Era filho de Sr. Hugo e sua família veio de Sobral. O outro comediante, Chico Anísio, que
junto com os outros dois alcançou notoriedade no país, morou na Avenida João Pessoa,
também no Benfica. Sua casa dava fundos para a Rua Carapinima, onde funcionava a garagem da empresa de ônibus do seu pai. Não posso esquecer o Dilcimar Oliveira, grande comunicador que atuou no jornalismo local, chegando depois a escrever no Le Monde e o inesquecível tenor Abel, que atuou no filme “Ligações Perigosas”. Além do músico Zezinho que alegra ainda hoje as noites de Fortaleza. Como vê, uso a memória para registrar e celebrar todas essas pessoas, que com sua linguagem erudita, professoral, escrita e oral contribuíram para a formação de jovens, o deleite de muitos, como no caso dos três humoristas mencionados. Discursando, escrevendo substanciosos artigos, poemas, contos e traduções, dignificaram suas profissões.
Francisco José Róseo de Oliveira foi conhecido nacionalmente.
Casado com uma senhora belíssima, a dona Cleide. De fato, perdeu o seu filho caçula, o Luis
Antonio Róseo, que recebeu uma homenagem em poema do meu irmão, o cordelista Luis
Antonio Aragão. Os versos eu sei de cor... A morte dele comoveu todo o bairro, pois se
tratava de uma criança que fazia o curso primário. Vamos aos versos:
Chorar, chorar...
Nas minhas lágrimas
Rolam os sentimentos
Por alguém que jaz amor.
Sem túmulo, sem um abrigo,
Entregue aos mistérios
Do Oceano que levou consigo,
Seu corpo e minhas esperanças
De encontrar meu grande amigo.
Ó, mar, resolve meu dilema,
Porque não vou odiar-te,
Pois sei que inspiraste
As frases deste poema.
Mas livra de teus laços,
Esta vítima inocente,
E lança nos meigos braços
De quem por ele chora e sente.
Com a criação da Universidade Federal do Ceará que adquiriu grande parte dos bangalôs e sobrados do bairro. Muita gente mudou-se para outros locais e o bairro consagrou a fama de “intelectual”. Ficaram famosas as festas do CEU – Clube dos Estudantes Universitários. É claro que a Universidade estimulou a corrida dos jovens ao vestibular e o
Conservatório de Música recebeu muitos alunos. É fora de dúvida que a Universidade continua tendo um papel importante em todo o Estado do Ceará. Mas não se pode negar que ela foi uma das responsáveis pela descaracterização do Benfica e da Gentilândia por causa da sua própria expansão e em face da construção de novos edifícios. Até a maravilhosa fonte que ficava em frente da reitoria da Universidade, antigo solar da família Gentil, onde chegou a se hospedar Getúlio Vargas, foi retirada dali e hoje está no centro da cidade em frente à sede do Banco do Nordeste. Vale acrescentar que o bairro do Benfica, cresceu em importância com o advento da Universidade. As mulheres passaram a ter a oportunidade de ingressar em outras faculdades e não só na de Filosofia. Algumas vindas do interior e hospedavam-se em casas de parentes, ou ainda nos pensionatos para moças, que passaram a ser comuns naquela época e hoje quase não existem mais. Notadamente, o bairro do Benfica era todo verde, parecia um parque ecológico enquanto que hoje, apesar da preservação do meio ambiente, ele já não é tão verde assim. A necessidade de modernização retirou os trilhos dos bondes, ruas foram alargadas e encolheu-se o espaço da casa. Hoje ela não vai até a rua. Algumas secretarias foram acrescentadas à prefeitura e ao governo do estado. A SUMOV, por exemplo, pertinente a Superintendência de Urbanização, entre outros órgãos, transformaram ruas em avenidas modificando a paisagem urbana. A violência se reflete em várias facetas. É o caso da Igreja dos Remédios, hoje protegida por uma infinidade de grades e há ausência de cadeiras nas calçadas para as longas conversas de outrora. As televisões e os computadores estabelecem um novo tipo de comunicação. Os debates sobre política e economia feitos na ágora foram substituídos por conversas fúteis sobre novelas e programas sem nenhum conteúdo cultural e são duvidosas produções artísticas.
O escoamento de gêneros in natura, faz-se hoje muito mais por caminhão. Não se ouve mais “lá vem o trem”. O trem que antes transportava gente do povo, fardos de algodão, mamona, feijão, farinha, oiticica e bovinos, equinos e suínos, vindos de outras cidades cearenses como Cedro, Iguatú, Senador Pompeu, em vagões chamados gaiolas.
Observe-se que a modernização do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, e a inauguração do Porto do Pecém deram novo ânimo às exportações do estado. Virou história o início do Porto do Mucuripe quando à distância se avistava o grande guindaste Titã e da Maria Fumaça trazendo as pedras para o porto. Nós, meninos, da Rua Carapinima, meninos dos bairros do Benfica e circunvizinhos fomos levados para conhecer o “Passatempo”, precária estação de passageiros, local onde ocorreram os primeiros embarques e desembarques. Na Cia. Docas do Ceará empenhei-me muito pelo tombamento do Titã na ponta do quebra-mar e também do Passatempo, mas não tive êxito. Ainda bem que ainda resta a Ponte Metálica onde essa operação de embarque e desembarque já havia existido entre 1920
e 1952. Claro que está numa cidade banhada pelo mar não se pode esquecer dos passeios na
orla. Assim, a criançada toda e os jovens do bairro eram de vez em quando premiados."
Paulo Maria de Aragão
(Advogado e professor universitário)
Parte I
Parte II
Crédito: Carapinima: A história de uma rua -Regina Stela Ferreira Moreira
(Formada em jornalismo pela Faculdade Celso Lisboa (Rio de Janeiro)