs 35/49.

02 de dezembro de 1949 - Instala-se a primeira empresa de recauchutagem e regeneração de pneus de Fortaleza, a Tyresoles do Ceará Ltda., na Rua José Avelino 226, de J. Gentil Barbosa & Companhia.

14 de fevereiro de 1962 - Irrompe um incêndio no depósito da Sociedade Comercial Ltda - Socil, na Rua José Avelino nº 210, destruindo mais de 20 mil quilos de algodão.

17 de fevereiro de 1968 - O Centro dos Exportadores inaugura sua sede própria, na esquina da Avenida Alberto Nepomuceno com a Rua José Avelino. Seu primeiro presidente foi Alfredo Salgado.




O calçamento em pedra tosca da rua José Avelino, foi tombado em dezembro de 2012 (Decreto 13.035/2012 DOM, n º 14.942 de 21/12/2012) pela Prefeitura Municipal de Fortaleza e hoje é patrimônio cultural material da cidade. O ato confere à via proteção e conservação.


O documento estabelecendo o tombamento definitivo, foi assinado em 2012 pela então prefeita Luizianne Lins. As orientações, previstas nos documentos, incluem restauração de todo o calçamento da rua, devolvendo a pavimentação original, padronização das calçadas e demarcação de onde estavam instalados os trilhos dos antigos bondes.





Apesar de limitada por horários e dias determinados pelo Poder Público, o comércio continua ocupando, de maneira ilegal, uma via pública, agora tombada.
O Ministério Público já solicitou a retirada dos feirantes do local, pois o 
calçamento original está sofrendo com toda essa ocupação desenfreada. Muitas das pedras estão soltas ou foram levadas, deixando buracos que dificultam a mobilidade, além de acumular lixo.



Por meio de nota, a assessoria de comunicação da Secretaria Regional do Centro (Sercefor) informou que só poderá realizar uma ação mais efetiva de preservação e manutenção do logradouro quando a feira, de fato, for deslocada para outro endereço.





A atividade comercial atacadista de moda em torno da José Avelino abastece cidades do interior do Ceará, cidades do Piauí, Maranhão, Pará, Rondônia, Rio Grande do Norte e Paraíba, dentre outros. E emprega entre 10 a 12 mil feirantes (mais os indiretos) que atendem a uma média de 100 ônibus por feira, com duas feiras por semana. Cada ônibus traz, em média, 50 compradores (sacoleiras) que compram R$ 5.000,00 por feira. 





Fazendo as contas: a grosso modo, são mais de R$ 2,4 bilhões de vendas por ano! 
Mais de 480 mil visitantes por ano!
Porém, o que falta, portanto, é um espaço e local adequado!
Os carros ficam estacionados irregularmente dos dois lados ou em fila dupla. A grande quantidade de lixo no meio do movimento frenético de vendedores e mercadorias incomoda.







No caso do tombamento da Pavimentação da Rua José Avelino, a arquiteta da 
Coordenação de Patrimônio Histórico-Cultural - CPHC esclarece que trata-se de um raro exemplar em Fortaleza de um transporte que foi usado em alguns lugares no Brasil, que é o bonde de burro – um grande bonde que usava pneus e era puxado por burros. “O bonde passava na José Avelino. É uma pedra tosca retirada da pedreira do Mucuripe. Se visualizarmos nos momentos em que a José Avelino está tranquila perceberemos os dois trilhos de pedras formando o trilho por onde esse bonde percorria. Por isso foi tombada”, explica. 






Fontes: http://mapa.cultura.ce.gov.br/ Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo/ Portal do Ceará de Gildásio Sá/ Diário do Nordeste/ O Povo e http://defender.org.br/

3 comentários:

  1. Boa noite Leila,
    Sempre visitando estas belíssimas reportagens sobre a história da nossa Fortaleza antiga.
    Parabéns, pois toda vez que abro sempre tem novidades. Abraços Renato Luís

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  2. Uma bela história da nossa Fortaleza. Acho que esta memória está afetada pelo tempo e pelo descaso das autoridades, que permitiram o funcionamento irregular da feira por tanto tempo.

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  3. Uma bela história e mais feliz por ser sobrinha de um homem de grande nome ze avelino ,como sua irmã o chamava

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