Segundo Sebastião Ponte, “No que concerne a Fortaleza essa pretensão remodeladora desenvolve-se a partir de 1860, impulsionada pelo aumento da exportação algodoeira verificada à época” (PONTE, 2007, p.163).
Rua Conde D'Eu nos anos 20. |
Fortaleza era no final do século 19, o principal centro urbano do Ceará e um dos oito primeiros do Brasil.
A partir de então Fortaleza entra num processo de reforma urbanística e de “civilização”, e civilização naquele momento representava modernidade e progresso como afirma o historiador Paulino Nogueira, Fortaleza mais parecia uma “fênix renascida, cheia de mocidade e encantos” (NOGUEIRA, apud PONTE, 2007, p.45), pois agora tinha:
Passeio Público, praças arborizadas, templos majestosos, edifícios elegantes, tantas e tantas ruas alinhadas, calçamento, iluminação a gás, linhas de bondes, carros de aluguel, hotéis, quiosques, clubes prado, corrida de touros, a cavalo e à bicicleta, quermesses bazar e demais novidades. (NOGUEIRA, apud, PONTE, 2010, p.45).
Depois das reformas urbanas, a cidade agora estava irreconhecível, diferente do que se conhecia há pelo menos 50 anos atrás. Fortaleza antes era uma “cidade muito pequena,... de ruas tortuosas e casa ordinárias, apresentava um aspecto desagradável ao passageiro que a via...” (KIDDER, apud CORDEIRO, 2007, p.136).
Segundo Kidder, agora a cidade tinha um "progresso espantoso, já [era] uma grande e bela cidade, tinha magníficos edifícios, quartel militar, casa de caridade uma grande cadeia e uma catedral magnifica” (KIDDER apud CORDEIRO, 2007, p.136).
Sebastião Ponte afirmou em se livro Fortaleza Belle Époque que “tais reformas visavam alinhar os centros urbanos locais aos padrões de civilização e progresso disseminados pelas metrópoles europeias” (PONTE, 2010, p.17).
Seguindo ainda esta afirmativa Ponte revela ainda que:
Em Fortaleza, o movimento de remodelação urbana impulsionou-se com o Mercado de Ferro (1897), o “arfomoseamento” das principais praças (1902-3) e a construção do requintado Theatro José de Alencar (1910). A onda remodeladora acabou por conferir à zona central da cidade um harmonioso conjunto urbano, complementado com a edificação de mansões, prédios públicos e dois grandes cinemas – em sua maioria, construções marcadas pelo ecletismo arquitetônico, estilo então em voga no País (PONTE, 2010, p. 20).
Teatro José de Alencar
Para dá inicio a essas novas reformas urbanas em 1875, o arquiteto Adolfo Hebster é contratado para desenhar a nova planta da cidade de Fortaleza seguindo o modelo em traçado xadrez elaborado por Silva Paulet em 1818 e inspirado no modelo do Barão de Haussman feito anteriormente em Paris e conforme o autor Ponte (2010):
Praça da Lagoinhas. Ao fundo vemos a Av. Imperador
Apesar de não ser um projeto inteiramente original, [...], tratava-se de um estudo decisivo para a capital dali para frente, pois ampliava-lhe o traçado para além de seus limites de então e conferia-lhe 3 boulevards (as atuais avenidas do Imperador, Duque de Caxias e D. Manoel) margeando o perímetro central. A finalidade de tais avenidas era, num futuro breve, facilitar o escoamento do movimento urbano, [...]. Por seu lado, o principal objetivo da nova Planta era disciplinar a expansão de Fortaleza, o que, de fato, consegue, pelo menos até 1930.
Avenida Dom Manuel - Arquivo Nirez
Seguindo este pensamento o governo propôs medidas saneadoras e higienistas, além de adotar um código de posturas que determinava normas e hábitos que deveriam ser adotados pelos fortalezenses, tudo isso inspirado no modelo europeu.
Aliás, o enxadrezamento da cidade era uma das medidas higienistas que expressavam a necessidade de amplos logradouros que facilitassem a circulação das correntes de ventos, pois o ar contaminado era considerado como o principal disseminador das mais terríveis doenças epidêmicas.
Quimoeiro na rua Floriano Peixoto, antiga rua Pitombeira
na década de 20.
Quimoeiro na Floriano Peixoto |
Como principais medidas saneadoras houve a construção dos espaços destinados ao lazer, assim como houve a construção de asilos, cemitérios afastados da cidade, para se evitar a contaminação do ar e o afastamento dos mais pobres do perímetro central.
Mas mesmo com tantas medidas “preventivas” a população não podia prever que o surto de varíola e outras doenças dizimariam boa parte dos habitantes da cidade, por conta das contaminações pelo precário sistema de esgoto, aliás, na verdade nem existia sistema de esgotos, o que existiam eram as fossas domésticas nos quintais das casas, e quando enchiam essas fossas eram esvaziadas pelos “quimoeiros” conhecidos assim por transportarem os dejetos em depósitos chamados quimoas, estas figuras eram responsáveis também pela disseminação de doenças, pois quase sempre estavam bêbados e deixavam cair parte dos dejetos pela cidade, espalhando o mal cheiro e contaminado o ar, além disso, tudo era despejado no mar. (PONTE, 2007).
Em 1865 e 1870 entra em cena um novo código de posturas de Fortaleza, estes tinham por objetivo prever normas disciplinares a população e impor medidas saneadoras, principalmente aos mais pobres, que era vistos como os agentes insalubres da cidade.
Crédito: Artigo 'As atividades de lazer na Fortaleza Belle Époque' de Kamylla Barboza Evaristo
Que bela informação, fico feliz em saber que o site continua ativo!!! Nunca pare por favor!!! Um abraço
ResponderExcluirFico feliz que voltou a prestigiar o blog.
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