Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Av. Leste-Oeste
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Instituto Médico Legal (IML) - Atual Coordenadoria de Medicina Legal

Em 10 de novembro de 1986, durante o governo Gonzaga Mota, o Instituto Médico Legal (IML), que até então se localizava na Parquelândia, foi transferido para o bairro Moura Brasil.

Bom, mas vamos voltar um pouco mais no tempo e aprender um pouco sobre a história e a importância desse Instituto para o povo cearense.

No Ceará, a Medicina Legal advêm desde o período colonial, passa pelo período imperial e já no período republicano é instalado o Gabinete Médico-Legal. Porém, um marco é registrado na década de 1950, quando é decretada a lei estadual 8.102/1956, que criou o Instituto Médico Legal (IML). Nesse período, o trabalho é desenvolvido por meio de parceria firmada entre o Governo do Estado e a Universidade do Ceará (atual Universidade Federal do Ceará - UFC). 

As necrópsias eram realizadas nas dependências da primeira sede do curso médico, no Centro de Fortaleza. Já os exames de lesão corporal eram realizados nas delegacias e os de violência sexual, na maternidade estadual.

O então Gabinete Médico-Legal 

Prédio do primeiro Instituto Médico Legal (IML), centro de Fortaleza, rua Liberato Barroso, ao lado do Teatro José de Alencar 

Somente na década de 1970, buscou-se edificação em local exclusivo. Então, em 1975, o prédio destinado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO) – que funcionava no bairro Parquelândia – torna-se a sede do IML. Por ser muito próximo às residências e por ter uma estrutura precária, em 1984, é iniciada a construção do novo IML, inaugurado dois anos depois, na sede onde atualmente funciona a Perícia Forense do Ceará (Pefoce). O marco da medicina legal cearense surge com a inauguração do IML Walter Porto, em 10 de novembro de 1986. No local, eram realizados os exames tanto no vivo, quanto no morto.

Sede do IML na Parquelândia

A partir dos anos 2000, surgem os desafios enfrentados em todo o país, como a expansão dos serviços periciais. Também é nesse período que se inicia o processo de interiorização da medicina legal em núcleos específicos da Perícia. Então, em 2008, foi instinto o IML e surgiu a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) dentro da estrutura da Pefoce, órgão independente da Polícia Civil, dotado de autonomia administrativa e financeira, vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

Maquete do prédio sede do IML no Moura Brasil - 
Foto de outubro de 1985. Acervo Daniel Chaves

Construção do prédio sede do Instituto Médico Legal no bairro Moura Brasil, em 1985. Acervo Daniel Chaves

Na Perícia Forense do Ceará (Pefoce), os profissionais da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) executam inúmeras funções essenciais para o desvendar de um crime ou uma situação suspeita que tenha resultado em morte ou não. O que poucas pessoas sabem a respeito da profissão é que os médicos peritos legistas realizam a maior parte das perícias em pessoas vivas, sendo elas vítimas ou suspeitas de delitos. 
Entre as perícias em pessoas vivas, os médicos peritos legistas atuam na realização de exames de lesão corporal, exame de embriaguez, exames de violência doméstica, exame de acidentes de trânsito, perícias para constatação de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), exames em crimes sexuais, exames cautelares em custodiados, exames de sanidade mental e perícias indiretas em prontuários.

Construção do prédio sede do IML no Moura Brasil.  Acervo Daniel Chaves


Construção do prédio sede do IML no Moura Brasil.
Acervo Daniel Chaves

Na Comel, que é uma das maiores coordenadorias existentes na Pefoce, existem núcleos com equipes de psiquiatria, odontologia, antropologia, tanatologia forense, traumatologia forense e de atendimento especial de mulheres crianças e adolescentes vítimas de violência. Por ser a coordenadoria que realiza exame no ser humano vivo, tem o seu funcionamento 24 horas por dia, “devido à necessidade de ser contínuo e sem interrupção, para atender tanto a demanda pertinente, quanto para garantir a proteção dos direitos fundamentais do custodiado seja que hora for”, explica o médico perito legista e coordenador de Medicina Legal, Hugo Leandro.

Construção do prédio sede do IML no Moura Brasil em setembro de 1986.
Acervo Daniel Chaves

Prédio sede do IML recém inaugurado em novembro de 1986.
Acervo Daniel Chaves

Um dos exames mais frequentes realizados na Comel é o exame de lesão corporal, que pode ser dividido em três situações. A primeira delas é o exame realizado o mais próximo possível do dia do ocorrido, para que se registre as lesões que são encontradas e se vincule ao fato alegado. Existe ainda o exame de sanidade de lesão corporal para saber se há sequelas ou não daquele fato ocorrido, e se aquela sequela gerou alguma limitação física na pessoa, que possa vir a ser usado para determinação ou agravamento de pena ou para classificar dentro da gravidade da lesão (uma lesão que o afaste do trabalho por mais de 30 dias ou afastamento definitivo devido a perda de alguma função). Por fim, existe o exame de lesão corporal cautelar, que é realizado em pessoas que estão sob a custódia do Estado. Esse mesmo exame é feito em quem é preso ou solto, ou ainda no momento em que é transferido e que ocorre algo enquanto ele está sob a guarda do Estado.



Fonte: Livro “Corpus Delicti – Medicina Legal no Ceará”. Autores: médicos legistas Renato Evando Moreira Filho e Sangelo Abreu, https://www.pefoce.ce.gov.br/, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A queda do pássaro gigante - O registro de uma mente!


NO DIA EM QUE ME TORNEI CELEBRIDADE

Ingressei nos quadros da então Rede Ferroviária Federal S/A aos 18 de outubro de 1981, via concurso público, e de entre 1648 candidatos para 25 vagas logrei o 14º lugar. Iniciei como Manobrador, depois Praticante de Estação (87), Agente de Estação (89), em 1994 Chefe da Estação Central e até 2011 fiquei como Assistente Técnico do Museu do Trem, dando expediente na Associação dos Engenheiros da Rede de Viação Cearense. Aí deixei de andar dentro de trem e ele ficou andando dentro de mim...

Então vamos ao assunto Piloto ou em Epígrafe: Você pode modificar seu presente visando um futuro, agora é impossível querer mexer no seu passado, afinal passado não é o que passa e sim, o que fica do que passou. Como nossa mente registra, o indelével fica sempre perto.

Em 1973 eu era aprendiz de operário na Fabrica de Tecidos São José no Jacarecanga. Trabalhava no horário de 14 às 22hs. Aos 20 de outubro deste 1973, fui com uma caneta e papel prestigiar um evento: A INAUGURAÇÃO DA AVENIDA LESTE.

Reclame antigo da Fábrica de Tecidos São José - Arquivo Assis Lima

Como rapazote fiquei com muito esforço, ao lado do Palanque das autoridades. A pior coisa que possa existir é um intelectual pobre. Anotei muita coisa. Precisamente às 10:25hs, chegava ao Palanque ao som da Banda Musical da Marinha, o Excelentíssimo Sr. Ministro de Estado do Interior José Costa Cavalcante (Tenente – Coronel do Exercito 1918-1991), que viera representar o Presidente da República Emilio Garrastazu Médici; Governador César Cals; o Prefeito Vicente Fialho e várias outras autoridades militares, civis e eclesiásticas.

Morro do Moinho (Hoje local onde fica o Instituto Médico Legal (IML) - Arquivo Assis Lima

Quando Costa Cavalcante estava fazendo seu pronunciamento, a apoteose do discurso fora interrompida, devido o ribombar das ensurdecedoras turbinas de quatro aeronaves Xavantes em vôo rasante. Depois começou acrobacias sob os efusivos aplausos; aí foi quando um dos pássaros gigantes cor de prata, entrou em parafuso em uma das manobras no corte dos céus do Pirambu (o palanque havia sido montado defronte ao hoje desativado Kartódromo). Três coisas ficaram na solidão: a casa do pintor primitivista Chico da Silva, o Bar do Ferrim, famoso por vender anzol cara torta, e aquela que fora casa de praia da família Moraes Correia, que ficou promíscua levando o nome de Cabaré Gozo do Siri. Naquele tempo ninguém conhecia a palavra Motel. É um termo moderno usado, e que com a inversão de valores, o imoral está sendo legal.
Pois bem, o Xavante caiu em cima de residências na rua Gomes Parente esquina com a rua Santa Rosa, a 100 metros da Cia. Ceará Têxtil de Jaime Machado. Foram atingidas quatro casas, vitimando fatalmente 12 pessoas, levando outra dezena para a unidade de queimados do IJF, ainda com a frente para a rua Senador Pompeu com Antônio Pompeu e era ainda conhecido como Assistência Municipal. O Polion Lemos, cinegrafista na época da TV Ceará Canal 2, conseguiu subir ao telhado de uma casa defronte, e registrou tudo em imagens.


 
Vista aérea do Arraial Moura Brasil. Vemos toda a extensão da praia, desde a Praia Formosa (hoje no local se encontra o Marina Park) até a Leste-Oeste, local onde ocorria o "espetáculo". A rua na parte inferior é a rua Barão do Rio Branco. Também podemos observar o antigo gasômetro que ficava vizinho à Santa Casa de Misericórdia. Foto provavelmente da década de 50. Arquivo Assis Lima. 

Perspectiva hoje - Ivan Gondim

O piloto que morreu somando 13 em numero de mortos, tratou-se do Major Aviador Rangel Molinos, que não era um cearense. A cerimônia fora interrompida. Se eu tivesse, ou melhor, se existisse os recursos que hoje temos, as imagens que não sai de minha mente estariam no Youtube.
Escrevi minha primeira matéria. Aiiiiii quando cheguei à fábrica, eu fui o único que havia conferido in-loco a tragédia. A sessão dos filatórios (fiação) parou e os operários fizeram em torno de mim um círculo para me entrevistar, pois muitos, ou melhor, a maioria morava no Pirambu. Uns moravam na rua Odorico de Morais de testa a Mercearia Vencedora do bairro, outros entravam na rua Mossoró, ainda tinha os que entravam na 7 de Setembro que, na esquina ficava a Padaria Jangada e lá na frente a barbearia do seu Celestino, onde eu cortava meu cabelo. Os demais adentravam na rua Largo dos Santos.

Foi assim que nasceu minha aptidão pelo escrito. Um operário de pequena estatura, para comentar um grande acontecido.
Relembrando, fui para a Estrada de Ferro, porque como disse Raquel de Queiroz: “Menino criado em beira de linha fica com o trem no sangue”. Mas, paralelamente exerço Jornalismo e também faço rádio com o meu currículo escolar graduado e com os devidos registros profissionais em órgãos competentes. Mas rádio e Jornal não dá dinheiro, a não ser que tenhamos vínculo empregatício, ou somos terceirizados via publicidades.
Com ou sem dinheiro, escrever me faz bem.

Assis Lima

Bônus:

"Campo doado pela família de Jacinto de Matos ao Estado, quando o Governador era Parsifal Barroso, para a Construção do Grupo Escolar Sales Campos. Jacinto de Matos é o Patrono da Rua de entrada do Pirambú. Prestou como Engenheiro Cívil relevantes serviços a Estrada de Ferro no Ceará na década dos anos 1920. Era pai da Professora Nilse Borges. Estudei com seu Neto Edmilson Borges em 1969. Os Galpões eram da São Judas Thadeu, e vizinho ao terreno marcado era o Instituto São Luis do Professor Luis de Melo, pai do médico pediatra João Nelson. São Judas Thadeu era uma Usina que fabricava com caroços de algodão o famoso óleo Patury. A Usina Thadeu como conhecíamos, era cliente da RFFSA, e recebia vagões fechado com algodão com caroços e também tanques com óleo de mamonas, em que este registro de 1956 mostra um estacionado para descarga." Assis Lima

O Pirambu de outrora - Arquivo Assis Lima

Arquivo Assis Lima

Leia também:

Tragédia na inauguração da Avenida Leste-Oeste


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio

sexta-feira, 8 de março de 2013

Panorama Artesanal - Três décadas



Anos 90


Encravado entre pequenas casas, o prédio do Panorama Artesanal chama a atenção de quem passa pela avenida Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste) por possuir uma grande extensão em comprimento e por conta da característica decoração com cerâmicas de cor laranja. 


Panorama Artesanal está abandonado e serve apenas de base para antenas de operadoras móveis de telefonia. Foto: Dayvison Teixeira

O prédio tem uma estrutura pouco vista em outras construções de Fortaleza. A parte inferior, que tem a entrada voltada para Avenida Leste-Oeste, conta com 30 apartamentos. O meio é composto por 100 lojas que, antes, abrigavam um centro de artesanato. Por fim, cinco torres na parte superior somam mais 90 apartamentos. Pertenceu ao Grupo M. Dias Branco.


Foto: Dayvison Teixeira

O contador José Almir Pereira, 61, morou por 26 anos no Panorama Artesanal. “Em 1981, fui um dos primeiros a chegar. E, em 2007, fui o último a sair”, revela. Hoje, morador do bairro Meireles, ele diz sentir um aperto no coração toda vez que passa em frente ao prédio. “Sinto saudades. Era um clima de companheirismo. A vizinhança fazia as festas de São João, Natal, Ano Novo, Dia das Crianças. Era um favelão organizado”, relembra.


Foto: Dayvison Teixeira

Almir conta que os moradores até tentaram comprar os apartamentos, mas o medo de existirem problemas estruturais fez com que muitos desistissem da ideia. “O Governo não podia ter se apropriado dele e deixar ao acaso." Opina.


Foto: Dayvison Teixeira

O secretário do Turismo do Ceará, Bismarck Maia, informou que o prédio foi adquirido em 2008 pelo Governo para abrigar as instalações da futura Escola de Turismo do Estado, através da construção de um hotel-escola. 


Foto: Dayvison Teixeira

A construção, datada de 1981, é localizada no bairro Arraial Moura Brasil, próxima ao Marina Park Hotel, a antiga Cadeia Pública (ex-Emcetur) e atual Centro de Turismo (Cetur), e da Estação Ferroviária João Felipe, nos limites do Centro Histórico de Fortaleza. O prédio possui 190 unidades habitacionais/apartamentos.

Foto: Dayvison Teixeira

Previsto para se tornar uma escola de hotelaria e gastronomia, o Condomínio Residencial Panorama Artesanal, localizado na Avenida Presidente Castelo Branco, deverá ser gerenciado por escolas portuguesas e suíças desses dois setores, com os quais a Secretaria de Turismo do Estado (Setur) tem dialogado. Hoje tido como um espaço abandonado, que serve de "abrigo" para dependentes químicos, o equipamento, conforme o projeto da Setur, irá se transformar em uma unidade de capacitação de referência no País e no exterior.

Foto: Dayvison Teixeira

De acordo com o secretário de Turismo do Estado, Bismarck Maia, a ideia de chamar escolas portuguesas e suíças para gerenciar o equipamento se deve ao "know how" dos dois países nesses setores. Ele ressalta que as escolas estrangeiras apenas atuarão no gerenciamento, não participando dos investimentos para a construção do espaço.

Foto: Dayvison Teixeira

A construção está prevista para ser iniciada ainda esse ano, devendo se estender por cerca de um ano e seis meses.

Conforme Bismarck, ainda não foi definida a quantidade de pessoas que serão capacitadas anualmente pela escola - o que só será apresentado após a conclusão do projeto executivo. Da mesma forma, ainda não há definição sobre quanto será investido pelo Governo do Estado.

De todo modo, afirma o gestor, tão logo seja concluído o projeto, a Setur irá procurar bancos de fomento que financiem a construção. "Quando tiver o projeto, vou colocá-lo debaixo do braço e vou procurar o financiamento", ressalta.

Foto: Dayvison Teixeira

Bismarck frisa que, embora a gestão do equipamento seja estrangeira, "está resguardada" a participação de escolas regionais e de acadêmicos do Estado. 

No fim do ano passado, foi dado início ao cadastro de famílias cearenses interessadas em hospedar turistas. Conhecida como "bed &  breakfast" - "cama e café", em inglês, a atividade é comum em países europeus, por exemplo, e está sendo estudada como uma forma de atender ao crescimento da demanda por leitos no Estado. Conforme o secretário, a expectativa é que sejam criados, através desse sistema, na Capital, entre 3 mil e 4 mil leitos, com um total de 1.500 domicílios cadastrados. A criação dessa quantidade de leitos, com investimento apenas em novos hotéis, frisa, demoraria "de oito a dez anos". Para que o projeto tenha início, complementa, a Setur tem tentado firmar uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

O condomínio residencial Panorama Artesanal, localizado entre a avenida Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste) e as ruas Senador Jaguaribe e do Trilho,tem  área total de 3.053 m2 e construída de 15.659 m2.

Cursos 

Uma equipe técnica da Setfor está elaborando projeto pedagógico e estatuto de funcionamento da Escola Municipal de Turismo. Deverão ser ofertados, permanentemente, pela Prefeitura de Fortaleza, cursos de camareira, garçom, atendimento ao público, recepcionista, governança, idiomas, gestão (preparação de gerentes de restaurantes e hotéis), emissão de bilhetes (para atender as agências de viagem), animação turística, marketing e promoção, gastronomia dentre outros. Toda a organização e fundamentação da Escola está baseada nas diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional de nível técnico da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação e, também, nas normas do Conselho de Educação do Ceará.

Foto Arquivo O Povo

Ressalta-se que a carga horária mínima para habilitação de um técnico em Turismo e Hospitalidade é de 800 horas/aulas, segundo informa o professor Afonso Matos, um dos responsáveis pela criação do estatuto da entidade.

A expectativa da secretária de Turismo de Fortaleza, Patrícia Gomes de Aguiar, idealizadora do projeto, era de ver a Escola funcionando até o segundo semestre de 2010. “O projeto vem compor uma estratégia macro de preparação da cidade para o Turismo como um todo e, em especial, para a Copa do Mundo de 2014”, afirmou Patrícia Aguiar. 
É... Até agora, nada!

O edifício encontrava-se completamente abandonado e servindo apenas de base para antenas de operadoras móveis de telefonia. Localizado em frente ao Marina Park Hotel, ele tem como limites as ruas do Trilho, General Sampaio e Senador Jaguaribe. O estado de degradação é lamentável!

Vídeo O Povo

As pichações tomam conta da fachada. Portas e janelas foram quebradas. Por dentro e por fora, há muita sujeira. A escuridão e o mau cheiro completam o cenário na antiga garagem. Segundo o vigilante Gerson Valetim, 47, que trabalha na segurança do prédio, pessoas costumavam entrar no local para usar drogas. Informação confirmada por um comerciante que trabalha próximo e não quis se identificar. O fato pode ser facilmente detectado pela grande presença de latas de alumínio cortadas que ficam espalhadas pelo chão, denunciando o uso do crack.








Andamento da reforma em foto de junho de 2015

Saiba Mais

O prédio de 32 anos, encontrava-se em estado de completo abandono e era alvo de vandalismo e pichações, além de se transformar em depósito de lixo. A Secretária do Turismo planeja construir uma escola de profissionalização em turismo, estamos aguardando que o projeto saia do papel e vire uma realidade!!!

Editado em 07/07/2018:

Foto de Delberg Ponce de Leon
Foto atual do prédio que abrigará a Escola de Hotelaria e Gastronomia do Ceará. 
As obras já estão em processo de finalização e de acordo com a Seduc, a inauguração se dará no próximo semestre.

Fontes: O Povo e Diário do Nordeste

sábado, 17 de novembro de 2012

Riacho Jacarecanga - Antigo Timbó


Álbum Vistas do Ceará 1908

O riacho Jacarecanga nasce (segundo Decreto n°15274 de 25 de maio de 1982) nas proximidades do cruzamento da Avenida Bezerra de Menezes com a Rua 14 de Abril, local onde acaba o Rio Pajeú e sua foz localiza-se na Praia do Kartódromo

Avenida Bezerra de Menezes

Por volta da década de 80, o riacho Jacarecanga tornou-se de grande importância na região por localizar-se em um bairro Nobre. Ele era considerado uma área de lazer do Bairro Jacarecanga de Fortaleza, onde as pessoas aproveitavam a limpidez do riacho e tomavam banhos refrescantes em dias ensolarados. Aproveitava-se o riacho para a prática de pesca de peixes ornamentais e entretenimento dos moradores. 

Em 1915, devido a seca no sertão nordestino, registrou-se a grande migração de sertanejos do interior do Ceará para a capital em busca de melhor qualidade de vida. A migração prejudicou o crescimento ordenado da cidade, favorecendo o aparecimento de moradias irregulares. Com isso, pessoas de condições socioeconômicas desfavoráveis começaram a ocupar as proximidades do bairro Jacarecanga, deslocando a elite para o bairro Aldeota

Nessa época, a praia era conhecida como Praia do Kartódromo

A praia lotada...e essa areia vermelha... Essa é a praia da Leste (ou Praia do Jacarecanga) e a areia vermelha (piçara) era o aterro feito na construção da Av. Leste Oeste. Nessa época não tinha ainda as barracas e nem o péssimo cheiro da estação de tratamento da Cagece.

No final da década de 1980 e início da década de 1990, instalou-se na Praia do Jacarecanga (Leste-Oeste) uma Estação de Tratamento de Esgotos. Logo, esses acontecimentos influenciaram bastante para que houvesse uma grande desvalorização do bairro, com a instalação definitiva de uma população de menor poder aquisitivo e escolaridade, além da desassistência pelos órgãos público-governamentais. 
A partir de então, residia no local não mais a elite, mas os pobres que não reconheciam seus direitos perante o governo e que assim não reivindicavam as condições básicas de vida como, por exemplo, o saneamento básico da referida área. Deu-se início aos depósitos de entulho no leito do riacho e esgotos clandestinos com desembocadura no córrego em questão.

O riacho Jacarecanga foi sendo degradado ambientalmente. A mata ciliar desmatada para ocupação das moradias irregulares, que em tempos chuvosos, eram inundadas, facilitou o assoreamento do seu leito, eutrofização das águas do riacho e a proliferação de vetores como insetos, ratos e caramujos, responsáveis por riscos à saúde humana.

Lagoa (riacho) Jacarecanga em foto do Álbum Vistas do Ceará 1908.

A foz do riacho Jacarecanga, que antigamente chamava-se Timbó, já era registrado pelos holandeses, quando estes estiveram no Ceará (Mapa de Fortaleza de 1649).

Às margens esquerda e foz deste foi construído em 1749 uma fortificação militar Reduto de Jacarecanga*, neste mesmo local nos dias de hoje localiza-se a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará.
Com a expansão territorial de Fortaleza no século XIX, as margens do riacho Jacarecanga começa a ser consolidada como um bairro com casas de veraneio e igrejas ou conventos, como o Instituto Bom Pastor.

Localizado em parte na Avenida Francisco Sá, nas proximidades do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros, o riacho Jacarecanga apresenta-se como uma grande fonte histórica para o bairro que lhe dera nome.
Durante várias décadas, o riacho Jacarecanga apresentou-se como uma rica fonte de sustento para a população do bairro, que pescavam em abundância os peixes das mais variadas espécies, algumas delas ornamentais. O riacho também foi uma área de lazer para os moradores que diariamente banhavam-se em suas águas.
Entretanto, ao iniciar-se o século XX, com a situação apresentada no Ceará, em virtude das migrações de povos do interior, o riacho acabou por ter suas margens indevidamente ocupadas por construções irregulares. Tal ocupação resultou em um processo negativo, uma vez que a mata ciliar que dava proteção fora desmatada, deixando as condições estruturais do solo em um índice de tal fragilidade que formou-se blocos de terra no leito do riacho, levando a uma gradual diminuição do nível das águas.
Não só esse processo levou a uma deterioração do riacho, o acúmulo de dejetos produzidos pelos migrantes as margens do riacho foi aumentando de tal forma que acabaram sendo carregados juntamente com os deslizamentos de terra, depositando-se nas águas do riacho e acarretando, consequentemente, um processo contaminativo das águas.

Foto Sbpcnet.org

Hoje o riacho passa por uma acentuada degradação ambiental, está com o seu leito muito poluído, suas margens estão cobertas por entulhos, exala um odor muito forte, provocado pelo lançamento de esgotos, dentre outros problemas. O riacho Jacarecanga apresenta-se como uma fonte de depósito de resíduos dos mais diferentes tipos: orgânicos, plásticos, domésticos, etc.
O riacho tem uma extensão de 2,02 km. Há um índice de contaminação de 16000 coliformes fecais (micro-organismos presentes em águas contaminadas) por 100 ml (TONIATTI, Mariana – O POVO online).

Crédito da foto: http://connepi.ifal.edu.br

A população que mora ao redor do riacho reclama muito porque os órgãos públicos não realizam obras de revitalização do córrego em questão, o que seria de extrema importância para melhorar as condições de vida da área em estudo. Contudo, a própria população ainda persiste nos hábitos de depositar lixo doméstico nas margens, escoar seus esgotos para o leito do riacho, desmatar a mata ciliar, realizar queimadas de lixo, dentre outros.

Atualmente, o riacho poderia até ser um local de lazer para a população, servindo inclusive como fonte de renda para alguns, mas devido às ações contínuas de degradação ambiental,
decorrentes de ações antrópicas irresponsáveis, foi mais um exemplo claro do desrespeito e desvalorização ao meio ambiente.
No riacho Jacarecanga o descaso ambiental assumiu patamares alarmantes. Há uma grande quantidade de lixo nas margens e águas do riacho.

Esgoto doméstico despejado no leito do Riacho Jacarecanga - Crédito da foto: Connepi2009

Segundo comentários da reportagem realizada pelo jornal Diário do Nordeste em 27 de Dezembro de 2007  "Com os canais e riachos cheios de lixo, a chegada das chuvas é um alerta para a população e para o poder público. Diversos mananciais da Cidade, em áreas onde é comum acontecer inundações e alagamentos, estão tomadas por lixo, vegetação e entulho. A pior situação, no entanto, acontece no riacho Jacarecanga, com tanto lixo que a quantidade de água que circula não é suficiente para escoá-lo". 

Os moradores da região são responsáveis pela maior parte dos resíduos encontrados no local. Entretanto, constata-se que os moradores vivem um paradoxo, pois justificam suas ações afirmando que a falta de coleta de lixo e a carência financeira os levam a jogar seus detritos nas margens do riacho e até mesmo dentro de seu leito, ao mesmo tempo em que afirmam a importância da conservação das condições da qualidade de vida de todas as espécies da área do riacho. A população torna-se responsável direto pela situação que se encontra atualmente o querido riacho Jacarecanga.

*O Reduto de Jacarecanga, incorretamente grafado por BARRETO (1958) como Reduto de Jarecamara, localizava-se em Jacarecanga.
É uma estrutura citada por BARRETTO, que informa tratar-se de fortificação existindo em 1749, artilhada com duas peças.
Posteriormente, instalou-se no bairro da Prainha a recém-criada Companhia de Aprendizes-Marinheiros, em 26 de novembro de 1864. Em 1 de Outubro de 1908, mudou-se para o bairro de Jacarecanga, onde permanece até hoje.



Impactos ambientais no riacho Jacarecanga e a importância da educação ambiental dos Ribeirinhos - Referências Bibliográficas:  
BRASIL, Resolução nº 32, de 15 de outubro de 2003. Conselho Nacional de Recursos Hídricos 
BRASIL, Decreto n°15274 de 25 de maio de 1982. Disponível em - www.semace.ce.gov.br. Acessado em 30/07/2009 
D’ABRONZO, Giuliano Pereira. A importância da água. Disponível em www.tribunatp.com.br. Acessado 
em 7/07/2009 
DACOSTA, Ana Carolina Oliveira.  Desperdício de água cresce. Disponível em www.recantodasletras.com.br. Acessado em 27/07/2009 
GOBBET, Cassiano.  Água contaminada. Disponível em  www.ambientebrasil.com. Acessado em 2 de 
agosto de 2009 
SALES, José.  Inventário ambiental, comentário do Caderno CIDADE, do jornal Diário do Nordeste. 
Disponível em www.inventarioambientalfortaleza.blogspot.com. Acessado em 7/07/2009
TONIATTI, Mariana. Ciência e Saúde. Disponível em www.opovo.com.br. Acessado em 7/07/2009. 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Tragédia na inauguração da Av. Leste-Oeste


Primeiro trecho asfaltado da Avenida Leste-Oeste em 1973 
Arquivo O Povo

Em 20 de outubro de 1973, com a presença do Ministro do Interior, Costa Cavalcante, são inauguradas várias obras, entre elas, a primeira etapa da Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste).
Durante as comemorações aviões faziam evoluções, quando um deles se desgoverna e se projeta sobre três casas na Rua Gomes Parente, no Pirambu, matando mais de uma dezena de pessoas e deixando dezenas de feridos.
O Xavante era pilotado pelo tenente aviador Pedro Rangel Molinos, que era gaúcho.

"O bairro onde nasci e me criei, em Fortaleza, tem a curiosa peculiaridade de várias de suas ruas serem identificadas por dois nomes, um oficial e outro atribuído pela população local.

A rua Pedro Artur, mais conhecida como Rua Sete de Setembro  
Imagem Google Street View

Por exemplo, a minha casa ficava em uma rua chamada oficialmente de Pedro Artur, que era – e ainda é – conhecida como Rua Sete de Setembro. O nome da rua dos fundos da casa é Monsenhor Rosa, mas todos a chamam de Rua Mossoró. Basta caminhar até a esquina para chegar à Dom Hélio Campos, apelidada de Rua da Felicidade.

Pode ser estranho, mas é um traço cultural tão forte do lugar, que o próprio bairro chama-se oficialmente Nossa Senhora das Graças, mas qualquer fortalezense que passa por ali sabe que está atravessando o Pirambu.

 1937. Estamos no Arraial Moura Brasil, na parte de baixo, atual Avenida Presidente Castello Branco (Leste-Oeste). Vemos a Comunidade de Santa Teresinha em torno de sua capelinha, que foi a única a resistir quando a avenida foi rasgada.
Em 1936-37, o Arraial Moura Brasil foi urbanizado. Acervo Lucas.
No começo dos anos 1970, a minha rua era uma das mais importantes do bairro, porque era a via por onde circulavam os ônibus que faziam a linha para o centro da cidade. Foi assim até 1973, quando foi aberta a Avenida Presidente Castelo Branco, apelidada imediatamente de Leste-Oeste, porque segue paralela à margem do Oceano Atlântico, ligando o Mucuripe (Leste) à Barra do Ceará (Oeste).

 O bairro Arraial Moura Brasil muito antes da construção da Avenida Leste-Oeste

Para os meninos da minha idade, foi uma ótima mudança, já que, sem os ônibus circulando, ficou mais seguro brincar na rua, mas a melhor parte aconteceu mesmo antes da inauguração da avenida, no período de sua construção.

Primeiro foi brincar nos escombros das casas desapropriadas, que as pessoas foram abandonando, levando portas, janelas, telhas e outros de seus pedaços, para aproveitar na construção da nova moradia. O cenário de destruição era perfeito para brincar de guerra e esconde-esconde, numa época em que as crianças podiam usar armas de brinquedo, e os pais não morriam de medo quando passavam horas sem saber onde os filhos estavam.

Foto publicada no Jornal O POVO, em 05/10/1974. Importante via de ligação entre o Porto do Mucuripe e a Barra do Ceará - a Avenida Presidente Castelo Branco - foi entregue ao público, como uma das maiores obras da administração do prefeito Vicente Cavalcante Fialho.

Depois, veio o tempo de assistir ao espetáculo das máquinas trabalhando. Ficávamos maravilhados com a força dos tratores de esteira, derrubando as últimas paredes que restavam das casas, revirando tudo e fazendo grandes montanhas de entulho. Sim, montanhas, porque, para um menino de sete anos, eram enormes aqueles montes de terra e, quando os tratores paravam, sempre achávamos um jeito de brincar neles. Depois vinham as pás mecânicas e punham toda aquela terra em caminhões que a levavam não se sabia para onde.

Máquinas de terraplanagem, de compactação, de colocação do asfalto, conhecíamos cada uma delas, certamente que por nomes diferentes desses que uso hoje.

Inauguração da 1ª etapa da avenida em 1973 - Arquivo Nirez

Até que chegou o dia da inauguração, acredito que em outubro de 1973. Meu pai estava trabalhando, mas eu e meu irmão fomos com minha mãe ver a festa. Havia muita gente, carros, banda de música, caminhões de bombeiros e militares com fardas de todos os tipos.

 A grande festa de inauguração - Arquivo Nirez

Eu nunca tinha visto nada parecido. De repente, ouvimos um barulho estranho, vindo do céu, e quatro aviões Xavante passaram sobre nossas cabeças. Voavam baixo, fazendo o que depois me diriam que era um voo rasante. Seguiram assim por mais alguns instantes e, de repente, subiram, quase na vertical, diante dos nossos olhos atentos e atônitos.
Mas, no meio da subida, um dos aviões passou a se comportar de modo estranho. Não acompanhava mais os outros, girava, rodopiava… Apontou o bico para baixo e sumiu por trás das casas. Uma imensa coluna de fumaça negra ergueu-se no ar.

Foto da inauguração da Avenida Presidente Castelo Branco, publicada no Jornal O POVO, em 07/10/1974. Milhares de estudantes de vários colégios de Fortaleza ficaram colocados ao longo da avenida, formando ala dupla para a passagem das autoridades que chegaram ao lado do Forte Nossa Senhora da Assunção.

Foi como se, por alguns segundos, tudo houvesse ficado em silêncio. Como se o tempo houvesse parado um pouco para que as pessoas pudessem entender o que estava acontecendo. Acho que eu nem respirava.

- Caiu! – gritou alguém.

Foto do Xavante que caiu sobre as casas no Pirambu - Arquivo O Povo

E o tempo voltou a funcionar. Houve gritos e correria. Verdadeiro pânico tomou conta da multidão. Lembro bem de um caminhão de bombeiros saindo, com a sirene ligada, um de seus soldados correndo e se pendurando nele.

Um modelo Xavante está exposto na Base Aérea. A aeronave marcou a história da aviação de caça brasileira - Arquivo Diário do Nordeste

Olhei de novo para a coluna de fumaça. Mesmo tendo apenas sete anos eu podia perceber que sua base ficava bem na direção da nossa rua. Acho que minha mãe também percebeu isso, porque não queria nos levar para casa. Entramos apressados em um táxi que não sei de onde surgiu e fomos para a casa de uma amiga da família, um pouco distante da nossa.

Dona Geralda prometeu cuidar de nós enquanto minha mãe ia ver como as coisas estavam. Ficamos ali o dia inteiro, esperando notícias. Se fosse hoje teríamos procurado alguma coisa na TV ou na Internet, mas, naquele tempo, tivemos que aguardar até nossa mãe chegar, já no final da tarde, e nos levar para casa. Nosso pai já nos esperava lá.

Sim, a nossa casa continuava de pé. O avião caíra a uma quadra e meia dela, uns duzentos e cinquenta metros ao leste, segundo posso ver hoje nos mapas do Google.


Fomos dormir tarde da noite, depois de ouvir as muitas histórias que foram sendo contadas por vizinhos que a toda hora apareciam para conversar com meu pai.
No dia seguinte, de manhã bem cedo, eu e meu irmão fomos com meu pai ver o local do acidente. A cratera era imensa. Não sei quantas casas foram destruídas. Lembro que saía fumaça de alguns pontos do chão. Em um dado momento, soltei a mão de meu pai e me aproximei de algo parecido com uma pedra:

- Papai, tem uma coisa aqui! Tá meio enterrado, mas…

Meu pai revirou a terra com um pedaço de madeira e pudemos ver que era o pé de uma das vítimas. Um pé grande, de homem adulto, com um pouco de pele da perna todo encolhido, parecendo carvão. Fiquei olhando para aquele pé, até que um homem fardado aproximou-se e o recolheu.

Minutos depois voltávamos para casa, conversando sobre o que vimos ali. Alguns dias mais tarde, fiquei sabendo que treze pessoas haviam morrido no local, incluindo o piloto do avião.

Rua Gomes Parente, lugar da queda do avião 
Imagem Google Street View

A rua onde o acidente aconteceu chama-se Gomes Parente, e naquele tempo não tinha um segundo nome. Não tinha, porque desde então passou a ser conhecida como Rua do Avião."

Marcos Mairton

A Leste-Oeste nos anos 70

Uma segunda visão do ocorrido:

"No ano de 1973 eu tinha 16 anos e estudava no Colégio Estadual Liceu do Ceará cursando a 7ª Série. Durante a semana que antecedeu o dia da inauguração da Av. Leste Oeste fomos informados que o Liceu iria desfilar, usando o mesmo fardamento do desfile que acontecera no dia 7 de Setembro.
Na manhã daquele Sábado acordei cedo, vesti minha farda engomada no grude, no capricho, amarrei uma fitinha verde e amarela no punho e me mandei para o local da solenidade. Desci do ônibus na Praça do Liceu e fui a pé para a Marinha, misturado com outros alunos que também haviam sido convocados.
O Liceu foi um dos últimos a desfilar. Já passava do meio dia quando nos dispersamos. Alguns alunos foram para suas casas e outros, como eu, ficaram observando o final da solenidade. Os caças Xavantes já haviam dado alguns voos rasantes, mas neste último, eles surgiram em número de três, sobrevoando a Marinha no sentido sertão mar. Ao passarem sobre o palanque das autoridades armado junto ao muro da Marinha, eles empinaram e subiram quase na vertical. Lá no alto um deles começou a expelir uma fumaça negra e por uma fração de segundos ele fez uma pirueta no ar, como se tivesse desgovernado, lembrando uma folha seca ao sabor do vento. Em seguida empinou o bico para baixo e descreveu uma diagonal caindo inapelavelmente no solo, sobre umas residências. A queda foi tão rápida que o piloto não teve nem tempo de ejetar o assento e acionar o paraquedas. Os outros dois Caças interromperam as manobras e voltaram à Base. 
O Avião caiu, ouviu-se o grito da multidão que corria desesperada na direção da coluna de fumaça negra que se erguia do local onde o avião caíra. E eu correndo junto da multidão, pulando cercas, pulando arbustos, me esquivando dos pés de mata-pasto, dos pés de salsa, vencendo a areia fofa típica de região praiana. Lembro ter passado junto a um muro de uma fábrica, creio que era os fundos da antiga Cibresme e corri mais um pouco até chegar numa rua estreita. De onde eu estava dava para ver e escutar o crepitar das chamas consumindo o que restou do avião, a parte traseira de uma casa e um pé de castanhola. Considerando a multidão que acorrera ao local do sinistro, creio que eu fui um dos primeiros a chegar. As pessoas contemplavam a cena caótica e se entreolhavam como se tivessem procurando uma explicação para aquele desastre.
De repente eu vi uma cena que me deixou estupefato, lívido, sem ar nos pulmões. Era como se eu tivesse levado um potente soco na boca do estômago. A boca ficou seca, um gosto amargo de fel na boca. Eu só pensava em sair daquele local o mais rápido possível. A minha curiosidade se escafedeu como que por encanto e fui forçando a passagem entre as pessoas, que assim como eu também ficaram chocadas com a imagem, como se não acreditassem no que estavam vendo. Às duras penas consegui sair dali e chegar numa rua que ia dar na Av. Francisco Sá, na altura da passagem de nível que fica próximo da Brasil Oiticica. Apanhei o ônibus e fui pra casa tentando esquecer o que tinha visto. Mas nós não dominamos nossos pensamentos. Por mais que tentasse, a cena aparecia viva na minha frente. Naquele dia não almocei e passei uma semana sorumbático, triste. O assunto da queda do avião dominou a cidade por vários dias. 
A cena que me deixou chocado foi ver uma garota totalmente despida, pelo tamanho dos seios, do tamanho de limões, e pela rala penugem que cobria a vulva, ela deveria ter no máximo uns doze anos. A pele toda se soltando, como se fosse papel se descolando em tiras. Por baixo da pele era uma cor branca como se ela não tivesse sangue. Os cabelos na altura dos ombros se encontravam úmidos, como se tivessem sido molhados com uma espécie de gosma, não eram soltos, eram grudentos. Os olhos esbugalhados em tempo de sair pelas órbitas fitando as pessoas, suplicando ajuda, porém sem gemido, sem dizer uma palavra, trespassada de dor, sem entender o que houvera acontecido. Não sei se ela se encontrava no banho, no momento que o mundo desabou sobre a casa dela, ou se ela livrou-se das vestes ao ser encharcada com a gasolina altamente volátil do avião e pegado fogo.
Uma Senhora se aproximou da garota trazendo uma toalha branca umedecida e a cobriu. Alguém solicitou ajuda para leva-la ao hospital e prontamente um Senhor se apresentou se oferecendo para transportá-la. Embarcaram numa C-10 branca e foi à última vez que vi aquela garota. Não sei se ela sobreviveu. Passado tanto tempo, 45 anos depois daquela fatídica manhã eu ainda lembro com uma impressionante riqueza de detalhes."

Santos Souza

Alguns Acidentes

junho de 1967 o jato da FAB explode na Usina Evereste. Dez pessoas morreram e 22 ficaram feridas.
1967 avião cai em Messejana. Morreram o ex-presidente Castelo Branco, seu irmão, Cândido Castelo Branco, e três outras pessoas.*
1967 Um caça não municiado (TF-33) da Força Aérea Brasileira sob comando do 1º Tenente Renato Ayres, chocou-se com violência contra os verdes-mares do Mucuripe. O impacto causou uma explosão imediata chocando a população que assistia perplexa.**
1973 um Xavante cai no Pirambu, matando 13 pessoas.
1981 Caça cai no mar, matando piloto.
1981 Xavante cai na Barra do Ceará.
1982 Boeing 727 "Super 200" da Vasp choca-se com a Serra de Aratanha, matando 135 pessoas.
1987 Xavante decola e cai em seguida, na área militar do Aeroporto Pinto Martins.
1989 Bimotor cai na Lagoa da Parangaba.
2007 Em abril, o Boeing 737-300 da Gol fez um pouso forçado, derrapando 15 metros e saindo da pista, depois atolando na lama. 

Diário do Nordeste


*Notícia de 18 de julho de 1967: "Ontem, no Ceará, uma colisão aérea vitimou o ex-presidente Castelo Branco, que havia deixado a Presidência da República há quatro meses.
O avião em que ele estava, com mais seis pessoas, foi atingido na cauda por um caça militar e caiu em "parafuso". Sem grandes problemas, o jato da aeronáutica conseguiu pousar na sua base. Quanto ao bimotor abalroado o resultado foi trágico: com excessão do co-piloto, salvo milagrosamente, todos os demais morreram no choque da pequena aeronave com o solo." Escapou o co-piloto Emílio Celso. Morreram, o Comandante Celso Tinoco Chagas,  a escritora Alba Frota, o Marechal Castello Branco, seu irmão Cândido Castello Branco e o Major Assis.  Circularam rumores de que o avião do ex-presidente teria invadido a zona destinada ao avião da FAB.

**O dia era 22 de outubro de 1967 e milhares de pessoas lotavam a faixa de areia do Iate Clube até a Praia de Iracema para assistir ao show aéreo prometido para aquele dia como parte das comemorações da semana da asa. Dez aeronaves participavam do evento e até um alvo incendiário foi montado dentro da Enseada do Mucuripe para demonstrações de tiro.





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Créditos: Diário do Nordeste, Jornal da Besta Fubana e 

Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

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