O prédio em construção em 1905. Arquivo Nirez |
No final do século XIX, um novo prédio foi projetado pelo engenheiro inglês John Hawkshaw, que concluiu que a melhor região para o Porto seria mesmo no local existente (onde hoje está a ponte metálica, na Praia de Iracema). O relatório trazia a então nova estrutura portuária de Fortaleza. O projeto do novo conjunto portuário não foi aprovado, sendo construído apenas o prédio da Alfândega. O local escolhido era um terreno baldio, cheio de árvores.
A construção tem fachada revestida de pedras com argamassa feita de óleo de peixe e areia. Os ferros foram importados e vieram da Firma escocesa Walter MacFarlane e Co. de Glasgow. A estrutura é em ferro fundido e forjado integrando adornos e elementos. As colunas são esguias com fuste cilíndrico e decoradas com capitéis coríntios. A escadaria monumental é dupla em dois lances. Os balcões, corrimãos e gradis também foram escolhidos dos catálogos da empresa. O prédio tem traços da arquitetura vernacular britânica em pedras.
Foto: Igor de Melo - Vós |
O contrato foi firmado em 05 de maio de 1883 e as obras iniciadas em 14 de outubro de 1884. Após sete anos, em 15 de julho de 1891, o prédio é inaugurado e as atividades tiveram início em 10 de abril de 1893, passando a funcionar no prédio, não só a Alfândega, mas também a Guardamoria do Estado.
O edifício ficou localizado no extremo do terreno, possuindo também depósito a céu aberto para mercadorias/produtos não perecíveis e armazéns para mercadorias com necessidades de armazenamento que foram divididos em armazém de exportação e de importação. Para facilitar o transporte para carga e descarga de mercadorias, foram levados até o prédio, os trilhos dos bondes de tração animal e dos trens.
Foto: Igor de Melo - Vós |
Com a mudança do porto para a Enseada do Mucuripe na década de 30, as atividades portuárias também foram transferidas e o prédio da Alfândega foi ocupado por outros setores da Secretaria da Fazenda. Foi no início dessa década (1931/1932) também, na gestão do Major Tibúrcio Cavalcanti, que a Avenida Pessoa Anta foi urbanizada. A avenida havia recebido o nome do mártir João de Andrade Pessoa Anta, em 27 de junho de 1925, no centenário de sua morte.
Na década de 50, as atividades da Alfândega são transferidas para o Porto do Mucuripe.
Em 1969, o prédio passa a ser sede da Delegacia da Receita Federal. Na noite do dia 29 de janeiro de 1978, às 20h, um incêndio de grandes proporções, causado por um curto-circuito, destruiu parte das instalações da delegacia (no quinto bloco). Além da ala esquerda superior do prédio, bens móveis, patrimônio bibliográfico, arquivo de documentação e objetos diversos também foram atingidos. Foram adotadas providências administrativas para dar continuidade aos trabalhos da Delegacia, mas as condições precárias e desconfortáveis em que ficou funcionando, enquanto se restauravam as áreas atingidas, fez com que em outubro do ano seguinte, a Secretaria da Receita Federal passasse a funcionar no Edifício do Ministério da Fazenda na rua Barão de Aracati.
Este foi o quinto incêndio que o prédio sofreu, sendo os anteriores, de menores proporções. Do lamentável acontecimento, é importante ressaltar a preocupação e interesse da população cearense pela restauração do prédio, tendo em vista o que ele representa como patrimônio histórico-urbanístico, e o empenho dos funcionários na recuperação dos documentos e no atendimento ao púbico, para que todos os setores funcionassem normalmente e fosse mantida a imagem da Receita perante os contribuintes e o público em geral. Com a saída do órgão Federal, o prédio fica abandonado.
Na década de 1980, a Caixa Econômica Federal, adquire e recupera o prédio, conservando sua fachada inalterada. Em seu interior, divisórias para organização dos espaços, novos revestimentos no forro e no piso, novas instalações elétricas e hidráulicas, tudo que foi necessário para adaptar o prédio para receber uma Agência bancária (Agência Pessoa Anta). Por causa do último incêndio, foi necessária a demolição do quinto bloco. Em 1998, outra reforma se fez necessária, dessa vez, procurando recuperar a originalidade do prédio que havia passado por diversas alterações ao longo de diversas intervenções.
Em 2005, o prédio é finalmente tombado pelo Governo do Estado e no ano de 2008, a Caixa Econômica Federal deixa o prédio para nele instalar a Caixa Cultural. As obras para a construção tiveram início em 2010 e segundo informações à época, o prédio receberia atividades de pintura, teatro, dança música, entre outros projetos culturais. A obra foi orçada em 13 milhões de reais. A preocupação primordial da Caixa era guardar as características arquitetônicas do prédio e tudo foi feito sem pressa, para preservar ao máximo da história do prédio que um dia abrigou a Alfândega da cidade.
Em junho de 2012, Fortaleza é enfim agraciada com uma Caixa Cultural, sendo portando a sétima cidade a receber uma unidade, já presente em Recife, Brasília, Salvador, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. O espaço é composto por um Cine Teatro com 190 lugares, três amplas galerias de arte, sala de ensaios, salas para oficinas de arte-educação, foyer, café cultural e livraria, além de um jardim e espaços para convivência e realização de eventos.
Visite:
Endereço: Avenida Pessoa Anta, 287, esquina com a rua Almirante Tamandaré.
Texto publicado originalmente na minha coluna no Vós.
O elenco de edifícios do patrimônio histórico cearense no território do entorno da Caixa Cultural, compondo o corredor do centro histórico de Fortaleza, pode ser complementado com a inserção do Centro de Memória da SEFAZ, encravado no prédio sede I da SEFAZ, historicamente denominado "Palácio da Fazenda", o qual tem uma torrinha funcionalmente semelhante. à torre da Casa Boris.
ResponderExcluir