Imagem meramente ilustrativa
Na fachada amarela, era onde ficava a Padaria.
Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde. As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na Rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961. Eu fui um, dos que carregaram caixotes na cabeça com um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro era o Pinheiro “Cabeça Branca” e o Nogueira “Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Eu infanto-juvenil, magro, com aparente subnutrição nunca saía sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer essa entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida. Papai nunca soube dessa. Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de Bacana. Lá dentro com uma mão na massa e outra na lenha tínhamos: O Riba, O Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan. Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Eu era o “Pirulito Americano”. Foi o Nazareno “Pai da Mata” que me rotulou e pegou! Ê, molecagem. Intenso era o movimento na calçada da fábrica do português, e uma chaminé bufando fumaça preta poluía a Avenidinha Sul e, inquietava às vezes os animais ali amarrados. A espera era pouca. A noite na calçada quando livre, era parte de nosso lazer. Era a brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado.
Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia, muitas vezes, Seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte seu estabelecimento. Aos sábados pela tardinha, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para a garotada, preparando-os para a primeira comunhão, cujo evento ocorrera na Igreja dos Navegantes, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor em 1967. O Frei Memória havia feito a confissão, no Grupo Escolar Sales Campos com o aval do Monsenhor Hélio Campos. Desse modo escrevo com o sentimento renascente de cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos e ainda somos. Em 1972, seu augusto abandonou o lugar, entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão Recife, de Coco, bolachas, laticínios e afins. Matou o lugar. Seu Raul e Dona Madelú alugaram o prédio para uma indústria de calçados, mas não vingou. Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável, passou a ser um fracionado monstrengo com uma adaptação não planejada para residências. Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde nossas brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do Dr Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. São lembranças que com a mutilação topográfica, ficam apenas com os que cultuam o passado. Não é fácil passear pelo ontem garimpando fatos.
Assis Lima
(Radialista/jornalista)
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