Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Maraponga: paisagens do ontem e do hoje (Parte II)
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quinta-feira, 6 de junho de 2019

Maraponga: paisagens do ontem e do hoje (Parte II)

Leia a primeira parte AQUI


Pelas avenidas da Maraponga, carros de passeio, ônibus, caminhões, motocicletas e bicicletas disputam espaço em suas pistas, desenvolvendo forte aceleração, quase numa emulação com o tempo que, célere em seu andamento, vai afastando da memória das pessoas as referências históricas do lugar onde moram...

Uma dessas avenidas, a Godofredo Maciel¹, passa a fazer conhecido o bairro, na medida em que principia a abrigar órgãos estaduais e a expressar forte vocação para o comércio. Com a inauguração, no dia 03 de março de 1975, do Departamento Estadual do Trânsito - Detran, obra construída pela Delta Engenharia, a população condutora de veículos da cidade incorporou esse endereço a seu cotidiano, e a imagem do bairro ficou por longo período cristalizada em torno de questões relativas à legislação de trânsito.
Mais tarde, em 30 de abril de 2002, o Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes do Ceará DERT – muda-se igualmente para a avenida, localizando-se vizinho ao Detran.


Lagoa da Maraponga na edição de 23 de março de 1957 da Revista O Cruzeiro. Acervo William Beuttenmuller

E, aqui, cabem algumas perguntas: será que os moradores desses logradouros públicos que levam os nomes dessas pessoas têm conhecimento de dados de suas biografias? Ou são “esquecidos e ignorados”, como dizia o poeta Mário de Andrade? E, quanto ao poder público, que iniciativas vêm tomando no sentido de melhor situar os habitantes do local quanto à sua própria geografia e história? Teria a escola esse tipo de preocupação?

 Foto hoje (quase o mesmo ângulo da primeira foto da Revista O Cruzeiro).

Além dos ilustres homenageados, é curiosa na nomenclatura das ruas de Maraponga a existência de muitos endereços que levam nomes de países, tais como Albânia, Bélgica, França, Grécia, Itália, Nigéria, Noruega, País de Gales, Luxemburgo, entre outros, o que faz da topografia do lugar um traçado do mapa-múndi em diminutíssima escala.
Todos esses elementos são pequenos tijolos na edificação de uma identidade sobre o local. Hoje, contudo, o nome Maraponga, bem mais que uma semântica ligada à natureza, como quer fazer crer sua etimologia, ou a qualquer outro dos aspectos aqui mencionados, repercute no imaginário dos moradores locais, dos de outros bairros de Fortaleza e até para além dos limites geográficos que circunscrevem o Ceará, como um centro produtor de moda. É lá que se encontra o Maraponga Mart Moda, o maior shopping de confecções atacadistas do Norte e Nordeste do Brasil, localizado na Rua Francisco Glicério, 290. Na realidade, trata-se de um verdadeiro templo da moda, uma construção de fachada à la castelo, em que o brique dos tijolos aparentes é forrado em parte de suas paredes pelo trançado e pela alegria dos tons rosa e carmim das bougainvilles, que ali semelham maços de hera.


Em baixo à esquerda, Estação de trem do Mondubim.

Ligado à história da moda no Ceará, o espaço fashionista repercute as origens atávicas do povo cearense, vinculadas à cultura do beneficiamento do algodão. A delicadeza, a agilidade e a criatividade dos trabalhos de nossas “muiés rendeiras”, e de toda uma gama de belos desenhos nascidos das mãos de fadas de quem paciente tece o trabalho artesanal, parecem fazer morada no inconsciente coletivo do povo cearense. O Estado se destaca como polo têxtil do Brasil, e sua história na moda conta mais de 120 anos, com a particularidade de que o destaque no setor abarca toda a cadeia de produção, desde o consumo de algodão até a produção do vestuário, fato que lhe proporciona importante lugar no cenário nacional como um centro dinâmico da moda.


O empreendimento foi lançado em 1990, pelo casal Mana e Manoel Holanda, e atualmente abriga megaeventos, como o Festival da Moda de Fortaleza e o Ceará Summer Fashion. O Festival da Moda de Fortaleza, que teve início no ano de 1981, é um evento tradicional e pioneiro em investimentos e lançamentos de moda do estado do Ceará, buscando levar as novas tendências da moda cearense para os lojistas, revendedores e demais interessados no que acontece nesse cenário particular na região.
O outro evento tradicional promovido pelo Maraponga Mart Moda, o Ceará Summer Fashion, que representa uma espécie de avant-première das tendências do verão, é direcionado para a produção cearense e voltado ao público revendedor, que vê desfilarem as coleções das marcas presentes no shopping.



Além dos desfiles, os convidados podem ainda desfrutar de palestras ministradas por profissionais, as quais trazem aos participantes muita informação sobre o instigante e bouleversante mundo da criação de vestuário, estimulando os clientes e potencializando o poder de vendas dos produtos aqui manufaturados. Cerca de duas mil pessoas assistem ao desfile de modelos, cuidadosamente preparadas por profissionais da beleza: estilistas, maquiadores, cabeleireiros, que tornam mais atraente a exibição da moda praia, e de outros tipos de vestuário, fazendo do Ceará Summer Fashion, uma vitrine pontilhada de holofotes, que carreia visibilidade para as marcas da região.
Foto antiga:  O Cruzeiro  de 16 de maio de 1931 
A economia do Estado também se beneficia com a comercialização de nossos produtos no setor de vestuário, tanto do ponto de vista das vendas no mercado nacional quanto no internacional. Como produtor de moda em escala industrial, a tendência do negócio é a expansão de suas atividades no Ceará, sendo o Maraponga Mart Moda um dos eixos fundamentais para a concretização dessas metas. Outros elementos se incorporam à cadeia do setor fashion, afastando-o cada vez mais de uma mentalidade calcada no amadorismo. Nesse sentido, pode-se falar da implantação do curso de Design e Moda, da Universidade Federal do Ceará UFC, reconhecido pelo MEC, desde 2002, ou o Curso de Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos, da UECE, que já rendeu, como fruto específico, um trabalho acadêmico intitulado: “Turismo de Moda: O Maraponga Mart Moda em Fortaleza”, defendido em 2005.




Se a Maraponga do presente tem na moda sua mais perfeita tradução, nem sempre foi assim. Muitos moradores lastimam estarem hoje em pleno caos urbano, e os mais jovens mal podem crer que são descendentes de pessoas que viviam em um oásis, nas cercanias de uma cidade chamada Fortaleza.

¹A Avenida Godofredo Maciel prossegue com o nome de CE-060, passando por Pacatuba, Redenção, Aracoiaba, com entrada para Baturité e serras, indo até Quixadá e chegando até ao Cariri.



Fonte: Maraponga/Fernanda Coutinho - Fortaleza: Secultfor, 2014. (Coleção Pajeú)


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