A parte marcada (em laranja) na imagem foi o tamanho da cratera. Assis Lima
"Estávamos numa manhã chuvosa, naquele abril de 1967. Os ônibus do Oscar Pedreira dentro da Vila São José havia mudado sua rota; todos os veículos estavam adentrando pela Rua Dona Maroquinha, no sentido inverso fazendo ponto final, justamente na Rua Júlio Cesar e Leda por onde os coletivos entravam. Os operários da Fábrica São José, desviaram seu trajeto tornando periculosa a passagem transitando por entre os trilhos da Via Férrea, único recurso para chegar ao trabalho. Isso desorientou de certa forma os moradores e com a publicidade veio à tona: A ponte que nós havíamos batizado nº3 sobre o Riacho Jacarecanga (foto ao lado), com as fortes chuvas que havia trasbordado pelos bueiros levou o aterro com pedras toscas, ficando uma cratera em plena via pública (a Ponte nº 1 era na Francisco Sá e a nº2 na Rua São Paulo (Monsenhor Dantas).
O Coronel Philomeno havia determinado (em plena ditadura Vargas) com o Padre Pio, então pároco dos Navegantes, a que todas as procissões de 4 de outubro dedicadas a São Francisco, passassem pela ruas de sua vila operária. Mas, numa festividade religiosa deste porte, vem gente de todos os bairros periféricos. Nesse dia do desabamento da ponte, o mar de cabeças humanas fora só com moradores da vila.
A ponte ainda em madeira.
A construção em concreto.
Nossa comunidade virou cidade fantasma. Só teve uma vítima fatal:“o feroz” um cão, animal de estimação do Seu Ernesto e Dona Ivanilde. A correnteza levou o bichinho. O pranto foi intenso. O Corpo de Bombeiros Sapadores, depois só Corpo de Bombeiros (Sapadores é que não se admite voluntários) foi acionado fazendo um cordão de isolamento, evitando mais desmoronamento e dando mais segurança aos curiosos que para lá se dirigiam. Ninguém ousava se aproximar do limite de segurança, haja vista ser forte o fluxo de água, levando o que encontrasse pelo caminho. As águas delineavam o curso por o descontrole, passando sob a ponte ferroviária, passando ao lado do campo de futebol da Escola de Aprendizes Marinheiros, ornamentava ao noroeste da Marinha um matagal para exercícios militares, indo desaguar no chamado pela pirambuzada de “Corrente”, ao lado da casa de praia da ilustre família Moraes Correia. A ponte caiu, ocasionando três dias de interrupção. Os bombeiros só liberaram para reconstrução, quando as chuvas amenizaram. O empresário Oscar Pedreira e o Cel. Philomeno foram parceiros de Murilo Borges, Prefeito de Fortaleza à época, e a evidência se deixa falar. Se algum dia esse local foi bem visitado, foi nessa circunstância. Feito a amarração com ferro e cimento, foi colocado areia e barro que fora amassado com aquelas máquinas, tipo rolo usadas em pavimentação asfáltica. Como o cheiro estava insuportável, a meninada começou a fazer miniaturas daquelas máquinas com latas de leite e areia, apelidando-as de “Rola Bosta”. Bem, após a nivelação de areia, colocaram pedras toscas. O trânsito normalizou e os transeuntes voltaram a palmilhação. O local ficou conhecido como Baixo da Ponte, devido aos dois níveis: Carros e Trens. Foi o maior acontecimento ocorrido na Vila São José que mexeu com o trânsito, percurso à pé das pessoas, trens passando com velocidade reduzida, ocupação do Corpo de Bombeiros e a presença do Poder Público."
Assis Lima
(Radialista/jornalista)