segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Estação Pioneira

Forte ao Lado da 10ª. Região Militar.
No terreno onde seria estabelecida a cidade de Fortaleza, no século XVI, ainda existia domínio indígena até que os holandeses conseguiram em meio a massacres se estabelecerem. Matias Beck (comandante Flamengo) ergueu o Forte de Shoonemboorch, com a finalidade de se defender dos nativos aliados aos portugueses, às margens do Riacho Pajeú no monte Marajaituba (hoje 10ª Região Militar). Pois bem, ao oeste do Forte, no mesmo nível, estava o Morro Croatá, que serviu de base militar no século XVII, e que posteriormente, em 1859, por ordem da Corte fora construído um observatório astronômico. 



Com o apelido de “Comissão Borboletas”, esses cientistas enviados pelo Imperador D. Pedro II, tinham como missão estudar a causa das constantes secas. Ao lado desse observatório ficava o Campo da Amélia, que inaugurado em 29 de junho de 1830, homenageou a II Imperatriz do Brasil, D. Amélia Leuchtthemberg. Foram plantados neste campo vários juazeiros e, um bonito gramado divido em quadras. Conta-se que foi de onde surgiu a redundante frase: “Não pise na grama”


Registro Mais Antigo da Estação Ferroviária Central. 1880. Sua Matriz estava Bastante Danificada. Vemos Quintais de residências pela antiga Rua da Cadeia, atual General Sampaio e parte do Campo da Amélia.

Registro antigo da Estrada de Ferro de Baturité em 1879.
Trata-se da Casa de Locomoção que no inicio do Século XX
transformou-se na Residência do Fiscal. Em 1922, após
reforma abrigaria a Diretoria da Estrada de Ferro.
O assentamento da pedra fundamental para o início da construção da Estação Central ocorreu no final da tarde de 20 de janeiro de 1872, estando presente o Comendador João Wilkens de Matos, Presidente da Província, e também o seu antecessor, Conselheiro Barão de Taquari, Corpo Legislativo, autoridades civis e militares, funcionários públicos, Clero, Nobreza e Populares. O engenheiro Jerônimo Luis Ribeiro, nomeado pela diretoria da Estrada de Ferro de Baturité, foi contratado por empreitada para os serviços do trecho Fortaleza a Pacatuba, incluindo um ramal que, saindo da Estação iria para o Porto e a Alfândega (Praia de Iracema). Como reforço o Dr. Luis Ribeiro indicou o também engenheiro inglês Edmund Compton, que estava trabalhando no Maranhão para também tecnicamente assistir o início das obras. 


Intenso Movimento de Carroças na Estação Central. 1902. Os Automóveis só apareceriam a partir de 1909.

O terreno total da Empresa era de 2.238 m² e desta área 91 m² destinou-se para a edificação do vasto salão para atendimento aos passageiros. No beco onde seria a atual Avenida Tristão Gonçalves (Centro de Fortaleza) a Câmara de Vereadores, tinha autorizado as obras de alargamento em 40 palmos, destinando tal serviço à passagem da Via Férrea, cuja estaca havia sido batida em 1871. Com a abertura da estrada foram aparecendo casebres e consequentemente passou na época a chamar-se Rua do Trilho de Ferro. A colocação da Empresa em terreno no Morro do Croatá, foi como mandou a tradição “Num ponto que também fosse vista para o mar, como era o forte, o hospital da misericórdia e a cadeia pública. Assim a estação obrigaria o navegante bem de longe aproximar-se com respeito”. (Compilado de João Nogueira, do livro Fortaleza Velha, 1954). 
As primeiras Locomotivas
Esse é o primitivo Ramal da Marítima. O Porto do Ceará ainda era no Poço das Dragas. Em 1906, seria inaugurada a Ponte metálica. Os navios só começaram a fundear na Enseada do Mucuripe a partir de 1948.
As primeiras locomotivas que chegaram a Fortaleza vieram no Vapor Jerfalcon e foram desembarcadas no trapiche do Poço das Dragas (antigo Porto de Fortaleza), aos 13 de março de 1873. Foram duas unidades, fabricadas pela The Hunslet Engine Co. Ltd, cuja sede era na desenvolvida cidade de Leeds, na Inglaterra. O prédio da estação ainda estava em obras quando recebeu as máquinas à vapor que, sendo arrastadas por tração animal com a afixação de trilhos portáteis, fora transformado num show de apresentação, ao desfilarem pelas ruas da Praia (Pessoa Anta), da Ponte (Alberto Nepomuceno), Travessa das Flores (Castro e Silva) até a Praça da Estação


Chafariz na Lagoinha, posto de abastecimento de locomotivas em 1892. Ao longe debaixo do Cajueiro na beira da linha era a “Parada Chico Manuel”.

O diretor administrativo da Estrada de Ferro de Baturité, o aracatiense Dr. Liberato de Castro Carreira contratou José da Rocha e Silva, que aqui chegou em abril de 1873. Esse engenheiro mecânico formado no Arsenal de Marinha da Corte, ajustou o equipamento e, aos 3 de agosto do mesmo 73, com a Locomotiva “A Fortaleza” rodou cinco vezes, da Estação Central até a Parada Chico Manoel¹, no cruzamento com a rua das Trincheiras (Atual Liberato Barroso). O trecho entre a Capital Fortaleza e o distrito de Arronches (Parangaba) teve prosseguimento em sua construção e prolongamento. Os serviços ficaram prontos aos 14 de setembro de 1873, quando com restrições uma locomotiva com alguns vagões de serviço pela primeira vez chegaram a Parangaba. 


Foto Colhida do Telhado do Chalé onde vemos as velhas Oficinas desativadas. Operários ainda trabalhando no desmonte em 1929. A Praia Formosa ainda era distante...


Observemos essa imagem colhida na mesma época no início da Rua General Sampaio (Antiga Rua da Cadeia), onde contemplamos os trilhos do Ramal da Alfândega.
Inauguração da Estação
No dia 30 de novembro de 1873, foi grande a expectativa, quando o maquinista José da Rocha e Silva e o foguista Henrique Pedro estacionaram a primeira composição no pátio da Estação Fortaleza, transpirando ainda odor de tinta fresca. Os discursos foram eloquentes e com aplausos os mais efusivos, cortaram a fita simbólica. As instalações foram visitadas e, com todas as honrarias a Diretoria da EFB foi cumprimentada pelo paraibano, mas que já era Presidente de nossa Província, Sr Francisco Teixeira Sá e sua comitiva. 
Após uma revista de curiosidade na máquina à vapor, todos se dirigiram aos carros de passageiros . A locomotiva Hunslet nº 1 que havia recebido o nome de “A Fortaleza”, já bem alimentada bufando pelas válvulas, esperou o apoteótico momento da partida. Os três carros de passageiros ficaram lotados com autoridades, convidados especiais, diretoria e funcionários da Estrada de Ferro. Foram dispensados da viagem inaugural, somente os servidores estritamente necessários para a operação e segurança do trecho. A movimentação fora intensa. O Sr. Francisco Cândido Lins, agente da Estação Central em contagem regressiva, não tirou o olho do relógio; O Eloy Alves Ribeiro verificou a acomodação dos passageiros, enquanto o Marcelino Leite deu a última olhada nos rodeiros e sistemas de freios.


Saída da Estação Central. Início da Rua Trilho de Ferro (atual Tristão Gonçalves). Registro de 1913.
Enfim quando o dia declinou exatamente às 17 h, o sino tocou; O Mestre Rocha puxou uma corrente; A locomotiva silvou; A tração da máquina esticou os engates; Os carros se movimentaram, e lá se foi o trem dobrando na Rua Trilho de Ferro em rumo ao Arronches. O Ceará entrou nos trilhos. Fortaleza passou a contar com seu primeiro transporte de massas. A velocidade do comboio era de 26 quilômetros por hora, podendo em tangentes atingir a 32.


Por detrás da casinha em um nível mais baixo passava a linha férrea. Capela de S. Benedito (Hoje Clarindo de Queiroz). Foto de 1906.

Para os passageiros percorrerem o percurso (Central - Arronches), 9.1 Km, o preço era de apenas 1$000(mil réis), equivalente a R$1,00 (Um real), isso ida e volta; seriam 50 centavos por viagem. O trem no trajeto primitivo obedecia as seguintes paradas: Chico Manuel (Liberato Barroso); Capela São Benedito (Clarindo de Queiroz); Sítio Amaral (13 de Maio /Início da José Bastos); Damas ( Couto Fernandes) e Arronches.


¹Ficou conhecida como Parada Chico Manuel, pois ficava por trás da Casa do Coronel Francisco Manuel Alves. Tratava-se de uns batentes de madeira que serviam de subida e descida de passageiros dos trens.



Crédito: O Ceará que entrou nos trilhos - Francisco de Assis Silva de Lima (2015)

sábado, 10 de agosto de 2019

Memórias da Itapuca Villa...

Villa Itapuca   
"Casa de Alfredo Salgado. Era assim que nós jovens e crianças conhecíamos aquele "sobrado" monumental situado na rua Guilherme Rocha, entre Princesa Isabel e Tereza Cristina.
 Aquele casarão sempre encantou meus olhos e despertou minha curiosidade em conhecê-lo em todos os seus detalhes, principalmente ao ouvir de minha madrinha que ali era o ponto de encontro aos domingos, de seus amigos de juventude para passearem apreciando as belezas de seu jardim.
Certo dia, quando eu estudava no Colégio Justiniano de Serpa ( 1971 ) resolvemos eu e uma amiga, gazearmos a aula e irmos conhecer de perto a tal "casa", já que ela também tinha o mesmo fascínio pela mesma. Ao chegarmos em frente, ficamos envolvidas por uma indescritível emoção, vendo aquelas grades e portões monumentais, batemos palmas, chamando alguém. A casa estava rodeada por um matagal quase de nossa altura, mostrando apenas um caminho acimentado até sua varanda. No fundo do quintal, do lado direito de onde estávamos, havia um casebre lá no cantinho do muro, de onde saiu um morador ao nosso encontro para saber o que queríamos.
 Explicamos, ele relutou um pouco mas diante de nossa insistência, permitiu nosso acesso, aconselhando cautela!

É indescritível a emoção que sentíamos a cada passo em que nos aproximávamos daquele sonho prestes a ser realizado. Na parte térrea não logramos muito êxito pois as portas (alturas imensas para nós) estavam todas trancadas. Foi decepcionante, porém, ao chegarmos no andar de cima onde o piso e as grades eram todos em madeira, o homem falou que seria muito perigoso por causa do desgaste do tempo, mas como jovem não possui noção de perigo, insistimos e ele cedeu, aconselhando cautela. A cada passo que dávamos naquele piso, a madeira rangia. Firmávamos o pé para ver se o piso aguentava nosso peso e seguíamos em frente. 

Chegamos a uma porta na lateral direita da casa, onde na mesma, havia uma brecha! Olhamos através dessa brecha  e para mim foi uma das visões que jamais esqueci: um salão imenso, com várias colunas revestidas de mármore e no encontro entre o forro e a parede, havia uma espécie de sanca decorada com rosas e flores em alto relevo, bem coloridas. Foi algo que vi e até hoje ao lembrar, fico encantada, imaginando as reuniões e festas que aconteciam naquele ambiente. Queríamos explorar mais, tudo ao redor, mas o caseiro não nos permitiu, alegando o perigo que corríamos. Mesmo com o pouco que vimos, voltamos felizes para casa.
Certo dia, já adulta, ao passar no ônibus em frente a esse "meu monumento", chorei, ao ver tratores fazendo sua demolição!"

                                                                 Maria de Fátima Aguiar


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