domingo, 25 de setembro de 2016

Memórias de menino - O monstro de ferro (Guindaste Titan)



"Quando menino morava na Vila São José no Jacarecanga, meu bairro berço. Quem ia dessa Vila para a praia, palmilhava por um estreito calçamento de pedras toscas; de um lado as paredes da Fábrica de “Redes Philomeno” e do outro o paredão que sustenta a ponte da via férrea sobre o riacho Jacarecanga, verificando-se a separação dos trens: Um para Baturité e outro para Sobral e a bifurcação era na Mercearia do Edmilson, que contemplava a passagem dos trens em ambos os sentidos. Na ponta Noroeste do Cemitério São João Batista pelo lado da avenida Filomeno Gomes (outrora Thomaz Pompeu), ainda existia a abandonada casinha de força dos bondes da The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd, extintos em 1947.


  
 A casinha desapareceu em 1971. Entrando à esquerda e transpassando as linhas, aquele cinturão verde/azul me encantava. Era o mar. Após quase meio quilômetro de caminhada em declive, meus pés tocava nas areias frouxas quando, ainda existiam coqueiros e a cerca de arame farpado que, demarcava o limite do terreno da Escola de Aprendizes marinheiros, pois, ainda não existiam a avenida Leste Oeste e nem tão pouco, o interceptor oceânico. O Clube Ipuense com cobertura tipo palhoça animava seus frequentadores nos fins de semana. Em minhas aventuras pescava nas praias do Jacarecanga e Pirambu onde comprava anzol apelidado de “cara torta” no “Bar do Ferrim”, na mesma calçada da casa do pintor primitivista Chico da Silva. Como menino, Deus me livre de ir para o Cabaré Gozo do Siri (Mansão que pertenceu à família ilustre Moraes Correia). Como toda criança curiosa, ficava a indagar: O que fazia aquela grande chave de abrir carne de lata por detrás do mar? Depois, em 1970 fui levado por meu pai numa das tardes de domingo, a um passeio no Cais do Porto. Eu tinha 12 anos de idade e pela primeira vez vi de perto um monstro de ferro. Proveniente do Rio de Janeiro, sob o comando do capitão mineiro Nabucodonosor Ferreira, chegou a Fortaleza às 11:45hs do dia 26 de maio de 1939, o Vapor da Cia Costeira “Itapoan” cujas cento e oitenta toneladas de materiais, eram o possante Guindaste Titan



Essa gigante máquina, com o motor Caterpillar foi montada pela “Companhia Nacional de Construções Civis e Hidráulicas Civilhidros” que também era a proprietária do guindaste. O descarregamento do material durou cerca 10 dez dias, pois, o navio retirou as ferragens na própria enseada do Mucuripe, com o auxílio de Alvarenga. Referida máquina foi montada para ajudar nas obras do porto do Mucuripe, quando inicialmente foi construído o espigão para retenção das águas, no local que hoje é denominado: “Praia Mansa”. No dia 3 de junho de 1940 o gigantesco Titan caiu no mar. Foi a mais sensacional notícia do dia, quando os moradores do Mucuripe em procissão marcharam ao local. O monstro de ferro ao levantar uma carga de 50 toneladas de pedra, tombou no mar a três quilômetros da praia. As obras que dependiam dele ficaram paralisadas até janeiro do ano seguinte. Com a inauguração do Cais, o Titan ficou na ponta do espigão sendo um ícone, e foi quando em terra, lá da hoje Praça Marcílio Dias (Bairro Navegantes) despertou a curiosidade do menino que escreveu estas linhas.


O guindaste já entregue às intempéries foi vencido pela corrosão, desabando parte de seu guincho. Em 1976 a Cia Docas resolveu destruí-lo com o uso de maçarico, e depois dinamitou suas bases. O titan continua emoldurado apenas na lembrança dos enamorados da querida Fortaleza, nesse local onde o navegador espanhol Vicente Pinzon, pisou..."

Assis Lima
(Radialista/Jornalista) 

Inteiração: “Material que veio no Itapoan para o Mucuripe”: - 2 vigas de madeira; 16 rodeiros de ferro; 8 motores elétricos; 5 vigas de ferro; 1 triângulo de ferro com coluna; 4 setores de ferro duplo (anel de orientação); - 4 setores de ferro duplo (suporte ,rolos com parafusos); 4 setores de ferro duplo (trilho base lança); 2 caixas de madeira com parafusos; 1 viga de ferro (conjunto triângulo); 1 base com rodeiros e rolos; 1 rodeiro fixo para máquinas; 1 caldeira à vapor; 3 secções de lança. Total: 53 volumes”. (Jornal O Povo 27-05-1939). 

Fotos históricas:

















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Guindaste Titan


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