A pracinha da Aerolândia é o ponto de encontro dos moradores do bairro. A BR-116 é uma das grandes referências do bairro, assim como a avenida Raul Barbosa.
Fácil de encontrar. Difícil em Fortaleza quem não saiba onde fica a Aerolândia. O nome é uma referência à proximidade com a base áerea. Esta é a terra do ar. Surgiu exatamente por conta da construção da base.
Os primeiros moradores foram pedreiros, carpinteiros e serventes que foram trabalhar na obra, na década de 1930. Nesta época, a região era chamada de Campo de Aviação. Até hoje o bairro tem muitos moradores que trabalharam na base. O engenheiro, Hélvecio Veiga, foi sargento. “As pessoas começaram a se instalar aqui em meados de 1936. Como a base aérea era aqui, criaram o nome Aerolândia”, conta ele.
Exatamente por esse motivo, quase todas as ruas do bairro tem algum tipo de patente. “Isso é em virtude de militares da Força Aérea Brasileira que estiveram aqui. Muitos participaram inclusive da Segunda Guerra Mundial”, conta o militar.
O bairro conta com várias vias de acesso, sendo a mais importante delas a rodovia federal BR-116. É considerado por muitos moradores bem localizado.
Pelas ruas do bairro, casas simples e moradores que mantem velhos hábitos. Como o de comprar água da carroça que passa todos os dias pela manhã. Mesmo depois que chegou a água encanada na década de 1960.
Há 50 anos, a Aerolândia reunia o comércio da região. Era local de compras para os que moravam do outro lado do rio, no Luciano Cavalcante e nas Salinas. E por ser vizinho ao rio Cocó, o bairro sempre sofreu com inundações. Algumas continuam na memória dos mais antigos. A dona-de-casa, Angelita dos Santos fala de uma história que aconteceu em 1962. “Houve uma enchente em que um galo ficou em cima de uma casa. Ele cantava, cantava, para ver se conseguia sair de lá”, lembra Angelita.
Angelita é muito amiga de Maria Luiza Oliveira, que há 40 anos vive na Aerolandia. Ela chegou quando o bairro foi loteado e ocupado. “Não tinha rua. Não. Eram casas aqui e acolá. Era cheio de buraco”, conta ela.
O maior desenvolvimento da Aerolandia foi na década de 80, com a BR-116 e a construção da Raul Barbosa à margem do rio Cocó.
"Como toda localidade, a Aerolândia é cheia de histórias pitorescas, engraçadas e humanas. Tem seus personagens próprios que animaram e ainda animam o dia-a-dia da região, engrandecendo-a sobremaneira", enfatiza Francisco Caminha.
Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração foi construída em 1954. Tornou-se paróquia 16 anos depois, em 1970
Foi na década de 1930 que iniciaram as obras de construção da Base Aérea de Fortaleza, quando pedreiros, carpinteiros e serventes da obra ocuparam a região, que era chamada de Campo de Aviação.
Em seguida, muitos militares da Força Aérea Brasileira chegaram ao local pela proximidade com a Base Área. Não é por acaso que a maioria das ruas do bairro carrega consigo uma homenagem aos militares que moraram no local, como as ruas Capitão Aragão, Tenente Maia e Capitão Vasconcelos.
"Quando meu avô chegou aqui, tudo era um matagal", contou o funcionário público Marcel Régis Moreira da Costa. Seu avô, o militar Plácido Moreira da Costa, tornou-se morador da Aerolândia na década de 1940. "Ele já faleceu, mas minha avó mora até hoje na mesma casa, na Rua Capitão Clóvis Maia. Vivi os meus 28 anos aqui, casei-me e continuo morando aqui. Gosto muito", afirmou ele.
Mas os avanços da Cidade trouxeram para o bairro uma mancha em sua história: a violência. Limitado, em parte, pelo Canal do Lagamar e pelo cruzamento das avenidas Raul Barbosa e Murillo Borges, o bairro vive momentos de insegurança. Mas, segundo Marcel, nos últimos anos, as coisas melhoraram um pouco. "A chegada do Ronda do Quarteirão amenizou a violência e deu uma sensação de segurança maior nas ruas".
Até hoje, o bairro ainda guarda alguns costumes do passado. Apesar da violência, muitos ainda têm o hábito de conversar nas calçadas até mais tarde com os vizinhos. Outra prática antiga dos moradores é a de comprar água de poço da carroça, que passa pelas ruas todos os dias pela manhã.
Lazer
A pracinha do bairro e a quadra de esportes, localizada ao lado do Mercado da Aerolândia, ainda são os principais locais de lazer dos moradores. A antiga moradora Eunice Uchoa, 69 anos, frequenta a praça até três vezes por semana para aulas de ginástica dadas pelo professor Maninho, pelo programa Academia na Comunidade, da Prefeitura. "É direcionado para os idosos, mas vai gente de todas as idades", disse Eunice.
O pátio da Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração, inaugurada em 1954, é ponto de encontro de jovens após as missas. Seja para assistir às celebrações ou não, o templo, localizado na Rua Capitão Uruguai, é muito frequentado pelos moradores. Foi lá que Marcondes Tenório conheceu a esposa, uns 20 anos atrás, quando costumava ir até a calçada da igreja para saber onde seria a "tertúlia" do fim de semana. "Tinha festa quase todos os sábados e domingos na casa de algum morador. Hoje, isso não existe mais. Mas eu conheci minha esposa na igreja mesmo. Nós nos casamos lá depois", acrescentou.
Há dois meses, um novo espaço de lazer foi inaugurado na região. Mesmo que já não seja dentro dos limites do bairro, o espaço construído com a urbanização do rio Cocó, na Avenida Raul Barbosa, é muito frequentado pelos moradores da Aerolândia. Basta atravessar a avenida para aproveitar a área, que conta com pista de skate, ilhas de descanso para coopistas, bancos, campo de futebol e playground. "Muitos jovens estão frequentando o lugar. De manhã, já tem muita gente fazendo caminhada. Tenho a intenção de começar a caminhar lá também", disse Marcondes.
Localização
Tanto para Marcel, que mora há 28 anos na Aerolândia, como para Marcondes, que mora lá há 30, o que há de melhor no bairro é a localização. "A Aerolândia é um bairro muito bem localizado. É só chegar na BR-116 que dá para ir a qualquer ponto da cidade de ônibus", contou Marcel. Segundo informações dos itinerários das linhas de ônibus de Fortaleza, disponíveis no site da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), 29 linhas passam pela BR-116. Além disso, uma passarela construída sobre a praça do bairro facilita a passagem dos pedestres.
Referência histórica
Construído na década de 1940 (Na Praça Paula Pessoa - São Sebastião), o Mercado da Aerolândia é coberto por uma estrutura de ferro fundido, importada da França, remanescente do Mercado da Carne. Esse antigo mercado, construído em 1896 na área central da Cidade, foi desmontado, e a estrutura de cobertura, considerada de extremo valor histórico para o Município, foi dividida e deu origem aos mercados da Aerolândia e dos Pinhões. Na época, os 50 boxes do Mercado da Aerolândia vendiam frutas, legumes e verduras, além de cortes de carne, peixes frescos e miudezas em geral. O local, que tinha seus boxes disputados pelos permissionários, possui apenas três boxes funcionando nos dias de hoje.
Importante: O Mercado de Ferro foi desmontado em 1937 sendo dividido em duas partes indo uma para a Praça Paula Pessoa (São Sebastião) e a outra metade para a Aldeota, na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões).
A parte da Praça São Sebastião foi desmontada em 1968 e levada para a Aerolândia onde ainda se encontra.
A foto de aproximadamente 1942 a 1944 da Praça Paula Pessoa, é da época da inauguração do Mercado São Sebastião (A parte que depois foi para a Aerolândia).
Estamos na Clarindo de Queiroz olhando na direção da Padre Ibiapina. o mercado São Sebastião, à época, feito de ferro, fazia pouco tempo que havia sido inaugurado e estava justamente à esquerdo por trás do fotógrafo. Arquivo Nirez
Mercado tombado sofre com abandono
Com mais de 70 anos de existência, o Mercado da Aerolândia foi tombado como patrimônio histórico pela Prefeitura de Fortaleza em 2008. Mas, de lá para cá, o restauro necessário do local ainda não foi feito. Moradores ouvem falar de um projeto de transformá-lo num espaço cultural e de pequenos negócios, mas não há prazos e nada de concreto.
A foto mostra o mercadinho do bairro da Aerolândia, em 31/07/1970. Nesta data, este era o único mercado com todos os boxes ocupados. Seus concorrentes, as feiras livres e os mercantis ficavam distantes. Arquivo O Povo
Apesar de ser um prédio tombado, a situação real do mercado é bem vergonhosa. O telhado do prédio já nem existe mais em alguns pontos. Os banheiros funcionam precariamente, e a manutenção da estrutura dos boxes, quase todos fechados, é praticamente inexistente.
O local não tem vigia, embora esteja localizado numa área considerada perigosa. Apenas três permissionários "teimam" em trabalhar no local, entre eles, a vendedora Alda Ferreira Moura, de 84 anos. Ela lembra que lá se vendia de tudo, numa época em que não existiam as grandes redes de supermercado e o local era o destino principal dos moradores quando queriam comprar frutas, verduras, carnes e peixes.
Desestímulo
"Era difícil conseguir um boxe aqui antigamente. Tinha lista de espera. A uma hora dessas, há 25 anos, tinha muita gente por aqui comprando. Agora, está assim. Às vezes, eu me pergunto por que ainda venho trabalhar aqui", afirmou. Apesar de desestimulada, Alda ainda tem esperanças de ver o mercado restaurado e com mais movimento. Ainda restam alguns clientes da época em que instalou a sua pequena mercearia no local. "Continuo não só por necessidade, porque o lucro é muito pequeno. É por gostar de trabalhar mesmo", disse Alda.
O funcionário público Marcel Régis Moreira da Costa também era frequentador do mercado, quando era pequeno. "É muito triste ver o mercado assim. Eu vinha muito aqui quando era moleque. Existe um projeto de transformá-lo num centro cultural, mas ele nunca saiu do papel". Segundo ele, uma feira bem movimentada é realizada todas as quintas-feiras, ao redor do antigo mercado. "A feira surgiu para suprir a ausência dele (do mercado)", explicou.
Segundo a Secretaria Executiva Regional (SER) VI, um projeto para a realização de obras de restauro em toda a estrutura do mercado foi desenvolvido. Após o levantamento dos custos, a Regional deve buscar os recursos necessários para a execução. Pela assessoria de imprensa, a SER VI afirmou, ainda, que o Distrito de Meio Ambiente realiza serviços de limpeza nas áreas internas e externas do mercado diariamente.
Mercado da Aerolândia - Abandonado
Estrutura de ferro do Mercado da Aerolândia e telhado estão comprometidos
O Mercado da Aerolândia, cuja construção remonta ao fim do século XIX, é um retrato vivo do descaso das autoridades para com o patrimônio histórico e arquitetônico da Cidade. Abandonado, o local parece uma sucata, já que sua estrutura é de ferro, além de ter sofrido descaracterização na sua concepção original, devido à interferência dos permissionários. Apesar de questionado, por não garantir preservação e conservação de um bem, a Prefeitura Municipal de Fortaleza lança mão ao mecanismo do tombamento.
Mercado enfrenta descaracterização
Tombar é diferente de preservar. O tombamento é um ato que basta uma assinatura no papel, não importando a situação em que se encontre o imóvel, como é o caso do Mercado da Aerolândia, cujas características originais já foram alteradas. A Prefeitura prevê um projeto de restauração, que significa, muitas vezes, recompor camadas que não existem mais, sendo reinventadas.
Algumas partes do telhado foram levadas pelo vento, assim como faltam pedaços de ferro na sua estrutura. “Mandei emplacar (forrar com alvenaria) o meu box”, acrescenta Francisco de Assis Barbosa, confirmando a intervenção feita no imóvel. Faltam partes do piso original.
Crédito: CETV, Diário do Nordeste, Cronologia Ilustrada de Fortaleza do Nirez e pesquisas na internet