segunda-feira, 10 de abril de 2017

O Ceará Durante a Terrível Seca de 1877


"... Na história das secas cearenses nunca houve uma migração tão intensa como na seca de 1877, nem tanto sofrimento, três anos de seca, quando centenas de milhares de pessoas foram se refugiar em lugares menos afetados, como Aracati, Baturité, ou Fortaleza. Na capital da província, famílias maltrapilhas e famintas iam de porta em porta pedindo água e comida, roupas, invadiam plantios das casas nos arredores, moças se prostituíam para sobreviver. No interior, unidos em grupos, flagelados saqueavam depósitos de mantimentos do governo. A população da província estava sendo dizimada pela fome e seus correlatos, como as epidemias. Pessoas se tornavam párias, esmoleres, aviltadas por uma miséria absoluta num lugar estranho, perdendo o mínimo de dignidade que antes possuíam em suas casinhas de palha e roçados e cabras e uma ou duas reses." Ana Miranda


Anos de seca no Aracati - Blog Histórias do Aracati

“A peste e a fome matam mais de quatrocentos por dia”, escreveu Rodolfo Teófilo, horrorizado com o que assistia; parado numa esquina, em pouco tempo viu passarem vinte cadáveres. “E as crianças que morrem nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela manhã os encarregados de sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco: e, ensacados os cadáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a um pau e conduzido para a sepultura”. As notícias incomodavam a Corte, o imperador chegou a dizer: 


"Vendo a última pedra da coroa, mas não deixarei mais nenhum cearense morrer de fome"- Imperador Dom Pedro II

O Governo Federal, hoje, tem e faz uso de diversos mecanismos para minorar a problemática da seca no Nordeste: Contratação de carros pipa, distribuição de renda em programas como o bolsa-família e a anistia de dívidas com a abertura de novas linhas de crédito, como as oferecidas pelo BNB - Banco do Nordeste do Brasil com agricultores nordestinos de até 95%, Lei 13340. Essas ações juntas tem matado a sede e a fome de milhões de nordestinos, como evitado o êxodo rural tão comum num passado bem recente. Muito diferente do cenário há 140 anos na terrível Seca de 1877. 
Em toda a sua história o Ceará sempre teve em Fortaleza e Sobral os dois principais vetores do desenvolvimento político e econômico, fato comprovado na década de 70 dos 1800 quando Sobral tinha 27.500 habitantes e a capital Fortaleza - 21.000. Veio a seca de 1877 que dizimou 57.700 almas, contingente maior que o das duas principais cidades juntas. 


Retirantes da seca de 1877 na praça da Estação. Livros os descaminhos de ferro do Brasil.

O Cenário em Fortaleza no Início de 1877:

"Primeiro trimestre e nenhum prenúncio de inverno,os estoques de alimentos da Província estavam praticamente esgotados e a fome se fez presente, com levas e mais levas de rurícolas esquálidos inchando a capital-Fortaleza". 

Cenário em Sobral:

"24 de março, um grupo de desordeiros armados de facas e cacetes (flagelados vindos dos quatro cantos da Zona Norte, à procura apenas de comida e água em Sobral), percorrem as ruas da cidade, pelas 20 horas, ameaçando assaltar a população..." 

Estação de Sobral

Construído por ordem do Imperador Pedro II, o Açude do Cedro, à exemplo da Estrada de Ferro Camocim-Sobral, foram iniciativas do monarca brasileiro visando diminuir os flagelos da seca para as populações do Sertão Central e Zona Norte da Província do Ceará. A Estrada de Ferro de Sobral foi um pedido pessoal da então maior autoridade em linha férrea do país, sobralense que viria ser em 1881 senador - Dr. João Ernesto Viriato de Medeiros e do também sobralense Dr. José Júlio de Albuquerque Barros (Presidente da Província do Ceará à partir de março de 1878); Concessão que caiu no 'colo' do Cel. Ernesto Deocleciano de Albuquerque. Com a Estrada de Ferro de Sobral o Porto de Camocim se tornara um 'porto privado' da elite sobralense, ligando a 'Terra de Dom José' ao Mundo (O Porto do Mucuripe fora inaugurado em 1951, 20 de outubro, quando aportou o Navio cargueiro Mormacred, da Cia. Moore Mac Curmack Line). 




Leia também:  Seca e Campos de Concentração em Fortaleza


Bibliografia.JÚNIOR,Santana.José Moreira da Rocha,o Desembargador Moreira.Fortaleza Nobre,2014. AMARAL,Alberto.Para a História de Sobral,Rio de Janeiro 1953. Jornal O Povo, 2013

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