Em 9 de maio de 1933, nascia o Ferroviário Atlético Clube, fundado por trabalhadores da Rede de Viação Cearense (RVC). Considerado o clube de maior expressão esportiva de raízes operárias do Brasil, o Ferrim, assim tratado por seus apaixonados torcedores, é símbolo da democratização do futebol nacional e precursor do futebol profissional do Ceará.
o clube sempre foi ligado às camadas mais populares do estado, sendo por décadas considerado um "time do povo", levando multidões aos estádios.
Hidroporto da Barra do Ceará |
À época, Fortaleza restringia-se praticamente ao seu centro histórico. Naquela área, ao longo dos anos, concentrou-se toda uma população humilde, na maioria fugida da seca, fomes e latifúndios do sertão. Não foi coincidência que, no intuito de servir-se da mão-de-obra barata, representada por essa população carente, nesse local foram instaladas várias indústrias.
Com muitas atividades para executar, a diretoria da RVC determinou a realização de horas extras noturnas, das 18h às 20h, nas citadas oficinas do Urubu, visando a recuperação de mais locomotivas, carros e vagões. Ao final do expediente normal, às 16h25min, os operários mais jovens, sobretudo aqueles que moravam longe, aproveitavam o “intervalo forçado” para jogarem o foot-ball, como chamavam. Assim, se divertiam enquanto aguardavam o tempo passar. Cotizaram o dinheiro para a compra de uma bola e, armados de pás e enxadas, limparam um terreno vazio dentro das oficinas, tirando matos, arrancando tocos e nivelando-o. Para completar a construção do campo, confeccionaram traves a partir de tubos retirados de caldeiras de velhas locomotivas.
1938 - 1º REGISTRO FOTOGRÁFICO DO FERROVIÁRIO
Em pé: José Severiano Almeida (diretor), Oscar Carioca, Procópio, Adelzirio, Dudu, Bitonho, Zeca Pinto (atacantes), Valdemar Caracas (técnico) e Alberto Gaspar de Oliveira (diretor); Agachados: Baiano, Zimba, Boinha (médios), Zé Felix e Popó (zagueiros); Sentados: Gumercindo e Puxa-faca (goleiros).
Crédito: Site oficial do Ferroviário
Daí em diante, no finalzinho da tarde, tornou-se sagrado o “racha” entre os operários nas oficinas do Urubu. Para maior deleite, improvisaram até dois times, Matapasto e Jurubeba, nomes de ervas, uma homenagem irônica dos proletários aos matos que havia no terreno e que deram tanto trabalho na preparação do campo. Com o sucesso das “peladas” veio a feliz ideia de organizar “algo maior”. Em reunião na casa do mecânico José Roque (o “Gordo”) os boleiros da RVC decidiram unir Matapasto e Jurubeba para formar um time de fato, capaz de jogar pela periferia nos finais de semana e até participar de campeonatos suburbanos. Dentro do óbvio, a equipe recebeu o nome de Ferroviário – apenas Ferroviário, por pouco não sendo chamado também de “Ferrocarril”, a exemplo de outros clubes sul-americanos oriundos de companhias férreas. Escolheu-se ainda um uniforme com listas verticais nas cores vermelha, preta e branca.
Foto de 1945 - Crédito: Site Oficial
Foto de 1946 - Crédito: Site Oficial
As “movimentações esportivas operárias” não passaram despercebidas a Valdemar Cabral Caracas, então influente chefe do escritório de manutenção da RVC e igualmente apaixonado por futebol. Nascido na cidade de Pacoti, interior serrano do Ceará, em 9 de novembro de 1907, deu vida oficial à ideia e destacou-se, portanto, como o principal fundador do, hoje, Ferroviário Atlético Clube. Foi também o primeiro comentarista de futebol do estado, trabalhando na Ceará Rádio Clube, pioneira da radiofusão cearense. Valdemar Caracas faleceu no dia 14 de janeiro de 2013, aos 105 anos de idade.
Foto de 1946 - Crédito: Site Oficial
Foto de 1947 - Crédito: Site Oficial
Foto de 1950 - Crédito: Botões para sempre
Chinês faz o primeiro Gol do Estádio Presidente Vargas em 14 de setembro de 1941 |
Mascote |
A galeria coral já contabiliza mais de 100 conquistas oficiais, entre campeonatos, copas, torneios e taças. São 9 títulos do Campeonato Cearense, incluindo um invicto em 1968 e o bi de 94/95, e 22 vices. No Nordeste, foi também vice em 1971. Foi um dos primeiros clubes de futebol do estado do Ceará a disputar uma competição internacional fora do território brasileiro, em 2007, fazendo a final da Polar Cup, no Caribe, contra o FC Utrecht, da Holanda. Com 28 participações no Campeonato Brasileiro, o Ferroviário já esteve por 6 anos seguidos disputando a Série A.
Interessante salientar que o Ferroviário já disputou competições de Futsal, Basquetebol, Handebol, Futebol de Mesa, Hóquei sobre patins, Atletismo, Ciclismo e Tênis de Mesa. No futebol, principal esporte em que atua, foi o primeiro time da capital cearense a ter sido campeão brasileiro em uma divisão quando ganhou a Série D de 2018.
1969 - Ferroviário. A partir da esquerda (em pé): Ribeiro, Luís Paes, George, Wilson Cruz, Roberto e Coca-Cola. Na mesma ordem (agachados): Fernando Consul, Uriel, Alcir, Edmar e Léo. Detalhes: George também brilhou Ceará e na Seleção Cearense. Edmar foi um dos maiores campeões do futebol cearense. Ribeiro foi campeão cearense pelo América em 1966. (Colaboração de Elcias Ferreira). Crédito: Botões para sempre
Interessante salientar que o Ferroviário já disputou competições de Futsal, Basquetebol, Handebol, Futebol de Mesa, Hóquei sobre patins, Atletismo, Ciclismo e Tênis de Mesa. No futebol, principal esporte em que atua, foi o primeiro time da capital cearense a ter sido campeão brasileiro em uma divisão quando ganhou a Série D de 2018.
Década de 1970. Ferroviário Atlético Clube. A partir da esquerda (em pé): Breno, Luís Paes, Simplício, Gomes e Louro. Na mesma ordem (agachados): Mano, Paulo Veloso, Facó, Edmar e Fernando Cônsul. (Acervo de Elcias Ferreira). Crédito: Botões para sempre
Alcunhas do Ferroviário:
- Tubarão da Barra
- Peixe
- Ferrão
- Ferrim
- Erreveceano
- Time do povo
- Time proletário
Foto de 1965 - Crédito: Botões para sempre
Foto de 1970 - Crédito: Botões para sempre
Com a palavra, o fundador:
Vou falar sobre o Ferroviário, precisamente do Ferroviário Atlético Clube. Nascido em 1933, fruto da junção das equipes “Matapasto” e “Jurubeba”, recebeu, na pia batismal, o nome de Ferroviário Football Clube, mas, na confirmação da crisma, fiz substituir o Football por Atlético.
Antes que me perguntem, vou dar, para vocês, esta explicação primordial. Iniciava-se o ano de 1933, quando a direção da Rede de Viação Cearense autorizou a execução de serviços extraordinários nas oficinas do Urubu, para a reparação de locomotivas, carros e vagões, durante um expediente noturno, que começava às 18 e terminava às 20 horas. Como o expediente normal expirava às 16h25min, os operários mais jovens que residiam longe dali (Barro Vermelho, Soure, Otávio Bonfim, Quilômetro 8, Parangaba e Mondubim) resolveram aproveitar a hora de folga para a prática de futebol; na preparação do campo, a relva retirada do espaço a ele destinado, era constituída de mata-pasto e jurubeba.
Foto de 1979 - Crédito: Botões para sempre
A verve operária, que era fértil, escolheu, então, estas plantas medicinais para denominação das duas onzenas que se defrontavam todas as tardes, no campo improvisado. As traves das metas eram roliças, confeccionadas que foram com tubos inservíveis, retirados de caldeiras das “Marias-fumaça”. Com aquele “timezinho” cognominado apenas de Ferroviário, eles, os operários-atletas, ou melhor, pebolistas, foram aos subúrbios onde realizaram partidas amistosas, com real proveito para a harmonia do conjunto, tudo sem qualquer interferência da minha parte.
Foi, então, que deliberei fazer dele gente, como se diz na gíria. Reuni operários, meus companheiros, promovi sessão com livro para a lavratura de atas, fiz um retrospecto da agremiação que surgia, completei o nome desta e disse-lhes da importância daquela reunião, como fator auspicioso para projeção da classe ferroviária. Era pretensão minha que tal ocorresse a 9 de novembro, quando eu completaria 26 anos, mas o entusiasmo exigiu a antecipação e não perdi tempo, marcando o dia para 9 de maio, exatamente 6 meses antes de 9 de novembro. Parti, então para a nova missão, aproveitando as horas disponíveis da minha atividade funcional.
Foto de 1988 - Crédito: Botões para sempre
Fui tudo no Ferroviário, menos presidente, porque nunca quis sê-lo. Fui pai, mãe, babá e, sobretudo, seu educador, disciplinando-o, pois a equipe suburbana era useira e vezeira em tomar o apito do árbitro, quando a decisão deste não lhe fosse agradável. Acabei com essa prática danosa ao seu comportamento, o time se fez clube, cresceu e está aí, vencendo os tropeços e dando alegrias a todos nós, seus torcedores.
Valdemar Caracas - 1994
Créditos: Site Oficial, Wikipédia e Botões para sempre.
Excelente matéria ao resgatar a história do "tubarão da barra"!
ResponderExcluirSra. Leila. Desculpe-me pelas repetições de mensagens. Como imaginei que as mensagens não estavam seguindo por algum motivo, houve esse equívoco. Se puder excluir as mais antigas e manter a mais recente, agradeço.
ResponderExcluirEu que agradeço os comentários!
ExcluirForte abraço
Linda matéria, sou de 2003 mas tive o prazer de conhecer a história toda por meu avô ter sido presidente, quando era pequena ia as vezes ao clube, e tive a coincidência de nascer no mesmo dia do time, 09 de maio🇾🇪
ResponderExcluirO alcir da foto de 1969 conheci ele na Venezuela, era da base do Vasco da gama logo do ferroviário foi jogar e fazer vida na Venezuela
ResponderExcluirA história mais linda dos clubes de futebol cearenses. Ferroviário, orgulho da classe operária!
ResponderExcluirComecei a torcer pelo Ferrim desde a década de 60; hoje com 65 anos ainda trago na memória as grandes conquistas do tubarão da barra que na realidade tinha como mascote a cobra coral, a exemplo do Sta. Cruz Pernambucano; recordo-me das entradas triunfantes do time no gramado ao som da buzina frenética a gás e do foguetório da torcida que conseguia encher boa parte do velho PV, brigando, no bom sentido, palmo a palmo, com as torcidas do vozão e do Leão; bons tempos que não sei se ainda vão voltar...
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