Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Avenida Dom Manuel
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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terça-feira, 2 de abril de 2019

A expansão urbana de Fortaleza: O desinteresse da cidade pelo mar

Do ponto de vista histórico, Fortaleza teve seu crescimento urbano voltado em direção ao sertão. A faixa litorânea fortalezense passa dessa forma alguns séculos sendo ignorada pelos seus citadinos. O mar, ponto de início da colonização cearense, vem configurar-­se nos primórdios do crescimento da cidade, como um local fora de Fortaleza. Este curioso fato de rejeição do fortalezense ao mar deu-­se principalmente pela origem daqueles que chegaram. Fortaleza, até 1799 (ano do desmembramento do Ceará da Província de Pernambuco), era uma vila sem importância econômica. Destacavam-­se naquela época as vilas de Aracati, Icó, Sobral, Crato, Camocim, Acaraú e Quixeramobim. Isso se dava pelo motivo da principal atividade econômica da província ser a pecuária, com a exportação de carne, couro e animais de tração para a zona ­da ­mata nordestina. 



A Zona ­da ­mata começava a se dedicar ao cultivo da cana ­de açúcar, cabendo ao Ceará a venda dos produtos pecuários para a região. Dessa forma, é dado início a movimentação econômica interna no território cearense. Fortaleza vem crescer justamente a partir da elite oriunda do interior da província. Dessa forma, o mar passa a se configurar por muitos anos como um local esquecido, ausente de qualquer tipo de interesse do homem. Se utilizando das plantas históricas de Fortaleza, esta pesquisa vem analisar a expansão urbana da cidade, verificando as mudanças de olhares do fortalezense em relação ao mar e observando a tomada da ocupação do litoral. 



Analisando a consolidação de Fortaleza enquanto capital, Dantas (2002) afirma que a cidade nascera voltada para o sertão, contradizendo sua natureza litorânea, dado as relações no campo cultural e econômico da sociedade com o interior do Estado, configurando-­se dessa forma como uma cidade litorâneo ­interiorana. O litoral passa a ser vislumbrado pela sociedade fortalezense quando em busca de uma vida político ­econômica mais independente, a cidade apresenta-­se como ponto de exportação dos produtos produzidos no Ceará, notadamente o charque e o algodão, através do Porto, implantado em fins do século XVIII, nas intermediações da Praia do Peixe, atual Praia deIracema
A oferta de mercadorias para o exterior já era presente desde meados do século XVII nas principais cidades brasileiras, uma vez que vendiam seus produtos para a Europa e outras capitanias. 

A vila encontrava-se ainda sem infraestrutura básica para o surgimento da economia de exportação vigente em outras capitais. A ausência de um porto em Fortaleza, capaz de exportar os produtos produzidos no Ceará, levava o crescimento de outras localidades, portuárias, como Aracati e Acaraú, passando a colocar o Ceará na rota de exportação do algodão. Essa precariedade infraestrutural de Fortaleza é percebida a partir da análise da Primeira Planta da Cidade de Fortaleza, rascunhada em 1726 por Manuel Francês que apresenta a Fortaleza do início do século XVIII. Desenhada pelo capitão-­mor daquele período, a planta surge com o objetivo de apresentar à Coroa Portuguesa o domínio lusitano sobre a região. O brasão português sobre o forte e as dez cruzes espalhadas pelo desenho, com o objetivo de reforçar a dominação católica no local, vem como uma tentativa de mostrar características que favorecessem a elevação da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção à categoria de cidade. Percebem-­se nessa planta as poucas edificações presentes em Fortaleza, que contava com algumas dezenas de casas ainda não arruadas, o forte (ainda de madeira), uma igreja e um mercado. Nota-­se a provável inexistência do sobrado localizado a leste do riacho Pajeú, dado pelo fato de não haver nenhum relato que afirme a existência do mesmo e por ser um local apático à ocupação fortalezense da época. Essa construção serviria apenas como uma alusão ao crescimento de Fortaleza, proposto pelo capitão-­mor ao reinado português. 


O desinteresse pelo litoral já era percebido, dado pelas poucas edificações na área. Com a construção das linhas de vapores, que percorriam várias cidades do interior com destino à capital, surge as relações econômicas e sociais do sertão com Fortaleza. Outro fator favorecedor dessa ligação foi a construção do porto nas proximidades da Prainha (atual Praia de Iracema). Nesse sentido, Fortaleza toma um novo rumo. 


Na segunda metade do século XIX, Fortaleza toma de Aracati, responsável até então pela exportação dos produtos cearenses, o comando das relações comerciais de boa parte do Vale do Jaguaribe e Sertão Central, devido o estabelecimento das linhas de vapores diretamente para a capital. A planta da cidade de Fortaleza de 1850, organizada por Antônio Simões Ferreira de Farias, e há muito perdida, reencontrada nos dias atuais por José Liberal de Castro, vem reforçar a expansão da cidade para longe do litoral. A área litorânea mostrava uma ocupação irregular, quase espontânea, indicado no desenho de modo um tanto confuso, fato que teria motivado a contratação de Farias para organizar uma outra planta, unicamente referida aquela parte da cidade (CASTRO, 2005). 
Nota-­se também que o riacho Pajeú continuava a constituir uma barreira física à expansão para o leste, embora já estivesse aberta a rua do Norte (atual GovernadorSampaio), delineada por Paulet no começo do século. A rua Governador Sampaio passava a servir naquela época como eixo direto de um futuro crescimento de Fortaleza para o leste. 

Observando a planta de Simões percebe-se também um caminho cruzando o riacho próximo a foz. Essa estrada que vem ligar o litoral oeste do riacho Pajeú ao litoral a leste do mesmo vem a ser a estrada do Meireles (Mucuripe). Essa estrada, um simples caminho arenoso, atuais Rufino de Alencar e Monsenhor Tabosa, encontrava-­se com uma capela (Conceição da Prainha), cujas obras, iniciadas uma década antes, ainda estavam por completar. Desse ponto, a estrada continuava para o leste, atingindo o Meireles, de onde prosseguiu até o Mucuripe, desviando-­se das dunas (CASTRO, 2005). 


No detalhamento da planta de 1850, onde se destaca a Prainha, nota-­se a predominância da paisagem natural, composta por dunas e lagoas interdunares, tendo como sinal de ocupação a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, o quartel da Fortaleza, a Tesouraria provincial e a Alfândega (capitania dos portos). 

O fato de a cidade instalar-­se no litoral permanecia sem contar muito na formação do imaginário social dos seus habitantes. Segundo Gustavo Barroso, o imaginário interiorano continuava a se legitimar por toda Fortaleza, até mesmo aqueles imóveis localizados à beira-mar, faziam referência a presença do homem do sertão e de seus utensílios.

As zonas de praia em Fortaleza caracterizam-­se nesse período como área de escoamento dos esgotos da cidade, vindo a ser ocupada somente em fins do século XIX, com o surgimento das favelas, devido ao aumento do contingente de imigrante pobres do sertão. 



Com Fortaleza apontando como centro político-econômico do Estado, ela passa a despertar o interesse da elite cearense para a fixação de moradia. A urbanização de Fortaleza é também favorecida pela vinda dessa elite, pois com ela surge a necessidade de melhorias infraestruturais e de serviços na capital. 

Percebe-­se o incremento de equipamentos urbanos em Fortaleza, como a construção de um novo cemitério, a criação da Academia Francesa, a iluminação a gás carbono, entre outros. Surge também a Planta Topográfica de Fortaleza e Subúrbios, de autoria do engenheiro Adolfo Herbster. Integrante da diretoria de obras de Pernambuco, Herbster é cedido ao Governo Provincial do Ceará em 1855, sendo contratado pela municipalidade fortalezense. Dois anos depois, sendo solicitado para a elaboração de plantas da cidade. O urbanista traça um plano urbanístico de desenvolvimento para a cidade, dado pela necessidade de expansão àquela época, devida o aumento de sua população, que passa de uma população estimada em 1500 habitantes em 1800, para 16000 habitantes em 1863 e a 21872 em 1872. 


A referida planta possui um traçado xadrez com grandes boulervards, imitando o modelo parisiense implantado pelo Barão de Haussman, e já idealizado para as ruas da capital cearense cinquenta anos antes de Herbster, por Silva Paulet
Além de retratar a cidade, Herbster propôs sua expansão, elaborando cintas de avenidas, circulando o espaço urbano habitado, configurados através dos boulervards do Imperador, Duque de Caxias (logo prolongada para leste), e da Conceição (atual Avenida Dom Manuel), que comporia as vias de acesso à cidade, estabelecendo um modelo secção de vias urbanas em voga até os dias atuais. Dessa forma, percebe-­se que Herbster desprezou o arruamento proposto por Simões de Farias em 1850, evitando cortar o Pajeú em trechos centrais, já ocupados por residências. 


A proposta de expansão de Fortaleza por Herbster fez-se, portanto, pela continuação da Avenida Duque de Caxias, atual Avenida Heráclito Graça. Essa solução visava contornar o riacho cruzando pela Avenida Dom Manuel e suas paralelas, em trechos já distantes da foz. 

Essa nova proposta de expansão da cidade para o sul e para o leste, reforçava o desinteresse de fixação de moradia na faixa de praia pela classe abastada. Nesse período, algumas das mais importantes edificações da cidade foram se instalando próximo ao Forte de Nossa Senhora da Assunção. O Passeio Público, a Santa Casa de Misericórdia, a Penitenciária e a Estação da Estrada de Ferro terminaram por formar uma barreira entre a cidade e o mar, afirmando o desinteresse de uma possível urbanização do litoral. O acesso à praia tornava-­se mais difícil, já que somente o Passeio Público tinha suas vistas voltadas para o mar. É importante ressaltar que mesmo com o Passeio Público estando voltado em direção ao mar, isso não leva a crer numa possível tomada de consciência da sociedade para o mar, já que o andar em que se encontrava mais próximo da praia era reservado aos pobres e miseráveis (o Passeio Público possuía três andares representados pelas classes sociais da época). 




O desinteresse dado pela faixa praiana fortalezense resultava na distribuição de serviços insalubres instalados próximos à zona costeira, como o velho Paiol da Pólvora, o Gasômetro, dos tempos da iluminação a gás (1867), a Santa Casa de Misericórdia, bem como o depósito de lixo da cidade. O espaço entre o mar e essas edificações, passou a ser ocupado pelo comércio de exportação, próximo ao desembarcadouro e o Arraial Moura Brasil, formado pela população sertaneja foragida da seca. 



Nesse contexto, é criado o Código de Posturas, vindo em confluência com as preocupações de ordem higienistas e urbanísticas que tinham por objetivo salvaguardar o decoro, a moral e os bons costumes dados à explosão demográfica decorrente do êxodo rural naquele período. Essa legislação reforçava o desinteresse pela zona de praia, ao afirmar, por exemplo, a regulamentação de que os dejetos fecais não poderiam ser despejados nas ruas, mas sim na Praia do Porto das Jangadas, denominação antiga da Praia de Iracema

Tornava-se evidente o desinteresse do litoral por parte da elite da cidade, de natureza interiorana. Mesmo com os discursos médicos afirmando dispor o litoral fortalezense de excelentes condições climáticas para o tratamento de doenças respiratórias, os abastados ainda não se voltavam para o mar.



Fontes: A cidade e o mar: considerações sobre a memória das relações entre Fortaleza e o ambiente litorâneo - Fábio de Oliveira Matos. 
DANTAS, Eustógio Wanderley. Mar à vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 2002. 
BARROSO, Gustavo. Terra do sol: natureza e costumes do Norte. Rio de Janeiro: Benjamim Aguila, 1912.  
LINHARES, Paulo. Cidade de água e sal: por uma antropologia do litoral do Nordeste sem cana e sem açúcar. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1992.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O caso Balalaika - Fortaleza 1942



Às 6 horas e 45 minutos da manhã do dia 04 de agosto de 1942, Fortaleza assistia perplexa a um impressionante  desastre aéreo. O jovem desportista, aluno do curso de pilotagem, Edgildo Giordano (mais conhecido por Balalaika), de apenas dezesseis anos de idade, pilotava o avião Visconde de Taunay, um "Pipper Cub" pertencente ao Aero Clube do Ceará¹, quando o avião caiu no quarteirão entre a Avenida Santos Dumont, Rua Costa Barros, Avenida Dom Luís (Hoje Avenida Dom Manuel) e Rua 25 de Março

O avião de Balalaika fazia evoluções sobre a Avenida Santos Dumont, quando sobrevoava as casas residenciais de nº 187 e 189, quando caiu em "piquet", entre os dois quintais, ficando completamente espatifado. Surgiram lendas em torno do acontecido, entre elas a de que Balalaika teria brigado com a namorada e suicidou-se jogando o aparelho que pilotava no quintal de sua amada, na Avenida Dom Manuel

Jornal O Povo de 04 de agosto de 1942

Segundo noticiou o jornal O Povo daquele mesmo dia, Balalaika (foto ao lado) teve morte imediata no próprio local do desastre, para onde acorreram numerosos populares.
Assim que tiveram ciência do terrível desastre, compareceram ao local um carro da Assistência Municipal e quatro do Corpo de Bombeiros, um dos quais removeu o corpo. No local, algumas autoridades estavam presentes: Dr. Rui de Almeida Monte, Secretário de polícia e Segurança Pública , Dr. Pompeu Gomes de Matos, Delegado de Investigação e Capturas, Dr. Fran Martins, diretor do DEIP e várias outras.

O sepultamento ocorreu no mesmo dia, às 16 horas e 30 minutos saindo o féretro da sede do Aero Clube do Ceará, à rua Sena Madureira, 865

O avião sinistrado foi doado em 1941 ao Aero Clube pela Sul-América Capitalização.
Balalaika era aluno do Aero Clube desde o dia 1º de junho de 1941, tendo iniciado o seu curso de piloto civil a 29 de abril de 1942. Ele tinha pouco mais de oito horas de vôo "solo", o que não recomendava afastar-se da área de exercício, em torno do próprio campo de aviação.  

Aero Clube 

 Colégio São João onde estudava Adgildo. Acervo Tania Maria Sousa

Edgildo Giordano era filho adotivo do Sr. Joaquim de Lima, residente à Avenida Dom Manuel, 447. Era aluno do segundo ano do ginásio no Colégio São João e esportista muito conhecido na cidade, tendo conquistado o segundo lugar na Prova Heróica² dos cinco mil metros a nado, desde o Mucuripe até o Viaduto Moreira da Rocha (Ponte Metálica).
Balalaika era amazonense³, residindo em Fortaleza há vários anos.

Ao lado, uma foto do livro Trilhas da Saudade

Em 25 de outubro de 1942, o Aero Clube do Ceará fez Romaria à sepultura de Edgildo Giordano. Na mesma ocasião, visitaram também a de outros aviadores, como a do Tenente Roma, do Dr. José Pestana e Farias Primo. No seu discurso, o Dr. João Calmon lembrou também os nomes de Chico Távora e Fausto Amarante.  

A rua 25 de março - Arquivo Nirez 

Uma das casas que teve seu quintal atingido pelo avião de Balalaika, foi este sobrado da foto. O castelo (sobrado) ficava na Dom Manuel, entre a Avenida Santos Dumont e a Rua Costa Barros, no chamado lado da sombra. 

O acidente narrado por uma testemunha ocular:  

 
 Trecho do livro Trilhas da saudade de Mundinha Negreiros de Andrade. 
Agradecimento ao amigo Maia Filho pela gentileza!

"Naquele dia e hora, eu estava de saída para o Colégio Cearense, quando fui surpreendido pelo vôo rasante do Balalaika, que terminou de encontro ao muro de um quintal, da 25 de Março, quase com a Av. Santos Dumont e que, por ironia, confrontava com a sua residência. Ele era um jovem da melhor aparência, exímio nadador, tendo-se classificado em segundo lugar, na última Prova Heróica. Lembro-me de o ter visto, pela última vez, quando de seus exercícios físicos, em plena Praia de Iracema, em uma noite enluarada. Naquela época recuada, era comum a frequência de muitas pessoas, à praia mais linda de Fortaleza.
O seu cognome - Balalaika - deve-se à trilha sonora do filme do mesmo nome, cuja interpretação artística era de Nelson Eddy, coadjuvado pela atriz Ilona Massey, na inauguração do Cine Diogo, no dia 7 de setembro de 1940. Era comum ouvi-lo cantando aquela canção...

Assim, a vida de Balalaika ou Edgildo Giordano, como queiram, foi tão fugaz quanto sói acontecer a um meteoro: uma estrela cadente de grande brilho, mas de curta duração."


Irmes Gottlieb
(Diário do Nordeste - 05 de junho de 2004) 

Cartaz do programa de inauguração do Cine Diogo com o filme Balalaika - Arquivo Nirez

Escola Normal


"O que ocorreu na verdade, foi o que em aeronáutica chama-se "stall" (estol) em baixa altitude. Balalaika sobrevoava a Escola Normal e chegou a acenar para as alunas que faziam ginástica no pátio da escola. Era pouco mais de sete da manhã. O estol (ou perda de sustentação) ocorre quando há uma elevação excessiva do ângulo de ataque da asa, o que faz com que a aeronave perca sustentação e consequentemente, altitude. Quando em altitude suficiente é perfeitamente recuperável. No caso, o Piper estava quase em voo rasante. As chances de recuperação eram mínimas. O corpo ficou totalmente carbonizado. Um triste acidente!" 




Annita Giordano

Pouco se sabe sobre Edgildo Giordano de Araújo (Balalaika) e muito menos, sobre sua família adotiva, mas em conversa com a prima e com o sobrinho biológico, descobri algumas coisas que podem ser de ajuda para que a gente consiga encontrar algumas respostas!


Casamento de Annita e José Vitor.


Annita Giordano e José Vitor de Araújo 'Bezerra' (alguns dizem que o sobrenome Bezerra, foi acrescentado por ele ao seu nome original), eram pais biológicos de Edgildo.
Numa viagem para Fortaleza (teria fugido do marido?), não sei se grávida ou se Edgildo já era um recém nascido, Annita decide não mais retornar ao Acre, onde lá deixou o filho mais velho Edmar Giordano de Araújo (foto ao lado) e  o marido José Vitor. Na ausência da mãe, Edmar foi criado pela avó.

Na capital cearense, ela conhece Joaquim de Lima, então Interventor do Ipu.* Mesmo casados, eles se envolvem e Joaquim assume a criança.

Em conversa com sua irmã Lídia, Annita contava que Joaquim se afeiçoou ao menino e que Balaika era muito apegado ao pai adotivo. Joaquim era um homem de posses e deu estudos e uma boa vida ao filho.


No Acre, a família ficou sabendo que Annita estava vivendo com um homem muito rico, que era prefeito.
Sua mãe ainda lhe visitou algumas vezes em Fortaleza!

*Joaquim de Oliveira Lima governou o Ipu de outubro de 1930 a abril de 1935.
Em 1929 houve eleições para prefeito. Apresentaram-se dois candidatos. O vencedor, porém, em função da chamada “Revolução de 1930” não assumiu o poder. Com o movimento de outubro de 1930, os Estados passaram a ser governados por interventores. Estes, por sua vez, indicavam, nos municípios, os governantes, também chamado de interventores. Joaquim Lima foi o indicado para governar o município de Ipu.
Faleceu vítima de ataque cardíaco no dia 16 de agosto de 1967.

 Leia a biografia de Joaquim de Oliveira Lima no Blog do professor Francisco Melo

Annita em Fortaleza em 1931

Os anos passaram...

Certo dia, o
Gran Circus Americano Buffalo Bill passa por Fortaleza e Annita conhece o acrobata do globo da Morte. Apaixonada por Augusto Stevanovich (o acrobata), Annita resolveu fugir com o circo, deixando o filho Edgildo com o Sr. Joaquim, que já o amava como filho e que de certo cuidaria muito bem do menino. Deve ter pesado também a dificuldade que seria para uma criança viver sem rumo, de cidade em cidade.



A última notícia que se tem de Annita, é uma carta escrita por ela, datada de 1938, escrita em Milão, endereçada para sua mãe. Ao final da carta, ela assinava:  ANITA GIORDANO STEVANOVICH (Foi através dessa carta que chegou-se ao GRAN CIRCUS AMERICANO,  pertencente aos STEVANOVICH).
 

De acordo com o neto Edgildo Sobrinho, se ainda estiver viva, Annita tem hoje por volta de 114 anos


 Gran Circus Americano Buffalo Bill

Sobre a carta

" O conteúdo era de saudades e lamentações e ela citava um apelido, DILO.  Eu imaginava ser um erro de grafia, que ela queria dizer DIDO (que poderia ser o apelido familiar de Balalaika - Dido é o meu apelido familiar). 
Era DILO mesmo, que segundo levantou minha prima, tratava-se de AUGUSTO STEVANOVICH, um acrobata do globo da Morte, do Gran Circus Americano Buffalo Bill, circo este que a vovó fugiu com ele, quando passou pelo Acre, apaixonada pelo acrobata. Na fuga ela levou o filho recém-nascido, Edgildo, deixando o outro mais velho, Edmar (meu pai) com o seu marido, José Vitor de Araújo Bezerra. Meu pai foi criado pela avó dele, Joaninha. Edgildo foi adotado por uma família de Fortaleza, que deveria ser abastada, visto o histórico dele: Campeão de natação, piloto aos dezesseis anos..." 


Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho**

** Observação: Algumas informações diferem, mas é compreensível, Edgildo Sobrinho era muito pequeno quando tomou conhecimento de toda essa história.


O acrobata do globo da Morte:

DILO (AUGUSTO STEVANOVICH) faleceu em 1948, aos 38 anos. Foi sepultado no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro
Provavelmente, Annita estava no Brasil nessa época.
Dilo morreu no Rio quando negociava a vinda do circo ao Brasil (Nessa época, ele era diretor do circo).  

 Túmulo de Augusto Stevanovich. Detalhe para o Globo da morte.
 

Túmulo de Augusto Stevanovich
 
Edmar - O irmão

Edmar Giordano de Araújo, ficou com o pai no Acre, sendo criado pela avó.
Em homenagem ao irmão, batizou um de seus filhos com o nome de Edgildo Giordano.
Morreu em 1954, aos 32 anos, num acidente de carro no Acre.
Com a morte do marido, a viúva se muda com os seis filhos para Natal.



Edmar Giordano de Araújo



 ¹ O Aero clube do Ceará foi fundado com o nome de Aero Clube Cearense, no dia 07 de abril do ano de 1929, em nobre solenidade que contou com a presença do Governador do estado do Ceará. Logo depois de fundado, ficou por alguns anos sem nenhuma atividade, uma vez que naquela época, a aviação na América do Sul ainda vivia uma fase de quase nenhum progresso, especialmente no setor civil. No dia 02 de dezembro de 1937, praticamente fundava-se, pela segunda vez, em nossa Capital, uma sociedade que se destinava a incrementar, em nosso meio civil, a aviação de turismo a exemplo das grandes cidades do sul do país. Surgia o Aero Clube do Ceará. Nesta segunda tentativa, muitos entusiastas, representados por personalidades da escola de aviação militar, que foram na realidade os verdadeiros incentivadores da fundação do Aero Clube do Ceará, lançaram-se num movimento de real valor em favor do progresso da nossa aviação. Em cooperação com os militares, na realização dessa patriótica obra, destacaram-se civis que não pouparam esforços no sentido de ver realizado o sonho da mocidade cearense, que almejava asas para voar. Os primeiros passos da vida do Aero Clube do Ceará foram cheios de empecilhos, que aos poucos foram vencidos, e com apenas seis anos de atividade, já tinha “brevetado” cerca de 100 pilotos. Sua primeira sede ficava dentro da Base Aérea de Fortaleza, onde à época, operava o Centro de Formação de Pilotos de Caça da também, recém criada Força Aérea Brasileira (FAB). A Base Aérea permitiu ao Aero Clube do Ceará durante um longo período, a utilização de sua pista.

² A prova heróica dos 5 mil metros a nado, foi realizada em 02 de março de 1941.


³  "Edgildo consta como se fosse amazonense, creio que ele tenha nascido no Acre. A não ser que vovó tenha ido para Manaus, para ter o filho. Falo isso porque era comum mamãe falar que pai tinha nascido no Ceará e morreu no Acre. Edgildo tinha nascido no Acre e morreu no Ceará."


Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho   




ATENÇÃO:

ESSA POSTAGEM, POR SE TRATAR DE POST INVESTIGATIVO, SERÁ EDITADO SEMPRE QUE HOUVER MAIORES INFORMAÇÕES!!!



Créditos: Jornal O Povo - Edição de 04 de agosto de 1942, Diário do Nordeste - Coluna Opinião (Irmes Gottlieb) de 05 de junho de 2004, Revista Instituto do Ceará-1962, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Livro "Trilhas da Saudade" de Mundinha Negreiros de Andrade e Site oficial do Aero Clube.

Agradecimentos: Glória Perez, Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho, Maia Filho e Lucas Júnior.







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