Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Avenida do Imperador
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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segunda-feira, 7 de junho de 2021

As atividades de lazer em Fortaleza na época da Belle Époque


Av. Visconde de Cauipe nos anos 20. Acervo Fco Olivar

Na segunda metade do século XIX, Fortaleza finalmente se consolida como uma das cidades mais desenvolvidas do Ceará e principal centro urbano econômico do Ceará e neste cenário de transformações, a capital também é inserida na Belle Époque
Segundo Sebastião Ponte, “No que concerne a Fortaleza essa pretensão remodeladora desenvolve-se a partir de 1860, impulsionada pelo aumento da exportação algodoeira verificada à época” (PONTE, 2007, p.163). 

Rua Conde D'Eu nos anos 20.
Isso porque os Estados Unidos estavam em plena Guerra da Secessão e a “demanda de algodão norte americano foi suspensa temporariamente para Europa, aumentando a procura pelo algodão cearense” (PONTE, 2007, p.163). 
Fortaleza era no final do século 19, o principal centro urbano do Ceará e um dos oito primeiros do Brasil. A partir de então Fortaleza entra num processo de reforma urbanística e de “civilização”, e civilização naquele momento representava modernidade e progresso como afirma o historiador Paulino Nogueira, Fortaleza mais parecia uma “fênix renascida, cheia de mocidade e encantos” (NOGUEIRA, apud PONTE, 2007, p.45), pois agora tinha: 

Passeio Público, praças arborizadas, templos majestosos, edifícios elegantes, tantas e tantas ruas alinhadas, calçamento, iluminação a gás, linhas de bondes, carros de aluguel, hotéis, quiosques, clubes prado, corrida de touros, a cavalo e à bicicleta, quermesses bazar e demais novidades. (NOGUEIRA, apud, PONTE, 2010, p.45).

Passeio Público

Depois das reformas urbanas, a cidade agora estava irreconhecível, diferente do que se conhecia há pelo menos 50 anos atrás. Fortaleza antes era uma “cidade muito pequena,... de ruas tortuosas e casa ordinárias, apresentava um aspecto desagradável ao passageiro que a via...” (KIDDER, apud CORDEIRO, 2007, p.136).

Segundo Kidder, agora a cidade tinha um "progresso espantoso, já [era] uma grande e bela cidade, tinha magníficos edifícios, quartel militar, casa de caridade uma grande cadeia e uma catedral magnifica” (KIDDER apud CORDEIRO, 2007, p.136).

Sebastião Ponte afirmou em se livro Fortaleza Belle Époque que “tais reformas visavam alinhar os centros urbanos locais aos padrões de civilização e progresso disseminados pelas metrópoles europeias” (PONTE, 2010, p.17).

Fortaleza nos anos 20. Detalhe para o belo bangalô ao fundo. 

Seguindo ainda esta afirmativa Ponte revela ainda que:

Em Fortaleza, o movimento de remodelação urbana impulsionou-se com o Mercado de Ferro (1897), o “arfomoseamento” das principais praças (1902-3) e a construção do requintado Theatro José de Alencar (1910). A onda remodeladora acabou por conferir à zona central da cidade um harmonioso conjunto urbano, complementado com a edificação de mansões, prédios públicos e dois grandes cinemas – em sua maioria, construções marcadas pelo ecletismo arquitetônico, estilo então em voga no País (PONTE, 2010, p. 20).

Teatro José de Alencar

Para dá inicio a essas novas reformas urbanas em 1875, o arquiteto Adolfo Hebster é contratado para desenhar a nova planta da cidade de Fortaleza seguindo o modelo em traçado xadrez elaborado por Silva Paulet em 1818 e inspirado no modelo do Barão de Haussman feito anteriormente em Paris e conforme o autor Ponte (2010):

Praça da Lagoinhas. Ao fundo vemos a Av. Imperador

Apesar de não ser um projeto inteiramente original, [...], tratava-se de um estudo decisivo para a capital dali para frente, pois ampliava-lhe o traçado para além de seus limites de então e conferia-lhe 3 boulevards (as atuais avenidas do Imperador, Duque de Caxias e D. Manoel) margeando o perímetro central. A finalidade de tais avenidas era, num futuro breve, facilitar o escoamento do movimento urbano, [...]. Por seu lado, o principal objetivo da nova Planta era disciplinar a expansão de Fortaleza, o que, de fato, consegue, pelo menos até 1930. 

Avenida Dom Manuel - Arquivo Nirez

Seguindo este pensamento o governo propôs medidas saneadoras e higienistas, além de adotar um código de posturas que determinava normas e hábitos que deveriam ser adotados pelos fortalezenses, tudo isso inspirado no modelo europeu.

Aliás, o enxadrezamento da cidade era uma das medidas higienistas que expressavam a necessidade de amplos logradouros que facilitassem a circulação das correntes de ventos, pois o ar contaminado era considerado como o principal disseminador das mais terríveis doenças epidêmicas.

Quimoeiro na rua Floriano Peixoto, antiga rua Pitombeira 
na década de 20.

Quimoeiro na Floriano Peixoto
Como principais medidas saneadoras houve a construção dos espaços destinados ao lazer, assim como houve a construção de asilos, cemitérios afastados da cidade, para se evitar a contaminação do ar e o afastamento dos mais pobres do perímetro central.
Mas mesmo com tantas medidas “preventivas” a população não podia prever que o surto de varíola e outras doenças dizimariam boa parte dos habitantes da cidade, por conta das contaminações pelo precário sistema de esgoto, aliás, na verdade nem existia sistema de esgotos, o que existiam eram as fossas domésticas nos quintais das casas, e quando enchiam essas fossas eram esvaziadas pelos “quimoeiros” conhecidos assim por transportarem os dejetos em depósitos chamados quimoas, estas figuras eram responsáveis também pela disseminação de doenças, pois quase sempre estavam bêbados e deixavam cair parte dos dejetos pela cidade, espalhando o mal cheiro e contaminado o ar, além disso, tudo era despejado no mar. (PONTE, 2007).

Em 1865 e 1870 entra em cena um novo código de posturas de Fortaleza, estes tinham por objetivo prever normas disciplinares a população e impor medidas saneadoras, principalmente aos mais pobres, que era vistos como os agentes insalubres da cidade.




Crédito: Artigo 'As atividades de lazer na Fortaleza Belle Époque' de Kamylla Barboza Evaristo



terça-feira, 4 de abril de 2017

Avenida do Imperador - Especial Fortaleza 291 anos


Praça da Lagoinha, destaque para a avenida do Imperador. 

Nos  idos de 45, a avenida do Imperador era uma espécie de porta de entrada para o aristocrático bairro de Jacarecanga. Com suas largas calçadas, sua pavimentação de pedras toscas, seus frondosos e elegantes oitizeiros, era para o memorialista e escritor Marciano Lopes, a sua Via Veneto, Avenue Foch e Fifth Avenue. Suas casas são diferentes, portentosas, nobres, um relicário arquitetônico das senhoriais vivendas construídas nas primeiras décadas do século XX. As fachadas são bem características da nossa assimilação do estilo art nouveau com as imprescindíveis sacadas de ferro em notáveis trabalhos que são verdadeiras "rendas" e arabescos fundidos. As portas têm rótulas e postigos com vidraças coloridas importadas da França, da Bélgica e da Holanda. As portas de entrada dão acesso aos pequenos vestíbulos ou salas de espera. As artísticas platibandas ostentam balaústres, "pinhas", "abacaxis", jarrões.


Casa de Thomaz Pompeu vista da Praça.


Mas existem, também, soberbos bangalôs. São as construções mais recentes, espelhadas nas residências das estrelas de Hollywood. Eram assim as mansões do médico Newton Gonçalves, do milionário Checo Diogo, do interventor Menezes Pimentel. Até uma típica mansão inglesa tem na avenida do Imperador. É a residência da família Thomaz Pompeu, em frente à Praça Capistrano de Abreu (da Lagoinha). 

É encantadora sua fachada austera, de tijolinhos vermelhos, enegrecida pela pátina do tempo e sua platibanda com tantos detalhes, além da imponente varanda do andar superior.

Praça da Lagoinha vista da avenida do Imperador

No seu livro Royal Briar, Marciano detalha para nós, a avenida na década de 40: 
"E há singelas casas de beira e bica, como a da inglesa miss Sand, uma solteirona altíssima e muito religiosa, que passa, todas as tardes, para rezar no Santuário da Adoração Perpétua. Usa, sempre, vestidos estampados de preto e branco, minúsculos chapéus pretos, enormes sapatos de linha masculina e, no pescoço, rosário de grandes contas negras.


Casa de Saúde Dr. César Cals

Na minha nobre avenida, há a asséptica Casa de Saúde Dr. César Cals, dirigida pelas irmãs franciscanas. O prédio é gracioso e alegre,  contornado por bem cuidado jardim, cheiroso a jasmins e espirradeiras. Possui uma limpíssima capela, acolhedora e silenciosa, na parte superior e, embaixo, no centro, onde a escada se bifurca, um oratório de São Francisco onde, dia e noite, há sempre gente pagando promessas, rezando e acendendo velas.


Fábrica Progresso na Avenida do Imperador. Arquivo Nirez

A Escola Doméstica São Raphael. Arquivo Nirez

(Ao lado, a avenida vista da praça em 1939. Acervo Sérgio Roberto).

Na avenida do Imperador, ficam o Instituto São Luiz, as fábricas Progresso e Santa Elisa, uma loja Maçônica, a Padaria Ideal, a Farmácia São Francisco, a Escola Doméstica São Raphael, a Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo, o Patronato Maria Auxiliadora, onde, no período do Natal, tem o bem montado Pastoril, de irmã Breves, há a pequenina e barroca igreja de São Benedito, com o convento dos padres sacramentinos, há a loja O Gambettá, famosa pelas tintas para tingir roupas, a escola de datilografia do professor Antonio Pimentel, que é dirigida pela Marola; a Villa Diogo, a mercearia do Seu Carlos, velhinho de cabelos brancos, que todas as manhãs brinda sua freguesia com retratos feitos a lápis dos políticos em maior evidência, como Getúlio Vargas, Otávio Mangabeira, Nereu Ramos, Zenóbio da Costa, brigadeiro Eduardo Gomes. O velhinho, que tem aparência de um tranquilo vovô, é simpatizante do Partido Comunista e fica frustado porque não pode expor o retrato do seu líder, Luiz Carlos Prestes. Dá cadeia!


Padaria Ideal - Arquivo Nirez


Destaque para a avenida do Imperador

Quando consigo um tostão, vou comprar "peixinhos" no seu Carlos e sempre tenho a curiosidade de ver a constante renovação da "galeria" de retratos do merceeiro-artista. 
Nossa casa, de duas sacadas de ferro fundido e uma porta, é imponente e elegante, com sua fachada cor de vinho, balaústres, cornijas e frisos bege. As portas têm vidros incolores e vermelhos de bela e forte coloração. Às quatro horas, o sol, através da vidraça, tinge de sangue o velho sofá da sala de visitas.


(Ao lado, a avenida em 1985. Foto Acervo O Povo).

Defronte à nossa casa, mora dona Santinha, virtuosa dama, mãe do político Stênio Gomes, de dona Dolores Caracas e de dona Dulce Gondim. Ao lado da casa de dona Santinha, mora dona Eva Cunha, senhora muito bonita e elegantes, mãe do jornalista Ary Cunha e das elegantes moças Evenita, Berenice, Erbene e Suzy, bem como da menina Marlene, linda loirinha, que é amiga de minha irmã Maria do Carmo e de minhas primas IreneAurinha e Lindete.

Nosso vizinho da direita é o venerado vovô, o velhinho mais simpático do mundo. Ele, que é avô de verdade do Guilherme Neto, é o vovô faz de conta de todas as crianças das redondezas. Mora com sua mulher, dona Virgínia, e suas filhas Laura, Margot e Lúcia. As duas últimas, são professoras de piano e na sala de visitas há dois desses instrumentos. No final da tarde, todos os dias, seu Guilherme, o querido vovô, de terno branco, chapéu do Panamá, gravata-borboleta e bengala, dá o seu passeio que consiste em rodear a quadra. Vai sozinho, caminha devagar e, a cada instante, é assediado pelas crianças, que param suas cantigas de rodas, suas cirandas, para beijar a mão do sempre sorridente velhinho. Retorna, quando o papagaio já põe em polvorosa a casa, indagando: "Margot, o vovô já chegou?" "Ei, Margot, o vovô já chegou?" e, como Margot, ocupada em suas aulas de piano, não responde, ele apela para Lúcia: "Lúcia, o vovô já chegou? Lúcia, Lúcia, o vovô já chegou?" sem obter resposta, dirige-se a Laura e fica a repetir a mesma pergunta, até que vovô chega e o papagaio faz aquela algazarra e no dia seguinte tudo será repetido.


Avenida do Imperador em 1939. Ao fundo o Casarão de Thomaz Pompeu. 
Acervo Sérgio Roberto

Nossos vizinhos são muito especiais. Além dos já citados, há o médico José Carlos Ribeiro, os professores Otávio Farias e João Pinto, o poeta Teixeirinha, a viúva do poeta Epifânio Leite, a família Chaves, de moças muito elegantes; seu Cristóvão e dona Iaiá, genitores do Zé Aírton, da Paulinha e da Marilac. Há seu João, da Viva o Brasil, pequena bodega que faz jogo do bicho.

É também, na avenida do Imperador, que fica a casa cor-de-rosa da milionária e benemérita dona Elisa Diogo. E há as lindíssimas filhas do professor Antonio Pimentel e dona Jatobá, a Yolanda, a Eliane e a Terezinha. Há a imponente casa de Moisés Pimentel, o conhecido Pimentel do Álcool; e a casa de "bonecas" dos manos Maria de Sousa, Vicencinha e Boa Ventura, as pessoas mais prestativas e verdadeiramente cristãs que já conheci.
É linda a minha avenida, sem favor, a mais aristocrática da cidade. Nobre, tranquila, limpa, habitada por gente fina e altaneira. Faz jus ao seu nome."

A Avenida Imperador Hoje:









Crédito: Livro Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40 de Marciano Lopes

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A nomenclatura numérica das vias públicas da Fortaleza antiga (Parte II)


Em 1890, de acordo com a resolução aprovada em 29 de outubro daquele ano pelo Conselho da Intendência, foi implantada a nomenclatura das vias públicas da cidade.

Na relação abaixo, adotei o seguinte ornamento:


  • Em primeiro lugar o número atribuído à via pública;
  • Em segundo, o nome atualmente adotado;
  • Em terceiro, o nome possuído na ápoca em que se passou a usar a nomenclatura numérica.

Ruas Pares

Nº 2 - Rua Senador Pompeu - Amélia, em 1877.



Rua Senador Pompeu em 1940 - Arquivo Nirez


Nº 4 - Rua General Sampaio - Chamou-se  da Cadeia e dos Três Cajueiros.


Rua General Sampaio sentido Sul norte. O fotografo está na esquina da Clarindo de Queiroz tendo a sua direita a Praça Clóvis Beviláqua. Arquivo Nirez

Antiga Praça da Bandeira - hoje Praça Clóvis Beviláqua - em 1936, antes da construção da Faculdade de Direito, vendo-se, à esquerda, a rua General Sampaio.

Nº 6 - Rua 24 de Maio - antiga Do Patrocínio.


Arquivo Nirez

Supermercado Sino na Rua 24 de Maio entre as ruas São Paulo e Guilherme Rocha
Hoje é o Mercadão Shopping. Acervo Carlos Juaçaba

Nº 8 - Tristão Gonçalves - anteriormente da Lagoinha; em 1888, 14 de Março, do Catavento e do Trilho.


Rua Tristão Gonçalves conhecida como rua do Trilho - Arquivo Nirez

A então rua do Catavento (Hoje Tristão Gonçalves). Arquivo Assis Lima

Nº 10 - Avenida do Imperador - 15 de Novembro.


Avenida do Imperador, vendo-se o prédio da antiga Escola Doméstica São Rafael, inaugurado no dia 30 de novembro de 1938. A escola ficava no nº1490 da avenida. 
Arquivo Nirez

Tradicional Padaria Ideal na Avenida do Imperador - Arquivo Nirez

Nº 12 - Dona Tereza Cristina - Antiga rua do Paiol e Santa Tereza.


Rua Teresa Cristina. Acervo Sérgio Roberto

Linda casa na rua Teresa Cristina. Acervo Sérgio Roberto

Nº 14 - Princesa Isabel - Santa Isabel.


Rua Princesa Isabel cruzando com a rua Guilherme Rocha. Arquivo Nirez

Mesmo cruzamento hoje.

Nº 16 - Padre Mororó - Mororó e, em 1888, São Cosme.


Rua Padre Mororó em 1943 - Arquivo Nirez

O Cemitério São João Batista na rua Padre Mororó - Arquivo Nirez

Nº 18 - Agapito dos Santos - Filgueiras e Concórdia.


Casa na rua Agapito dos Santos, onde morou o jornalista Jáder de Carvalho. Arquivo Nirez

A casa hoje - Acervo do Blog Sertão Poesia

Nº 20 - Conselheiro Estelita.

Nº 22 - Oto de Alencar - Foi chamada de Natal e Dr. Francisco Salgado.


Grupo Fernandes Vieira (Hoje Colégio Juvenal Galeno) na rua Oto de Alencar. Foto da década de 30.

Corpo de Bombeiros - Rua Oto de Alencar. Década de 60


Veja também a parte I com as ruas ímpares



Fonte: Livro Fortaleza Somos Nós - Aurileide Silva/Sara Braga


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: