terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Parangaba - Por Assis Lima


Estação de Porangaba em 1913. Arquivo José Capelo
 "A formação toponímica de Parangaba vem de Porangaba, que significa em tupi-guarani “Lindeza” referindo-se a sua bela lagoa.
Em 1607, a antiga aldeia indígena Potyguara foi transformada num lugarejo fundado pelos jesuítas com o nome de Missão Porangaba, pois, nesse período teve inicio a evangelização das populações indígenas, onde foi profícuo o ministério do padre Francisco Pinto, a quem os nativos chamavam Pai Pina ou Amanaiara “O Senhor das Chuvas”.
 

Porangaba em 1919.

Durante a passagem de Martins Soares Moreno pelo Siará Grande (1612-1631), o célebre índio Jacaúna (irmão de Camarão) que, havia fixado sua tribo nas margens da lagoa Porangaba protegeu e bastante, a Martins Soares, pois o tratou por  filho. Jacaúna foi mais carismático do que os jesuítas, pois os mesmos haviam dado uma parada em sua missão evangelizadora, reiniciando os trabalhos somente em 1694.

Quando o Marquês de Pombal aos 14 de setembro de 1758, por Ordem Régia, extinguiu a Companhia de Jesus, os portugueses com uma cartilha do bispado de Coimbra, nomearam o povoado da lagoa de “Arronches” e, aos 25 de outubro de 1759 passou a se chamar Vila Nova de Arronches quando a mesma passou à categoria de Vila e Freguesia.
Com uma distancia de légua e meia da capital, essa Vila Tinha seis quilômetros em quadrado e era habitada por índios, os quais tinham a faculdade de plantarem na serra de Maranguape. Arronches era habitada por 1.080 índios, 693 extra-naturais e tinha uma cadeia e a sua Casa de Câmara com intendente.


Parangaba - Em destaque a casa da Intendência
Uma separata da Revista do Instituto do Ceará publicada em 1898, diz que o Engº português Antônio José da Silva Paulet (ajudante de obras do governador Inácio de Sampaio) chegando a Fortaleza em 1812, fez um levantamento e constatou que a Vila estava quase em ruínas com apenas 13 índios, 12 extra-naturais e 25 casas dentre as quais só 13 em estado de habitação. O Dr. Paulet então sugeriu que a Vila se unisse à Fortaleza, coisa que, aconteceria em 1833 quando o Conselho de Governo extinguiu a mesma, anexando também dois anos após sua freguesia à Capital.
Em 1836, o então Presidente da Província cearense, Padre José Martiniano de Alencar (Senador Alencar) construiu a carroçável Estrada Fortaleza - Baturité e, depois relatórios deram conta de que em 1863, Arronches já era a feira do gado para consumo da Capital (daí a Avenida dos Expedicionários do Matadouro Modelo até Porangaba ter sido outrora chamada Estrada do gado).


Arronches foi o primeiro distrito a constar no traçado da Estrada de Ferro de Baturité, cujo primeiro trem em caráter experimental chegou, pasmem a coincidência, também aos 14 de setembro de 1873, depois de 115 da Ordem Régia de Portugal.
A circulação do primeiro trem data oficialmente de 30 de novembro de 1873. Esse foi o primeiro transporte de massas que o interior do Ceará ganhou. Ainda sobre o projeto de o trem passar por Porangaba, João Brígido, enamorado de Fortaleza, publicou no jornal Unitário 

 um artigo com o título: Traçado da Estrada. De onde extraí este pequeno trecho: 
“Muito em princípio a linha devia seguir um trajeto até Porangabuçu; daí noutra tangente até Arronches, mas o português Carneiro, muito influente na política do seu tempo, com terras por trás da lagoa de Arronches, obteve que se quebrasse a linha, para que esta inutilmente, chegando à extrema do seu sítio, fizesse a grande curva que apresenta cortando a Estrada empedrada para atingir a estação, com grande aumento de linha" (Edição de 20.02.1908). 

Chácara em Parangaba onde funcionou o Grupo Escolar de Porangaba.

O leitor agora pode compreender o porquê do trem que, partindo da Central ao sair da
Estação de Couto Fernandes, faz uma grande curva à esquerda para depois compensar após a passagem de nível do Bar Avião (marco inicial da Parangaba, cuja construção deveu-se a Antônio de Paula Lemos e foi inaugurado aos 23 de outubro de 1949). 


A referida Estrada empedrada a que se refere João Brígido, é a hoje Avenida João Pessoa.
A grande reforma ocorrida no pátio ferroviário de Porangaba foi concluída em 28 de janeiro de 1941, quando o interventor Menezes Pimentel e o diretor da Rede de Viação Cearense, Dr. Hugo Rocha, inauguraram o ramal ferroviário Porangaba - Mucuripe, desativando assim o ramal da Beira Mar


Inauguração do Ramal Ferroviário Parangaba – Mucuripe 1941.

O prédio da estação fora totalmente modificado, inclusive no layout original.
Com o advento da República, havia sido cogitada a mudança da nomenclatura Vila Arronches, porém o nome lusitano permaneceu até 1944, quando o Decreto-lei nº. 1114 de 01 de janeiro de 1943, voltou ao antigo nome do aldeamento fundado pelo desaparecido padre Pai Pina: Porangaba. Nome aliás que nunca deveria ter mudado, identificando sua lagoa. 


Estação da Parangaba
Os ingleses, por exemplo, proprietários da South American Railway Construction Company Limited, e que administraram a ferrovia cearense (1910-1915), tirou da estação o nome Arronches e colocou Porangaba. Coisas de europeus! 

Só em 01 de janeiro de 1945 a RVC mudaria o nome de Porangaba para Parangaba. Que descubram os entendidos o porquê da troca do “o” pelo “a”.
A ligação da capital para Arronches, afora o trem, era por uma estrada, com
cerca de 7.200 m de pedras toscas, de onde se fazia o percurso de carroças ou a pé. Em 1929, esta única artéria foi reconstruída e, coberta de concreto passando a se chamar avenida Washington Luiz, que era o então presidente do Brasil.


Antiga Estrada do Arronches que em 1930 foi transformada na Avenida João Pessoa.
Ocorrendo a revolução de 1930, as placas da nova avenida foram arrancadas por populares,
passando a partir de então a denominar-se avenida João Pessoa, como uma homenagem ao Governador da Paraíba e que, como integrante da chapa perdedora de Getúlio Vargas, foi assassinado e o crime considerado de conotação política.


Porongaba - Primeira estação de Fortaleza em 1911.

Até 1976, essa avenida era conhecida como “Avenida da Morte”, quando tinha duas mãos, inclusive até para o tráfego de ônibus elétricos, já extintos. No governo do Cel. Adauto Bezerra foi construída e inaugurada a atual Avenida José Bastos, e assim melhorou e muito o acesso, não só para parangaba, mas para bairros adjacentes.
As provas de que Parangaba sempre fora privilegiada pelo progresso, constata-se pelas instalações de grandes complexos, já desativados, tais como: Fábrica Santa Cecília, Usina Everest, Saronord


Hoje esse populoso bairro é um cartão postal de Fortaleza. É uma mini-cidade com supermercados, indústrias, rede bancária, cartório, praças, hospitais, dois terminais de ônibus no sistema integrado e etc.
Parangaba que, gentilmente cede passagem aos trens da Companhia Ferroviária do Nordeste - CFN é assistida por suburbanos do Metrofor a cada meia hora.
E a lagoa? Continua bela! É no seu entorno que se faz Cooper e observamos o desenho do lindo pôr-do-sol."


Assis Lima

Continua...
 
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Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio




3 comentários:

  1. Boa tarde, você teria mais informações sobre a edificação que funcionou o grupo escolar de Porangaba? Fontes? Sou estudante de História e gostaria de compreender melhor a história dessa propriedade.

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  2. Gostaria de saber se tem foto do colégio Brasil que ficava enfrente a praça da parangaba no fim dos anos de 1930 ?

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  3. Leila, boa tarde, volto a comentar aqui, movido pelo seu "porquê da troca do o pelo a na palavra Porongaba". Sendo eu um morador bem antigo desta cidade, e principalmente da região enfocada nesta página, ouvi dos mais antigos da minha família que a troca foi uma querela promovida por um vigário que achava OBCENO o nome Porangaba. Conheci e conheço muita gente que não adotou a nova grafia. Infelizmente a Prefeitura incorporou e sacramentou esta sandice. Parangaba, creio eu, etimologicamente não se sustenta.

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