sábado, 29 de outubro de 2016

O Palácio do Bispo e a Igreja da Sé


Antiga igreja de São José - Última missa.


A então Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (2005-2013) foi quem assinou a ordem de serviço para a reforma do Paço Municipal, antigo Palácio do Bispo, cuja primeira grande reforma foi feita em 1913, quando Manezinho do Bispo era o porteiro. Referido prédio é patrimônio do Município desde 1973, pelo que ocorreu o tombamento. A Chefia do Executivo Municipal transferiu novamente o Paço Municipal para o Centro. Busquemos recuar no tempo. Aos 16 de fevereiro de 1699, veio de Portugal uma Ordem Régia que determinava a construção de uma igreja, que seria a primeira Capela-Mor da Matriz de Fortaleza. Localizada com a frente para a cidade, e com Riacho Pajeú passando a alguns metros por detrás, sua construção foi iniciada somente 48 anos depois.

Nossa catedral foi inaugurada em 1978



Concluída em 1795, em 1820 foi demolida, e com festa para a cidade Fortaleza, aos 2 de abril de 1854 foi inaugurada a Igreja de São José. Com a posse do primeiro Bispo do Ceará, Dom Luís Antonio dos Santos (foto ao lado), a antiga Matriz aos 29 de setembro de 1861, foi transformada em Catedral. Esse templo ficou erguido até 1938, quando aos 11 de setembro foi realizada a última missa. Um ano após, foi lançada a pedra fundamental do majestoso templo, que depois de quarenta anos lá está. Por detrás dessa igreja, no segundo quartel do século XIX, e nas margens do Pajeú, foi construído um palacete pela família do Comendador Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, na rua das Almas, hoje rua São José. Adquirido pela Igreja católica, esse palacete passou a ser abrigo dos Bispos, surgindo a partir de então a nomenclatura “Palácio do Bispo”, afinal o mesmo passou a pertencer ao episcopado, quando o mesmo fora entregue aos 21 de junho de 1860, embora o bispado já tivesse sido criado, conforme a lei estadual nº. 693 de 10 de agosto de 1853. Esse prédio funcionava, além da residência do Bispo, como uma espécie de Secretaria de Ação Social, pois, diversos registros fotográficos e relatórios ratificam que os pobres se enfileiravam em busca de ajuda.


Hoje são várias as modificações no local, com pavimentação asfáltica, trânsito maluco; a rua da Escadinha (Baturité) só não desapareceu por conta da resistência do saudoso pesquisador Christiano Câmara que era um geógrafo sentimental. O riacho Pajeú, que outrora era uma veia significativa, está atualmente como um vaso capilar e poluído. Eu pensei que essa atitude da Prefeitura de Fortaleza naquele 2008, tivesse sido um prenuncio para que o poder público voltasse a funcionar no Centro da Cidade, tal qual a histórica capital, João Pessoa. Até pouco depois da Revolução de 1930, denominava-se Parayba do Norte, no estado da Paraíba, e nunca a sede dos Poderes Executivos, Legislativo e Judiciário e repartições correlatas saíram do Centro. Que história é essa de querer revitalizar o Centro somente com a volta dos moradores?


Bônus:




Leia também:

Patrimônio Histórico: Palácio do Bispo - Por Leila Nobre


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Relembrando as tertúlias da Vila São José – Jacarecanga



A dança caracteriza-se pelo uso do corpo seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre). Na maior parte dos casos, a dança, com passos ritmados ao som e compasso de música e envolve a expressão de sentimentos potenciados por ela. A dança é uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música. No antigo Egito já se realizava as chamadas danças astro-teológicas em homenagem a Osíris. Na Grécia, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos. Pois bem, duas coisas são indeléveis no curso de nossa vida. Essas gravações devem-se as energias sensitivas da audição e do olfato. Traduzindo são coisas marcantes: Perfume e música, em que eu evoco uma combinação feliz do maior brega/chique do Brasil Waldick Soriano, quando gravou a música “Perfume de Gardênia”. 


Mas vamos lá. O bom é que na época das tertúlias, as moças e os rapazes se afinavam e dançavam até, por todo o tempo pela combinação de essências. Muitos se queixavam de rejeição ao convidar uma menina, mas tinha lógica, o cabra usava perfume feminino e a pessoa se sentia como se estivesse com alguém do mesmo sexo. Mulher também não deve usar fragrância masculina. Sabiam que isso funciona no psicológico? Agora, não existia nesses bons tempos nada de marcas famosas tais como hoje, com fragrâncias passando da casa dos R$ 100 (Cem reais). Apesar de eu me esforçar pelo meu Malbec, anos atrás, pelo menos minha loção pós-barba era leite de colônia, e o creme de cabelo era o Trim. É o novo! As calças eram boca de sino, blusão por dentro, e o medalhão só perdia para o Erasmo Carlos. Não se fumava dentro do recinto onde a luz negra tornava a sala um escurinho de cinema. Quem quisesse acender seu Hollywood, Minister, Albany, Charm, Marlboro, Consul, Camel Filters (o mais caro) ou até mesmo o Continental, deveria sair para a calçada e após o uso, chupava Piper ou azedinho para mudar o hálito. 




Caramelo do Zorro e Negrito eram chocolates e pregavam nos dentes. Chicletes Adams, Ping Pong, Ploc... O Manuel Pé Cagado levou um spray para se amostrar, e a válvula estourou quase cegando uma menina, e tome vaia. As casas mais tradicionais em cederem espaço para as tertúlias era a residência do Tutuca (Elenilson), da amiga Ilná e a Tayse que já ficava na Avenida Francisco Sá olhando para o Saps. Tayse era namorada do Magão que morava na casa do Artur, zagueiro do Ceará Sporting Clube na época (1973), rua Coronel Philomeno Gomes nº 26. 
A publicidade da tertúlia era notória, pois, o anfitrião saía nas casas solicitando por empréstimo, discos de vinil. Portanto era nossa parceria, bem como ficar próximo da vitrola para ficar virando e sequenciando as músicas. Como a dança era de cerca de três horas, nunca uma música era repetida. Na rua já ouvíamos Roberto Carlos: “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “A Distância”, “Maior que meu Amor” ,“Amada Amante”; Os Pholhas: “I Never Did Before” (Nunca Fiz Antes); Roberta Flack: “Killing Me Softly” (Me Matando Suavemente); Stevie Wonder: “You Are Sunshine Of My Life” (Você é forte luz em Minha Vida); Demis Roussos: “Forever And Ever” ( Sempre pra sempre); The Fevers: “Mar de Rosa”, “Vivo a Sonhar com Você”, “Ninguém Vive sem amor”. Tinha também músicas eróticas como “Theme Love Airport”  (Tema romântico do Aeroporto) com Vicente Bell; “Nuvens, Amar Sonhar Sofrer”, JET´AILME... mol non Plus Erótico (Eu Te Amo em francês) e por ai ia... Todos os bailes da Vila São José eram na própria vila, com exceção do Carnaval e Natal que era no Clubinho Marcílio Dias, na Avenida Philomeno Gomes, por detrás do Cemitério São João Batista, depois do muro da Fábrica de tecidos
Quem é que queria saber e, também não podíamos! Náutico Atlético Cearense, Maguary, Diários, AABB, Clube de Regatas nem mesmo os clubes suburbanos que desapareceram, como podemos citar: O Uberlândia no Padre Andrade, Secai no Pirambu, Carlito Pamplona na Avenida Pasteur, Grêmio Recreativo dos Ferroviários na Francisco Sá, Internacional no Monte Castelo, Romeu Martins no Montese e o de Antônio Bezerra. Não, todos ficavam na Vila São José, porque aquele pedacinho tinha tudo de bom!



No escurinho, a gente combinava para chocar um casal com outro.  Se a jovem esboçasse desconforto, ficava como estava, mas do contrário a quentura do corpo (pinar mesmo) tornava mais gostosa a dança. Eram assim as tertúlias. A única despesa que tínhamos era quando o calor se intensificava e nos dirigíamos ao Bar do Chico Lima e/ou do Seu Telles para comprar refrigerantes como Blimp (sabor Limão), Crush (Laranja de verdade) e Grapette (Quem bebe repete). Os dois incidentes de que eu me recordo, foi na casa de um em que a Conefor (atual Coelce) no dia da festa cortou a luz pela parte da tarde. Nada se podia fazer porque era sábado. No outro incidente que também não vou mencionar o nome, foram fazer festa e nos deixaram de lado, trazendo gente estranha, querendo serem os "Reis da Cocada Preta". Fomos ao jardim do Seu Panchico e tiramos todas as pimentas malaguetas de seu jardim/hortaliça. À noite ao chegarmos na festa sem convite, discretamente soltamos pimenta ao chão. Daí começou a espirradeira e coceiras nos olhos e a festa acabou. Então veio a colheita desta travessura de mau gosto. Seu Panchico foi ao Padre Mirton Lavor, pároco da Igreja dos Navegantes e cabuetou (A brasileira) essa travessura. No sermão de sábado à tarde, ele baixou o Pau dizendo que “quem entrasse nos jardins alheios sem permissão, era ladrão e salteador”. Todos baixamos as cabeças. Aí os tertulianos ficaram bonzinhos. Quem achou ruim foram algumas meninas sapequinhas, mas nós que levamos o arregaço do sacerdote, passamos a obedecer ao para-choque de caminhão: dançando “mantendo a distancia”.  Depois as Tertúlias foram substituídas pelas discotecas e deu advento ao Rock não prestando mais... Por isso digo que 1º de novembro é o dia dos homens: “Dia de todos os santos”. kkkkkkkkkk

Bônus:

O Milionário com os incríveis não podia faltar!!! :)
Foi lançada em 1969 mas foi até o fim das tertúlias nos anos 80.

Leia também:

Vila São José - Jacarecanga


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Estação da Floresta e o Ramal da Barra - Álvaro Weyne





Os moradores do bairro Álvaro Weyne e os pesquisadores da história de nossa cidade após esse relato, irão agora compreender porque a “Rede de Viação cearense – RVC” construiu uma estação intermediária entre a Central e o Distrito de Barro Vermelho (atual Antônio Bezerra) já que nos anos 20 do século passado, não existia nesse local uma justificativa sócio – econômica para uma parada de trem. A “Floresta” como era conhecida na época, era muito arborizada e um solo abençoado pela natureza, pois, as águas de seus poços eram excelentes para o consumo humano e faça-se justiça, era a melhor água de Fortaleza. Pois bem, o diretor da RVC Dr. Demósthenes Rochert, o Presidente do Ceará José Moreira da Rocha (Desembargador Moreira) e o Prefeito de Fortaleza Godofredo Maciel, viabilizaram perante o Ministério da Viação e Obras Públicas, a construção de uma artéria ligando por ferrovia Fortaleza ao Rio Ceará, isso devido ao potencial econômico fluvial/marítimo e os já avançado estudos para a implantação do primeiro aeroporto de Fortaleza. A Barra do Ceará foi onde o nosso Estado nasceu. É o berço de Fortaleza e tem mais essa interessante história.



O Ramal Ferroviário da Barra teve como ponto de junção, o Bairro da Floresta localizado no Km 4,180 m da Estrada de Ferro Fortaleza/Itapipoca-EFFI e como não poderia deixar de ser, surgiu a necessidade imediata da construção de uma Estação, cuja inauguração ocorrera aos 14 de outubro de 1926, data também do término das obras do referido trecho Floresta/Barra do Ceará. Tinha uma extensão de 3,800 Km com 3,010m acima do nível do mar. O recebimento de óleo de mamona, a exportação dos curtumes, sal e outros produtos eram movimentados por via férrea. A condução de passageiros nesse ramal era apenas em excursões particulares ou, quando havia interesse da RVC recepcionar ou/em conduzir autoridades ao aeroporto.




Por toda a década dos anos 30 o ramal esteve no auge, sendo posteriormente sua degringolagem marcada por dois grandes motivos: O surgimento do complexo portuário no Mucuripe, quando os navios de médio porte que fundeavam na Barra do Ceará passaram a atracar no novo porto e segundo, com a inauguração (1952) do aeroporto no Cocorote (denominou-se depois Pinto Martins). Os hidroaviões foram desaparecendo. Em 1954, não existia mais nenhum motivo para o trem ir para a Barra do Ceará, razão pela qual os trilhos foram arrancados. Quem percorrer as Ruas Hugo Rocha e Vinte de janeiro no Bairro da Colônia deve saber que, essas vias rodoviárias surgiram graças ao trem da Barra. Esse capítulo da história de Fortaleza é pouco conhecido, mas que deve ser explorado pelos pesquisadores. Hoje o Rio Ceará é cartão postal e indústria para o turismo. A Estação da Floresta em maio de 1960 passou a se chamar Mestre Rocha, pois, na época o diretor da RVC que era o Cel. Virgílio Nogueira Paes atendeu ao pedido dos familiares de José da Rocha e Silva, que foi o primeiro maquinista do Ceará, sendo em seguida, mestre geral das oficinas da antiga Estrada de Ferro de Baturité. O mesmo faleceu em 1927. Com o advento da Revolução política de 1964, o nome do Bairro Floresta foi modificado, passando a se chamar Álvaro Weyne* homenageando por recente falecimento, o comerciante e ex-prefeito de Fortaleza. A RVC por questão de adaptação e interferência política cedeu, e a Estação de Mestre Rocha também passou a se chamar Álvaro Weyne.



A edificação da Antiga Estação Floresta sofreu desativação em fevereiro de 1982, quando a Coordenadoria dos Transportes Metropolitanos - CTM inaugurou uma nova estação, só que com a quilometragem alterada e com plataformas adaptadas ao novo trem. Aí em 1984 a bucólica e nostálgica edificação desapareceu. Os moradores parecem que perderam o seu referencial. O amigo trem nesse local não se achou mais acolhido... Chorando sua ausência foi embora e nunca mais parou.


Assis Lima

 
*Álvaro Nunes Weyne, comerciante e prefeito de Fortaleza por dois períodos (1928-1930 e 1935-1936). Faleceu aos 4 de julho de 1963, com 81 anos de idade. Em 1964, Murilo Borges, então prefeito de Fortaleza, assina decreto mudando o nome do bairro da Floresta. A estação que era chamada de Mestre Rocha, não suportou a interferência.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A energia elétrica de Fortaleza


Tudo o que é relacionado ao desenvolvimento, obedece a etapas e/ou estágios. Ao retornarmos ao passado, não implica em se sofrer atrasos, mas estamos resgatando merecimentos, afinal, o moderno hoje é o antigo amanhã. O moderno carro de injeção eletrônica não chegou antes daqueles, cuja partida era à manivela com carburação falha; o compacto celular em que localizamos as pessoas apenas no tempo, não podia chegar primeiro do que os aparelhos de telefonia à magneto, com sua extensão entre emissor e receptor não superior a 1000 metros; as aeronaves, os super-sônicos dar uma volta ao mundo em questão de horas, porém, Alberto Santos Dumont penou bastante para fazer subir o 14 BIS em 1906 na França... Será que a iluminação e energia elétrica fora algo diferenciado? Fortaleza quando no dizer do poeta Otacílio AzevedoAinda Descalça”, foi saindo da escuridão a custa do sacrifício de fauna marinha, hoje na lista de extinção. As baleias desapareceram da Costa Norte brasileira, pois, a iluminação pública da Fortaleza Provinciana, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, o Dr. Casimiro José de Moraes Sarmento, o construtor do primeiro cemitério da cidade. A exploração do serviço de iluminação de Fortaleza teve início, segundo o historiador João Nogueira, com a assinatura de um contrato com o Português Sr. Vitoriano Augusto Borges que tinha como atribuição, instalar lampiões em numero de 44. Essa luminária tinham quatro faces, sendo mais estreitas em baixo do que em cima, com fundo e tampa de metal. Eram suspensos com armações de ferro como se fosse uma forca, afixados nas esquinas e na posição que pudessem iluminar ruas e travessas. Eram limpos constantemente, e para acendê-los deveriam descer, por isso eles pendiam de uma corda, que passava em duas roldanas. Tinha uma caixinha cheia de azeite de peixe com torcida de algodão. Era parecido com pequenos tachos de que trabalham os ourives para soldas à maçarico. Foi assim que surgiu o primeiro personagem popular de Fortaleza: “Chico Lampião”. Fortaleza bonitinha ficou sendo iluminada com azeite de Peixe até 1866 quando caducado o contrato com o Sr. Vitorino. A tecnologia quando quer avançar não respeita era. Teria que surgir melhorias, e assim veio o Gás Carbônico sob a responsabilidade da “The Ceará Gás Company Limited”. Com o gás carbônico, as ruas de nossa cidade tiveram melhor qualidade na iluminação. Colocadas em ziguezague as luminárias obedeciam a uma distancia de apenas 30 metros uma da outra, e com uma altura de 2,40 metros. Ficava uma chama brilhante em forma de leque queimando o bem preparado gás, salientando que, o gasômetro ficava na Rua Senador Jaguaribe, ao lado da Santa Casa de Misericórdia olhando para a Praça do Passeio Público. Daí o antigo nome dessa rua ser “Rua do Gasômetro”. 

Passeio Público - Avenida Caio Prado (Atual Passeio Público). Vemos os Combustores.

Gasômetro da The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd.

A logística sempre transpassa o que quer ficar parado. O gasômetro já não atendia a demanda. Entra em cena na extensão de seus serviços, a firma inglesa “The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd”, que explorava o transporte de bondes elétricos desde 1913, ganhando privilégio agora para o serviço de iluminação. A localização dos geradores da Light era na Rua Adolfo Caminha (Baixos do Passeio Público) e as suas caldeiras eram alimentadas com lenhas vindas do Horto Florestal de Canafístula (Antônio Diogo - distrito de Aracoiaba) trazidas em vagões gôndolas pertencentes a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité. Em 25 de outubro de 1935, portanto, foi retirado o último lampião à gás encerrando assim, o segundo período da iluminação de Fortaleza, a era do Gás Carbônico. Experimentalmente, em 1933 foram colocadas quatro lâmpadas elétricas de 100 Watts na Rua Formosa (Barão do Rio Branco), entre as ruas Guilherme Rocha e Senador Alencar. Assim em 1934, fora rescindido o contrato da “Ceará Gás” e o Governo do Estado do Ceará sob a interventoria de Filipe Moreira Lima, nesse mesmo ano oficialmente, inaugurou-se na praça do Ferreira a energia elétrica. 


 Poço da Draga e ao Longe a Chaminé da Usina Light.

 Vagões Gôndolas da Via Férrea de Baturité no Horto Florestal em 1913.


Aquele 8 de dezembro foi apoteótico. Aos 19 de maio de 1947 circulou o último bonde elétrico em Fortaleza e, apesar da sobra de demanda, a energia da Light ainda era muito precária. A “The Ceará Tramway” por força do decreto Federal nº 25.232 de 15 de julho de 1948, é transferida para a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sendo o Prefeito Acrisio Moreira da Rocha. Aos 20 de maio de 1954, saiu o decreto nº 803 criando o “Serviço de Luz e Força do Município de Fortaleza - SERVILUZ” quando ainda era prefeito, o radialista e advogado Paulo Cabral de Araújo. As novas instalações foram inauguradas em 8 de novembro do mesmo 54, ocupando o local onde funcionava o Escritório da extinta empresa de Bondes no Passeio Público, pela rua João Moreira. A Usina Termoelétrica fora instalada em maio de 1955 na Ponta do Mucuripe, inicio da Praia Mansa. Com modernos geradores Westinghouse, o Serviluz fora criado para resolver o problema da precária energia elétrica de Fortaleza. As razões técnicas para a usina ficar distante do centro da cidade, segundo analistas da época, deveram-se a estratégica zona portuária com o surgimento de empreendimentos, tais como os já existentes: Shell Mex, Esso Standart do Brasil e moinhos de trigo. Além do mais, o equipamento roncava e aquecia demais e a ventilação praiana, favorecia a regulagem térmica. O Serviluz é administrativamente transferido em 1 de maio de 1960 para a Companhia Hidroelétrica do São FranciscoCHESF (Estado da Bahia), a qual por sua vez, em 1 de abril de 1962 instala a Companhia Nordeste de Eletrificação de FortalezaCONEFOR que substituiu o Serviluz. 

 Usina do Serviluz na Enseada do Mucuripe - 1954.

Geradores do Serviluz 


Dois anos após, a rede elétrica proveniente da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso chegou a Fortaleza, com uma subestação em Mondubim. Aí com as presenças do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, do Governador do Ceará Virgílio Távora, do Prefeito de Fortaleza Murilo Borges e várias autoridades, em 1 de fevereiro de 1965 precisamente às 18.30 h, na Praça Libertadores, bairro Otávio Bonfim, era acessa a primeira lâmpada de iluminação pública com energia elétrica da CHESF. Em 5 de julho de 1971, o Governo César Cal's cria a Companhia de Eletricidade do CearáCOELCE e encampa a Conefor, que após três anos em assembléia geral a extingue. Como não era de se esperar, a história se repetiu. O comando do serviço de energia elétrica do Ceará saiu das mãos do Governo Estadual. A Coelce foi vendida, e aos 13 de maio de 1998 passou a pertencer a “Distriluz Energia Elétrica S.A”, “Companhias Enersis S.A”, “Chilectra S.A”, “Endesa de España S.A” e a “Companhia de Eletricidade do Rio de JaneiroCERJ”. Então quem não quiser mandar mais dinheiro para fora, consuma produtos da Terra e economize energia. Seja racional. 

Leia também:

De Serviluz a Coelce - A Companhia Energética do Ceará


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



sábado, 1 de outubro de 2016

Lembranças da TV Ceará canal 2

 

Fortaleza em 1959, ainda com respiração forçada devido a ressaca da grande seca do ano anterior, observava a intensa migração dos cearenses para a construção de Brasília, futura capital do País na vivencia do anos JK. As pessoas comodamente sentadas em suas calçadas no embalar das conversas de vizinhos, passaram a temer os chamados “Rabos de Burro” que, de passeio em suas lambretas aprontavam com a mocidade. As ruas foram sendo proliferadas com os automóveis DKW-Vemag e os chauffers dos carros de aluguel, passaram a se animar com os estudos dos taxímetros, onde tiraria de seus ombros, o velho cálculo de cobrar tarifas por quilometragem, aborrecendo passageiros. 





A lamentação ainda era grande, pois indelevelmente o incêndio no Hospital César Cal's com a morte do estudante que foi herói e mártir, João Nogueira Jucá, marcou o fortalezense, mas a rádio Dragão do Mar, quinta emissora, ainda que na infância, ajudou o povo a levantar a auto-estima, apaixonando seus ouvintes. Pois bem, os jornais da época e com exclusividade o Correio do Ceará, publicaram com ênfase as razões que garantiam a instalação da primeira Estação de Televisão no Ceará. A Ceará Rádio Clube PRE-9, emissora dos “Diários Associados”, e com a liderança que lhe era própria, divulgava o assunto com expressividade, afinal tudo pertencia ao comando do Jornalista Assis Chateaubriand. O terreno para o erguimento da TV ficava na Estância Castelo em meio a um coqueiral, a 35 metros acima do nível do mar, e pertencia a Dionísio Torres, que com sua morte fora homenageado com o nome do bairro. A televisão sem dúvida valorizou o local, elitizando aquele pedaço: Barão de Studart Antonio SalesDesembargador Moreira


A construção foi em ritmo acelerado, e segundo relatórios, foi destacada a preocupação de Guilherme Neto (Diretor Artístico da PRE-9) quanto à formação da equipe para enfrentar as câmeras e o equipamento RCA, proveniente dos Estados Unidos da América. A torre auto - suportável de fabricação Marconi que pesava 30 toneladas, media 108 metros, e dava para emitir imagens com alcance sem repetidora, em cerca de 100 quilômetros. Seus isoladores de porcelana para serem fixados nas bases de concreto, foram substituídos por blocos de ferro fundido, trabalho este executado nas oficinas da Rede de Viação CearenseRVC. A montagem e os ajustes desta colossal obra estiveram sob o comando do engenheiro eletrônico, Igor Olimpiew, então diretor técnico dos Diários Associados e era pasmem: ajudado por João Ramos, o único voluntário do elenco da Pre9. A casa ficou prontinha. Era um edifício de 2 andares, cor amarela com uma área de 5.808 m² e localizava-se entre as ruas Oswaldo Cruz e Visconde de Mauá com a frente para a Avenida Antonio Sales. De chegada tinha a frase: “Tudo aqui é bem feito com amor”. Assis Chateaubriand. Aí precisamente às 17 horas de sábado, 26 de novembro de 1960, Aderson Braz, com toda califasia, colocou oficialmente a TV Ceará Canal 2 no ar estando presentes no ato inaugural, Juracy Magalhães (Governador da Bahia), Wilson Gonçalves, Governador em exercício do Ceará, prefeito de Fortaleza, General Cordeiro Neto e outras autoridades. 
 

Chateaubriand mandou um cabograma ao Capitão Tabajara, que era o Dr. Manuel Eduardo Pinheiro Campos, a quem tanto admiramos. O parabenizou pela titânica obra realizada em tão pouco tempo. Não era fácil fazer televisão naquela época, pois não havia condições para efeitos especiais, nem mesmo vídeo tape, pois tudo era ao vivo e bem ensaiado. As garotas propagandas se perfilavam defronte as câmaras, e cumpriam expedientes. Stelinha Barbosa era um amor de pessoa. No jornalismo tínhamos o Repórter Real, Repórter Cruzeiro, Correio do Ceará na TV, Noticiário Relâmpago, Política Quase Sempre que nos davam informações completas e imparciais graças ao trabalho de Aderson Braz, Candido Colares, Narcélio e Paulo Lima Verde, Luciano Diógenes, Orlando Santos, Ciro Saraiva e etc... Programas de auditório como o Show do Mercantil, Porque Hoje é Sábado, Romcy Gira a Sorte, Sete Dias em Destaque cujas apresentações eram com Augusto Borges, Gonzaga Vasconcelos, Matos Dourado... 
 

As telenovelas com João Ramos, Karla Peixoto, Ari Sherlock, Antonio Mendes (O Toinho), Emiliano Queiroz, Wilsom Machado, Cleide Holanda, Jane Azeredo, Íris Brenno... Na comédia Renato Aragão, Picanço, Praxedinho, com o Vídeo Alegre. Como esquecer os 35 espetáculos do Contador de Histórias? Lembram-se do Lobo do Mar? Aí foi muito coisa. Em 1965, chegou o Vídeo Tape, então passamos a ver filmes como: Bonança, Ratos do Deserto, Zorro, Chicote Negro, Caveira, Os Invasores, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Perdidos no Espaço, a “Deusa” de Joba, Império Submarino, Tarzan, Jim das Selvas... 


Desenhos animados como Super 6, Os Impossíveis, Super Heróis Estrela, Dino Boy, Frankstein Jr... As novelas da tupy como Um Anjo Marcado, Direito de Nascer, A Ré Misteriosa, Irmãos Corsos, Sangue do Meu Sangue, João Juca Junior... A transmissão de lutas livre (Telekate Montilla) em respeito às crianças, era apresentada às 23hs. Era Thed Boy Marino, Tigre Paraguaio, Demônio Cubano, Bola de Prata, Cavaleiro vermelho, Leopardo, Verdugo, Rasputin Barba vermelha, Mongol, Aquiles, Capanga, Sorocaba, Aquiles, Edu, Cavernari, Takari... Os juízes eram o Crispim e Celso. Falar em TV Ceará Canal 2, é lembrar A Grande Chance e Um Instante Maestro com Flávio Cavalcante; A Grande Parada com Wanderley Cardoso, Jair Rodrigues e Rosemary; Noite com As Estrelas com Blota Junior, Clube dos Artistas com Airton Rodrigues, O Programa J. Silvestre e os quadro Amor Perfeito... Perdoem-me por pecar nas omissões, afinal não estou fazendo um resgate pleno da história, e sim lembrando o canal desaparecido, que é a televisão de minha infância, sem apelações ou tendências. Aí em julho de 1980, a TV Ceará já na euforia das cores e afiliada da Rede Tupy, segundo Aderson Braz, por problemas administrativos e contextuais, saiu em definitivo do ar. Mas saiu apenas do ar e não da mente do telespectador, como eu que nada tinha a ver com isso. Saiu do ar, mas não de nossa lembrança e nem do sangue dos que tanto trabalharam para nos oferecer entretenimento, informação e cultura. Quem conhece a história, não esquece aquele 26 de novembro que foi uma apoteose em Fortaleza, quando existiam cerca de algumas centenas de aparelhos receptores, que eram vendidos pelo Gustavo Silva. O único impacto causado pela televisão em nossos costumes foi o recolhimento das cadeiras nas calçadas e, infelizmente agora, com imagens em que a família não fica mais à vontade para assistir. A televisão no inicio era outra, e na ficção é como diz Eduardo Campos: “Uma Fábrica de Sonhos”.

Assis Lima


Fotos histórias:












 
 

 
 
















 









 
















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Do fechamento da TV Ceará até os dias de hoje


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
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