De bruços, com a cabeça repousada sobre os braços, calça jeans justíssima e longas madeixas louras, ela atraía multidões por onde passava.
Rodou por várias cidades do país (Eu lembro da Eva no estacionamento do Shopping Iguatemi e na Praça Cristo Redentor, de frente para a Igreja da Prainha) e onde quer que fosse, sua chegada era triunfal. Ninguém reclamava de enfrentar filas demoradas para vê-la nem mesmo debaixo de sol escaldante.
Eva era a aula mais divertida de biologia que qualquer criança poderia ter. Com 45 metros, tinha uma porta perto dos pés por onde as pessoas entravam direto para um corredor escuro para conhecer seus ossos, músculos e órgãos. O ponto alto era o bebê que ela carregava na barriga, já prestes a nascer. De um gravadorzinho — nem sempre acionado no momento certo do passeio —, vinham as explicações sobre os sistemas reprodutor e digestivo. Era uma intrigante experiência caminhar dentro de um corpo cheio de cores e luzes de LED.
A boneca foi um investimento um tanto quanto ousado que envolveu 60 homens trabalhando dia e noite durante nove meses seguidos para a sua construção.
— Não sei de ninguém com mais de 30 anos que não conheça a Eva. Ela marcou uma época — afirma o escultor Fernando Quincas de Almeida, de 63 anos, que trabalhou no projeto da boneca gigante, sucesso na década de 1980.
Com outros negócios mais importantes e mais lucrativos (ringue de patinação, por exemplo), Carlos largou a gigante no quintal de uma de suas casas por seis anos até vendê-la ao empresário Rodolfo Acri, que pagou R$ 120 mil pela carcaça da Eva.
— O problema foi tirar a Eva daquele lugar. Quando vi que teria que cortar o corpo dela para colocar em três carretas, cheguei a desanimar. Fiquei com medo de ter me metido na maior furada — diz Rodolfo.
Antes de chegar lá no alto, Eva deu mais trabalho. Rodolfo chamou um conhecido que fazia alegorias de carnaval numa escola de samba no Rio para reformá-la, mas não gostou nada quando viu que os contornos estavam ficando avantajados demais (“Parecia uma passista. Não era o que eu queria”). Um artesão local então foi escalado para a função, que terminou um ano depois.
No espaço onde fica o teleférico, uma das atrações mais famosa da cidade, logo se arrumou um espaço para a boneca Eva. Ela destoava, sim, da paisagem, mas logo passou a receber excursões das escolas da região.
— Exato. Eram duas Evas — revela o antigo proprietário, Carlos Souza.
É isso! Enquanto uma delas “mora” na serra fluminense, os boatos sobre o destino da boneca número dois se propagaram na internet. Há quem garanta que ela foi levada de navio para Portugal, foi atração de um zoológico e acabou virando sucata. Milhas e milhas distante da Europa, Alicia, cara e corpinho idênticos ao da Eva original, é destaque num parque em Guadalajara, no México.