Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Abrigo central
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Raras imagens de Fortaleza em 1963


Reportagem exibida pela extinta TV Tupi em 1963. 
Vemos lindas imagens sobre a nossa cidade. 
Infelizmente o áudio está corrompido, mas vale cada cena!!!



Agradecimento mais que especial a amiga Isabel Pires

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O culto ao cinema na Fortaleza dos anos 60



Arquivo Nirez

Em uma cidade onde o ponto de convergência das pessoas era o centro urbano, o cinema era uma das principais fonte de cultura e lazer. A realidade de Fortaleza, de certa maneira, impunha o convívio social centralizado, de forma que tudo acontecia no centro da cidade. Lojas, mercado, igrejas, restaurantes, espaços de lazer, bancos e órgãos públicos eram encontrados, quadra-a-quadra, nesse espaço de convergência citadina. 


O Palácio do Governo na Praça dos Leões

As lembranças pontuam o depoimento dos integrantes da geração que vivenciou a época. O
jornalista Augusto César Costa relata que “Tudo acontecia no centro da cidade. A cidade viva no centro. Ali você tinha o Palácio do Governo, a Assembléia Legislativa, o Fórum, a Faculdade de Direito – que era a faculdade mais importante da época –, o Theatro José de Alencar. Então, a vida social de Fortaleza estava toda no centro da cidade.” (Augusto César Costa, em entrevista concedida no dia 22 de abril de 2009).



Arquivo Nirez 

O arquiteto e compositor Fausto Nilo retrata que o centro da cidade simboliza o ponto de convergência da cidade, ressaltando a importância da praça nesta característica urbana:

“As pessoas que moravam nas áreas periféricas chegavam de ônibus, tinha um limite, e parte dos ônibus paravam na Praça do Ferreira e tinha o Abrigo Central: uma coberta de concreto e embaixo tinha engraxate, venda de bilhetes de loterias, lanchonetes, era um ágora. E naquele tempo não tinha essa degradação, esse declínio que tem hoje. As lojas eram tudo chique. Não tinha shopping, era tudo ali. Era convergente. As pessoas da Aldeota iam comprar lá, trabalhavam lá, os escritórios eram lá, os bancos era lá, tudo era lá.” (Fausto Nilo, em entrevista concedida no dia 6 de maio de 2009).



Abrigo Central 

O escritor e dramaturgo José Mapurunga elucida também a respeito da importância do centro na história da cidade:

“Você imagina uma cidade sem shopping center, sem supermercado. Se você quisesse comprar alguma coisa, ia ao centro. Existia também, no ponto de vista comercial, uma relação de confiança entre o dono da mercearia e o cliente. Havia as cadernetas e você poderia comprar fiado e o comerciante anotava nela, para que o cliente fosse pagar depois, como acontece ainda em algumas cidade do interior. O centro era também principal ponto de lazer da cidade. A Praça do Ferreira, o ponto de encontro”. (José Mapurunga, entrevista concedida no dia 5 de maio de 2009)

É natural, portanto, que encontremos a forma de lazer moderno mais comum na década de 1960 localizada especialmente no centro da cidade, onde havia a maior concentração de casas de cinema da época¹



Acervo Jornal O Povo

Num período em que a televisão ainda não tinha se consolidado como forma de lazer doméstico predileto, os shopping centers ainda não existiam e não tínhamos também as iniciativas de construção de centros culturais. As formas de lazer sociais e culturais eram muito restritas. Fixavam-se apenas na praia aos finais de semana, no futebol – principalmente para os rapazes –, nas quermesses e nos cinemas. As classes mais abastadas poderiam usufruir, ainda, de clubes sociais privados, como o Náutico Atlético Cearense.


Praia dos Diários - Anos 60

“Vamos pegar aí a vida de um garoto com 16, 17 anos de idade. Tinha as paróquias e as comunidades se faziam em torno delas. A Igreja também era um ponto convergente da cidade, ponto de encontro. Tinha a missa de domingo e as pessoas se encontravam. Então, essas pessoas tinham dois níveis de gravitação de convergência. Tinha o de todos, que era a Praça do Ferreira e tinha os particulares em seu bairro, que era a igreja, que ficava rodeada por uma praça. E o que é que acontecia aí? Cada época do ano, cada paróquia tinha sua quermesse. Era onde os garotos de classe média que não frequentavam os clubes da cidade encontravam as garotas. Era na escola, nas quermesses, na praia e no cinema. Esses eram o ponto de intercâmbio, de poder se encontrar. Os lazeres na cidade eram esses e para os garotos tinham também o futebol. E aqui-acolá íamos a uma tertúlia.” (Fausto Nilo, em entrevista concedida no dia 6 de maio de 2009).

Acervo Jornal O Povo 

Com um caráter representativo de progresso e modernidade, o cinema converteu-se 
em lazer amplamente frequentado, sendo um importante ponto de encontro da juventude na 
década de 1960. 

“Muitos de nós saíamos da escola ou da faculdade e íamos ao cinema no sábado. 
Aos domingos, como era de costume: praia de manhã, cinema à tarde. O cinema também era o programa preferido para sair com a namorada. A sala escura criava um ‘clima’. Como tínhamos pouco dinheiro, geralmente já marcávamos dentro da sala, para não termos que pagar o ingresso da moça". (José Mapurunga, entrevista concedida em 5 de maio de 2009).

O interesse da população pelo cinema era representado frequentemente em colunas de jornais que tratavam, em específico, da sétima arte. O jornal Gazeta de Notícias e O Povo
tinham páginas inteiras reservadas à divulgação e à crítica cinematográfica, além de notas 
sobre a programação semanal ou diária das casas de cinema, dispostas aleatoriamente no 
decorrer do veículo. 

De acordo com José Mapurunga, a juventude que frequentava o cinema em Fortaleza,
em especial as sessões de arte, é caracterizada pelo figurino que vestiam, pelo que liam e pelo
que conversavam. O cinéfilo dos anos 60 vestia-se como “proletariado”, reflexo de uma visão política que aproxima-se das camadas sociais mais populares, proporcionado pelos filmes e pelos livros que compunham o repertório de construção visual e intelectual do espectador da época.

 A geração de sessenta em Fortaleza, embora também assistisse a filmes norte-americanos que impunha o gosto pelo rock 'n' roll e o uso da minissaia pelas mulheres, também
era influenciada pelo cinema europeu, que explicitava a revolução sexual, onde mulheres
também poderiam vestir-se da mesma maneira como apenas homens se vestiam antes,
adotando agora o uso da calças jeans e camisa. E assim o faziam. Como opção musical,
tinham a música popular brasileira como preferência, devido a popularização e disseminação desta nesse período e de sua ligação com a brasilidade, também buscada nas produções
cinematográficas brasileiras.

Entretanto, é importante atentar que o esteriótipo visual com que vestiu-se a geração de sessenta não era unânime. Podíamos encontrar a juventude vestida de jeans, camiseta
branca e sandália franciscana, figurino característico da época, mas não devemos nos fechar
nessa única concepção.

Abrigo Central 

Isso também se aplica ao mito do livro embaixo do braço. Era comum à geração cinéfila de sessenta em Fortaleza, a cultura de usar sempre um livro embaixo do braço, representado aquilo que estava lendo. Poderia ser Marx, Tolstoi, Freud, Lênin; algo de caráter valorativo e que simbolizasse um status de intelectualidade.
Entretanto, o arquiteto Fausto Nilo, frequentador assíduo do cinema na cidade de Fortaleza,
afirma esse não ser um hábito praticado frequentemente por ele, mas afirma a existência deste fato e relata:

“Eu tinha um primo que era meu companheiro de formação. Eu morei na casa dele. 
As curiosidades eram juntas. A gente via muito cinema. Aí, parava num sebo na Rua Guilherme Rocha e tinha um livro pra vender que era assim: ‘A interpretação dos 
sonhos, Freud’. Aí eu olhava pra ele e dizia: ‘Cara, é aquele Freud. Se lembra daquele filme que o cara falou?’. Aí a gente comprou o livro e a gente lia coisas desse tipo, mas não tínhamos interlocutores. A gente lia aquilo só nós e ficava tentando fechar esse mosaico. Então, o CCF e esses jovens intelectuais que foram se identificando na cidade, eles foram ajudando a criar uma teia de sustentação intelectual uns dos outros. E a linguagem era essa: se encontrar no cinema, se ver de longe, depois se conhecer, alguém apresentar e a partir daí, se afeiçoar às características uns dos outros. Era comum desses jovens ler (ou parecer que lia) livros de formação política e intelectual, como Sartre, Marx, Freud. Tinha isso de vê-los sempre com um livro embaixo do braço.” (Fausto Nilo, em entrevista concedida no dia 6 de maio de 2009).

Abrigo Central 

A década de 1960 – era associado, no Brasil, a um momento de intenso desenvolvimento econômico e de efervescência cultural, com proliferação de tendências e manifestações no campo das artes e em outros setores de produção de bens simbólicos. Estes aspectos eram comumente reportados nos periódicos cearenses.

Além de representar uma forma de diversão pura e simples, o cinema funcionou naquele contexto histórico, sobretudo, como um veículo por excelência, de disseminação de ideologia e mensagens ligadas aos mais diversos propósitos. É um tipo de lazer sedutor, que logo se universalizou na preferência do público. E em meio a essa trajetória ditatorial que vivíamos em nosso país, o cinema inseriu-se como aglutinador de grupos, catalisador de pessoas e idéias, lugar onde havia a convergência de interesses. Isso se dava não somente no ato de ir ao cinema, mas nas convivências pré e pós exibições do filme, nos salões de espera das casas de cinema, nas filas para entrar nos filmes e nos bares, lanchonetes e restaurantes da cidade.

Cine Diogo

No momento no qual dispomos de um já consolidado circuito cinematográfico comercial variado surge em Fortaleza o Cinema de Arte do Cine Diogo – melhor dizendo, ressurge² – como uma opção diferenciada de cinema que, a exemplo de outras experiências
vivenciadas no país, exibiria filmes não identificados com o circuito comercial convencional
que normalmente ocupava a programação do Cine Diogo. A ideia surge com objetivo de que
os filmes alternativos³ produzidos na França, Itália, Grécia, Japão, Inglaterra, Estados Unidos, etc., pudessem atrair também um espectador mais jovem.

Cíntia Mapurunga
(recém-graduada em Comunicação Social, com habilitação 
em Jornalismo pela Universidade de Fortaleza)

Continua...

 (13220 bytes)¹No início dos anos 1950, a cidade contava com dezoito salas de exibição localizadas não só no centro da cidade, mas também em bairros e zonas periféricas, numa clara demonstração do nível de importância que essa forma de lazer assumia no cotidiano fortalezense nos vários segmentos da população. (PONTES, Albertina 
Mirtes de Freitas. A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na Fortaleza de 1950-1970. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005, p.45). Encontramos registrados em jornais da década de 60, o anúncio constante de seis casa de cinema: Cine São Luiz, Cine Diogo, Cine Moderno, Cine Jangada – pertencentes ao Grupo Severiano Ribeiro, que construiu um “império” de exibições cinematográficas no Brasil –, CineArt, Cine Samburá e Cine Familiar – este também com um circuito de Cinema de Arte. O Clube de Cinema de Fortaleza também tinha sua programação semanal divulgada nos jornais estudados.

 (13220 bytes)²O Cinema de Arte do Cine Diogo surge em 1963. Em 1967, o Cinema de Arte estava ressurgindo, no dia 4 de março, após um longo período de paralisação. 

 (13220 bytes)³ Aquilo que não se afina com valores e métodos convencionais ou tradicionalmente conhecidos. O convencional em questão é o cinema comercial hollywoodiano. 

Fonte: O culto ao Cinema de Arte na geração de sessenta em Fortaleza 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pelas Praças da cidade - Parte I




Praça do Ferreira ainda com o sobrado do comendador Machado, demolido em 1927 para a construção do hotel Excelsior - Arquivo Nirez


A ideia da praça surgiu com uma reforma no plano da cidade.
Em dezembro de 1842, uma lei da Assembléia Provincial autoriza uma reforma do plano da cidade, eliminando dela a rua do Cotovelo a fim de ficar ali uma praça que se denominará Praça Pedro II. Boticário Ferreira foi eleito presidente da Câmara no ano seguinte, posto que ocupou até falecer em 1859.


O Jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

A praça sofreu várias reformas sendo que a mais importante foi a construção do Jardim Sete de Setembro em 1902 na época em que os intelectuais da Padaria Espiritual se reuniam nos quiosques chamados: Escritório dos Bondes, Café do Comércio, Café Iracema, Café elegante e Café Java. Em 1914 a iluminação da praça é feita, bem como uma outra reforma. Em 1920, são demolidos os quiosques e o coreto, considerado o coração cívico da cidade na época. Em 1949 se construiu o Abrigo Central onde se encontravam boxes de vendas de discos, tabacarias, selos, bilhetes lotéricos, livrarias, café e até ponto de
ônibus. Apesar de ter se tornado um dos lugares mais movimentados da cidade, foi demolido em 1968 juntamente com a Coluna da Hora. A praça teve várias nomenclaturas destacando-se: Feira Nova: lugar onde se realizavam as feiras semanais, deslocando o centro da cidade da Praça da Sé, para o novo logradouro; Largo das Trincheiras: não se sabe bem se foi por uma batalha entre holandeses e portugueses, ou por causa do nome de um Senador que vivia ali e se apelidava de trincheiras; Pedro II: em 1859, em homenagem ao Imperador; do Ferreira: em 1871, após a morte do Boticário Ferreira, com memória aos relevantes serviços que prestou a cidade; Municipal: este nome durou somente seis meses, retomando ao seu nome anterior. Além dessas denominações oficiais também era popularmente conhecida por “da municipalidade”, por estar defronte do prédio da Intendência Municipal.


O Cajueiro da Mentira

É limitada pelas ruas Major Facundo, Floriano Peixoto, Dr. Pedro Borges e Travessa Pará e seu homenageado é Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira). O Boticário Ferreira nasceu em Niterói em 1801, teve muita influência política em Fortaleza, ganhou licença para montar botica e se estabeleceu. Deu impulso a grandes obras na cidade como, por exemplo, a Santa Casa de Misericórdia. Demoliu o Beco do Cotovelo construindo ali a praça que levaria seu nome. O monumento é a Coluna da Hora, considerada o ícone mais significativo da cidade de Fortaleza, a coluna da hora continuou com sua importância mesmo depois da sua demolição em 1968. O relógio de origem americana fabricado por Seth Thomas Clek Co de Nova Iorque tem quatro faces e está localizado no ápice da coluna situada no meio da praça. A coluna da hora juntamente com seu relógio é construída em 1932 com a demolição do cloreto. Contudo, só é inaugurada no início de 1934 com projeto do engenheiro José Gonçalves da Justa em estilo “Art-Déco”. Tinha cerca de 13 metros de altura. Em 1968 a coluna da hora é demolida juntamente com o Abrigo Central. Em conjunto com a reforma da praça, em 1991, fizeram uma nova coluna da hora projetada pelos arquitetos Fausto NiloCosta Junior e Delberg Ponce de Leon permanecendo até hoje.


Praça do Ferreira em 1934 


Lindo Passeio Público do Álbum Vista do Ceará 1908

Considerada uma das primeiras praças de Fortaleza e situada ao lado da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, era chamada de Largo da Fortaleza, no século XVIII. Além dessa, são observadas várias outras nomenclaturas:
Largo do Paiol: como o próprio nome indica, pela existência de um paiol de pólvora, que ficava no ângulo atual da Santa Casa de Misericórdia, do lado do mar; Largo do Hospital da Caridade: em homenagem à atual Santa Casa de Misericórdia cuja criação começa em 1847; da Misericórdia: em homenagem à atual Casa de Misericórdia, instalada em 1861; dos Mártires:1879 “Em memória dos beneméritos cidadãos que ali foram sacrificados pela causa da liberdade”; Campo ou Largo da Pólvora: nome popular, local destinado ao sacrifício de criminosos, foi erguido um patíbulo para punir condenados de crimes comuns. Destruído em 1831 por um grupo de patriotas.

Passeio Público em 1960 - Foto da Exposição Viva Fortaleza

E, por fim, em 1850, passa a ser chamada Passeio Público por ser considerado o local preferido pela sociedade cearense da época para passeios matutinos e vespertinos. Apesar da praça ter sido arborizada em 1864 e já representar um local tradicional de encontros, apenas em Julho de 1881 é que a praça é inaugurada. O passeio foi dividido em três planos sócio econômicos como mostra Sarmiento (2006, p. 56) “A gente de maior nível econômico ficava na Avenida Caio Prado, a classe média frequentava a Carapinima e a mais pobre a Mororó. Em 1932 suas grades circundantes foram retiradas. Alguns heróis cearenses que participaram da Confederação do Equador foram mortos no passeio público, dentre eles estão: Tenente Coronel Feliciano José da Silva Carapinima, Tenente de Milícias Luís Inácio de Azevedo Bolão, Padre Mororó,Tenente Coronel Francisco Ibiapina, João de Andrade Pessoa Anta e Tristão Gonçalves de Alencar Araripe

Monumentos de Barão de Studart, Dr. José Frota, Dr. Moura Brasil e Delmiro Gouveia - Fotos de Leuda Reinaldo

Fica limitada pelas ruas Barão do Rio Branco, Dr. João Moreira e Floriano Peixoto. Os monumentos são os bustos de Barão de Studart, Dr. Moura Brasil, Dr.José Frota, Delmiro Gouveia.

Continua...



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Crédito: O Centro Histórico de Fortaleza e seu patrimônio cultural arquitetônico

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Faquir no Abrigo



Foto de 1950 - Arquivo Nirez

Inaugurado em 1956, o Abrigo Central firmou-se como destacado ícone de Fortaleza. Localizado ao lado Norte da Praça do Ferreira, na área compreendida entre as ruas Floriano Peixoto, Guilherme Rocha, Major Facundo e travessa Pará, constituiu-se palco de marcantes acontecimentos do cotidiano citadino.

Por uma década, pois em 1966 foi inexplicavelmente demolido pela Municipalidade que o edificou, registrou fatos até hoje inesquecíveis.

Por ele, diariamente, transitavam a vida, a cidadania e a política fortalezenses. Pessoas de todas as classes sociais, profissões, credos, raças, sexos e idades frequentavam o simples e aconchegante local de comércio, serviços e, sobretudo, ambiente de encontros, discussões, informações e descontrações dos labores vivenciais.

Lanchonetes, confeitarias, cafés, tabacarias, engraxataria, lojas de vendas de discos, de selos tributários, de jornais e revistas, além de pontos de ônibus motivo de sua construção, ali serviam ao público.

Afora tais, existiam empreendimentos outros. O espaço livre maior servia a acontecimentos vários. Sorteios publicitários de veículos, exposições em geral e eventos extraordinários. Destes, lembro-me o de um faquir denominado Zokan.

 

Encerrado em urna envidraçada e lacrada, contendo cama de pregos, pequena janela para receber líquidos – sua única deglutição –, frestas de arejamento e altura que o permitia sentar-se, ficaria três meses em jejum.

A estudantada do Colégio Lourenço Filho, finda a aula, ia ver o asceta nacional. Por indagar como supria suas necessidades fisiológicas e porque não emagrecia, era convidada a deixar o local.


Artigo do amigo e colaborador Geraldo Duarte



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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Café Wal-Can - Abrigo Central




Naquele espaço retangular do terreno formado pelas ruas Guilherme Rocha, Pará, Floriano Peixoto e Major Facundo, foi construído o Abrigo Central, iniciativa do então Prefeito Acrísio Moreira da Rocha. Era um local onde se agrupavam políticos, torcedores de futebol e pessoas que ali se dirigiam para apanhar ônibus de vários bairros, e linhas que circulavam a Cidade, pela Empresa São Jorge, com destino a Praça São Sebastião (Mercado) depois Praça Paula Pessoa (Ruas Justiniano de Serpa, Dom Jerônimo) - Farias Brito, cujo local existiu o tradicional Jardim São José, mais conhecido como Jardim Japonês, da família Fujita (João Batista, Nisabro, Edmar, Francisco, Luzia e Maria José) que injustamente sofreram opressões com o "quebra-quebra" no tempo da 2ª Guerra Mundial de 1944.



Com a demolição da quadra da Praça do Ferreira ao lado do prédio da Intendência e demais casas comerciais (entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo), na gestão do Prefeito Acrísio Moreira da Rocha, foi construído em 1949 - o Abrigo Central, num espaço da metade da quadra, entre a Rua Pará e Guilherme Rocha.


Passeata anunciando o lançamento do ano - O Café Wal-Can



No Abrigo Central, se instalaram vários boxes, tendo o centro, formato de meia lua, onde foram colocadas cadeiras, especialmente para servir de engraxataria; pelo lado direito, havia um boxe para venda de selos mercantis, bilhetes da Loteria Federal, Estadual, estampilhas, os quais eram colocados para aferição pela Secretaria da Fazenda nos livros próprios (mensalmente) e outros selos para requerimentos dirigidos às repartições federais, estaduais e municipais; em seguida o boxe do Café Hawaí; Café Presidente e o Café Wal-Can( De Waltério Cavalcanti); um boxe da Livraria Alaor; casas de discos conhecida como Discolândia e os boxes portáteis do Sr. Bodinho, do Sr. Raimundo e do Sr. Holien com variadas mercadorias; no lado esquerdo da Rua Pará - O Posto de carros de aluguéis - Posto Pará da Sra. Odete Porfírio Sampaio, com luxuosos carros de passeio que eram contratados previamente para sepultamento, casamento e batizados; e o preço obedecia a uma tabela especial, estabelecido pelo Sr. Maninho Câmara.
 Sr.Waltério Acompanhando de perto o trabalho de suas colaboradoras 


Sr.Waltério Cavalcanti, com clientes e amigos


Ainda no hall do Abrigo - o célebre e inesquecível "Pedão da Bananada" e os famosos sanduíches , cognominados "espera-me no Céu" e "cai duro", e comprando um, o cliente tinha direito a um envelope de Sonrisal e uma vitamina "KH" na hora; existia um funcionário especialista no ramo de merendas de frutas, Sr. Musse; no final do corredor do Abrigo, o Café Hawaí; ao lado, a garapeira do Sr. Peixoto, cuja venda de guaraná (artificial), água mineral com e sem gás, groselha e limonada, era muito apreciada por todos que frequentavam o Abrigo Central. 

Café Wal-Can - Rua Floriano Peixoto em 1983. Foto de Nelson Bezerra

Ainda pelo lado da Praça do Ferreira, a parada de ônibus da Empresa São Jorge - Kalil Otoch, as linhas do centro, Soares Moreno, Praça São Sebastião, Cemitério, D. Jeronimo, Justiniano de Serpa, que muito facilitava a vida dos que moravam no centro - uma realidade muito diferente dos dias de hoje, com tantas transformações que sofreu a arquitetura de nossa cidade.

As funcionárias do Café Wal-Can


Mulheres também iam ao Abrigo, mas com menor frequência que os homens. Dona Conceição Santos, 74, diz que “o Abrigo era muito movimentado, sempre tinha muita gente, mas eu só passava por lá quando ia para o centro, tomava um café e seguia. Quem ia muito mesmo era meu marido, porque lá era mais um lugar para os homens se encontrarem”. Entretanto, seu Mário lembra que “tinha muitas senhoras que compravam na confeitaria” e até algumas moças trabalhavam no box do Café Walcan.


Crédito:  Wal-Can in Memorian/ Valtério Cavalcanti 

domingo, 19 de junho de 2011

De volta ao Abrigo Central



Abrigo em 1958- Nirez

Dar um “pulinho” no Abrigo Central era quase sagrado para muitas pessoas que viveram em Fortaleza até o final da década de 1960. Relembrar o “Velho Abrigo”, construído na administração do prefeito Acrísio Moreira da Rocha, em 1949, para ser um ponto de ônibus, não é muito esforço para quem passou ali muitos momentos da juventude. Isso é tão significativo, que seu Ivan Cavalcante, 70, sócio de uma loja de discos* no Abrigo Central, afirma que se a casa dele tivesse um vão desocupado iria construir uma maquete do Abrigo Central, não do tamanho dele, que é impossível, mas uma maquete com todos os pontos, com tudo o que funcionava”.


Registro dos anos 50. Marcos Siebra

E
xemplo dessa saudade é também o que nos revelou seu Pedro Moreira, 74, frequentador do Abrigo. Segundo ele, ir àquele espaço incrustado na Praça do Ferreira, era essencial para finalizar bem o dia, depois da jornada de trabalho. Seu Pedro afirmou queo Abrigo Central era o ponto de encontro. Se você queria encontrar um amigo, você podia ficar ali à espera que aquele amigo tinha que passar, mas, além disso, podia ainda namorar e concorrer aos sorteios de carro que aconteciam ali.
Mas o que o Abrigo tinha além de ser um ponto de espera de ônibus para que tantas pessoas o frequentassem? Casas de merenda, loja de discos, loja de selos, tabacarias, cafés, confeitaria, engraxates. Para seu Mário Cidrack Filho, 62, que, ainda criança, trabalhava com seu pai na confeitaria que levava o sobrenome da família, o Abrigo “era a referência”. Ele explica que “lá dentro do Abrigo tinha de tudo”.
Construído para ser o maior abrigo para passageiros de ônibus do norte e nordeste do Brasil, logo depois de inaugurado, o Abrigo Central ganhou apreço da população de Fortaleza. Como possuía várias casas de comércio, ir ao Abrigo para pequenas compras ou apenas para encontrar os amigos era comum.
Muitas histórias surgem ao longo das conversas quando pedimos às pessoas para voltarem no tempo e entrarem, através da memória, mais uma vez no Velho Abrigo. Uma dessas histórias foi contada por seu Mário Cidrack. Ele disse que houve uma época em que o que mais se vendia na confeitaria de seu pai era uma bolacha e nos contou como era feito esse comércio: “na época tinha aqui em Fortaleza uma bolacha chamada Jubaia, de Maranguape. E aquilo ali você comprava cem quilos dela hoje, quando fosse de noite você não tinha mais um quilo. Era uma loucura, vinha gente de todos os bairros de Fortaleza para comprar essa bolacha”.

E
 não era só a bolacha que fazia o sucesso do Abrigo. Lá também era possível encontrar outras delícias da culinária, como as vitaminas, sucos e sanduíches. Abacatadas, sucos de cajá, graviola, tamarindo, eram pedidos durante todo o dia nas várias casas de merenda. Mas, para o acompanhamento nada melhor que um “cai-duro” ou um “espera-me no céu”. Estes eram os nomes dos sanduíches que alimentavam os frequentadores do Abrigo. Por que esses nomes diferentes? Talvez por conta do risco que as pessoas corriam ao comê-los.
Não é possível deixarmos de fora outra sensação da época: a bananada. Ela era tão consumida no Abrigo Central que virou apelido de um dos donos de lanchonete: o Pedão da Bananada. Ele se tornou o comerciante mais conhecido do Abrigo. Além de vender bananadas, o Pedão era torcedor fanático do Ceará.
Café era algo também indispensável no Abrigo Central. Sempre, depois das merendas, ele era pedido certo, tão certo, que até mesmo as colheres que eram usadas para mexer o café viraram notícia, como nos falou o jornalista Luís Campos, 85: “O Edelberto Góis era dono de um café no Abrigo. O pessoal chegava, o cafezinho era 10 centavos, 20 centavos. Ele botava ali o açucareiro, a colherzinha e tal. Então, o pessoal, por desonestidade, tomava o café, a colherinha era uma colherinha pequenininha, barata, era de alumínio. Pegavam a colherinha, botavam no bolso e levavam pra casa. O que é que o Edelberto fez? Pegou as colherinhas, mandou para uma metalúrgica e furou as colherinhas, fez um buraco. Então o sujeito mexia, dava para mexer, mas não adiantava levar para casa. E eu fiz uma crônica sobre isto: A Colherinha do Abrigo”.


Não podemos esquecer, ainda, as personalidades que frequentavam o Abrigo: políticos, jornalistas, radialistas. Pessoas famosas que passeavam por Fortaleza também não deixavam de dar uma passadinha naquele lugar. Seu Ivan lembra de alguns artistas que foram à loja de discos:Bienvenido Granda, cubano, Carlos Gonzaga, Alcides Gerardes, que já morreu, Ari Lobo, quando lançou o ‘Vendedor de Caranguejo’, e Anísio Silva, quando apareceu na mídia”.
Mulheres também iam ao Abrigo, mas com menor frequência que os homens. Dona Conceição Santos, 74, diz que “o Abrigo era muito movimentado, sempre tinha muita gente, mas eu só passava por lá quando ia para o centro, tomava um café e seguia. Quem ia muito mesmo era meu marido, porque lá era mais um lugar para os homens se encontrarem”. Entretanto, seu Mário lembra que “tinha muitas senhoras que compravam na confeitaria” e até algumas moças trabalhavam no box do Café Walcan.
Por tudo isso, o movimento no Abrigo Central, segundo os que lá passaram, era muito grande. Seu Oriel Oliveira, 74, lembra que “ali, quatro horas da tarde, cinco horas da tarde, ficava cheio … época de carnaval era aquele pessoal todo ali fantasiado, era aquela folia”. Seu Pedro também recorda os períodos festivos. Ele lembra que “se vendia muito artigo pra festejo, coisas que o pessoal usava pra brincar carnaval e São João”.
Além disso, outro artigo rememorado por quem vivia no Abrigo Central era o aparelho de televisão. Segundo seu Mário Cidrack, foi o pai dele quem levou essa novidade para o Abrigo: “ele comprou um aparelho televisor e colocou no centro do Abrigo Central, mandou fazer um suporte e colocou lá”. Seu Ivan também lembrou da televisão. Ele disse que o aparelho foi doado na época da Copa, para que os frequentadores do Abrigo pudessem acompanhar os jogos da seleção canarinho.

Confeitaria Cidrack

M
esmo com todas essas peculiaridades, o Abrigo foi alvo de disputas políticas. Desde meados dos anos 1950, pouco tempo depois de sua construção, a permanência daquele espaço na Praça do Ferreira começou a ser questionada. O jornalista Luís Campos, que à época escrevia para o jornal Gazeta de Notícias, defendia que o Abrigo continuasse de pé. Entretanto, em 1966, durante o governo de Murillo Borges, já no período ditatorial, o Abrigo Central, palco de tantas histórias e marcado no coração de tantas pessoas, foi ao chão.
Para seus frequentadores isso foi o fim da Praça do Ferreira, o fim do Centro. Seu Pedro diz que “se o Abrigo ainda existisse, acho que eu ainda passeava muito por lá”. Ele afirma ter apagado da memória o dia em que demoliram o Abrigo. Já seu Oriel lembra bem. Ele conta que assistiu a derrubada. Segundo ele “dinamitaram”. Seu Ivan levanta a ideia de que o centro teria acabado depois dessa demolição. Ele diz que “quando acabou o Abrigo, acabou a cidade de Fortaleza, ela apagou”.
E, dessa forma, mesmo sem mais nenhum vestígio físico do Abrigo, já que a Praça do Ferreira, quando foi reformada, em 1967, no governo de José Walter, tomou todo o espaço no qual ele era fincado, é fácil observar que ele continua bem vivo na memória dessas pessoas que dedicaram um pouco de suas vidas a matar ali o tempo que passa.
 O Amigo ‘Pedão’
 Quem frequentou o Abrigo Central ou mesmo quem apenas passou por Fortaleza durante as décadas de 1950 e 1960 com certeza ouviu falar em uma das personalidades mais conhecidas da cidade naquela época: o ‘Pedão da Bananada’.
Seu verdadeiro nome, difícil saber. O apelido, entretanto, não vem apenas da bananada, mas também da aparência de Pedão. Seu Pedro Moreira lembra a fisionomia do amigo: “Ele andava todo de branco. O sapato, a roupa. O Pedão era divertido. Um cara bem parecido, bem alto”.
Pedão era um dos comerciantes mais antigos do Abrigo Central e foi também um dos que mais tempo permaneceu ali. Dono de uma casa de merendas, em que se vendiam vitaminas, Pedão ficou conhecido pela bananada. Mas, outro fator contribuiu para que a fama do comerciante se espalhasse. Nas palavras de seu Pedro: “ele era um torcedor ardoroso do time do Ceará”.

Pedão da Bananada em frente ao Abrigo

S
egundo seu Pedro, o box em que funcionava a casa de lanches do Pedão não era muito grande, mas era suficiente para reunir um grande número de torcedores do Ceará, que discutiam, ali, o desempenho do time nos jogos. Seu Mário Cidrack conta que a paixão de Pedão pelo time era tão grande que o contagiou: “Pedão era amigo mesmo de meu pai, ele me carregou no braço, me fez torcer Ceará. Era ele quem me levava para o estádio, porque meu pai era torcedor do Fortaleza e ele torcedor do Ceará. Então, sempre que ele podia, ele me carregava para o estádio. Aí, eu comecei a torcer Ceará por causa dele”.
Seu Mário Cidrack lembra ainda das brigas entre Pedão da Bananada e Bodinho, outra figura folclórica que tinha uma banca de revistas na Praça do Ferreira e era torcedor do Fortaleza. Segundo seu Mário, quando Bodinho entrava no Abrigo Central e se dirigia para o Box do Pedão, era confusão na certa: “O Bodinho aparecia de repente, começava aquela gritaria… Você olhava, parecia que eles iam se matar, daqui a pouco estavam brincando. Naquele tempo o pessoal sabia fazer a diferença entre a amizade esportiva e a pessoal. Eles não chegavam a ponto de chamar um de canalha, era só futebol mesmo”.
Além das brigas por futebol, outra atração do Box do Pedão foi rememorada por seu Mário: as apostas. Ele explica que era no Box do Pedão que as pessoas se juntavam para fazer apostas. Cada um escolhia um time e apostava em quem iria ganhar o próximo jogo. O dono do Box era o responsável por administrar as apostas. Ele anotava em quem as pessoas estavam apostando e pegava o dinheiro. Depois do resultado ia lá e entregava a quantia ao ganhador.
Mesmo com toda a fama que Pedão adquiriu enquanto trabalhava no Abrigo Central, o comerciante foi um dos mais prejudicados com a demolição daquele espaço. Não apenas porque era dali que ele tirava o sustento, mas também porque o Abrigo era a segunda casa de Pedão.
Os amigos contam que o fim do Abrigo foi também o fim de Pedão. Seu Ivan Cavalcante diz que “O Pedão morreu na miséria. Ele foi pro Maranhão. Quando ele voltou veio com um balcãozinho de tabacaria, muito na decadência já, de vida e de saúde. Aí arranjaram a porta do cartório pra ele ficar vendendo cigarro. Dali… fim da história dele”.*
Não há registro da data da morte de Pedão. Entretanto, na edição do Jornal O Povo, de 08 de janeiro de 1984, a carta de um leitor, chamado Waldir Ribeiro, pede que a diretoria do Ceará promova um jogo amistoso para que a renda seja revertida em ajuda para Pedão. Segundo o autor da carta, Pedão, que tanto havia ajudado ao clube, àquela época se encontrava “pobre, velho, esquecido e até desprezado pelos falsos amigos, escapando à fome vendendo cigarros em uma das ruas centrais de Fortaleza”.
Todos os que o conheceram não deixam de vincular a morte de Pedão à demolição do Abrigo. Seu Oriel afirma que “a derrubada pra ele foi como uma morte. Eu acho que ele morreu mais em consequência disso”. Entretanto, para quem frequentou o Abrigo e, principalmente, o box do Pedão da Bananada, ele continuará sendo “o tal ali do Abrigo”, como nos disse seu Pedro.
As Eleições e o Abrigo Central
O Abrigo Central, segundo quem o frequentava, foi, durante todo o seu período de existência, um espaço importante para a política local. Ali, passavam muitos políticos, já que a Assembléia Legislativa do Ceará funcionava onde hoje fica o Museu do Ceará, na Praça dos Leões, bem próximo ao espaço em que se localizava o Abrigo.
Um dos que mais passeavam pelo Abrigo, seja para tomar café ou encontrar outros políticos, era o prefeito Acrísio Moreira da Rocha, responsável pela construção do espaço. Além dele, seu Ivan recorda outros políticos que eram assíduos: “ali passou o Faustino de Albuquerque, o Cordeiro Neto, Acrísio, até o próprio Murillo Borges, Raul Barbosa. Seu Ivan complementa afirmando que “a gente conversava com eles como a gente está conversando aqui, normal”.

Prefeito Acrísio Moreira da Rocha no Abrigo



Essa frequência de políticos no Abrigo fazia dele um lugar especial no período de eleições. Em meados da década de 1950 foi instalado no Abrigo o placar em que eram dados os resultados parciais das eleições. Seu Pedro explica como isso acontecia: “O placar era em cima do Abrigo. Tinha aquele placar e era todo tempo saindo o resultado das eleições. O pessoal ficava tudo sentado no banco da Praça e olhando pro placar. Saía 6 horas da manhã, meio-dia, 6 horas da tarde, o resultado. E o último, parece que era 8 ou era 9 horas, porque mudava todo tempo”.
Segundo seu Pedro, as pessoas ficavam sentadas nos bancos da Praça do Ferreira o dia inteiro, esperando as mudanças no número de votos, até que fosse divulgado o resultado final do pleito. Ele lembra que “quando dava um resultado que um candidato passava do outro havia toda uma manifestação”.
Essas manifestações podiam ser também de raiva. Segundo o memorialista Abelardo Montenegro, na eleição de 1954, ano em que foi instalado o placar no Abrigo Central, quatro “indivíduos” subiram no placar e o destruíram, pois o resultado estava sendo favorável para um candidato que não era o preferido dos frequentadores do Abrigo.
Além disso, segundo o memorialista Alberto Sá Galeno, outro fato que relaciona o Abrigo Central com o período das eleições é a candidatura de Mário Rosal, frequentador do Abrigo, que concorreu à prefeitura de Fortaleza em 1954. O símbolo da campanha de Mário era o facão, que deu a ele o apelido de “Velho do Facão”. Ex-funcionário da Inspetoria de Obras contra as Secas, Mário Rosal obteve cerca de 10 mil votos dos frequentadores do abrigo.
Ainda segundo o memorialista Alberto Sá Galeno, as eleições de 1954 foram marcadas também pelo comércio de votos. Ele conta, em seu livro “A Praça e o Povo” que, dentre os que desejavam comprar votos, existia um “aloucado”, que ficou conhecido como “Prefeito” que ia ao Abrigo oferecer votos em troca de sucos e sanduíches.
Por conta de todas essas manifestações, os frequentadores do Abrigo afirmam que ali era o espaço ideal para conseguir votos, por isso que tantos políticos andavam por lá, como nos diz seu Oriel: “Era o encontro que eles tinham com o povo, eles tinham esse encontro com o povo no Abrigo Central”.
 Saudades do Centro, da Praça e do Abrigo Central
 As conversas nos bancos da Praça do Ferreira e os encontros no Abrigo Central, característicos da época em que a cidade de Fortaleza era chamada de ‘Loura desposada do Sol’, hoje, se constituem apenas em lembranças dos que viveram ali muitos momentos de suas vidas.
Para os frequentadores do Abrigo, o principal fator que levou ao que eles acreditam ter sido o “fim” do centro da cidade foi a demolição do Abrigo Central. Segundo seu Ivan, “Fortaleza era bom demais, até essa época, porque quando mudou de lá pra cá acabou-se tudo, pois modificaram a Praça”.
A reforma da Praça do Ferreira foi feita em 1967, já no governo de José Walter Cavalcante. Segundo seu Mário, a demolição do Abrigo não era necessária para que acontecesse uma modernização da Praça do Ferreira. Para ele “bastava reformar, colocar policiamento, porque alegavam que tivesse marginais, mas não tinha essa violência que tem hoje. Se você olhar hoje a Praça do Ferreira, no lugar do Abrigo Central nunca teve nada, colocaram umas bancas de revista. Eles simplesmente tiraram do local e não construíram nada. Por bons anos ficou só o chão. Depois que transformaram numas 5 bancas de revista, sem necessidade”.
Seu Oriel também concorda com a opinião de seu Mário. Segundo ele “a Praça do Ferreira, naquela época, era mais bonita do que hoje. Era mais humana. Com aquela mudança que o José Walter fez, aquele jardim suspenso, pra mim, ali, acabou-se a Praça do Ferreira”.
Já seu Pedro afirma que a reforma feita pelo prefeito José Walter “era uma marmota, deformou a Praça”. Para ele, com a demolição do Abrigo, o centro de Fortaleza “foi totalmente descaracterizado, perdeu muito. É tanto que os próprios comerciantes tão fugindo de lá, porque não tem mais o movimento que tinha”.
Seu Ivan diz que hoje a Praça do Ferreira “está morta”. Já seu Pedro diz que é também por falta de segurança que as pessoas não tem mais interesse em ir ao centro: “eu sinto muita falta de segurança e tenho muita tristeza por isso. É tão difícil a situação da gente, que é até difícil se relacionar. Naquela época não, você não andava assustado, você andava tranquilo, roubo de carro não existia, assalto não existia… hoje a vida é difícil”.

*A Casa de discos do Abrigo Central, era de propriedade de  Kleber Alves Cavalcanti (já falecido), irmão de Ivan Cavalcante. Após a queda do Abrigo, o senhor Kleber Cavalcanti teve serios problemas para se reerguer, mas com muita força de vontade e persistência, conseguiu ser funcionário por mais de 20 anos da Coelce, mas sempre notava-se a saudade que ele tinha dos tempos de comércio do antigo Abrigo.













Maravilhosa pesquisa realizada por: 









* O comerciante Pedro Alves da Silva, o Pedão da bananada, morreu em 09 de dezembro de 1984.

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