"Somente quando crescemos é que o tempo nos responde, o quanto pesa a responsabilidade em ser um chefe de família. Nesta estação chuvosa (não digo invernosa) o que o organismo pede é que durmamos um pouco mais, e na meninice nem sequer abríamos os olhos para o salutar e fraterno “Bom dia com a benção de Deus” para aquele que cotidianamente sai entre os percalços da natureza, a fim de cumprir sua labuta obedecendo seu dever de consciência.
Em minha humilde casa de operário, só quem dormia nos quartos em separado, eram minhas quatro irmãs, porque o macharal era espalhado na casa com as redes nos compartimentos, e tendo que dividir um armador para dois punhos. Nove horas era o nosso café, mas mãe é mãe, e nos deixava à vontade. Ela já estava acordada desde cedo, para atender meu pai na saída.
Ainda sob à garoa, íamos para um típico lazer em dias de chuva. A areia tinha que está em volume e úmida, onde se lançava uma peça de arame grosso ou ferro trefilado ao chão fazendo riscados em que se encontravam os triângulos ou que picotasse um peixe que se desenhava. Exigia-se muita atenção e coordenação motora, senão o acidente era inevitável. Em alguma casa na Rua Maria Luíza, alguém era fã do Roberto Carlos, e as músicas eram: É Proibido Fumar, Brucutu, Minha História de Amor...
Hoje não se vê mais graça para essa brincadeira. O “Modernismo”, a televisão como escola de violência, as redes sociais desvirtua e muito o sentido, e com a inversão de valores as pessoas deixam de ser gente para ser contato ou coisa. Ninguém quer mais o olho no olho, corpo a corpo para o diálogo. A boa vizinhança foi acabada, e a televisão acabou dentro de casa. A brincadeira do ferrinho foi embora pro passado; todas as vezes que chove, minha mente salta para as castanholas da Avenidinha da via férrea que lá ainda estão. Os transeuntes pisam no local onde outrora foi palco de alegria e competição, em nossa dispensação da inocência.
Ao entardecer as arandelas da Conefor com sua triste e amarelada luz incandescente eram ligadas e íamos para o jantar. O que nos fazia ainda permanecer na rua era a tomada de banho nas bicas, mas quando começava os trovões e relâmpagos nos recolhíamos. O único espetáculo existente nessa hora era sonoro, quando alguma composição ferroviária passava circulando a Vila. Ocorria o gemido dos pesados rodeiros do trem sobre o trilho molhado, naquela curva de 90 graus. O silencio era predominante na vila, afinal, o operariado é antagônico e prefere seu asilo. As chuvas fortes nos atemorizavam, mas sabendo que meu pai já estava em casa, a tranquilidade nos adormecia."
Em que bairro era a Vila São José?
ResponderExcluirJacarecanga. Em frente o cemitério São João Batista e a Igreja dos Navegantes.
Excluirnota 10 brasilia df
ResponderExcluirA brincadeira do ferrinho, aqui na Aerolandia, chama-se "furachão". Desenhava um peixe no chão e dividia-o em varias partes, íamos conquistando as partes na sequência, quem atingisse o olho do peixe primeiro era o campeão.
ResponderExcluirMuito bom, Gilberto!
Excluirrsrs
eita que bateu uma saudade imensa do meu velho MONTESE........ mesmo morando em outro ESTADO, ainda lembro de minhas amizades de crianças e de nossos brinquedos,.....do peixe, das cedulas de carteira de cigarros, da bilas, das bolas de meia.... e por ai vai...
ResponderExcluirQue delícia essas recordações de infância!
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