sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Memórias de infância - O meu Jacarecanga

Meus irmãos e eu na nossa casa da Avenida Filomeno Gomes em 1987. Arquivo pessoal
As memórias de infância são aquelas doces recordações, de cheiros, de sabores e de lugares que nunca saem de nós, do que somos e do que fomos um dia...

Por já ter morado no  Jacarecanga e lá ter vivido os melhores momentos de minha meninice, muitas vezes me pego lembrando da minha época de inocência, época de andar descalça pela Avenida Filomeno Gomes, de tomar banho de chuva na pracinha do Liceu...


Meu irmão. Arquivo pessoal
Muitos moradores e ex-moradores, ou lembram-se da história do bairro ou ainda tentam salvar os resquícios dela, fazendo um verdadeiro mergulho no passado do bairro e da sua gente. Quem está apenas de passagem, precisa tentar ver, ao invés de apenas olhar. Só assim, prestando atenção nos detalhes, é que a vista alcança traços do passado elegante, quando o lugar era ocupado pela aristocracia cearense. Em outros tempos, o Jacarecanga abrigou palacetes e chácaras das famílias abastadas de Fortaleza. Os casarões eram erguidos em imitação às tendências arquitetônicas da França. Alguns desses imóveis foram restaurados, mas a maior parte deles, no entanto, encontram-se abandonados ou sobrevivendo à míngua. Isso sem esquecer dos inúmeros bangalôs que foram demolidos, verdadeiras joias que não tiveram seu valor reconhecido e ficaram apenas na memória de alguns, como uma foto que vai amarelando num álbum ou no fundo de um velho baú...


Meu pai e meu irmão em 1987 em frente a pracinha do Liceu. Arquivo pessoal
Tentarei descortinar para vocês, o MEU Jacarecanga, minhas memórias de menina e aquelas "memórias" que me apodero como se minhas fossem, mas são de apenas ouvir falar... Fecho os olhos e como se estivesse debruçada na janela da saudade, chego a sentir o frescor das abundantes e límpidas águas do rio que banha o bairro. Logo mais à frente, observo assustada a chegada avassaladora da urbanização, que modificou toda a paisagem, mas que também trouxe o progresso. Progresso esse que pelas mãos de um visionário*, muitos tiveram a oportunidade de trabalho e um lar para chamar de seu! 


Minha casa na Filomeno Gomes nº 50.
Minha irmã, eu e o meu irmão em 1984.
Pensar no MEU Jacarecanga é fechar os olhos e conseguir ver a pracinha do Liceu do jeitinho que ela era em meados dos anos 80, palco das minhas inúmeras quedas de bicicleta, várias vezes observadas pelo imponente Gustavo Barroso, que parecia me repreender sempre que chegava muito perto, visto que vários espinhos rodeavam seu monumento.
É lembrar as inúmeras castanholas que nós comíamos do chão mesmo, até dar dor de barriga. rsrs
A Praça do Liceu sempre teve muitas árvores e eu brinquei muito de casinha embaixo das suas copas frondosas.

Quando chegamos ao bairro, vindos da Água Fria, eu tinha uns quatro anos e meio. Assim que tive idade, minha mãe me matriculou no saudoso Colégio Juvenal Galeno. Fiquei lá do jardim de infância até a segunda série. 
Engraçado que quando eu era criança, o dia só amanhecia depois da sirene dos bombeiros, era o meu despertador diário e eu ficava deitada até ouvir que era hora de levantar pra vida! :D rsrs


Tristeza - O casarão sendo demolido nos anos 80. Arquivo Nirez
Feirinha da Praça do Liceu nos anos 80.
No bairro, sempre moramos na Avenida Filomeno Gomes, bem em frente à Praça Gustavo Barroso, vizinho ao Casarão de Meton Gadelha. Quando chovia muito, a Avenida alagava, virava uma piscina e a meninada aproveitava, a gente disputava a avenida com os carros que passavam jogando muita água nas calçadas, era uma farra!
Por falar no casarão, era o meu lugar preferido na hora das brincadeiras. No enorme quintal da casa de Meton de Alencar Gadelha, era onde meus irmãos e eu brincávamos de caça ao tesouro. Lá, além do “meu mundo verde” lotado de árvores frutíferas, também existia uma grande quadra de futebol de salão, que eu soube anos mais tarde, que havia sido construída pelo dono da firma Cisa (Caju Industrial S/A), quando esta funcionou no casarão. Tenho tantas lembranças daquele lugar que não consigo aceitar até hoje sua demolição. :(


Meus primos. 
O casarão foi construído para servir de residência ao empresário Meton de Alencar Gadelha, que era dono da Tipografia Gadelha e mantinha o Jornal do Comércio. O responsável pela construção foi o engenheiro Alberto Sá. A casa ficou pronta e foi inaugurada no dia 08 de dezembro de 1930.
Em 04 de setembro de 1945, Meton Gadelha vendeu a casa para o seu sócio José Vidal da Silva. E de 1977 até 1979, funcionou no casarão o escritório da CISA. Depois disso, a casa ficou abandonada. 
Quando fomos morar no bairro, ela já se encontrava em estado de abandono e ficou um bom tempo assim, até ser invadida por uma família de índios. Ainda bem que eles ficaram pouco tempo na casa, o que foi muito bom, pois com a presença deles, não tínhamos coragem de pular seu muro e ir brincar no quintal.


Reinauguração da Praça do Liceu após grande reforma na
década de 90.
Teve um tempo que passaram a realizar quadrilhas na quadra do casarão e era muito divertido, ficava lotado. Até os moradores do Ed. Jataí desciam pra assistir de perto toda aquela alegria junina!
Pela proximidade com o riacho Jacarecanga, o terreno era propício ao nascimento de diversas frutas e ao pé do muro, era normal encontrar pequenos abacaxis ou suculentos tomatinhos.

Em um fatídico dia do ano de 1985, a casa foi demolida. Ela havia sido vendida a uma grande construtora. Infelizmente, não demoliram só a casa, junto com ela, demoliram as lembranças de uma época, de um tempo feliz... O casarão já não era de Meton Gadelha, era nosso, era furtivamente nosso, era patrimônio do Jacarecanga!

Depois volto e conto um pouco mais sobre o MEU Jacarecanga. :)
E você, quais lembranças tem do seu bairro?


"Pedro Philomeno, Homem visionário, apesar de rígido com seus subalternos, construiu a Fábrica Gomes & Cia Ltda em concomitância com a Vila operária. A Usina São José na parte alta e a Vila na baixa, cujas conclusões datam de 1926. Agora, convém salientar de que originalmente a Vilazinha não era essa que lá está.
A Vila São José primitivamente era umas casas formando um L, ou seja, as Ruas Maria Estela e Isabel. Ficou muita vegetação nativa, com uma arborização impressionante. O lençol freático era cristalino e tinha um chafariz (o primeiro) onde em 1963 seu térreo se transformou no Bar do Seu Teles. Tão bom era o liquido, que recebeu o batismo de “Poço de São Jacó. Assis Lima

Bom, mas isso é assunto para outra postagem! ;)